Renato Russo já era mito em vida. Suas palavras, cantadas ou faladas, reverberam até hoje e neste DVD encontram-se suas três mais longas entrevistas. Guardado por mais de 10 anos, este extenso material teve apenas uma pequena parte aproveitada à época. E hoje, reunido neste lançamento integral, dá a oportunidade de verificar que, como as letras, as boas falas do poeta continuam atuais. Renato fala de suas origens em Brasília, com a história do Aborto Elétrico, de sua Legião Urbana e de sua carreira solo, além de revelar detalhes sobre suas músicas e seus discos. Fala com ousadia de sua vida, de seu tempo e de suas preocupações. Um documentário único, uma verdadeira aula de história e cultura.
A História e as informações que você sempre quis saber sobre seu Artista/Banda preferidos, Curiosidades, Seleção de grandes sucessos e dos melhores discos de cada banda ou artista citado, comentários dos albúns, Rock Brasileiro e internacional, a melhor reunião de artistas do rock em geral em um só lugar. Tudo isso e muito mais...
16 de novembro de 2010
Creedence Clearwater Revisited (Master Hall, Curitiba, 13/11/10)
Memorável. Essa é a melhor definição para a apresentação dos americanos do CREEDENCE CLEARWATER REVISITED em Curitiba. A banda liderada por Stu Cook (baixista) e Doug "Cosmo" Clifford (baterista), ambos membros originais do CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL, conta com o excelente vocalista e guitarrista John Tristao, Steve Gunner (teclado, violão e percussão) e Elliot Easton (guitarra solo).
É claro que foram clássicos e mais clássicos.
Então tocaram "Hey Tonight", levantando o público de vez.
"Long as I Can See the Light" foi uma das músicas que mostrou o excelente vocal de John Tristao. "I Heard It Through the Grapevine" teve direito a solo de guitarra, baixo e bateria.
"Proud Mary" foi cantada por todos e a banda encerrou com "Fortunate Son".
E para deixar bem claro: o CREEDENCE CLEARWATER REVISITED não toca clássicos, eles são o clássico do bom e velho Rock´n´Roll.
Setlist:
Born on the Bayou
Green River
Cotton Fields
Commotion
Who'll Stop the Rain
Suzie Q
Hey Tonight
Long as I Can See the Light
Down on the Corner
Lookin' Out My Back Door
I Heard It Through the Grapevine
Midnight Special
Bad Moon Rising
Proud Mary
Fortunate Son
Encore:
Have You Ever Seen the Rain?
Travelin' Band
Encore 2:
Molina
Good Golly Miss Molly
Up Around the Bend
Mais fotos no site do fotógrafo Fabio Fistarol.
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Shows
Millencolin (Bar Opinião, Porto Alegre, 11/11/10)
Não faz muito tempo desde a última visita à capital gaúcha. Ainda assim, isso não foi motivo para o público porto-alegrense deixar de lado a oportunidade de prestigiar os suecos do Millencolin mais uma vez. Com o Bar Opinião lotado e ingressos esgotados, mais de mil pessoas vivenciaram uma experiência única.
A primeira grande surpresa foi a abrangência de faixas etárias muito distintas. Uma faixa típica dos fãs do Millencolin na base de 20 anos de idade, que vivenciou o crescimento da banda no início dos anos 90; outra um pouco mais antiga, que assistiu os lendários Ramones quando ainda não eram uma lenda; e até mesmo alguns mais novos, que não tiveram a oportunidade de jogar Tony Hawk’s Pro Skater 2.
Antes mesmo da banda principal subir ao palco, o público deixou claro que não estava ali pra brincadeira... Enquanto o palco era montado, o empurra-empurra estava começando a se formar e dois ou três mais ousados já começavam a nadar na platéia.
