Keith via que o ácido fazia seu amigo viajar alucinadamente e criar boa música, achando tudo maravilhoso e excitante. Ele também começou a tomar ácido com maior freqüência. Este passa a ser o elo que faz Brian e Keith voltarem a unir forças e o resultado mais positivo está por todo Aftermath. Keith inconscientemente age como o pêndulo do poder dentro dos
Rolling Stones. Com quem está a aliança de Keith, este tem o poder sobre a banda. Mick agora está de fora. Brian e Keith fazem piadas de Mick e passam a trata-lo apenas por Jagger, propositadamente não usando seu primeiro nome. Brian também cunha o apelido sarcástico "o velho lábios de borracha" Jagger. Os dois passam a levar som, tomar acido, e fumar muita maconha juntos. O grande público é claro, ainda não tem a menor idéia do papel que os narcóticos estava tendo nas vidas dessas celebridades.
Brian & Anita
Em Maio, Anita, que estava desfilando em Paris, termina o seu trabalho, e aceita em seguida um convite para trabalhar em Londres. Chegando na Inglaterra ela imediatamente procura por Brian. Seu relacionamento com Zou-Zou já estava estagnando e ele aproveita a volta de Anita para encerrar a relação. Zou-Zou volta a Paris enquanto Anita e Brian começam a namorar firme.
O casal Brian e Anita, uma vez juntos, começam a se vestir e a usar cortes de cabelos iguais, aparentemente tentando ficar idênticos, como que se tornando um. Começam a trocar peças de roupas, logo Brian está explorando cores e tecidos. Sempre o primeiro, Brian passa a se vestir com roupas extravagantes, combinando cores berrantes, com sóbrias, tecidos finos com jeans e peles, mesclando ocidente com oriente e fazendo uso de ornamentos como jóias e chapeus. Outros famosos seguem seu exemplo e logo toda uma moda de cor e estilo repercutia por Londres e depois pelo mundo afora. Brian, influenciado em parte por Anita, passa a ter cada vez maior interesse em assuntos como ufologia, misticismo e satanismo. Ciências ocultas fascinavam Anita e ela passaria a devorar livros sobre o assunto.
Socializando
Os Stones passam a freqüentar cada vez mais festas e recepções promovidas pela aristocracia. Afinal os filhos destes são todos da mesma geração e assim sendo, também influenciados pela música de grupos como os
Beatles e os
Rolling Stones. Brian tem entre seus maiores amigos deste período Tara Browne, herdeiro da família da cervejaria irlandesa Guinness. Tara, que havia recentemente se separado de sua esposa Nikki, está tristonho e passa quase todo dia na casa de Brian.
Certa tarde, os dois fumando após tomar um acido, Brian expõe suas diferenças em relação a sua ambição e a de Jagger. Confessa que o sucesso, e o dinheiro que vem atrelado, lhe interessa e muito, porém ele perguntava, "Que diferença faz ganhar um milhão para sermos os primeiros, porém comprometendo a qualidade da nossa música no processo, ou ganhar meio milhão para sermos o segundo melhor, podendo continuar íntegros?" Ele confirma que odeia a direção musical que a banda segue, queixando-se que Oldham e Jagger estão transformando uma banda que tocava blues e r&b autêntico, em pastiche pop em troca do super estrelato.
O relacionamento entre Bill e Diane Wyman está cada vez mais frio. Bill começa a freqüentar os clubes noturnos, mormente o Scotch of St. James, onde passa a socializar com freqüentadores mais assíduos como Keith Moon, Paul McCartney, Kenny Lynch (cantor) e Harry Rowler (ator), Tara Browne, Chas Chandler e Dave Rowberry (Animals). Bill é encontrado sempre na companhia de sua amante Doreen Samuels, com quem vem mantendo um caso desde o ano anterior.
Por volta da mesma época, o escritório da
Rolling Stones procura Bill sobre uma menina que alega ter dado a luz a um filho seu. Por manter anotações de tudo que lhe acontece enquanto na estrada, ele foi capaz de provar que as contas da menina tinham um erro de dois meses e a guria não levou a questão adiante.
