A história da banda tem inicio em 1963, quando Keith Relf, Chris Dreja, Antony “Top” Topham, Paul Samwel-Smith e Jim MacCarty, fissionados por Blues e frequentadores de Pubs como o Crawdaddy Club (bar em que os Rolling Stones frequentemente se apresentavam antes do sucesso comercial na Inglaterra) decidem formar um grupo com nome de The Yardbirds.
Topham não permaneceria por muito como guitarrista solo e em 1964 o então ilustre desconhecido
Eric Clapton oriundo do The Roosters amigo de Keith Relf adentra ao grupo dando inicio a uma série de formações clássicas. Clapton, apaixonado por Blues desde o inicio de sua carreira, demonstrava enorme talento para com a guitarra e com sua adesão o som dos Yardbirds dá um verdadeiro salto de qualidade. Ainda em 1964 sob a tutela de Giorgio Gomelsky, dono do Crawdaddy Club (onde a banda se tornara a principal atração após a saída dos Stones) é lançado o debute do grupo o lendário “Five Live Yardbirds” um dos melhores registros ao vivo da historia do Rock repleto de covers de clássicos de mestres do Blues e Rhythm & Blues com destaque para uma versão arrasa quarteirão de “Smokestack Lightning” de Howlin’ Wolf.
Não havendo ainda um conjunto de composições próprias e com um número ainda limitado de músicas no repertório, coube a Paul a ideia de aumentar o tamanho das canções com uma improvisação no miolo do tema. O conceito desta improvisação não seria da forma jazzista, aonde cada músico vai tocando atrás de um solista, mas que a banda toda junta começa a criar um crescendo que quando em ápice, explode de volta para o refrão final. O estilo ou conceito foi batizado também por ele de "rave-up". Rapidamente The Yardbirds se tornam falados no circuito de R&B, ganhando a fama de ser eletrizantes, graças aos seus rave-up's, forma diferente com que eles apresentam seu blues, bem mais pesado e selvagem. O formato de Power trio bem comum a partir de 66/67 (Blue Cheer, Cream, Grand Funk Railroad, entre outros) nada mais é do que um aprimoramento dos rave-up's, criado pelos Yardbirds.
Gomelsky então procura dar maior apelo comercial ao grupo forçando-o a lançar o single “For You Love” no inicio de 1965 onde se exploram sonoridades mais acessíveis. Apesar de um segundo lugar nas paradas inglesas, o lançamento do compacto desagrada Clapton até então um purista do Blues forçando sua saída da banda no começo de 1965. Por sugestão de Jimmy Page, então cotado para o cargo deixado por Clapton, Jeff Beck é admitido na guitarra principal. Ainda sob a tutela de Gomelsky seria lançado no começo de 1965 o disco “For You Love”, na realidade a junção de alguns singles antigos da era Clapton com algumas novas canções de estúdio com Jeff Beck na guitarra. Apesar do forte apelo comercial, o álbum traz releituras geniais de clássicos do Blues como “Good Morning Little School Girl” e “I Wish You Would” registrada aqui em uma versão abissal, considerada por muitos a melhor já registrada em álbum.
Entre o final de 65 e começo de 66 é lançado o álbum “Having A Rave Up With The Yardbirds”, disco que marcaria uma nova fase da carreira da banda ao contar com maior numero de composições próprias e sinalizar as primeiras incursões psicodélicas como se nota na guitarra imitando uma sitar em “Heart Full Of Soul” e um trem na introdução da legendária “Train Kept A Rolling”.
Após uma participação na trilha sonora do filme “Blow Up” de 1966 com a canção “Stroll On” (uma releitura de “Train Kept A Rolling”) The Yardbirds entrou em estúdio para gravar o disco “The Yardbirds” mais conhecido como “Roger The Engineer” nome da ilustração usada como capa, cortesia de Chris Dreja (uma das capas mais legais na opinião deste que vos escreve).
