27 de novembro de 2010

Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás - Parte 4

Toda a década de 80 e começo dos anos 90 apresentaram o maior explosão do hard rock já visto e desde o início o forte mercado musical norte-americano foi moldando este estilo, muitas vezes em detrimento da qualidade musical. De qualquer maneira, surgiram bandas com tamanho poder de fogo que são lembradas até hoje, e, na esteira deste fenômeno, começaram a pipocar pelo mundo todo uma infinidade de bandas tentando acompanhar a tendência.


Muitos destes conjuntos não possuíam nenhuma identidade, outros foram “americanizando” seu visual e música, tentando obter um lugar ao sol. E no meio desta briga de galos (Oops!! Ou seriam pavões???), apareceram bandas que colocaram excelentes discos no mercado, porém infelizmente acabaram sendo absorvidos pela imensidão de lançamentos medíocres e muitas vezes passando despercebidos pelo grande público.
Ressalto ainda que alguns destes grupos nem faziam questão de ter um visual andrógino e até tiveram seus poucos momentos de glória, porém ficou apenas nisso. São registros válidos que vale a pena serem lembrados e até mesmo conhecidos pela geração mais nova de apreciadores do hard rock.

D.A.D.
No Fuel Left For The Pilgrims
(1989 - Warner Bros. Records)

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Provavelmente poucos se lembram desta banda dinamarquesa, que iniciou suas atividades em Copenhague no ano de 1985 sob o nome de “Disneyland After Dark”. Tendo em sua formação Jesper Binzer (voz e guitarra), Jacob A. Binzer (guitarra), Stig Pedersen (baixo) e Peter L. Jensen (bateria), lançaram dois discos independentes, numa mistura de música country, punk e rock´n´roll, combinados com boas doses de humor irreverente, o que lhes rendeu boa reputação em seu país.
De olho na recepção calorosa do público durante as apresentações excêntricas (para não dizer malucas) da banda, a gravadora Warner os contrata, porém a Disney não permite que um conjunto use um nome que torne seu reino da fantasia tão obscuro. Entre entraves judiciais, os músicos optam pela simplificação D.A.D. e colocam no mercado mundial “No Fuel Left For The Pilgrims” em 1988. Deixando de lado a faceta punk e country, sua música ficou limitada a um simples hard rock, porém não menos brilhante. Seja nas letras sarcásticas ou nos seus apelos delirantes para a sociedade, o que importa é que este foi um dos melhores discos desta banda.
“Sleeping My Day Away” abre o álbum e já se tem uma noção do estilo da vida noturna deste quarteto. Esta canção é o maior clássico da banda e tocada em todas as suas apresentações. Destacam-se praticamente todas as faixas, numa sonoridade que a banda conseguiu colocar algo somente seu, aquela característica que tantos grupos se esforçam para conseguir e poucos conseguem chegar lá. Este disco teve relativo êxito na Europa, onde conquistaram uma legião de fãs, porém nos EUA, que eram o maior objetivo do D.A.D. - e provavelmente de todas as bandas desta época - o disco passou praticamente despercebido.
O D.A.D. não desiste, lançando o muito bom “Riskin It All” em 92, na mesma linha de seu antecessor, sempre com os olhos voltados para o mercado norte-americano, mas nada acontece novamente... A banda fica de molho por praticamente quatro anos, até voltar à ativa. Mudaram de gravadora e de sonoridade, que deixou de ser tão festiva, porém as letras continuaram com seu típico sarcasmo. De qualquer maneira, não deu certo mesmo. D.A.D. continua lançando alguns poucos discos até 2002, porém são bem diferentes desta pérola hard rock. Tocam até os dias de hoje e ainda tem seus fãs. Europeus, é claro...