The Robert Frazer Gallery
Robert Frazer era dono de uma galeria de arte na Duke Street em Mayfair que ele abriu em 1962. Seu gosto por arte era direcionado para artistas que aceitavam riscos e tentavam algo extravagante. Sua galeria apresentava exibições de artistas como Bridget Riley, Peter Blake, Yves Klein e Clive Baker, dando a primeira oportunidade para uma exibição inglesa para vários destes americanos.
Seu bom gosto e sua credibilidade foram a iniciação de muita gente importante em Londres para arte avant-garde. Em uma era que a maioria dos donos de galerias de arte eram de meia idade, Robert era jovem, era "hip", falava a linguagem dos novos ricos e fumava maconha com eles. Assim, os milionários emergentes confiavam nele por sua boa reputação, e sua galeria entrava em ascensão, embora ele mesmo não ter freios quanto a gastar dinheiro. Especialmente se tratando de sustentar os seus vícios.
Entre seus talentos pessoais, havia o de poder entreter simultaneamente visitas heterogêneas, sabendo colocar pessoas diferentes a se conhecerem. Através de Robert Frazer, os Rolling Stones conheceram em um ambiente descontraído, gente como Andy Warhol, Peter Blake, Richard Hamilton, Michael Cooper, Tony Sanchez e Christopher Gibbs. Através de Robert também conheceram cocaína e heroína.
Liberdade de Expressão
É importante tentar se transportar para os valores da época. Lembrando um pouco sobre o que foi dito no primeiro parágrafo da primeira pagina desta história, que trata do distanciamento entre a geração daquele período e a geração de seus pais. Havia notadamente uma atitude de Nós contra Eles. Com a Guerra Fria mostrando os seus dentes cada vez mais afiados, toda uma geração de baby boom estavam prontos para exercerem seus ideais políticos que giravam em torno do conceito de derrubar tudo e refazer do zero.
Praticamente nenhum dos valores instituídos pela sociedade vigente eram inteiramente respeitados e os contestadores de então acreditavam que desafiar a figura da autoridade era um caminho para alterar estas instituições e suas políticas. Assim para os sixties, a busca por justiça social era praticamente uma extensão da busca de autenticidade pessoal. Isto nos leva a outra afirmação. Preocupações com libertação psíquica eram tão importantes quanto assuntos político-econômicos. Sim, pois, assim como uma pessoa que machuca uma perna, passando um longo período enfaixado, tende a mancar, mesmo depois de estar clinicamente curado, as pessoas também ficam com uma dificuldade de exercer sua liberdade de expressão depois de anos de uma ditadura de comportamento. Simplesmente por estarem mentalmente atrofiados para o exercício da liberdade.
A ditadura neste caso não é de um governo militar, mas de uma mentalidade que enxerga somente um padrão de comportamento social plausível, relegando o diferente a categoria de maligno ou aberração. A geração dos sixties, entre outras coisas, foi uma geração que assumiu a postura de confronto a este raciocínio. A vantagem numérica, embora ainda não evidenciada, lhe facilitou nestes propósitos. Para reforçar a imagem de uma libertação de mentalidade da geração pregressa, mudam-se as roupas, a linguagem e os hábitos. Universitários seguidos depois por toda uma legião de jovens, passaram a adotar códigos e éticas onde se poderia definir que lado da cerca social uma pessoa estava, através do que se vestia, que tipo de música escutava e como usava o seu cabelo, onde o comprimento escolhido era uma forma ativa de se expressar.
Distanciam-se da gomalina dos anos cinqüenta, quando rebeldia juvenil se mostrava fumando cigarro escondido. Agora desafia-se autoridades optando por fumar maconha no lugar de cigarro e depois haxixe em narguilés no lugar de tabaco em cachimbos. Em suma, optar por tomar
drogas seria rapidamente associado ao posicionamento politico de se dizer NÃO para um sistema vigente autoritário e limitador. Evidentemente que o abuso tóxico em dois ou três anos já deixaria suas vítimas, mas dentro da gradual elevação de consumo de substâncias químicas, aproximadamente entre os anos de '65 à '68, havia implicitamente uma consciência geral (em maior ou menor escala, dependendo sempre do indivíduo), de estar-se exercendo uma opção política de desobediência civil.