“The Yardbirds” é sem dúvida o melhor trabalho do grupo e um dos álbuns definitivos dos promissores anos 60. A começar pelo fato de ser o primeiro trabalho que não se trata de compilações de singles de diferentes épocas, podendo ser considerado o verdadeiro debute da banda em estúdio. Segundo por trazer canções bem sofisticadas com arranjos mais elaborados se comparados aos primeiros lançamentos do grupo, devido em sua maior parte à genialidade de Jeff Beck que nesse período começa a usar novos amplificadores e pedais extraindo timbres até então inéditos para o instrumento. Deve-se abrir aqui um parêntese para ressaltar a genialidade de Beck, que embora permaneça a margem de outros grandes nomes da guitarra, foi talvez o que mais trouxe inovações para o instrumento (atrás apenas de Hendrix) abrindo caminho que seria explorado a exaustão por guitarristas como Alvin Lee (Ten Years After), Jerry Garcia (Grateful Dead), o próprio Jimi Hendrix e Jimmy Page (no Led Zeppelin).
Quanto as canções que compõe o disco, psicodelia pouco ortodoxa ressoa em canções como “Farewell”, “He’s Always There” e “Hot House Omagarashid” aonde a banda remete ao Ten Years After do álbum “Stonehenge” (1969), já o hit “Over, Under, Sideways, Down” baseado na linha de baixo da também clássica “Rock Around The Clock” soa psicodelicamente futurista graças ao seu ritmo quebrado (ao melhor estilo para e começa), à guitarra sinuosa de Beck e aos estimulantes gritos de “Hey”. Experimentações com canto gregoriano ecoam em “Turn Into Earth” e “Even Since The World Began”. Em “I Can’t Make Your Way” o grupo passeia por estandartes do Blues britânico a muito esquecidos e por falar no dito cujo as incendiárias “Lost Woman”, “What Do You Want”, “The Nazz Are Blue” e “Rack My Mind” refletem a maneira como a banda acrescentava fúria ao Blues tradicional (respectivamente “Someone To Love Me”, de Snooky Pryor, “Who Do You Love” de Bo Didley, “Dust My Broom”, de Elmore James, e “Baby Scratch My Back”, de Slim Harpo). Beck demonstra o porquê de ser um grande virtuose da guitarra numa tour-force instrumental sintomaticamente intitulada “Jeff’s Boogie”. Destas sessões de gravação sairia ainda o single “Shapes Of Things” a mais psicodélica canção dos Yardbirds e talvez a que teve mais regravações ao longo do tempo, inclusive de Beck em seu debute como artista solo.
Durante um turnê nos EUA Paul deixaria a banda e logo Jimmy Page assumiria o baixo, em seguida trocando de lugar com Chris Dreja tornando-se assim o segundo guitarrista do grupo. E é com essa dupla que o The Yardbirds vive sua faz mais criativa e se torna presença constante nos Tops 20. Deste período são “Happiness Ten Years Ago” (um rock arrasa quarteirão com a dupla dos sonhos de qualquer banda) e a estridente “Psycho Daisies” que constam como faixas bônus nos relançamentos em vinil de “Roger The Engineer” pela Music on Vinyl Records.
Devido a divergências internas, em especial por seu forte temperamento, Beck logo abandonaria o barco e Page se tornaria a estrela mor do grupo. Com um único guitarrista seria gravado o excelente “Little Games” (1967), mas isto já é assunto para outra discografia básica. Dessa formação sairiam ainda mais alguns single e o semipirata - porém altamente recomendado - “Live Yardbirds feat. Jimmy Page” (1971), quase um prenúncio do que seria o
Led Zeppelin ao vivo, uma de suas canções mais tarde regravada como “Dazed And Confused” foi seu primeiro grande sucesso.
Após sucessivas crises e com o desinteresse geral dos demais integrantes em tocar o projeto, Page reformularia por completo o Yardbirds originando assim o
Led Zeppelin.
Os Yardbirds sempre são lembrados como o grupo que apresentou ao mundo três dos melhores guitarristas de todos os tempos. O sucesso de suas carreiras solos acabam por ofuscá-lo, mas sua influência vai muito além disso e certamente podemos assinalá-lo como um dos grupos que definiram o Rock nos anos 60 e seu álbum autointitulado é até hoje um dos melhores registros dessa era mágica.
Altamente indicado para uma discografia básica.
FAIXAS
1.Happiness Ten Years Ago*
2.Lost Woman
3.Over, Under, Sideways, Down
4.The Nazz Are Blue
5.I Can’t Make Your Way
6.Rack My Mind
7.Farewell
8.Hot House Omagarashid
9.Jeff’s Boogie
10.He’s Always There
11.Turn Into Earth
12.What Do You Want
13.Even Since The World Began
14.Psycho Daisies*
*Apenas no relançamento em vinil.