Waysted
Save Your Prayers
(1986 – EMI)

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Com certeza muitos já ouviram falar do britânico Pete Way, o espalhafatoso baixista do grande UFO. Pois bem, depois de tantos problemas que culminaram no término desta banda, Pete passa brevemente pelo Fastway (junto com Fast Eddie Clark, recém-saído do Motorhead), que também não tem resultados satisfatórios. Como possuía inúmeros contatos no mundo da música, em 1983 decide montar o Waysted junto com o amigo Paul Chapman, que também tocou no UFO após a saída do esquentado Michael Schenker.
O Waysted lança um álbum apenas no Japão e outros dois discos medianos pelo selo Music For Nations. Entre seus discos vários integrantes passaram pelo conjunto, entretanto, foi com o cantor hoje famoso Danny Vaughn (Tyketto), Paul Chapman na guitarra, Pete Way no baixo e John Diteodoro nas baquetas que realmente acertam a mão, lançando “Save Your Prayers” em 86, que é muito bem recebido pela mídia especializada, que considera até hoje seu grande álbum.
Neste seu quarto registro regravaram “Heaven Tonight”, ótima faixa que constava no disco anterior e todo este trabalho possui uma sucessão de canções fantásticas com grande apelo comercial, que não perderam seu brilho após todo este tempo. Peso, arranjos e refrãos bem elaborados foram um sucesso na tour que se seguiu após seu lançamento.
Mesmo com este excelente “Save Your Prayers”, infelizmente vários novos problemas começam a emperrar o desenvolvimento da carreira do Waysted. Primeiramente, Danny Vaughn se decepcionou por co-escrever partes de algumas canções deste álbum e não ser devidamente creditado por isso. A gravadora também rompe com a banda e Pete Way resolve então se concentrar na restauração do velho UFO - que novamente não deu muito certo.

Georgia Satellites
Georgia Satelites
(1986 – Elektra Records)

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Honestidade. Essa é a palavra que resume esta banda e este disco. A proposta musical aqui é totalmente deslocada de seu tempo, ou melhor, do “hard poodle” cheio de purpurina e maquiagens tão em alta no mercado. Musicalmente, são somente aqueles três acordes básicos e perfeitamente conjugados que foram as raízes do velho rock´n´roll.
Georgia Satellites teve início num bar de Atlanta pelo guitarrista Rick Richards e o baixista Rick Price. Após escutarem a voz de Dan Baird, quiseram de qualquer maneira que este fizesse parte da nova banda e, por fim, recrutam o baterista Mauro Magellan. Tendo Dan como principal compositor, colocam no mercado o EP “Keep The Faith” com seis canções, que saiu por um pequeno selo inglês.
Para este seu debut, o quarteto caprichou nas referências musicais de seus ídolos Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Bo Diddley, Stones, primórdios de Faces e Rod Stwart e, acrescentando doses de sujeira e distorção nos instrumentos, lançam este auto-intitulado Georgia Satelites. Como soa? Pegue as referências acima citadas, misture com RAMONES e muito hard rock e você terá uma sonoridade bem aproximada.
Estouram com a grudenta “Keep Your Hands To Yourself”, que somente não alcançou o primeiro lugar nas rádios por causa de BON JOVI e sua “Living On A Prayer”, que tomou conta do espaço. A banda fica impressionada com a repercussão, porém não há do que se espantar, pois este álbum é recheado de músicas excelentes como “Battleship Chains”, “The Myth Of Love”, “Nights Of Mystery” e o cover de Rod Stewart para a canção “Every Picture Tells a Story”. Um registro cru e de grande intensidade.
A banda segue adiante, lapidando suas músicas e continuando a lançar bons discos, porém não tão diretos como este. O Georgia Satellites se desfaz no início da década de 90, com seus integrantes trilhando outros caminhos, tendo Dan seguindo uma carreira solo para depois formar o Yayhoos e Richards participando do primeiro álbum de Izzy Stradlin após deixar o Guns.

Kingdom Come
Kingdom Come
(1988 - Polygram Records)