The Indica Books And Gallery
Em Maio de 1966, iria abrir outra galeria que faria fama e se tornaria ponto de encontro da nova aristocracia londrina. Em 1963, John Dunbar e seus amigos, Paolo Lionni e Barry Miles, todos vestidos de preto, típica cor dos existencialistas, boêmios e beatnicks, sorviam um expresso e ouviam bee-bop jazz em algum café em Chelsea. Lá, concatenavam entre citações de Nietzsche, Zen e Jung, um futuro liberal.
Gordon, Miles & Dunbar em frente ao Indica Gallery
De boa aparência e modos elegantes, John Dunbar rapidamente fez amizades com outros intelectuais e jovens da aristocracia inglesa. John conheceu Peter Asher através de sua irmã Jenny Dunbar que namorava Gordon Waller, parceiro de Peter da dupla Peter & Gordon. Peter Asher seria seu benfeitor ao levantar o dinheiro e ser um dos sócios em um projeto que ele dividia com seu amigo Barry Miles. Assim o trio forma a firma MAD Ltda. (Miles, Asher & Dunbar).
The Indica Gallery, seria um misto de loja de livros no primeiro andar e galeria de arte no sótão. O local promovia literatura alternativa e arte moderna, se tornando rapidamente respeitado entre jovens de posse e cultura, como um ponto de encontro para conversas intelectualmente instigantes.
Seria freqüentado por pessoas como Paul McCartney, Mark Feld (que no futuro seria conhecido pelo nome de Marc Bolan), Donovan, John Mayall e Peter Brown, entre outros. Paolo Lionni conhecia Gregory Corso, que traria para o circulo outros eruditos da Beat Generation, tais como Allen Ginsberg e Lawrence Ferlinghetti, todos beatnicks americanos que passavam o ano na Inglaterra.
Recital de Lawrence Ferlinghetti
Seria na sua livraria que John Lennon procurando por algo de Nietzche, acabaria encontrando o livro "The Psychedelic Experience" de Timothy Leary. Ao folheá-lo, logo uma frase lhe chama atenção: "Whenever in doubt, turn on your mind, relax and float downstream." A frase renderia inspiração para a canção "Tomorrow Never Knows". É também em 1966 na Indica Gallery que Lennon atenderia a pré-estréia da exibição de uma talentosa e respeitada artista avant-garde japonesa, chamada Yoko Ono. Deste encontro, iniciaria a amizade que se transformaria em um novo ciclo, com uma nova postura artística e política por parte de Lennon. Mas isto é outra historia.
Depois do Expediente
Com tantos Beatnicks aportando na Indica, o que acabava acontecendo é que depois do expediente, todo mundo ia para a casa de Dunbar fumar. Mas os Beats já havia décadas, faziam uso de substâncias químicas injetáveis, passando a ser coisa corriqueira vê-los se aplicando na sala. Cocaína, morfina e heroína ainda eram legalmente vendidos nas farmácias inglesas com prescrição medica, uma das razões pela repentina migração de Beats da America para Inglaterra. John Dunbar passaria a se aplicar com morfina antes e depois do expediente. Robert Frazer, que faz parte do mesmo circulo de amigos, é outro que rapidamente se interessou por cocaína, passando a enaltecer o seu poder de aguçar a lucidez, permitindo uma pessoa a focalizar um assunto e discursar sobre ele sem se enrolar nas idéias. Afinal como Frazer lembraria, não é a toa que Sigmund Freud usava a droga.
De fato, na década de noventa, isto é, 1890, cocaína se tornou uma mania na sociedade européia, onde se podia comprar bombons, cigarros e até pomada contendo-o. O refrigerante Coca-cola nasceu neste período e de fato tinha na sua formula, cocaína, eis a origem do seu nome. Depois que uma serie de crimes acabaram sendo associados a droga, cocaína acabou tendo sua venda sem receita proibida, a partir de 1906. Cocaína voltou a ter um auge na Alemanha decadente pós Primeira Guerra Mundial e se fala, embora não se confirme, que os líderes do partido Nazista, Hitler inclusive, em grande parte, faziam uso do pó.
