Seu rosto diabólico e seu olhar de maníaco estão em todas as capas do IRON MAIDEN desde que eles lançaram seu primeiro LP, em 1980. Edward T. Head, mais conhecido como Eddie, é uma ex-máscara de teatro que há mais de 30 anos ganhou um corpo e se transformou no membro mais conhecido da banda.
Nos anos 70, ele era uma caveira que ficava acima do baterista. “Tinha olhos vermelhos que piscavam e cuspia sangue falso em cima dele,” relembra o baterista Nicko McBrain.
Quando o Iron Maiden lançou seu primeiro álbum em 1980, não havia dúvida de quem estaria na capa – Eddie, desenhado pelo artista britânico Derek Riggs. Aqui, ele fala ao Revealed sobre o demônio que fez dele famoso.
Quando você começou a desenhar o Eddie, nos anos 70, você imaginou que ele iria se tornar um personagem tão famoso e amado pelos fãs do Maiden?
Derek Riggs: "Assim que terminei a primeira figura do Eddie, eu encostei na cadeira e pensei 'esse desenho vai me fazer rico e famoso'... e então eu pensei 'não seja idiota', e fui pegar um café".
"Mostrei-o ao meu empresário, que me devolveu com uma careta, dizendo 'não achamos que esse desenho seja muito comercial'".
"Comecei a mostrar meu portfólio aos diretores de arte de gravadoras, que normalmente se escondiam de medo, quando o viam. Uma vez, um diretor de arte me expulsou de seu escritório porque ele não achava que era uma capa apropriada para um álbum de rock. Ele apontou para um desenho na parede, que para ele, era uma capa de rock ideal: era uma pintura de uma garçonete usando mini-saia, se curvando de modo que você conseguia ver sua calcinha".
"Um outro sugeriu que eu fosse cortar meu cabelo e desenhasse coisas mais normais, porque eu 'parecia um esquisitão, ou deficiente mental', e que eu deveria parar de desenhar aquelas coisas e deveria fazer terapia".
"O desenho não despertou interesse de ninguém por um ano e meio, antes do Maiden pedir para ver meu portfólio. Eu juntei as coisas e pensei se deveria levar aquele desenho também, porque ele só tinha me prejudicado até ali. Eu meio que pensei 'bom, e daí?' e o coloquei junto com o resto das coisas. Então agora eu sou um pouco famoso, mas ainda não sou rico..."
"Essa história e muitas outras são contadas com mais detalhes no meu livro 'Run for Cover, the Art of Derek Riggs', que está disponível exclusivamente através do meu site: www.derekriggs.com. O livro também traz um monte de desenhos legais e horríveis".
Você sente alguma conexão pessoal com Eddie, como se ele fosse sua criação, quase seu filho? Ás vezes você se sente como um pai orgulhoso?
Derek Riggs: "Eu não sou pai do Eddie, ele é apenas um desenho que eu fiz um dia e que acabou dando certo. Nunca tive intenção de ficar desenhando aquela coisa por vinte anos. Eu nem mesmo queria fazer desenhos de horror, sempre fui mais interessado em ficção científica, mas não podia pintar aquelas naves espaciais idiotas. Eu costumava desenhar naves espaciais bem bizarras (elas são feitas por aliens, certo?), e então os diretores de arte mostravam algo feito por outra pessoa e diziam 'naves espaciais não são desse jeito... elas são assim'. Então eu percebi que ilustração de ficção científica não era tão criativa ou original, como parecia. Aí eu caí fora e fui tentar fazer capas de discos".
De onde veio a inspiração para as mais variadas formas do Eddie?
Derek Riggs: "As várias formas do Eddie foram normalmente originadas da direção em que a banda gostaria de ir, naquele momento. Um ano o tema foi egípcio, depois ficção científica, e assim por diante. Normalmente os detalhes do que vinha depois eram meus. Eles só me davam a direção e me deixavam livre para criar. Na maioria das vezes, o resto do conteúdo era idéia minha, apesar de que às vezes eles tinham idéias mais detalhadas do conteúdo do desenho, como a capa do 'Piece Of Mind', que foi idéia do Steve. Muitas das outras coisas, detalhes e tal, eu costumava criar enquanto desenhava. Às vezes eu simplesmente enjoava e mudava ele, só pra ter o que fazer".
Qual é o seu Eddie favorito, e por que?