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Kingdom Come é uma das bandas mais azaradas que já ouvi falar, e tudo por causa da semelhança da voz de seu líder Lenny Wolf com a de Robert Plant, do Led Zeppelin.
A banda foi formada na Alemanha por Lenny Wolf nas vozes, Danny Stag e Rick Steier nas guitarras, Johnny B. Frank no baixo e James Kottak na bateria e, enquanto as músicas estavam sendo elaboradas, conhecem o famoso produtor Rob Rock, que aprecia as composições e se prontifica para gravar seu debut.
O resultado final deste disco tem uma das melhores gravações que escutei nesta época, tudo soando muito límpido e poderoso. A faixa “Get It On”, quando chega às rádios, gera muita polêmica e especulação em função da já citada similaridade das vozes, sendo que muitos ouvintes acreditaram que seria uma reunião do extinto LED ZEPPELIN, vê se pode... É inegável esta semelhança com as vozes, porém a sonoridade aqui é bem mais moderna, pesada e sem as investidas viajantes que o LED ZEPPELIN fazia em suas canções.
De qualquer maneira, quando este disco chega às lojas, vende de cara 500.000 cópias e logo se torna disco de ouro. Tocam em grandes festivais e com grandes grupos da época, mesmo com a crítica e público sempre caindo pesado em cima da banda, chamando-os de Kingdom Clone, banda cover, e por aí vai.
Mesmo com tanta controvérsia, entram em estúdio no ano seguinte para gravar “In Your Face” que, mesmo com boas canções, novamente são detonados pela semelhança com o Led e a situação começa a se tornar insustentável, com os membros partindo para outras alternativas. Somente Lenny ainda segue com o nome Kingdom Come, gravando alguns poucos trabalhos, porém mesclando seu hard com algo da tendência musical do momento e sempre sendo lembrado deste primeiro e tempestuoso registro e sua voz semelhante com vocês já sabem quem...

Vixen
Rev It Up
(1990 – EMI

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O peculiar Vixen surgiu a partir da idéia de se montar uma banda só de mulheres que deveriam ser atraentes, porém a música deveria estar em primeiro lugar e ser motivo de orgulho. Para tanto, a guitarrista Jan Kuennemund somente aceitou como membros garotas com formação musical e que a afinidade pelo rock´n´ roll fosse latente. As meninas selecionadas foram Janet Gardner nas vozes, a baterista Roxy Petrucci (ex-Madam X) e no baixo Share Pedersen.
Obviamente que com um time deste porte começam a chamar muita atenção, passando então a tocar com algumas bandas de certo status, como Cheap Trick, Malmsteen e Night Ranger, excursionando por todo o EUA e partindo para fronteiras distantes como Coréia e Japão. Conseguem ainda incluir seis de suas músicas na trilha sonora do filme “Hondbodies”, e atentem que até aí o Vixen não tinham nenhum registro lançado.
Mas tanto esforço sempre gera frutos. Contratados pela gigante EMI, debutam com um álbum auto-intitulado em 1988, que estoura em seu país tanto pela ótima música quanto pela sua já famosa beleza feminina. Vixen se torna a banda de hard rock feminino mais famosa dos anos 80, com inúmeras excursões, entrevistas, tudo pelo que batalharam estavam conseguindo agora.
Em 1990 lançam seu segundo registro chamado “Rev It Up”. Porém, talvez pelo fato de uma banda só com mulheres já não ser algo que causasse tanto impacto num mercado volúvel como o norte-americano, este álbum não atraiu o mesmo nível de atenção que o trabalho anterior. E não dá para entender, pois apresenta 11 faixas coesas, que são puro hard rock num clima de alto astral prá lá de contagiante; suas composições tem uma estrutura muito superior! Quando lançado, não havia quem escutasse suas canções e tivesse esta impressão, porém o Vixen amargou certa negligência por parte da mídia com um grande álbum em mãos.
Com o grunge em ascensão, a banda acaba por se dissolver, voltando somente em 1998 com a formação alterada e apresentando o fraquíssimo “Tangerine”, com uma leve sombra de sua antiga música mesclada com muita coisa bem alternativa, obtendo um resultado final de gosto bastante duvidoso. Na homepage do Vixen há sinais de um retorno com a banda totalmente reformulada, porém tudo ainda parece estar muito incerto. É esperar para ver.

