Sem mais nem menos, a introdução em violões apresentada em “Hello” volta e, para a alegria coletiva dos amantes da boa música, evolui e se desenrola numa das mais belas e emblemáticas canções de todos os tempos: “Wonderwall”. O acompanhamento de violoncelos, a bela interpretação de Liam e a temática romântica da letra realmente tornaram a canção cativante, e ajudaram a eternizá-la como clássico universal.
É importante salientar que a palavra “wonderwall” não existe. Noel compôs esta letra em homenagem à sua amada na época, Meg Matthews, e havia usado a palavra “wonderful” (“maravilhosa”, em português). Porém, Noel sofre de dislexia (distúrbio mental que compromete a memória e a capacidade de concentração) e, ao apresentar a canção ao restante da banda, usou a palavra “wonderwall” por engano. No fim das contas, eles decidiram que ela ficou melhor assim, e creio que todos nós concordamos que a música ficou “wonderful”.
A faixa seguinte começa com uma bela introdução de piano que nos faz perguntar: “Será um plágio de ‘Imagine’, de John Lennon? Mas não. Trata-se de outro clássico absoluto do Oasis, “Don’t Look Back In Anger”, que apresentava simplesmente a seguinte inovação: Noel Gallagher no vocal principal. Uma pequena dissensão interna foi causada quando Noel impôs sua vontade de cantar “Don’t Look Back...” ou “Wonderwall”, pedindo a Liam que escolhesse. Fica óbvio o que foi decidido. Embora Noel não seja um vocalista de ofício, como Liam, e realmente tenha um alcance vocal bastante limitado, pode-se dizer sem medo que ele cumpriu seu papel e, em resultado disso, a canção está gravada em definitivo no coração dos fãs.
“Hey Now!” parecia chamar a atenção para o que vinha a seguir: “Some Might Say”, o primeiro single doOasis a atingir o primeiro lugar no Reino Unido. Embora não tenha a qualidade óbvia de “Wonderwall” ou “Don’t Look Back...”, curiosamente conseguiu o que nem estas e nem “Live Forever”, do álbum anterior, haviam conseguido. Coisas do rock, que não dá para explicar.
“Cast No Shadow”, a faixa seguinte, tem potencial para brigar pelo título de “mais bela canção do Oasis”. A música é maravilhosa, e foi composta em homenagem a Richard Aschcroft, líder e vocalista dos colegas de Britpop, The Verve. Os acompanhamentos de violões, violoncelos e sintetizadores, a harmonia vocal dos backings, e a perfeição da linearidade do ritmo da música pareceram dar a Liam o impulso que faltava para interpretar a melodia com uma “grandeza e beleza que poucas vezes conseguiria igualar em toda a sua carreira”, segundo os críticos. Se o álbum acabasse aqui, já estaria perfeito.
Mas ainda tinha mais. Na minha opinião, “She’s Eletric” entraria como uma faixa perfeitamente descartável, mas não fui eu que a escolhi. Quando parece, por um segundo, que não sairá mais nada de bom do álbum, o barulho das hélices de um helicóptero e um mortífero riff de guitarra introduzem a pesadíssima e maravilhosa faixa-título, “Morning Glory”. Perfeita. E a temática da letra era realista: os Oasis haviam chegado para dominar, mesmo que fosse por apenas quinze anos.
Mas, como se costuma dizer, “tudo o que é bom dura pouco”. O álbum, de 50 minutos de duração, chegava ao fim, mas não antes de apresentar um dos clássicos definitivos do Oasis e uma das mais belas canções de que se tem notícia. A vinheta que a precede traz o repousante som de águas correntes, e é em cima dele que se constrói a doce “Champagne Supernova”. Com quase 7:30 de duração, a canção é capaz de hipnotizar e emocionar o ouvinte, seja pela harmônica interpretação de Liam, seja pelo doce som dos violões, seja pelos melodramáticos solos de guitarra de Noel e do ilustre Paul Weller, que nos dá a honra de ouvi-lo em participação especial, ou seja pelo mellotron, tocado com maestria por Bonehead, que atestou na prática a emoção transmitida pela música quando, segundo a banda, se emocionou e chorou como um bebê quando Noel apresentou o protótipo da canção com um violão, durante uma viagem no ônibus do grupo.
Bem, detalhes e rasgações-de-seda à parte, o disco acabou, e a banda também. Quantas vezes você já o ouviu essa semana? Nenhuma? Você merecia um tiro. Mas, como somos amantes da paz e da boa música, daremos a você mais uma oportunidade de contemplar e se encantar com a grandiosidade dessa verdadeira obra prima do quinteto de Manchester que, embora não valessem o que um gato enterra, realmente sabiam criar boa música juntos.
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