Derek Riggs: "Gosto do Eddie Clairvoyant, porque é complemente maníaco. Eu não o planejei daquele jeito. A música era sobre clarividência (ver o futuro), e eu comecei com uma idéia de algo como o deus romano Jano, que eu acho que tinha duas faces, e então eu dei a Eddie três faces (passado, presente e futuro), mas eu não conseguia ajustar o rosto quando a boca estava aberta, então no desespero, eu apaguei as partes entre suas mandíbulas (as bochechas) e ficou tão maluco que eu deixei daquele jeito".
Há citações de você dizendo que a idéia para o Eddie foi baseada em uma imagem de uma cabeça decapitada que você viu em um documentário na televisão sobre a Batalha de Guadalcanal, na Segunda Guerra. Isso é correto?
Derek Riggs: "Não, isso é uma asneira total. Não há citações minhas dizendo isso porque eu nunca disse nada parecido com isso. É uma citação completamente errada. E também, do ponto de vista dos fatos, é completamente errado".
"Eu queria fazer um desenho de uma figura em decomposição, semi-esquelética, nas ruas de Londres, mas eu precisava de algum material como fonte, porque eu realmente não sabia como uma cabeça humana se decompõe".
"Então me lembrei de uma montagem de fotos que eu tinha feito nos anos 70, quando estava na escola. Parte dessa montagem era uma fotografia de uma cabeça em decomposição que tinha ficado presa em um tanque. Essa foto estava na revista Time e a legenda dizia que era a cabeça de um soldado americano que ficou presa em um tanque vietnamita. Muitos anos depois, encontrei a mesma foto em uma coleção da Time Photos. A legenda dizia que era a cabeça de um soldado inglês em um tanque Nazista. Então agora eu acho que a foto não era nada mais do que um pouco de propaganda política de guerra. De qualquer forma, eu usei essa foto como referência para desenhar a cabeça do monstro".
"Eddie não foi inspirado pela foto; usei a foto como referência para o desenho. O desenho foi inspirado pelo movimento punk rock inglês no final dos anos 70. Eles tinham meio que essa filosofia da rua, sobre como a juventude da época estava sendo desperdiçada e jogada no lixo. Foi uma tentativa de representar essa idéia visualmente. Mas eu não conseguia vendê-la aos punks, eles ficavam com muito medo".
Você acha que ele envelheceu bem? O Eddie de hoje é tão poderoso e atrativo como os antigos?
Derek Riggs: "Apenas os que eu desenhei. Os Eddies de outras pessoas são meio toscos. Todos falam como se pudessem desenhá-lo, mas quando chega a hora, falham. E isso é porque eles falam demais, mas eu sou o único que vai lá e faz".
"Minhas ilustrações venderam mais produtos do que Walt Disney. Eddie vendeu mais do que Mickey Mouse. Eu já vendi mais pôsteres do que o presidente dos EUA em ano de eleição. Muitas das idéias 'originais' de fantasia que você vê nos filmes e na televisão foram roubadas diretamente do meu site e de trabalhos publicados meus. Tenho a idéia e alguém simplesmente vai lá e rouba. Fico um pouco cansado de ver minhas idéias sendo usadas por outras pessoas que não têm criatividade própria, mas apenas um grande orçamento para um filme. Ei, dê a MIM o grande orçamento para um filme e veja o que acontece. E parem de roubar do meu site. Ladrões".
Sendo um demônio, como é Eddie? Você deu uma personalidade a ele?
Derek Riggs: "Olha, Eddie é um desenho. Ele não tem uma personalidade, ele não come, não dorme, não rosna e não morde. Ele não acredita em nada, não é a favor de nada e não é contra nada. Ele é um desenho.... certo?"
Quais são algumas das maiores idéias erradas que as pessoas têm sobre o Eddie?
Derek Riggs: "Que ele é uma pessoa real, com personalidade. Que de alguma forma, eu seja daquele jeito, que ele seja meu alter ego. Bom, ele não é. Ele é só um desenho que eu fiz um dia e meio que ficou 'grudado' em mim. Ele meio que me segue, como o monstro de Frankenstein. E vocês acham que tem problemas com perseguidores".
Você parou de trabalhar para o Iron Maiden há algum tempo. Foi difícil se separar da sua criação?
Derek Riggs: "Não, na época em que parei de trabalhar pra eles, eu já estava mesmo com o saco cheio de desenhar o Eddie. Eu realmente queria fazer outra coisa. Eu poderia ter feito um grande estardalhaço por causa dos direitos sobre o personagem, mas eu não queria mais desenhá-lo e não o utilizaria pra mais nada mesmo. Além disso, ele era parte da essência nos negócios do Maiden, e não é da minha natureza prejudicar as pessoas desse jeito. Então eu simplesmente deixei de lado e segui em frente".