Instigado pela curiosidade e satisfeitos com os novos mundos que descobriram com acido, logo Brian, Keith, e dezenas de outros artistas amigos neste circulo, estavam cheirando cocaína.
Chichester
Keith compra em leilão, uma casa de campo, a sul de Chichester em West Sussex. A casa é na verdade um amplo terreno, digno a ser chamado de fazenda, completo com um açude Saxão ao redor da propriedade. O local é conhecido por Redlands. A casa supostamente pertencia ao Bispo de Chichester e foi comprado por Keith por £17.750. A casa seria testemunho de diversas historias celebres que se tornaram parte do mito dos Rolling Stones.
A banda faz uma serie de shows pela Europa, tocando na Holanda, Bélgica, França, Suécia e Dinamarca. Em todos houveram problemas. O repertório é "The Last Time", "Mercy, Mercy", "She Said Yeah", "Play With Fire", "Not fade Away", "The Spider And The Fly", "Time Is On My Side", "19th Nervous Breakdown", "Get Off My Cloud", "I'm Alright" e "Satisfaction". Dezenas de pessoas foram presas, onde ocorreram diversas
brigas entre o público, destes o pior sendo no primeiro show na Holanda, onde o show não pode continuar.
França
Em Marselha, alguém jogou um pedaço de uma cadeira no palco acertando Mick Jagger no olho direito, no meio da última canção, Satisfaction. Ele seria levado para o hospital onde tomaria seis pontos. A lembrança mais marcante de Jagger de todo o incidente, foi de ter visto um rato gigantesco correndo no corredor do hospital. Seu olho continuou fechado por um tempo e Mick ficou um pouco inquieto, mas no dia seguinte ele e a banda estavam tocando para 4.000 pessoas em Lyon.
Em Paris são avisados que Brigitte Bardot quer conhece-los e todos estavam nervosos em sua presença. Um dos maiores símbolos sexuais da década, Bardot convida a banda a participar do seu próximo
filme " À Coeur Joie" (titulo em inglês, Two Weeks In September), mas o escritório não entrou em um acordo preferindo apostar em um filme exclusivo dos Stones que acabou nunca acontecendo. De quebra, Bill quase é atropelado ao atravessar a rua olhando para a direção errada (mal de inglês).
Bill e Doreen mais Brian e Anita permanecem em Paris enquanto os demais voltam para Londres. Vão assistir uma apresentação do The Yardbirds e The Who no La Locomotive Club, e são quase soterrados por fãs querendo autógrafos. Enquanto isto em Londres, Mick Jagger e Jack Nitzsche foram assistir The Troggs.
Dinheiro e Klein
Estava óbvio que o dinheiro que a banda arrecadava não estava entrando nas contas individuais de cada membro. Quando alguns membros da banda começam a investigar os caminhos feitos pelo dinheiro de shows, logo se constata que independente de onde vem a arrecadação, o dinheiro precisa primeiro ir para a conta de Klein em Nova York antes de algum dia chegar a eles. Apesar disto, a banda continua gastando.
Mick compra um Aston Martin DB6 azul marinho com vidros elétricos, novidade no mercado. Pouco depois ele se muda para Regent's Park. Este dinheiro como também o dinheiro da compra de Redlands vem de Klein. Mas esta soma, fruto do lucro da excursão americana, é na verdade repassada à banda em forma de empréstimo. Levaria um bom tempo até os envolvidos se conscientizarem de que Klein estava oferecendo-lhes um empréstimo, usando o dinheiro deles mesmo.
Bill compra uma residência nova para os seus pais em Beckenham por £7.750, Klein liberando dinheiro também para Bill e Charlie. Allen Klein então compra uma parte da MGM Records, supostamente por um milhão de libras esterlinas, como também os direitos para o livro "Only Lovers Left Alive" de David Wallis, do qual sairia o roteiro para o primeiro filme dos
Rolling Stones. A historia é sobre um levante imaginário e a conseqüente conquista da Inglaterra pela população jovem. Os adultos cometem suicídio e os jovens transformam Grã Bretanha em uma selva fascista. Falava-se em filmagens iniciarem em Agosto.