Pouco mais de dez minutos além do programado, as luzes se apagam e, sob gritos ensurdecedores, os membros do Millencolin assumem seus postos. Fredrik (bateria), Mathias e Erik (guitarras) e Nikola (baixo e vocal) não perdem tempo com cerimônia e disparam tocando na íntegra (e em ordem!) o álbum Pennybridge Pioners, de 2000. Iniciando de cara com um dos maiores sucessos da banda, “No Cigar” (aquela música que você com certeza conhece, mas talvez não lembre). Dando sequencia com “Fox”, Erik dá um chute no ar que resulta em uma embaraçosa queda de costas. Nada que precise interromper o show, pelo contrário, rende algumas risadas e uma leve timidez superada pela pegada de “Material Boy”.
Chegamos então a um dos pontos mais altos da apresentação. “Penguins and Polar Bears” foi a responsável pelo maior tumulto (no bom sentido) do público e por algumas tentativas, mal sucedidas, de invasão de palco.
Como qualquer banda estrangeira que venha para o Brasil, era inevitável que algumas piadas clichês sobre futebol fossem feitas. Nikola perguntou quem gostava de clubes como Santos e Flamengo, tomando, obviamente uma grande vaia. Quando falou sobre o Grêmio, alguns vaiaram, enquanto uma grande maioria (coincidentemente) aparentava preferir o time tricolor gaúcho. Antes que pudesse equilibrar as coisas citando o Internacional, uma faixa da torcida organizada do Grêmio foi arremessada ao palco. A manifestação por parte dos torcedores do time foi ainda maior e os músicos notaram que seria difícil continuar a brincadeira como era planejado...
...Então, seguiram com a balada (como o nome já sugere) “The Ballad”. Embora 80% da canção seja acústica, alguns não se importaram com o clima que a música deveria criar, e continuaram se divertindo com os moshes e rodas.
Daí em diante, os suecos continuaram apresentando uma grande seleção da carreira. Dificilmente algum fã foi embora insatisfeito por não escutar a música desejada (mesmo que nenhuma canção do álbum mais recente, Machine 15, tenha sido executada). Embora a apresentação tenha sido relativamente curta (uma hora e meia), 23 sucessos da banda foram apresentados, entre eles, “Story Of My Life”, “Vixen” e “Mr. Clean”. A banda se retira e retorna para encerrar o show com “Bullion” e “Black Eye”.
Em resumo, o Millencolin trouxe a Porto Alegre uma das maiores performances de palco que bandas do estilo poderiam proporcionar. Comparado ao show de 2008, todos os fãs afirmaram uma superioridade na banda atualmente. Muito carisma, grande atenção ao público (incluindo cartazes e camisetas feitas para chamar atenção da banda), e uma noite inesquecível que marcou com muita alegria, litros e suor e alguns pares de hematomas.
Set list:
01. No Cigar
02. Fox
03. Material Boy
04. Duck Pond
05. Right About Now
06. Penguins and Polar Bears
07. Hellman
08. Devil Me
09. Stop to Think
10. The Mayfly
11. Highway Donkey
12. A-Ten
13. Pepper
14. The Ballad
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15. Story of My Life
16. Friends Til’ The End
17. Random I Am/Leona
18. Vixen
19. Buzzer/In a Room
20. Killercrush
21. Mr. Clean
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22. Bullion
23. Black Eye
Produção Abstratti
Redação e Fotografia: Lucas Steinmetz (Moita)
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Shows
Paul McCartney (Beira-Rio, Porto Alegre, 07/11/10)
Não há dúvidas de que a apresentação de PAUL MCCARTNEY em Porto Alegre foi o maior espetáculo que a cidade já viu. Os ingressos para o show do ex-BEATLES se esgotaram em poucas horas e com um mês de antecedência – o que proporcionou um estádio Beira-Rio completamente lotado para ver e ouvir uma retrospectiva de quase cinquenta anos de carreira do músico inglês em quase três horas de rock n’ roll.
Fotos: Franco Rodrigues e Juliano Conci (Grupo RBS/Divulgação)
Embora tenha agradecido em inglês após a execução de cada música, PAUL MCCARTNEY usou – de modo surpreendente – o português para se comunicar com os fãs sem desconsiderar as principais referências e gírias da cultura gaúcha. Depois de “And I Love Her”, “Blackbird” (do místico “White Album”, 1969) mostrou de maneira extremamente sincera o impacto que os clássicos dos BEATLES ainda têm. Entretanto, a plateia se emocionou verdadeiramente em “Here Today” – composição retirada de “Tugar of War” (1982) e dedicada ao antigo parceiro John Lennon.
