Faixa 01: O tão aguardado pelos fãs, Takasago Army, tem como primeira faixa a envolvente "The Island" que soa como um poema épico do oriente. Uma apresentação em clima de trilha sonora que traz consigo a bandeira dos heróis taiwaneses.
Faixa 02: Aumente o som, pois "Legacy Of The Seediq" é um soco na boca do estômago. O clima é de guerra. Os riffs de guitarra de "Jesse Liu" e a bateria de "Dani Wang" te colocam m um canto e ficam batendo durante um bom tempo em seus ouvidos com pegadas ritmicas muito interessantes. O paradoxo gutural de "Freddy Lim" consegue ser bruto para todos os lados ao mesmo tempo que é melódico. Os instrumentos orientais de corda como o "Koto" aparecem com uma certa frequência sempre em um ponto estratégico e muito coeso. Há aqui uma boa sensação de que esse pode ser um grande álbum. Uma música de estrutura muito simples com um refrão complexo e quebrado. Com certeza vai funcionar muito bem ao vivo.
Faixa 03: Se a primeira faixa trazia um clima do oriente, a terceira faixa "Takao" é praticamente um hino taiwanês. Uma música muito diferente de tudo o que o Chthonic produziu durante toda a sua carreira e com um refrão em "chinês arcaico" muito simpático para você cantar com toda a sua família. Os
instrumentos orientais continuam aparecendo e, dessa vez, temos a presença da marca registrada do vocalista que toca o violino de duas cordas (hena). Com certeza será a música mais famosa da banda nos próximos anos. Conceitualmente essa música representa a ida dos taiwaneses para lutar no exército japonês na segunda guerra mundial. O heroísmo e o patriotismo estão em alta nesta faixa.
Faixa 04: "Oceanquake" é a prova de que o Chthonic é uma banda capaz de "agitar o Pacífico" (perdoem-me o trocadilho). Em um exemplo de ousadia e criatividade, a música começa pela bateria e logo se apresenta um dueto muito interessante de guitarra rítmica e violino (hena). Sem perder a energia, a música tem várias mudanças muito coerentes chegando a apresentar trechos muito mais melódicos que o comum e em seguida a mesma pegada de peso da segunda faixa "Legacy Of The Seediq". Sem dúvidas uma produção muito moderna de metal extremo com um solo de guitarra redondinho no final e a repetição do dueto entre violino (hena) e guitarra. Tenho certeza de que eles devem estar orgulhosos de ter composto uma música como essa. Estamos na quarta faixa e já sabemos que esse é o melhor do Chthonic.
Faixa 05: Apesar da flauta indígena no começo, "Southern Cross" se apresena como uma típica música de guitarrista. "Jesse Liu" assumiu o controle e fez "Dani Wang" correr bastante com a bateria para acompanhar o seu ritmo alucinante de cavalgadas. Se tem algo muito característico desse guitarrista é mudar constantemente os riffs e deixá-los complexos ao mesmo tempo que são rápidos. E como não poderia faltar, ao final da música temos um solo de guitarra magnífico. Um dos solos mais bonitos de "Jesse Liu" desde "Quasi Putrefaction" do antigo album "Chthonic - Seediq Bale". Nota dez para o bom gosto e feeling do guitarrista e para a banda como um todo.
Faixa 06: Sem perder o fôlego nem a força, o Chthonic avança para mais uma música bruta. Ouvir "Kaoru" é como participar de um tiroteio. É uma música muito tensa e há um sentimento de luta e derrota predominante na música inteira. Talvez uma das mais pesadas do grupo até hoje. A bateria de "Dani Wang", durante várias vezes no meio da música, passa a impressão de soar como uma arma, uma metralhadora dando tiros como se tudo na banda tivesse realmente aderido ao conceito da guerra. Além de um bom peso e poucas passagens melódicas, na reta final da música, um solo vocal aborígene capaz de levar muito marmanjo às lágrimas surge como se fosse poesia em meio a derrota. Você pode não fazer ideia do que a voz feminina diz, mas o significado de perda e melancolia é inevitável.