Relacionamentos em Declínio – Chrissie
Chrissie e Mick estão rotineiramente se desentendendo, Chrissie chamando Mick de pop star e posseur. A verdade é que Mick tem o dinheiro, tem os convites e quer tirar o máximo possível de sua ascendência social. Em casa, Mick foge de sua rotina com Chrissie fumando muita maconha. Chrissie não suporta as mudanças nos hábitos de seu namorado a olhos vistos e as discussões são sempre aos berros. Mick passa a novamente criticá-la por tudo e a rotula de paranóica cada vez que ela exige que ele explique porque está mudando tanto. Chrissie coitada, sequer entende direito o conceito de paranóia.
No aniversário de 21 anos de Tara Browne, realizado no castelo de sua família em Luggala, na Irlanda, Chrissie toma um ácido para tentar participar do mundo do namorado. Mas sua instabilidade emocional a leva para um bad trip e ela chora vendo os rostos dos convidados derretendo a sua frente, não entendendo o que se passa. O vexame é mais um pingo no balde de paciência já cheio do Mick. Os tempos mudaram, mas a Chrissie não. Mick está agora a procura do novo, e aos poucos, Chrissie e suas
brigastempestuosas, começam a ceder lugar para uma profunda depressão. Ela não sabe mais como se comunicar com Mick, certamente xinga-lo não dá mais resultado. Chrissie resolve seus problemas tomando quantidades constantes de tranqüilizantes.
Depois de três anos consecutivos de constantes viagens, a banda tem quase dois meses para descansar. Mick Jagger depois de sucessivas viagens de ácido, acaba por ter uma crise de estafa em junho e é solicitado pelo seu médico muito repouso.
O Duelo Entre Iguais
Depois que Brian passou a morar com Anita, ele parou de freqüentar os clubes a noite e passou a ser uma figura difícil de achar fora de casa. O casal está constantemente fazendo amor e experimentando roupas. Os egos estão as alturas e começam um joguinho insano de um tentar ser mais bonito do que o outro. O casal quando sai, é tratado com toda atenção, os "darlings" do momento, o casal mais "hip" de Londres, mais bem vestidos, mais bonitos, e eles vivem destes elogios, totalmente tomados pela própria importância. A cocaína ajuda a inflar o ego e o LSD os tira do plano terreno. A realidade fica embaçada em uma névoa púrpura.
Mas Brian tinha um problema com LSD. Sua hiper sensibilidade e constante paranóia ficavam ainda mais afetados sob efeito do alucinógeno. Assim, enquanto todos viajavam ouvindo vozes e tendo visões, Brian acreditava nas doideiras e começava a temer os sussurros da parede, e as cobras nas fiações. Logo ele estava todo apavorado e intimidado em um canto do quarto acreditando que as paredes e as fiações estavam tramando contra ele. Assim, ele se tornava um alvo fácil para gozação dos demais presentes. Mas sua instabilidade emocional não lidava com o criticismo, Brian não suporta ser motivo de chacota.
Andrew Promove
Apesar de Aftermath colocar Brian Jones na boca do povo novamente, Andrew proibia a imprensa de entrevistá-lo. Entrevistas eram organizadas apenas para Mick e Keith. Brian nem estava sabendo, nem se interessava mais. Ele, ao lado de Anita, estava em outra. Pode-se argumentar que a atitude do Andrew era uma forma de atrair Keith de volta para Mick, mantendo assim a fórmula estável e novamente sobre controle. Andrew montou e gravou um disco com músicas dos Stones orquestradas, creditando o trabalho ao Keith. Este, perfeitamente instruído por Andrew, falaria cinicamente que o disco era uma realização de um antigo sonho.