Com McCartney assumindo diversos instrumentos – como o piano e o banjo – o espetáculo prosseguiu com a recente “Dance Tonight” e outra faixa do WINGS: “Mrs. Vandebilt”. O público não havia se recuperado da homenagem a Lennon quando Sir Paul dedicou “Something”, do “Abbey Road” (1969), a George Harrison. Entretanto, a referência ao outro ex-BEATLES ganhou contornos ainda maiores quando imagens dos Fab Four apareceram no telão. Certamente, não houve uma única pessoa que não tenha aplaudido com o coração – ou chegado às lágrimas – após essa música.
O show, que começou com faixas mais suaves e poucas músicas de impacto, deixou claramente os momentos de maior intensidade para a sua segunda parte. Embora possua referências diferenciadas, “Eleanor Rigby” era uma das mais aguardadas da noite. Depois da interessante “Band of the Run”, “Ob-La-Di Ob-La-Da” – outro clássico dos BEATLES – foi anunciada por PAUL MCCARTNEY. A música, que foi executada pela primeira vez no Brasil nessa ocasião, animou os presentes que ainda se divertiram ao som de “Back in the USSR” e “Paperback Writer”.
No repertório, ainda havia espaço para “A Day in the Life” e para outra pequena homenagem a John Lennon: “Give Peace a Chance” – do seu projeto pós-BEATLES intitulado Plastic Ono Band. Entretanto, o espetáculo ainda guardava o seu ápice para a sequência. No piano, Sir Paul emocionou os presentes mais uma vez com “Let It Be”, que foi cantada em uníssono por mais de cinquenta mil vozes. Porém, o momento único (e surpreendente) da apresentação veio com “Live and Let Die” – que trouxe uma série incontável de fogos de artifício e explosões. A melhor música da apresentação para muitos.
O encerramento do show não poderia ser mais óbvio: “Hey Jude”. O clássico absoluto dos BEATLES uniu novamente as mais de cinquenta mil vozes do Beira-Rio para cantar com PAUL MCCARTNEY. De volta para o primeiro bis, Paul assumiu o baixo para executar outras três composições dos Fab Four: “Day Tripper”, “Lady Madonna” e “Get Back”. A banda acenou para os presentes e se despediu mais uma vez.
Com a bandeira do Brasil em mãos, PAUL MCCARTNEY voltou e encerrou a apresentação com uma ênfase ainda maior às músicas da sua ex-banda. Embora tenha levado diversos fãs às lágrimas com “Yesterday”, as versões rockeiras para “Helter Skelter” e para “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” incendiaram absolutamente o Beira-Rio. No entanto, o momento curioso esteve para além da música. Depois de ler incessantemente um cartaz, McCartney chamou para o palco as duas fãs que pediam uma assinatura do músico no braço para uma tatuagem. O cantor não apenas atendeu ao pedido como ainda brincou com a plateia que invejava a sorte das duas meninas.
Em quase três horas de apresentação, PAUL MCCARTNEY deixou o palco do Beira-Rio precisamente às 23h55 com “The End”. Não há nenhuma maneira precisa para concluir o que representou para os fãs gaúchos a passagem do ex-BEATLES pela cidade. A certeza é que o maior show do ano – e por que não o maior espetáculo da história porto-alegrense – ficará na memória de quem compareceu ao estádio. Com quase setenta anos, PAUL MCCARTNEY é a lenda viva do rock n’ roll que muitos tiveram o privilégio de assistir um dia.