Guardian
Miracle Mile
(1993 – Pakaderm Records)


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Guardian é uma banda cristã que muita gente por aí desconhece. David Bach (baixo) e Tony Palacios (guitarra) deram início ao conjunto em 1985 na cidade de Los Angeles, em plena efervescência de conjuntos ligados às drogas e sexo. Adicionam o vocalista Jamie Rowe e o baterista Karl Ney ao grupo, levando adiante o projeto de mostrar o que o “Senhor fez em suas vidas” e, mesmo sendo motivo de piada para muitos, logo assinam com a Vertigo e lançam seu primeiro disco. Não satisfeitos, partem para um pequeno selo cristão chamado Pakaderm e a partir daí começam a chamar a atenção do público mais voltado para o lado espiritual e que, mesmo assim, curtia rock´n´roll.
E seus músicos eram realmente criadores intensos. “Miracle Mile”, de 1993, é seu terceiro registro e comprova isto, apresentando um trabalho gráfico muito bonito, letras reflexivas, uma gravação impecável e a atuação dos músicos são soberbas. Claro que nada disso contaria se as canções não fossem boas, o que não é o caso aqui. A voz de Jamie chama a atenção, a guitarra tem ótimo timbre, sendo que Palacios tem realmente afinidades com seu instrumento e tudo isso vem muito bem acompanhado por uma cozinha consistente. As faixas são bastante melódicas, cheias de swing e com boa dosagem no peso. Os bons garotos do Guardian aumentaram em muito sua reputação com este trabalho.
A vida continua com Guardian se apresentando por diversos países e lançando inúmeros trabalhos, sendo que muitos deles fogem bastante da sua proposta inicial de tocar hard rock. Fato curioso é que em 1998 colocaram no mercado um disco de covers chamado “The Yellow And Black Attack Is Back”, adivinhe de quem? Stryper! Reproduziram todo este álbum! Se algum dos leitores aí for curioso, navegue pela internet e procure pela capa deste disco, que é de uma cara-de-pau digna de uma banda cristã que é fã do Stryper.

Backsliders
National Nightmare
(1987 – FM Revolver Records)

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Realmente, estas linhas são, de coração, para bandas como Backsliders. Vindo da gélida Finlândia, três amigos motoqueiros, amantes de uma vida onde se aproveitassem seus prazeres mais simples - beber e transar - montaram este conjunto sem pretensão alguma. Marko Asser Hirsma (voz e baixo), Danny Eklund (guitarra) e Ana haglund (bateria) formaram uma legião de fãs com seu rock ´n´ roll básico e sujo. Sua música ficou praticamente limitada aos bares por onde tocavam e achar seus discos hoje em dia é realmente complicado, principalmente os três primeiros.
“National Nightmare” é seu terceiro registro e o último como um trio. Aqui tudo cheira a graxa, gasolina e garagem. Ao contrário dos conjuntos onde seus membros se apresentavam como motoqueiros sobre Harleys incrementadas de acessórios reluzentes, este trio estava sobre grandes motos estouradas, de uma simplicidade ímpar, que eles mesmos montavam de acordo com suas vontades.
Impossível escutar sua música e não se impressionar com algo tão espontâneo. Canções como a faixa-título, “Gotta Be Right” e “Undertaker”, com suas incríveis linhas de contrabaixo, que quase solam no decorrer das canções. Ou ainda o refrão rebelde e pegajoso de “Hear Me Howlin” e o cover para “Snakeskin Cowboys” de Ted Nugent, que são meros aperitivos para o que é realmente este álbum. A quantidade de motoqueiros que angariavam como fãs aumentava por onde tocassem.
Após este registro, a banda adotou mais dois membros em sua formação e continuaram lançando seus sempre bons discos, com um ou dois covers sempre presentes. Mas no decorrer dos anos de estradas e bares, mais precisamente em 1991, seu mais novo guitarrista Albert Järvinen é encontrado morto num quarto de hotel em Londres após uma festinha particular. Apesar de ter apenas 40 anos, a condição física de seus órgãos era de um homem de 70 anos! Conseqüência de uma vida de excessos... Mas as tragédias não param por aí, pois em 2001 Marko, a voz e um dos membros fundadores do Backsliders, é encontrado morto em um estacionamento. Modo como morreu? Assassinado a tiro.
Uma pequena banda que norteou sua carreira com DROGAS, tatuagens, álcool, tragédias e tudo o mais que possa rolar no underground. Muitos podem detestar tudo isso, porém Backsliders viveu sua música. Sempre tendo a motocicleta como parte principal de sua imagem, nunca mudaram sua atitude para atingir novos mercados, mas deixaram sua marca com oito grandes discos e inúmeros EPs.

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