Os Beach Boys haviam lançado em Abril, um disco chamado Pet Sounds, que marcaria o início de uma nova era para gravações de discos. Fugindo consideravelmente de sua fórmula padrão, Brian Wilson, mentor musical da banda e produtor de seus discos, desenvolveu idéias como de utilizar pequenas distorções, colagens de sons de animais e tirando do baixo a obrigação de ser um instrumento restrito a reforçar graves mas também podendo proporcionar melodias. Este fato chamou muita atenção de outro baixista, Paul McCartney para o disco, que passa a propagar para todos, os valores deste trabalho. Sua admiração era evidentemente compartilhada por John Lennon e sendo eles a realeza do rock na Inglaterra, a palavra se espalhou.
O disco Pet Sounds vendeu pouco nos Estados Unidos, demonstrando em reflexão, ser adiante do seu tempo. Na Inglaterra, a história não estava longe de se repetir. Mas eis que, movido por pura paixão, Andrew Oldham, sem ter nada a ganhar, investe do seu próprio bolso, em anúncios de paginas inteiras divulgando o disco nos principais jornais de circulação. O efeito foi o esperado. Muita gente comprou o disco para saber a razão de tanto alarde e Pet Sounds se tornou um sucesso de vendas na Inglaterra.
Durante as gravações do futuro disco dos
Beatles, Revolver; Brian Jones e Marianne Faithfull compareceram a uma sessão, acabando por participar com backing vocals. A canção que os
Beatles estavam trabalhando era "Yellow Submarine", uma canção rica em sonoplastia, muito dentro da proposta iniciada em Pet Sounds. Mick Jagger também veio a comparecer a algumas sessões de Revolver, assistindo mas não participando. Ele está se aproximando cada vez mais de Paul McCartney e John Lennon.
América - Verão de '66
Keith e Brian saúdam o presidente americano Lyndon Johnson
Quatorze hotéis recusaram aceitar as reservas dos Rolling Stones, dado as loucuras que acontecem durante a estada da banda. Klein orienta a banda para processar os estabelecimentos declarando prejuízo à imagem do grupo. A ação não deu em nada porém resultou em publicidade. Acabaram permanecendo em vários hotéis da cadeia Holiday Inn, espalhados pelo país. A excursão, de apenas um mês, se desenrolou bem com um grande público jovem oferecendo a habitual histeria. Em Lynn, Massachusetts, na última canção, Satisfaction, o povo avançou e tiveram que ser contidos com gás lacrimogêneo, o que obrigou a banda também a encerrar o show com a canção pelo meio.
Em Nova York, para a coletiva com a imprensa, alugaram uma barca e nela fizeram as entrevistas, promovendo a excursão enquanto a nau boiava sobre o Rio Hudson. Por um erro de organização, nenhum fotógrafo foi convidado para registrar o evento. Por um acaso, a jovem fotógrafa Linda Eastman, apareceu portando um convite oferecido a outro jornalista. Foi assim que ela conseguiu seu primeiro trabalho profissional dentro do rock. As fotos que ela tiraria nesta ocasião, lhe renderiam o emprego de fotografa oficial do teatro Fillmore East.
Depois, naquela noite, Mick à levaria para cama e Linda acabaria vendendo a história para uma revista teen. Em outra ocasião, passando-se quase um ano, Brian Epstein compra uma destas fotos; a de Mick Jagger sentado de pernas abertas. Epstein gostou tanto da foto que contratou Linda Eastman como fotógrafa para a festa promocional em sua casa, comemorando o próximo álbum dos
Beatles, Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band.
Linda Keith e Jimmy James
Os Stones se apresentam em Queens, no Forest Hills Tennis Stadium, chegando e partindo de helicóptero. O estádio estava com apenas um terço da lotação em função dos caríssimos ingressos que Klein negociou a $5 e $10 dólares cada. Depois de sua apresentação, já de volta em Manhattan, seguem a sugestão de Linda Keith e vão ao Cafe Wha? em McDougal Street no Village, para assistirem um show do Jimmy James & the Blue Flames.