Set-list:
01. Venus and Mars/Rock Show
02. Jet
03. All My Loving
04. Letting Go
05. Drive My Car
06. Highway
07. Let Me Roll It
08. The Long and Winding Road
09. Nineteen Hundred and Eighty Five
10. Let ‘Em In
11. My Love
12. I’ve Just Seen a Face
13. And I Love Her
14. Blackbird
15. Here Today
16. Dance Tonight
17. Mrs. Vandebilt
18. Eleanor Rigby
19. Something
20. Sing the Changes
21. Band on the Run
22. Ob-La-Di Ob-La-Da
23. Back in the USSR
24. I’ve Got a Feeling
25. Paperback Writer
26. A Day in the Life/Give Peace a Chance
27. Let it Be
28. Live and Let Die
29. Hey Jude
30. Day Tripper
31. Lady Madonna
32. Get Back
33. Yesterday
34. Helter Skelter
35. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club
36. The End
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Shows
Shaman: “O Som está aqui. Honesto, de peito aberto!”
Independente das agruras do passado, é inegável que o Shaman soube como dar a volta por cima e, com o lançamento de "Origins", esteja em uma de suas melhores fases. O disco foi muito bem recebido no Japão e agora está chegando ao mercado nacional via Voice Music, inclusive trazendo como bônus o DVD "Shaman & Orchestra - Live At Masters Of Rock Of Prague".
Já considerado como um dos mais relevantes álbuns nacionais de 2010, o Whiplash! conduziu uma entrevista com o vocalista Thiago Bianchi e o baterista Ricardo Confessori, que falaram sobre o atual estágio de sua carreira, detalhes do novo disco e projetos que estão por vir. Confiram aí:
Whiplash!: Olá pessoal. Primeiramente, parabéns pelo esmero empregado em "Origins", que está excelente. Este é o segundo disco com a nova formação... Como analisam as duas fases que o Shaman atravessou em sua primeira década?
Ricardo Confessori: A primeira fase foi de construção e a segunda de reconstrução... Aprendi muito com a primeira formação, principalmente no que diz respeito ao segundo lançamento. Deve haver muito empenho para superar o primeiro CD, e pecamos nisso na primeira formação, mas não com a atual. E digo mais, hoje em dia acredito que cada CD tem que ser uma superação, uma mudança, ou a banda se estagna. Com a nova fase, já ultrapassamos o número de lançamentos da antiga formação, são dois de estúdio e dois DVDs, então acho que agora o trabalho é o de se posicionar com um novo som, o som de cada um da banda e conquistar novos fãs.
Thiago: Obrigado, Ben. Sim, a banda completa agora 10 anos e isso nos traz muita felicidade de fazer parte dessa história. Suas duas fases são intensas e honestas. Seria arrogante de minha parte dizer que evoluiu aqui ou ali, mas o fato é que a banda teve uma mudança profunda, mas não em sua música, mas sim da fase que essa mudança aconteceu.
Thiago: O SHAMAN tem uma história rica, vem de uma era onde o Heavy Metal era respeitado no Brasil, isso não acontece agora. Levamos a ferro e fogo nossa bandeira, nossa música, mas não só enfrentamos o desdém da mídia, mas também o próprio público que não acompanhou a evolução da cena metálica mundial, um público que não se revitalizou. Perdemos muito com a situação em que se encontra a música hoje em dia. O ‘business’ musical ainda não entendeu que não precisa ‘enfiar goela abaixo’ das pessoas um determinado estilo musical só porque existe uma ‘tendência’ ou um novo público se formando.
Thiago: Não é só por isso que todo outro tipo de música tenha de ser ignorado. E as pessoas respondem a isso! Isso que me corrói! Não entendo como, mesmo num mundo com informação tão abundante quanto na internet, as pessoas ainda se condicionem a fazer só o que a grande mídia sugere. Isso é errado! As pessoas têm que ser mais curiosas, mais ‘abertas’ ao novo! Ao ‘diferente’! Por si só, e não porque a TV ou o rádio disseram que é o certo!
Thiago: Esse é um retrato de antes e depois, a meu ver. Fazemos um som de qualidade de banda de mídia, a um mundo que só olha para o que a mídia manda e agora não é o Metal. O Som está aqui. Honesto, de peito aberto e feito com vontade de tirar as pessoas de suas mentes e levá-las ao ‘novo’. A “evolução da espécie”.
