A cada disco os americanos cresciam, como banda, e tornavam seu som ainda mais pesado que no lançamento anterior. "Far Beyond Driven" (1994) apresentou excelentes vendagens para um trabalho tão agressivo, principalmente se condiderarmos que foi uma época em que o grunge dominava o mainstream. A expectativa para o próximo registro era forte: será que lançariam algo ainda mais brutal?
Bastam os 10 primeiros segundos da faixa-título, que abre o álbum, para responder essa pergunta. A introdução, que beira o grindcore, logo cede espaço para os tradicionais riffs grudentos do grande guitarrista Dimebag Darrel. No final, a sessão de solos, em nada lembra a agressividade do início da faixa que, em seu título, faz alusão a origem sulista da banda e a vontade em "destruir" o que estava na moda, na música, naquela época. A letra dessa faixa é pura agressão e ela, por si só, poderia ser responsável pelo boicote que o álbum sofreu nos meios de comunicação na época - claro que a banda ajudou muito: se negando a dar entrevistas, por exemplo - pois ataca as revistas especializadas e a própria MTV.
"War Nerve" logo nos primeiros riffs mostra o porquê de Dimebag ser considerado uma grande influência no metal moderno: a baixa afinação aliada a dissonâncias tornaram-se a marca registrado do guitarrista. Isso claro, somado ao peso - e que peso - do baixo de Rex Brown e a incrível interação de Dimebag com o seu irmão, o baterista Vinnie Paul. Aqui há a segunda participação - a primeira ocorreu na faixa-título e a segunda durante "Suicide Note Part. II" -, do hoje finado, vocalista do "ANAL CUNT" Seth Puntnan - que ajudou Anselmo com alguns gritos.
Um Phil Anselmo, gritando como nunca e ainda mais insano, dá a alma em letras ainda mais tortuosas e soturnas que qualquer coisa que a banda já tenha feito. Paralelamente ao lançamento do álbum o "Pantera" não vivia uma fase harmoniosa, principalmente por parte de Phil Anselmo que estava no ápice de sua dependência química. A situação chegou em níveis tão extremos que para que "The Great Southern Trendkill" visse a luz do dia, a banda precisou separar-se do vocalista - que gravou o disco sozinho no estúdio do músico Trent Rezno ("Nine Inch Nails"). Some o fato do vocalista estar envolvido com inúmeros projetos musicais, sendo um deles o "DOWN" - com o baixista Rex Brown - que tomou rumos maiores que o inicialmente previsto.
Mesmo com toda a acidez da banda com a mídia, esse álbum ainda rendeu um clipe: "Drag the Waters" foi a música escolhida. Trata-se de uma composição boa e marcante baseada num riff realmente interessante. Todavia, sua repetição tornam tal canção uma das mais fracas do disco.
Surpreendendo o ouvinte, na quarta faixa, surge a primeira balada do disco. "'10's" é uma das melhores - e mais injustiçadas - composições presentes no álbum. A letra, claramente, trata da questão do vício de Anselmo e o solo... o que falar do solo? Apenas ouça. Possui uma classe e pegada única. Um dos melhores solos de Dimebag e que compete diretamente com "Floods" (nona canção) para o melhor do álbum.
Bem... O que falar de "Floods"? Considero essa faixa uma das mais únicas na carreira da banda e do metal. Assim como a "10's" é uma balada, porém possui mais variações e "climas" durante seu decorrer, mas é claro tenho que destacar o riff pesado, baseado em alavancadas, e o grande solo que surge quase no fim da música. Sendo este solo muito lembrado em inúmeras votações como o melhor já criado pelo guitarrista. Recomendo o ouvinte que preste atenção na conclusão da música, pois é um grande momento de inspiração. A maneira como Rex Brown completa a guitarra nessa música também merece ser citada.
Voltando às faixas mais pesadas, temos "13 Steps to Nowhere" - que riffs, que bateria! - e "Living Through Me (Hells' Wrath)".
Logo na sexta faixa temos a primeira sequência de "faixa-gêmeas" com Suicide Note Part I. Essa primeira parte é calma, possui algumas dobras de vocais em harmonias e Dimebag troca sua guitarra por um violão de 12 cordas. Incrível como os efeitos passam nessa balada, que possui uma certa influência do southern rock/country, um clima de desespero que sincroniza com a letra.
A banda conseguiu criar um disco ótimo, anti-comercial, pesadíssimo e completo. "The Great Southern Trendkill" é um disco difícil de digerir, mas que tem uma tendência forte a te cativar mais a cada audição. Mesmo não sendo um dos álbuns mais indicados para se conhecer o "Pantera", - e podendo assustar nas primeiras audições, principalmente em quem é ligado na fase mais antiga do grupo, por conta da agressividade - esse álbum não merece ser esquecido.
"The Underground In America" e "(Reprise) Sandblasted Skin" - que é uma espécie de continuação da faixa anterior - encerram com o mesmo nível de violência dos segundos iniciais desse disco que é um dos mais brutais e agressivos já lançados no metal. Sim, mais brutal e agressivo que muito black/death metal por aí, e num contexto histórico desfavorável, visto que se o "Pantera" lançasse algo mais comercial poderia ter crescido no mercado, ao invés de seguir na direção oposta. Tente pensar no rumo que as bandas similares, de thrash e heavy metal, tomaram nessa época...
Formação:
Phil Anselmo - vocal
Dimebag Darrel - guitarras
Rex Brown - baixo
Vinnie Paul - bateria
Tracklist:
1. The Great Southern Trendkill 03:46
2. War Nerve 04:53
3. Drag the Waters 04:55
4. 10's 04:49
5. 13 Steps to Nowhere 03:37
6. Suicide Note, Pt. I 04:44
7. Suicide Note, Pt. II 04:19
8. Living Through Me (Hell's Wrath) 04:50
9. Floods 06:59
10. The Underground in America 04:33
11. (Reprise) Sandblasted Skin 05:39
Tempo total: 53:04