Linda Keith que estava trabalhando em Nova York há algum tempo, havia assistido um show do Curtis Knight no Cheetah Club e ficou impressionada com o seu guitarrista Jimmy James. Achou inacreditável que um rapaz que ela julgou extremamente talentoso, estaria tocando na banda de outra pessoa. Depois do show conversou com ele e os dois fizeram uma amizade forte. Linda, sendo namorada de Keith Richards, tinha muitos contatos no meio musical e convence James que ela teria como promovê-lo, mas ele precisaria ter uma banda sua.
Assim Jimmy James deixa Curtis Knight e acaba por montar o Blues Flames, conseguindo este gig no Café Wha?. Jimmy era até então extremamente acanhado para cantar e Linda Keith fez um pesado trabalho psicológico para convencê-lo a abandonar suas preocupações. Sabendo da paixão de Jimmy por Bob Dylan, conseguiu mostra-lhe que não era mais preciso ter uma voz aveluda para cantar e que sentimento era o fator em voga.
Linda então usurpa uma guitarra Stratocaster branca da coleção de Keith Richards e presenteia Jimmy James com ela. Aproveitando a passagem dos
Rolling Stones pela cidade, ela então consegue atrair a banda e principalmente Andrew Oldham para assistí-lo. De fato, todos ficaram um tanto impressionados com o talento de Jimmy James, mas Andrew não se interessou em contratar o músico ou a banda.
Linda sem se dar por vencida, continuaria a tentar apresentar pessoas do meio musical, convida-los a assistí-lo e, assim, conseguir uma carreira mais solida para seu guitarrista predileto. Não seria até Julho, quando encontrou com Chas Chadler, por conta da passagem dos Animals pela cidade, que ela conseguiria realizar seu intento. Chas, recém saído da banda, estava começando a trabalhar como empresário, e Linda, sabendo disto, comentou sobre este guitarrista Jimmy James, cuja apresentação chamou tanta a atenção dela quanto a dos
Rolling Stones. Chas acaba por ir assistir o rapaz e impressionado, o convence a ir com ele para Londres e começar uma nova carreira de lá. Chas também sugere que ele muda o seu nome artístico de Jimmy James para
Jimi Hendrix. O resto desta historia, faz parte de outra historia.
Encerramento na Costa Oeste
Durante a excursão, Brian começa a tomar atitudes estranhas, estando constantemente sob o efeito de LSD. Passava a pular sobre serpentes que via nos tapetes nos corredores dos hotéis enquanto os outros músicos se entreolhavam. Porém o destaque de grande susto da turnê foi a caminho do Hollywood Bowl, quando uma janela do avião racha causando violenta despressurização. Todos estão com os ouvidos doendo mas a aeronave aterriza com segurança.
De lá, se apresentam no Havaí com direito a alguns dia de folga em Honolulu. Shirley Watts e Chrissie Shrimpton aterrizam lá e assistem ao show. De volta a Los Angeles, Bill arruma uma hiponga com quem passa a noite. Na manhã seguinte depois do café da manhã, a menina a caminho da rua, acaba rebocada no corredor do hotel por Keith. Naquela tarde Diane Wyman chega de Londres e na manhã seguinte Bill e Keith descobrem que estão com uma doença venérea. Diane acaba infectada pelo marido, o que se torna a facada final no relacionamento entre os dois. Passaram a semana tomando injeções de penicilina antes de poderem sair do país. A banda é levado a uma loja chamado Hollywood Military Hobbies onde os rapazes compram uniformes, Brian e Keith escolhendo um modelo nazista. Depois voltam para Londres.
Agosto, Mês de Desgosto
Neste período, o comediante Lenny Bruce morre de uma overdose de heroína aos 40 anos de idade. Há suspeitas de que alguém lhe dera propositadamente uma dose letal. A afirmação do John Lennon de que os Beatles são mais populares que Jesus Cristo, chega na América fora de contexto, dando inicio a uma
série de queima de discos e Beatle parafernália, lembrando muito as queimas de livros proposto por Adolf Hitler antes da guerra. Por último, Bob Dylan sofre seu acidente de moto onde ao quebrar o pescoço, por muito, muito pouco não morre. Sua voz nunca mais será a mesma e sua carreira só volta em 1968. Em Londres, a imprensa passa a comentar sobre a ausência de Brian Jones e que a dupla Mick Jagger e Keith Richards estão assumindo cada vez mais, a liderança da banda.