Whiplash!: Bom, as origens do novo disco... Sua primeira música foi “No Mind”, já finalizada desde 2008. Nesta época, vocês já tinham definido que o próximo trabalho seria conceitual, ou a estória foi desenvolvendo com o tempo?
Thiago: Sim, “No Mind” foi o pontapé inicial dessa nova fase... Na verdade, eu já tinha uma idéia desde o tempo do “Ritual” (nota do editor: Thiago produziu a demo que originaria o disco “Ritual”, na época, apenas como produtor), de contar a história daquele índio que figurava na capa e quando pintou o “Immortal”, eu já escrevi algumas coisas indicando ‘traços’ da mudança que “Amagat” sofreria quando SHAMAN. “Origins” se trata de sua ascensão como ‘iluminado’, quando ainda menino, “Ritual” é sua história quando ‘atuante’ como SHAMAN e “Immortal” quando ‘ressuscitou’.
Thiago: Comentei com o pessoal da banda e eles curtiram a idéia, e logo passaram a dar ‘pitacos’ na história, principalmente o Ricardo, que conhece a estória do SHAMANdesde o início.
Confessori: O Thiago teve essa idéia de contar a ‘origem’ do shaman, isto é, como um garoto se tornou shaman, conheceu os sonhos, viajou dentro deles para conhecer os segredos e curar as pessoas. Por coincidência, saiu um filme esse ano chamado ‘A Origem’ com Leonardo Di Caprio, que fala exatamente da realidade nos sonhos e de um cara que entra nos sonhos dos outros, pra extrair informações.
Whiplash!: Seria equivocado dizer que há algo autobiográfico por trás do conceito de "Origins"?
Thiago: Hum... (risos). Vamos por partes... Primeiro temos que enxergar ‘Amagat’ como um menino que, em um primeiro momento, se viu perdido por conta dos conflitos intensos entre sua mente e sua intuição em sua vida, e como isso o afetou dentro de sua sociedade, que o ‘expulsou’ por conta de considerar suas questões uma ‘anomalia’ frente seus costumes.
Thiago: A partir de então, ele se vê obrigado a fugir até finalmente se perder mata adentro, onde iniciaria os ‘10 passos’ de seu caminho à ‘iluminação’. E isso é um traço de muitos mestres espirituais, como Jesus, Buda, Osho, Krishina... Todos eles tiveram um ‘sumiço’ em suas histórias. E com ‘Amagat’ não seria diferente. Até finalmente seu retorno como um ‘iluminado’ e logo, líder espiritual de sua tribo.
Thiago: Acho que todos nós temos, em algum momento de nossas vidas, essa série de situações onde você é obrigado a evoluir, por conta de uma força muito forte que emana dentro de si mesmo. Quando você se encontra pronto para ouvir essa ‘voz’, uma série de acontecimentos fora de seu controle passa a tomar conta de sua vida. Como você vai agir frente a isso, só você mesmo pode responder...
Confessori: De certa forma, pode ser encarado biograficamente, como conta a estória de Amagat, ele foi excluído da tribo da qual fazia parte, por pensar diferente da maioria. Finalmente ele volta e o tempo faz com que ele seja recebido e compreendido pelo seu povo. Quem já não passou por algo semelhante? Eu, com certeza já.
Whiplash!: Geralmente os discos do SHAMAN possuem uma musicalidade bastante rica, Heavy Metal, Música Clássica, World Music, etc... Existe certa pressão em manterem-se fiéis ao tipo de som que os fãs esperam do Shaman? Quais as metas que vocês tinham em mente quando começaram a gravar o "Origins"?
Thiago: Pressão não. Somos todos produtores e temos muita liberdade de visualização de idéias em estúdio. Mas para ser sincero, esse disco foi todo contribuído por internet. Passávamos as idéias e-mails adentro e cada um fazia suas mudanças, geralmente originada por Fernando e eu, Leo entrava com os instrumentais e Ricardo ‘shamanizava’ coisa toda. Finalmente eu agendava as gravações com a banda e finalizava a produção com os músicos Guga Machado (percussão) e Fabrízio Di Sarno (teclados). A partir daí, ouvimos tudo à ‘exaustão’, até que finalmente eu pudesse mixar e partir para a próxima canção. Foi realmente bem interessante o processo como foi concebido “Origins”.
