Em 25 de julho de 1980, há
exatos 30 anos e alguns dias, era lançado o sétimo álbum do AC/DC. Até
aí, nada demais. No entanto, após a morte de Bon Scott em 19 de
fevereiro daquele mesmo ano, muitos duvidavam que a banda lançasse algum
material novo, ainda mais em momento próximo ao falecimento de seu
vocalista. Ok, mesmo assim, nada disso é muito surpreendente. Na
verdade, a grandiosidade de "Back in Black" reside, principalmente, nas
circustâncias havidas ao seu entorno (que o puxavam para baixo de todas
maneiras possíveis) e na grande vitória que álbum representa. Afinal,
este é o disco de rock mais vendido da história e o segundo mais vendido
em todos os tempos, dentre todas as vertentes musicais, perdendo apenas
para "Thriller", de Michael Jackson.
Em 1979, o
AC/DC
estava no auge de sua força. Com o sucesso de "Highway to Hell",
lançado julho do mesmo ano, e a consolidação da banda como nome forte do
rock n' roll, o grupo firmava o pé e ocupava um espaço cada vez maior
no cenário musical internacional. O
AC/DC
não era mais uma banda da Austrália: era uma banda do mundo,
pertencente a ele e com a missão da sacudí-lo o quão possível fosse.
Quando Bon Scott partiu sozinho em um carro estacionado no frio de
Londres, devastado e longe de ser (ou aceitar a ser) o símbolo que
representava, era como se estivesse à deriva, e a sensação que se tinha
sobre a banda era que o
AC/DC seguiria pelo mesmo caminho e acabaria por silenciar seu trabalho com um trágico fim.
Todavia,
seja pelo destino ou por alguma outra razão que em grande parte das
vezes transcende a nossa compreensão, essa não foi a postura adotada por
Malcolm e Angus Young. Com a benção da família de Bon, o AC/DC seguiu
em frente para dar sequência à sua obra e mudar a história do rock. Ao
escolher o antigo vocalista da banda Geordie para assumir a função
insubstituível de Bon Scott, a banda se refugiou sob o Sol das Bahamas
para gravar o novo disco no Compass Point Studios, em Nassau. O local
era um verdadeiro paraíso, e o estúdio já havia recebido lendas como
Ringo Starr e Alice Cooper e, em menos de dois anos, seria a nova casa
na qual o
Iron Maiden gravaria seus álbuns essenciais. Mas, ainda assim, Brian Johnson sentia-se inseguro sob a sombra de Bon Scott.
As
letras foram trabalhadas de modo singelo pela já conhecida parceria dos
irmãos Young, agora acrescida com o novo talento de Johnson. Era nítida
a diferença de personalidade entre ele e Bon mas, em certo ponto, era
isso que a banda procurava e todos sabiam que não havia em qualquer
canto do planeta outro Bon Scott, seja em sua capacidade de escrever
letras brilhantes e carregadas de significações dúbias, ou simplesmente
em sua performance no palco. O mesmo ocorreu com a musicalidade do
disco: quase todas as canções foram concebidas de modo cru, e o produtor
Robert "Mutt" lange soube captar e manter esse espírito durante as
gravações. Assim, com esse caminhar rápido, Johnson sentiu-se, enfim,
como parte integrante dessa família. O resto, como todos sabem, é
história.
Talvez essa seja a maior razão para que "Back in Black"
seja recheado por pérolas. Era como se a desgraça que a banda havia
abarcado tivesse, de certo modo, lhe dado uma força criativa que
dificilmente seria revista. Afinal, todas as canções do álbum apresentam
uma característica especial, desde aquelas que tornaram-se hinos e
ainda encontram-se presentes nos set lists dos dias de hoje, até o
restante do disco. O curioso é que, em diversos momentos, mesmo com a
voz de Brian Johnson nos guiando, parece que nos é possível e permitido
sentir a presença de Bon. Isso fica mais evidente em "Let Me Put My Love
into You", canção próxima aos moldes de Scott e que funcionou
perfeitamente em "Back in Black". "Shoot to Thrill" e "Rock and Roll
Ain't Noise Polution" também evidenciam o brilhantismo do grupo em
lapidar quase que inconscientemente as suas canções, assim como em
"Shake a Leg". As demais, como "Hells Bells", "Give the Dog a Bone",
"You Shook Me All Night long" e a própria faixa-título dispensam
comentários: são um verdadeiro legado da banda para a humanidade.
Olhando para a história do grupo, também é possível perceber que o
AC/DC
é uma das poucas bandas que não se preocupam em singrar por novos mares
em busca de novas sonoridades. Sua música é uma espécie de patrimônio
do qual a banda é incapaz de se desfazer. É fato: há quase 40 anos o
AC/DC
utiliza a mesma fórmula sem ser repetitivo ou vazio, fazendo e
produzindo o que tem de melhor, uma música direta, objetiva e capaz de
sacudir até o mais denso efermo. Sobre este fato, "Back in Black"
representa uma espécie de coroação, como a amostra da força da banda
que, em seu pior momento, foi capaz de brindar o mundo com um dos
melhores discos de rock da história, capaz de ser agradável até nos
ruídos que dividem as canções em seu formato original, em vinil. É o
rock n' roll em sublimação, captado no ar e transformado em arte, como
há muito não é feito.