16 de agosto de 2011

Down: entrevista exclusiva com Phil Anselmo


Antes de falarmos um pouco sobre o novo trabalho do Down, gostaria que você comentasse as expectativas para os shows que fará aqui no Brasil em novembro.
Phil Anselmo: Antes de qualquer coisa, sei que nos divertiremos! Faz muito tempo que eu não vou para oBrasil!
Sim! Sentimos sua falta!
Phil: Olha, mas não me faltou vontade de voltar. Nos últimos 3, 4 anos, todas as vezes em que rolava algum papo sobre ir para o Brasil, todo mundo na banda ficava muito animado para acertar tudo e ir tocar, mas infelizmente não dava certo. Agora, finalmente chegou a hora! Para mim, sempre vai ser uma honra passar pelo Brasil, eu simplesmente amo e sinto saudade desse país. O público é incrível!
Falando agora sobre o Down, os membros vieram todas de bandas de estilos mais pesados, como Eyehategod e Crowbar, mas surpreendentemente o som do Down é diferenciado, a ponto de algumas mídias os classificarem como southern rock/metal. Como chegaram no consenso de tocar esse estilo, sem carregar tantas influências de seus grupos anteriores?
Phil: Não querendo mudar um pouco a sua pergunta (risos), mas eu acho que não somos bem uma banda de southern metal, apesar de termos sim alguns elementos característicos do gênero na nossa música. Mas acho que o Down ainda tem mais influência de bandas de rock n roll e metal um pouco mais pesadas. Se você reparar, usamos muitas das escalas do blues, assim como bandas tipo Black Sabbath, Trouble ou Pentagram. Na época em que formamos a banda, estávamos todos ouvindo muito Black Sabbath e Trouble então foi natural concordarmos em tocar algo nesse direcionamento. Mas, mesmo assim, acho que soamos diferente, porque somos um misto desses dois gêneros que citei. Mas, diria que se fôssemos uma banda de southern, estaríamos mais para ZZ Top do que para Lynyrd Skynyrd! (risos) É mais a nossa pegada, até hoje!
Então os fãs podem esperar algo nessa mesma pegada típica da banda nesse novo material em que estão trabalhando? Porque Jimmy Bower, o baterista, recentemente disse que está passando horas trabalhando em cima das músicas novas, pois elas estão diferentes e por isso exigindo bastante dos músicos.
Phil: Sem dúvida a galera pode esperar algo totalmente Down, sem nada muito diferente do que sempre compusemos! Mas a julgar pelas composições que já temos, diria que estamos mais parecidos com o que soávamos no primeiro disco, do que no último, por exemplo. Diria que voltamos às raízes, fazendo um som mais cru, mais puxado para o doom clássico, do que para rock muito pesado. Mas fãs, fiquem tranqüilos! É um doom normal, não aquela coisa tão devagar que rasteja, como algumas bandas fazem hoje em dia (risos). Nada muito devagar, mas sim com aquela essência básica do doom, aquele feeling típico.
Quanto ao que Jimmy disse, creio que não passa de uma evolução natural pela qual ele está passando e que é essencial para todo músico. Para tocar com a gente, ele se inspira muito no baterista do The Melvins e também no Bill Ward. Tanto que a pegada dele se assimila bastante com a de Ward. Ah, tem também aquele outro, que ele adora... o... não acredito que vou esquecer o nome do cara! Você devia me matar por isso! (risos)
Me dê uma dica, quem sabe não te ajudo? (risos)
Phil: Ótimo... É aquele baterista ótimo, que tocou no Sabbath e estava no Heaven and Hell... Meu Deus, como pude esquecer?
Seria o Vinnie Appice?
PHIL: VINNIE APPICE! Isso mesmo, minha querida! (risos) Esse cara é um monstro, um dos melhores, na minha opinião!
Acho ele técnico, mas com uma pegada única ao mesmo tempo! Realmente um excelente baterista!
Phil: Sem dúvida! E o Jimmy se inspira bastante nele. Então só acho que ele está trabalhando duro nas músicas novas para tentar se igualar a seus ídolos e se tornar melhor em seu instrumento. Quanto ao meu vocal, não há muito o que mudar, né? (risos) Apesar de ter influências bem diferentes e gostar de vários vocalistas, já desenvolvi a maneira que me sinto mais confortável em cantar, e por isso afirmo que não haverá nenhuma surpresa nas linhas vocais.
Muitos fãs vêm afirmando que sentiram uma evolução nas composições do Down. Isso se deve ao fato de todos os membros estarem se dedicando ao grupo com um sentimento de banda e não mais de apenas um projeto paralelo?
Phil: Acho que nem tanto e pra falar a verdade acho que ainda não chegamos na evolução perfeita. O som ficou mais elaborado sim, mas acho que foi algo natural. Mesmo porque não nos reunimos pra sentar e compor música numa determinada hora. Pelo menos para mim, e acho que com os caras também, a música simplesmente surge na mente. E vai também do humor! (risos) Não gosto de pensar muito quando vou compor, de ficar pensando como posso melhorar aquilo. Para mim, deve ser algo orgânico. Ao invés de ficar reelaborando e pensando demais nas composições, simplesmente confio no meu instinto, no meu coração. Mas voltando ao lance do humor, eu passo por algumas ‘fases’ de composição. Tem vezes que meu humor me pede para compor músicas mais detalhadas, mais bem trabalhadas, enquanto às vezes tenho vontade de simplesmente botar tudo o que está na minha mente pra fora. Diria que o Down atualmente está nessa fase de botar tudo pra fora, da maneira mais direta possível!