Confessori: Não houve objetivo nesse sentido, de riqueza e variedade, mas sim o de se adicionar mais o lado progressivo. Acabou acontecendo por acaso, o CD acidentalmente ficou variado, e cada uma dessas variações muito bem trabalhada. Mas a gente quer e sempre irá mudar a cada CD, acompanhando as tendências musicais de cada um e do mundo.
Whiplash!: Nos dias em que a venda de CDs não está em seus melhores momentos, achei muito válida a decisão de "Origins" também trazer o DVD “Shaman & Orchestra”, e por um preço tão camarada... Bicho, como rolou esse lance de tocar com uma orquestra em um festival lá na República Tcheca?
Thiago: Bom, foi tudo sugerido por nossa agente canadense, Tiziana Hurd. Ela deu a idéia e a partir de então passamos a trabalhar para que isso pudesse tomar forma. Todas as partituras ficaram a cargo de nosso tecladista e maestro Fabrízio di Sarno. Ele escreveu todos os arranjos e, pra quem não assiste o DVD apenas em seu computador com aquele som de ‘nada’ que todo computador tem (risos), pode se entreter com o grande trabalho de arranjo idealizado por Fabrizio e por nós e ‘performado’ pela “Praga Bouslav Orchestra” e o maestro “Musa Goçman”.
Thiago: Foi realmente um sonho e temos o orgulho de sermos a primeira banda nacional a chegar a tal feito! Esperamos que muitas outras possam continuar essa estrada evoluindo e aprimorando a idéia! Os fãs verdadeiros não merecem nada menos que o máximo de nós e isso é o que temos feito.
Confessori: Sim, a idéia foi exatamente essa, ter um DVD que incentivasse as pessoas a comprarem, e não baixarem. Foi inevitável registrar esse momento, usamos a estrutura de filmagem e gravação do próprio festival Master Of Rock Festival e finalizamos tudo aqui no Brasil, com o Carlos Favalli fazendo o vídeo, e nos mesmos e o Estudio Fusão VMT fazendo o áudio. O resultado foi muito bom, ainda mais se for considerado que o DVD vai de bônus para aqueles que compram o novo álbum. Acho que ficou um produto incrível! E ainda tem o ‘making off’ de toda viagem para Praga e muito mais.
Whiplash!: Sua apresentação foi muito boa, e as imagens mostram o público curtindo mesmo, assim como o baixista Fernando Quesada, que agita prá cacete... Como é o preparo e as maiores complicações quando uma banda de Heavy Metal se prontifica a tocar com uma orquestra?
Confessori: Bom, o preparo começa com partes e mais partes de música escrita e corrigida, muita transcrição, inclusive de solos, para que o maestro responsável (que foi o Musa Goçmen) possa escrever tudo sem errar na harmonia. Depois tem a parte de ensaio com os maestros (Fabrizio também levou muito crédito e escreveu a maioria das coisas) e a orquestra, com a linha vocal, ainda na sala onde a orquestra pratica. Por último, o ensaio no palco do festival, com toda banda, orquestra, monitoração de palco. No total, contando os microfones para P.A. e para gravação, foi um total superior a 100 microfones captando e reproduzindo o ‘Shaman & Orquestra’ no momento do show. E tudo foi montado após o show do NIGHTWISH, em 30 minutos…
Whiplash!: “Origins” foi liberado inicialmente no Japão, e posteriormente para outras nações e Brasil. Já deu para sacar a recepção deste trabalho?
Confessori: O Brasil saiu depois do Japão, e ainda nem sequer fizemos o lançamento em São Paulo, por isso ainda é cedo pra ter uma reposta do público. A gente já percebeu que a mídia brasileira gostou muito.