Faixa 07: Em "Broken Jade" até as guitarras choram. Depois de 5 faixas pesadas, o Chthonic ainda tem força sobrando para nos apresentar mais uma música incrível. Após ouvir "Kaoru" seus ouvidos clamam por "Broken Jade" que surge muito melódica no começo, mas logo você percebe que a guerra não acabou. É interessante notar que essa música tem um ritmo quebrado que passa de 4 por 4 para 6 por 8 dando uma dinâmica diferente sem soar muito progressivo. Em alguns momentos não parece metal extremo. Após um lindo solo de violino, a guitarra e a bateria comendo solta, eles nos presenteiam mais uma vez neste álbum de infindável surpresas: Ao final, enquanto Freddy grita no refrão: "Leve minha alma pelos ventos do Oceano, pois meu corpo eu deixo para a minha ilha mãe (Taiwan)", há uma voz de um locutor de rádio no fundo anunciando a derrota dos japoneses na segunda guerra mundial. O patriotismo assume proporções muito heróicas. Definitivamente um épico. A banda inteira continua impecável até a sétima música.
Faixa 08: Uma pessoa normal não aguentaria mais uma música de carga emocional tão forte. Depois de ouvir "Kaoru" e "Broken Jade" na sequência, nossos ouvidos precisam de uma folga. "Root Regeneration" é tudo o que precisamos. Uma música instrumental com barulhos de água, folhas, ar e todo um ambiente indígena ao meio da mata com uma flauta e uma reza aborígene. Essa música se apresenta como um descanso mental, uma meditação, algo da filosofia cultural dos nativos da ilha (Taiwan).
Faixa 09: Agora que você está regenerado, não vá pensar que a guerra acabou. Chthonic apresenta "Mahakala" como a nona faixa e te enche de porradas mais uma vez. A energia e a força deles nesse álbum parecem infindáveis. Depois de um grande conceito trabalhado nas 8 primeiras faixas, "Mahakala" teria tudo para ser uma música mais fraca, afinal é muito difícil manter um ritmo forte no álbum inteiro... Entretanto isso não aconteceu. Eles conseguiram apresentar mais uma música diferente, com outra estrutura, dessa vez com dois solos de guitarra com um deles, o mais melódico, fazendo dueto oitavado com o violino (hena). Depois de uma pancadaria sem tamanho, a música termina melancólica com o vocal de Freddy lamentando profundamente em seus guturais acompanhado do inseparável violino. Uma música que te prepara para a reta final.
Faixa 10: Todos os fãs de Chthonic já sabiam que este era o melhor álbum e que até então eles tinham apresentado 9 faixas impecáveis, mas a força do conceito de Takasago Army não acabou. Ao início de "Quell The Souls In Sing Ling Temple", se você ouviu o álbum na íntegra, você se sentirá um guerrilheiro cansado, afinal, depois de travar várias batalhas em diferentes músicas com uma carga de peso tanto técnico quanto emocional, o álbum já deve ter te comovido ao ponto de te deixar abatido. Mas não desista agora! Logo no começo você receberá mais golpes no ouvido de um guitarrista e de um baterista que não cansam. Eles mantém o ritmo frenético até o último segundo. Entretanto, tradicionalmente, o Chthonic sempre foi bom em Grand Finales. A última música se mostra como uma das mais completas do álbum. Exatamente na metade da música, existe uma pausa instrumental bastante oriental e logo após, o álbum inteiro muda de face. A bateria se empolga e repentinamente temos uma banda de heavy metal melódico com um vocal gutural. O sentimento de satisfação é soberano porque você percebe que mesmo depois de tantos golpes, tantas perdas no meio do caminho, tantas derrotas, ainda existem forças para lutar, para se manter de pé, mesmo que de frente com a morte. A segunda parte da música é daquelas que você vai ficar voltando a música para ouvir várias vezes, pois cada vez que se ouve haverá uma visão diferente. A última faixa é a certeza de que ninguém é capaz de derrotar o senso de independência que os taiwaneses possuem e que se for preciso eles entrarão em guerra por toda a eternidade, porque eles têm força e peso o suficiente para isso.
O álbum além de dar uma lição de história, contanto fatos verídicos, dá uma lição de patriotismo e mostra que a independência no Taiwan não é um tratado ou simplesmente um feriado, é um conceito cultural de uma civilização que sempre lutou por isso e sofreu uma série de abusos.
Ao final, surpreso e emocionado, tive somente a opção de dar a nota 10. Um álbum excelente, criativo, minuncioso, cheio de detalhes conceituais, mas sobretudo verdadeiro. Destaque para a evolução da banda como um todo, inclusive para a baixista "Doris Yeh", que mesmo dividindo espaço com a poderosa bateria de "Dani Wang" e a brutal guitarra de sete cordas de "Jesse Liu", conseguiu fazer sua presença valer à pena em vários pontos do álbum. Com certeza um dos melhores lançamentos do ano dentro do estilo.