E já que estão nessa fase tão criativa, porque tomaram a decisão de lançar um EP, ao invés de um full length?
Phil: Na verdade, em respeito aos fãs, sabe por quê? Há muito tempo já tínhamos essa idéia de EP em mente e acabamos prometendo isso à galera que acompanha a banda. Como já se passaram quase cinco anos desde o último lançamento, não quero que mudemos de idéia agora e os fãs pensem “poxa, eles mentiram!”. Na minha opinião, já estamos demorando muito com esse trabalho novo, mais do que era previsto. Então, já que temos um bom material escrito, com cinco ou seis músicas redondas, não vejo o porquê de gastar mais um tempão compondo mais sons ainda e reformulando o pensamento para um conceito de um álbum inteiro. Dá muito trabalho e levaria muito tempo até lançarmos algo novo, então estaríamos decepcionando os fãs. Queremos dar algo para eles ouvirem logo, pois tem muita gente que nos apóia muito!
Recentemente, recebemos a notícia de que Rex Brown não era mais o baixista da banda. Ele já estava afastado há algum tempo devido ao seu estado de saúde. Isso influenciou na sua saída, mesmo estando totalmente recuperado hoje em dia? Foi uma decisão da banda ou motivos pessoais que levaram à sua saída?
Phil: Foi totalmente por questões pessoais dele. Eu ainda adoro ele. Ele está bem melhor de saúde e ainda mantemos contato sempre que podemos. Mas o que acontece é que ele está com outra vida agora. Está ocupado com sua família, com seus filhos e por isso deve dar mais atenção para sua vida familiar. Mas não vi problema nisso. Acho que deve haver respeito. Ambos os lados devem respeitar: nós temos que respeitar sua decisão em levar sua vida adiante da maneira que quer, e ele deve respeitar nossa decisão de continuar o trabalho no Down com outro baixista, e acho que isso ocorreu! Além disso, o Pat vem fazendo um ótimo trabalho desde que entrou na banda.
(Nesse momento, fomos informados de que teríamos de encerrar a entrevista ali mesmo)
Phil: Mas já? Deve faltar uma perguntinha ou outra ainda pra ser feita, certo, Fernanda? Deixa mais um tempinho de entrevista, não vai matar ninguém! (risos)
Ok, vou partir para a última então. Eu não poderia deixar de citar o Pantera na entrevista, mas também não gostaria de incomodá-lo com perguntas impertinentes sobre sua ex-banda. Então, gostaria que você comentasse as inspirações para as letras de Down III: Over the Under, seu último álbum, que abordam basicamente a morte de Dimebag Darrel e sua relação com o Pantera. Esses sentimentos ainda são os mesmos? As letras do novo trabalho terão direcionamento parecido?
Phil: Sobre as letras do próximo EP, eu decidi seguir em frente, não escrever sobre o passado. Preferi focar em coisas mais atuais na minha vida e em sentimentos com que as pessoas posam se identificar. E não tenho motivos para ficar incomodado por você citar o Pantera, imagina! Quanto às letras do passado, elas falam sim sobre muitas coisas ruins, mas eu não me arrependo. Eu simplesmente usei o conteúdo lírico para espantar alguns demônios, para desabafar, pois carregava comigo um legado de muita dor. Não tenho como descartar meu passado com o Pantera. Eu penso no Pantera todos os dias, às vezes no mínimo umas dez vezes por dias. E vêm na minha cabeça os tempos bons, os tempos de diversão, mas às vezes também aparecem algumas verdades e alguns tempos ruins na memória. Infelizmente, sempre houve e sempre haverá apenas um Pantera para mim e para os fãs. É duro e triste pensar nisso, mas é a verdade. Não vivemos apenas maravilhas, houve momentos tristes também. Mas eu preciso dar um passo adiante, não posso viver do passado. Isso não faz nem bem para a minha saúde! E todos nós, ex-integrantes da banda, tivemos escolhas, e escolhemos seguir em frente. O Pantera, junto com a minha história e amor pela banda, é muito maior do que qualquer palavra que eu possa falar ou que a galera possa ler vinda de mim aí no Whiplash! Não tem como descrever, nem tentar demonstrar com palavras apenas. Eu amo o Pantera e sinto falta do Pantera. Foi uma coisa única e particular, que eu nunca vou viver de novo. Mas e o amanhã? Como vou viver pensando apenas no passado? Precisava seguir em frente. Mas eu amei tudo o que aprendi com o Pantera. A vida na verdade, para mim, não passa de uma grande provação, de um grande teste, e eu precisava passar por tudo o que passei e aprendi muito com tudo. Quando penso no Pantera, há muita dor, mas também muitas lembranças boas. O que eu tento fazer é tirar algo positivo do que se tornou negativo, sabe? Talvez eu não esteja sendo muito claro (risos), mas é que é um assunto difícil. Resumindo, apenas acho que não posso voltar atrás, não posso viver do passado, apesar de ser até injusto eu falar algo assim. Porque não existe um dia em que eu não pense e não existe nada que eu faça sem pensar no Dimebag. A memória dele é muito viva em mim e isso me agrada muito. Eu amo aquele cara e isso eu não posso mudar!
Agradecimento especial: Prika Amaral e Rafael Richieri

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