Whiplash!: Pois bem, foram poucos os meses separando os lançamentos de "Aqua" e "Origins". Como fica a situação das agendas de shows do ANGRA e Shaman, que, inclusive, já está definindo datas para a ‘Origins World Tour’?
Confessori: Tem sido difícil juntar a agenda de todos, alguns são profissionais da área de áudio, atuando em estúdios, universidades e escolas de áudio, mas não deixamos a qualidade cair, muito pelo contrário, lutamos para que todos ouçam nosso CD e digam que nos esforçamos e que soamos como uma banda ‘tempo integral’. Sempre haverá datas suficientes para ambos, são 30 dias no mês, e nem o ANGRA ou o Shaman está mais em fase de fazer longas tours, apenas pela ‘experiência’ de fazê-lo. Os shows são marcados com mais consciência, para que funcionem de acordo com o compromisso de todos.
Whiplash!: Confessori, atualmente, quais as diferenças e objetivos do SHAMAN e o Angra?
Confessori: O objetivo sempre será o de fazer boa música, isso posso te garantir… No Shaman, levando em consideração que a banda se reestruturou da base, ainda demos algumas cabeçadas com gravadoras no começo, com divulgação, coisas que sabíamos que iríamos enfrentar (pelo menos eu sabia). O bom é que agora, no "Origins", estamos mais estruturados e com assessoria competente. O ANGRA tem como objetivo ser o guia do metal do Brasil, pois com sua volta o mercado de shows reaqueceu, assim como a mídia para o segmento. E isso foi bom para todos nós.
Whiplash!: Thiago, e o que está acontecendo com o Karma? A última notícia que tive é que Edu Ardanuy (Dr Sin) havia ocupado o posto de Chico Dehira...
Thiago: Bom, minha produtora, o “Fusão VMT Studios” vai a mil por hora. Tenho feito muitos álbuns dos quais tenho me orgulhado muito! Agora tenho escrito roteiros pra clipes e também estréio minha direção agora em janeiro.
Thiago: O Karma, sinceramente, está ‘em obras’ (risos). Sim, estamos trabalhando com Edu Ardanuy na guitarra e a coisa toda está ficando muito loka, bem ao estilo Karma de ser, mas com aquela insanidade do Eduzinho! Realmente deve ser um próximo grande disco de minha vida. Outra coisa legal que vem aí é um projeto solo intitulado Arena. O disco se chamará “Brazilian Solaris” e trata-se de uma grande reunião de amigos e, por coincidência, expoentes do rock brasileiro (risos), uma verdadeira homenagem ao celeiro ‘paradisíaco’ que temos, musicalmente falando.
Whiplash!: Curiosidade final, e certamente questionada por boa parte de seu público... Não é novidade que os outros músicos do Shaman não gostaram da idéia de vocês continuarem a banda sem a presença deles. Já se passaram alguns anos, e cada parte seguiu sua própria carreira. Não houve mais nenhum contato com o Andre e os irmãos Mariutti?
Confessori: Sim, é verdade. A vontade deles era terminar a carreira do Shaman definitivamente. Muitos me perguntaram por que não mudei o nome da banda, já que ela mudou radicalmente… Bom, se eu mudasse o nome seria para algum outro como "Pagé" ou "Curandeiro", pois queria uma banda que falasse disso. Os caras tiveram uma posição radical, esqueceram que o tempo passa e a gente poderia se encontrar lá na frente e querer fazer um som, num barzinho que fosse. Eu, graças a Deus, sempre deixei a porta aberta, a prova está aí, que voltei ao ANGRA, com meus colegas de mais de 10 anos. Eu sempre falo que a música fala mais alto que tudo, mas acho que eles levam sério demais esse lance do business, então ficou difícil de falar sem um advogado, o que não corresponde a realmente falar para mim, ‘a parte das questões jurídicas’. Até por essa atitude dos caras, sempre tive medo de usar a imagem deles em sites e MySpace do Shaman, do jeito que gostaria, pois nunca pude levar um papo em relação a isso.
Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte na divulgação de “Origins”. Fiquem à vontade para as considerações finais, ok?
Thiago: Obrigado a todos os que apóiam o metal nacional!
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