É indiscutível que a cena underground de várias nações esteja fervilhando com bandas muito boas, como é o caso do Crushing Sun, na ativa desde 2003, oriundo de Portugal e que está debutando com "Tao" através do selo Major Label Industries. Este disco alcançou a posição de melhor álbum do ano em diversas publicações daquele país, e o Whiplash! foi conversar com o baterista Marco, que contou um pouco da história, da complexidade de sua música e da situação da cena musical lusitana. Confiram aí:
Whiplash!: Olá pessoal! Considerando que o Crushing Sun ainda seja praticamente desconhecido aqui no Brasil, que tal começarmos com uma biografia da banda?
Marco: Os Crushing Sun iniciaram o seu percurso em 2003, quando, vindo de projetos que não vingaram, eu e o Paulo (guitarra) nos juntamos para tocar sem compromissos. Passados uns meses vislumbramos algo que poderia ser realmente uma banda e então fomos à procura de completar este quarteto e, cerca de três ou quatro meses depois, ouvi uns registos da antiga banda do Paulo e gostei do vocalista, Bruno Silva, o qual foi convidado a juntar-se ao grupo.
Marco: Iniciamos o processo de composição com um amigo nosso no baixo, Pedro Balazeiro (Flecha), mas este apenas se dispôs a ajudar-nos enquanto procurávamos um baixista fixo, o que, por volta de setembro ou outubro, em 'conversa de copos', adicionamos o Rui Pinto à nossa formação. Mas como prêmio pela ajuda que o Flecha nos deu, a primeira apresentação foi dele.
Marco: Nessa altura não éramos o Crushing Sun e andávamos em busca de um novo som, mas com a entrada do Rui partimos para sonoridades mais pesadas, que desde então foi evoluindo para o que é hoje o “TAO”.
Whiplash!: "Tao" é uma estreia de respeito. Embora a questão de rotular sua música não seja uma preocupação, certamente ela motiva discussões e reflexões. Como vocês definem sua Arte, afinal?
Marco: Nunca fomos em busca de rótulos ou tivemos algum intuito de dissecar o nosso som, sempre fizemos aquilo de que gostamos. Então é difícil, até para nós, dizer qual o tipo de Metal tocado. Eu costumo dizer que é Metal e ponto.
Whiplash!: Canções como “20 To 22.000 Hertz” e “37º+ Celsius” são alguns exemplos da complexidade dos ritmos e atmosfera um tanto quanto perturbadora do repertório. Como funciona o processo de composição do Crushing Sun? Quais as bandas e discos que poderiam tê-los influenciado?
Marco: O processo de composição dos Crushing Sun é algo muito simples, se é que podemos chamas de 'simples' quando as nossas ideias são bastante variadas. E um amálgama de pontos de vista, opiniões e influências, não estando esta última, de fato, associada a qualquer banda que estejamos a ouvir no momento. Estas duas músicas são mais um complemento deste álbum, tornando-o mais dinâmico, são músicas que fazem a ponte entre o “Bipolar” e o “TAO”.
Marco: Podemos dizer convictamente que o Crushing Sun não procura seguir o rasto de alguma banda no momento, daí ser 'difícil' incluírem-nos em algum estilo do Metal. Praticamos uma música que todos gostamos e é essa a razão da nossa existência, caso contrário, estaríamos agora a ensaiar músicas de baile para casamentos.
Whiplash!: Em 2010, o "Tao" alcançou a posição de melhor disco português através de uma votação da revista Loud!. Parabéns! O quanto esse fato significa para vocês e, em função disso, novas portas se abriram para a banda?
Marco: Obrigado! Realmente esperávamos algum apreço pelo trabalho produzido, sem nunca perder a noção do lugar que ocupamos. Não só a Loud! nos considerou o álbum nacional do ano, mas em muitos outros espaços, o que nos deixou muito felizes.
Marco: O fato de 'abrir portas' com todos esses votos importa, mas o ceticismo dos promotores de eventos faz com que isso tudo tenha que ser validado com uma boa performance ao vivo, optando muitas vezes por bandas que têm experiência neste ponto. Pesa muito mais o número de pessoas que a banda chama para determinados eventos do que a própria qualidade de sua apresentação.
