É, acabou o ano de 2010. Assim como todos os anteriores, foi um período em que muita música boa foi produzida, ao mesmo tempo em que muito lixo foi enfiado goela abaixo das pessoas sem um pingo de discernimento, o que resultou em uma horda de fãs retardados e extasiados em celebrar as virtudes da mediocridade dentro da cena musical internacional.
Eu, assim como você e todo o planeta, ouvi muitas coisas bacanas e muitas porcarias. Como tenho neste espaço a liberdade de escrever o que bem entender – meus eternos agradecimentos ao Yahoo por esta honra -, vou dividir com vocês algumas impressões a respeito das melhores coisas que ouvi em 2010, assim como os grandes lixos que tive o desprazer de colocar meus ouvidos.
Esta é uma lista contendo apenas nomes internacionais. Quem acompanha as edições do meu programa Na Galeria do Regis sabe que já apresentei uma série de artistas nacionais que merecem uma atenta audição. Por outro lado, não teria espaço aqui no Yahoo para citar todas as coisas patéticas que ouvi este ano dentro da seara da música brasileira – nem vou citar os grupos de pagode mela-cuecas, as duplas sertanejas de araque e a imensa massa de grupelhos de forró de plástico porque seria uma perda de tempo. Por isto, fiz uma listinha daquilo que mais agradou e irritou os meus ouvidos em 2010. Vamos lá…
OS MELHORES…
ROBERT PLANT - Band of Joy
Batizado com o nome da banda que tinha nos anos 60 antes de entrar para o Led Zeppelin, o mais recente disco do lendário vocalista deixa muito claro o seu afastamento em relação às modernas sonoridades do presente, investindo ainda mais em timbres low-fi e, de certa forma, buscando recuperar suas raízes hippies. Depois do excepcional Raising Sand ao lado de Alison Krauss, ele voltou seu foco a um som que mais parece um cruzamento do folk europeu com o country americano, só que embalado por uma atmosfera sônica densa e hipnotizante. Tudo soa muito antigo e muito, mas muito bem.
TOM JONES – Praise & Blame
Logo na primeira audição, o choque: no lugar da insinuante atmosfera dançante, surge um Tom Jones introspectivo, resgatando grandes canções do blues americano criadas por figuras emblemáticas como Bob Dylan, John Lee Hooker, Jessie Mae Hemphill e Rosetta Tharpe. Tudo embalado por um clima triste e reverente ao mesmo tempo, com sonoridades cruas e timbres vintage. Impossível não sentir vontade de chorar…
SPIRITUAL BEGGARS – Return to Zero
Capitaneado pelo ótimo guitarrista Michael Amott, ex-Carcass e atual chefe do Arch Enemy, este grupo não apenas é o maior nome do stoner rock da atualidade, mas se dá ao luxo de referendar esta posição com um disco inacreditável de tão bom, a ponto de fazer o chatíssimo vocalista do Firewind, Apollo Papathanasio, cantar como gente grande nesta sua estreia com a banda. Imagine se o Black Sabbath tivesse o Michael Schenker no lugar do Tony Iommi e você já tem uma ideia do que vai encontrar aqui.
BLACK LABEL SOCIETY – Order of the Black
A chegada de um novo baterista fez bem ao som da banda de Zakk Wylde. A mistura de Black Sabbath com Lynyrd Skynyrd voltou a ser exemplificada em ótimas canções repletas de riffs espetaculares.
ARCADE FIRE - The Suburbs
Depois de dois ótimos discos – Funeral (2004) e Neon Bible (2007) -, o incensado grupo canadense parece ter encontrado a harmonia correta na hora de oferecer sonoridades que fujam dos padrões do pop, mas que ao mesmo tempo não soem tão estranhas a quem as ouça pela primeira vez. As músicas adquiriram uma maior simplicidade, mas sem diminuir em nada a sua qualidade.
DANKO JONES - Below the Belt
Já faz tempo que o grupo liderado pelo guitarrista e vocalista Danko Jones vem lançando discos energéticos e intensos, mas aqui a coisa chegou a um estágio próximo da perfeição. Os arranjos são musculosos, repletos de riffs sensacionais e uma cadência pesada que não dá um minuto de descanso – é uma paulada atrás da outra. Cuidado ao ouvir este disco dirigindo seu carro…
THE NATIONAL - High Violet
A arte da delicadeza melódica e harmônica deste grupo americano chega ao auge neste disco. É difícil não se emocionar com a tristeza e a desesperança que transbordam no formato de letras incrivelmente poéticas em canções que parecem ter sido compostas especialmente para as almas atormentadas pela solidão, mesmo nos momentos mais, digamos, “acelerados”.
THE BLACK KEYS – Brothers
Soando exatamente como aquilo que Jack White adoraria fazer no White Stripes se tivesse uma baterista que soubesse tocar, este duo manda ver em um hard blues psicodélico que vira de cabeça para baixo os conceitos rítmicos e interativos existentes entre uma guitarra e uma bateria, além de entortar o cangote dos ouvintes mais animados.