Marco: Não podemos pensar que somos os maiores só porque conseguimos esses prêmios, temos que lutar para mostrar Crushing Sun no mercado, não podemos ficar em casa à espera que nos venham chamar para tocar aqui ou acolá.
Whiplash!: O disco foi gravado, mixado e masterizado pelo guitarrista Paulo Lopes e o próprio Crushing Sun. O áudio final é o que vocês almejavam para o "Tao"?
Marco: Nós quisemos ter um disco natural, com um som agradável, e desde logo soubemos que gravar com o Paulo, no próprio estúdio, perto de casa, seria a melhor opção para a banda. Desde sempre nos foi possível controlar o tipo de som, durante muito tempo andamos a ouvir e a ajustar os pormenores até que o disco fosse liberado.
Whiplash!: A ilustração da capa de "Tao" é bastante singular e foge completamente dos 'padrões' que se espera de um disco de Heavy Metal. Qual a relação entre esta curiosa imagem e sua música?
Marco: Os Crushing Sun nunca foram banda estereotipada do Metal, se tocássemos Rock era muito provável sermos exatamente as mesmas pessoas, com o mesmo estilo de vida, e isso reflete-se na capa. “TAO” aqui está como o 'caminho' e os nossos sentidos, foi um tema abordado pelo Bruno em busca de homogeneidade na composição das letras e então ele usa dois personagens respresentados na capa, com um caminho e sentidos à mistura. Tendo este tema, foi relativamente fácil decidir o que poderia ser a capa e então o nosso amigo Nuno Doc tratou do resto, acertando à primeira. A única alteração do desenho original foram as cores, pois “TAO” foi liberado no outono, daí o tom acastanhado.
Whiplash!: Tenho procurado e encontrei ótimos discos lusitanos. Mas como é a realidade da cena underground de seu país? Há facilidade para as bandas mostrarem sua música, apoio do governo, como funciona tudo por aí? Aliás, o CTT Correios de Portugal preparou uma série de selos que homenageiam o “Rock em Portugal”, algo realmente bonito...
Marco: Felizmente existem grandes bandas de metal em Portugal, e sei que não foi difícil encontrares esses discos, mas quando se aborda o assunto de 'apoio do governo'… Bem, não sei onde anda. A cultura nunca foi motivo de grande reflexão por parte do estado, as autarquias pouco fazem por isto, mas é claro que existem exceções à regra. É cada vez mais difícil encontrar locais com condições para tocar, a crise arrasta todos os que não enriquecem com a desgraça de outros, por exemplo, ir tocar a Lisboa, à 300Km, é super difícil com os preços de portagens e gasolina. É inacreditável como um país tão pequeno se torna grande quando nos colocam tantas barreiras. O que move o Metal em Portugal é a força e esforço de alguns, pessoas que gostam do que fazem. Não vi esses selos dos CTT, mas calculo que sejam uma homenagem aos Xutos e Pontapés. Ahahah.
Whiplash!: Levando em conta que o Crushing Sun seja uma banda portuguesa, como está sendo sua recepção pelas outras nações? Como está sendo a divulgação e apresentações?
Marco: Felizmente a recepção do nosso disco está a ser tão calorosa lá fora como no nosso próprio país. Notamos que o número de ouvintes, pessoas presentes em espétaculos tem aumentado e isso é muito bom para Crushing Sun. Infelizmente, as bandas portuguesas continuam a ser desrespeitadas, menosprezadas e desvalorizadas no nosso país, parece que o 'que é nacional é menos bom' em relação a bandas estrangeiras. Ainda andamos à procura de uma tour pela Europa para termos a oportunidade de sentir o que as pessoas consumiram de Crushing Sun, mas neste momento não temos nada em vista, apenas planos que, eventualmente, acabarão por se realizar… Assim nós desejamos.
Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte ao Crushing Sun. O espaço é de vocês para os comentários finais...
Crushing Sun: Um muito obrigado ao pessoal do Whiplash! pela entrevista, esperamos que a nação brasileira esteja 'curtindo' o som do Crushing Sun e, se um dia a oportunidade surgir, ficaríamos deliciados por atuar no vosso país. Desejámos tudo de bom ao Whiplash! e um enviamos um grande abraço a todos aqueles que apreciam a nossa arte. Paz.