ISOBEL CAMPBELL & MARK LANEGAN – Hawk
Uma das mais improváveis duplas do planeta – ela veio do adocicado Belle & Sebastian, enquanto ele veio do intenso Screaming Trees e é dono de uma carreira solo brilhante e lúgubre ao mesmo tempo – resultou em uma parceria espetacular. Com canções sublimes, ácidas e azedas baseadas em um caldeirão que mistura rock, soul, gospel, country, blues e o diabo a quatro, este é um daqueles discos que você precisa ouvir sozinho, sem ninguém por perto.
SHARON JONES AND THE DAP KINGS – I Learned the Hard Way
É difícil acreditar que este disco tenha sido gravado e lançado em 2010 – a impressão é que tudo foi feito nos anos 60. E quando escrevo “tudo” é tudo mesmo, dos arranjos aos timbres, das espetaculares vocalizações desta extraordinária cantora ao ritmo contagiante de sua banda de apoio. Se você ama soulde raiz com grooves matadores, está aqui o seu manual prático e contemporâneo.
… e os PIORES:
CHRISTINA AGUILERA – Bionic
De todas estas pesudodivas cantoras, Aguilera é a que menos erra em seus discos, apesar de seu evidente apreço pelo exagero vocal. Só aqui ela quis imitar a Lady Gaga e… conseguiu. Fez músicas tão ruins quanto a presepeira-mor, trouxe maneirismos ainda mais irritantes em suas vocalizações e até mesmo embalou tudo com clipes ridículos.
M.I.A. – Maya
Sinceramente, ainda é um mistério para mim os motives que levam a crítica especializada a babar ovo por esta menina desgraçadamente sem talento. Até mesmo ela sabe disso, pois teve que aceitar fazer um clipe violentíssimo e polêmico para disfarçar o quanto suas canções são irritantemente chatas. Nem mesmo o seu engajamento político disfarça a aridez de suas idéias musicais. Perto dela, Karen O., do Yeah Yeah Yeahs parece a Billie Holiday.
VAMPIRE WEEKEND – Contra
Um dos maiores embustes dos últimos tempos, este grupo foi imensamente incensado pelos indies“mudérnusss” por conta de uma boa assessorial de imprensa, que vendeu o som da banda como algo “inovador” e “repleto de texturas melódicas”. Nem uma coisa, nem outra. O som do grupo é de uma mediocridade que faz sangrar os ouvidos.
VAN CANTO – Tribe of Force
A ideia de fazer heavy metal apenas com vocais a cappella já seria um troço digno de gargalhadas. Só que isto aqui ultrapassa todos os limites do humor involuntário, mesmo quando estes paspalhos usam bateria e algumas guitarras aqui e ali.
LINKIN PARK - A Thousand Suns
“Gostamos de metal e hip hop, mas temos que fazer este nu-metal-emo cheio de ‘mimimi’ choroso e dramático para conseguirmos enganar nossos fãs debilóides e, assim, continuarmos a ter grana para manter nosso alto padrão de vida”. Este é certamente o pensamento dentro da mente de cada integrante do Linkin Park quando os caras sobem ao palco para tocar as canções deste disco pavoroso, repleto de teclados “climáticos” e guitarras tão agressivas quanto um prato de quindim, além de vocalizações que dão a impressão de que tudo é uma música só.
ALTER BRIDGE – AB III
Se tem uma banda que conseguiu unir o pior do grunge – o chororô depressivo – com o pior do hard rock –riffs manjados e sem criatividade -, foi esta dissidência do pavorosamente inigualável Creed. O pior é que o guitarrista Mark Tremonti é um bom músico, mas nem mesmo sua exuberância técnica consegue trazer um mínimo de criatividade. O vocalista Myles Kennedy deveria se concentrar em cantar na banda do Slash e parar com estas patifarias.
MILEY CYRUS – Can’t Be Tamed
Sim, eu sei que não dá para levar a sério alguém que adquiriu fama por meio de um troço como Hanna Montana, mas o que se ouve aqui é uma menina que fez tudo errado na hora de mostrar que agora é uma moça crescida não apenas no físico, mas em termos artísticos. De nada adianta posar de mulher má e apresentar canções de garotinha rebelde, sem um pingo de genuína identidade. Tudo muito limpinho, típico de um produto Disney.
KE$HA – Animal
Quando a gente pensou que aquela porcaria de electro/pop tinha sido enterrada, eis que surge esta farsante para tentar se tornar uma superstar em um meio que não privilegia os rostos. Não bastasse ter propiciado piadas risíveis como “TiK ToK”, ela trouxe neste disco canções fraquíssimas, tão elaboradas quanto uma redação de uma criança de 14 anos de idade. Sem contar que ela é incapaz de gravar alguma coisa sem utilizar o Auto-Tune, já que sua habilidade em desafinar é a mesma mostrada na hora de criar factóides para se manter na mídia – assim como faz a própria Lady Gaga. É um disco tão honesto quanto uma entrevista da Paris Hilton.