Aproveitando outro mês sem atividades marcadas, cada um cuida de sua vida. Charlie e Shirley vão para a Grécia. Keith cuida de sua mudança para a casa em Redlands. Bill também permanece em Londres passando os dias com a família e as noites nas boates. Seu casamento acabou e ele e Diane já não escondem mais um do outro a falta de interesse pela relação. Bem inglês, ninguém debate a questão, apenas continuam rotineiramente ocupando o mesmo espaço, cada um na sua. Vantagens de uma casa grande.
Marrocos
Chegando da América e lendo a história nos jornais sobre seu sumiço, como também sobre a crescente popularidade da dupla Jagger-Richard, Brian se sente terrivelmente incomodado. Mick Jagger sendo mais badalado do que ele já é ruim, porém vá lá. Mas agora Keith Richards também? Ele e Anita, vão para Marrocos, acompanhados do amigo Christopher Gibbs. Lá o casal, discute aos berros em qualquer local, seja no seu quarto, seja à mesa de um restaurante. Estão sempre propensos a criar uma cena, parte do egotrip de sempre, querer aparecer mais do que o outro. Com quase uma semana no local, Brian fecha o punho, gira o corpo e desfere o golpe para atingi-la e acerta uma janela com enquadramento de ferro maciço, quebrando a mão. Ele diria que foi um acidente, que escorregara no chuveiro caindo com o corpo sobre a mão e parte do braço, mas conhecendo Brian, e com a confirmação de Christopher Gibbs, sabe-se que foi um soco que ele não acertou. Sua mão ficou engessada e foi assim que ele voltou a Londres.
As Travestis de Park Avenue
No mesmo dia em que ele chega de Tangier, a banda parte de volta para a América. Em Los Angeles, a tropa que inclui Andrew Oldham e Ian Stewart, grava e mixa o seu próximo compacto, "Have You Seen You're Mother Baby", voltando então para Londres. Semanas depois, a banda se reúne novamente para uma apresentação no Ed Sullivan Show. Nesta rápida passagem em Nova York, a banda se apresenta em playback devido a impossibilidade de Brian tocar, pois está com a mão enfaixada. Depois vão a Park Avenue onde o fotografo Jerry Schatzberg prepara as fotos da capa do próximo compacto.
Na primeira serie de fotos, a banda está vestida com suas roupas comuns. Desta série vem a foto que se tornaria a capa da coletânea Big Hits Hide Tide Green Grass. Nas outras, a banda entra na brincadeira se vestindo de mulheres, cada um ganhando um personagem. Charlie era Millicent, mais parecendo um travesti velho, Bill se torna Penelope, sentada numa cadeira de rodas com pernas retorcidas. Mick e Keith eram as duas tias, respectivamente Sarah e Molly. Brian com uma peruca loira era Flossie, a aeromoça com cara de rameira. Tirada a foto, todos foram para o bar da esquina tomar umas cervejas e assistir televisão. Para a surpresa de alguns, em Nova York, ninguém ganhou uma cantada e foram solenemente ignorados, podendo beber e conversar em paz. Chega a ser irônico se pensar que na Inglaterra dois anos antes, estavam sendo recusados em bares por serem homens de cabelos compridos.
Courtfield Road
De volta a Londres novamente, Christopher Gibbs encontra um apartamento e insiste com Anita que ela deva comprar pois seria perfeito para ela e Brian. Anita se apaixona pelo lugar e convence Brian a aluga-lo. Logo eles estavam se mudando para Courtfield Road em Kensington. Lá, passariam a viver uma vida de junkie. A casa era decorado com tapetes persas e cortinas marroquinas.
Cheirando constantemente, a droga oferece excessiva disposição, energia que pode ser direcionada para intelectualidade, sexualidade ou violência. Cocaína é, mal comparando, como um relógio de corda. Você dá corda para o relógio funcionar mas se você não parar de dar corda, a engrenagem não agüenta a pressão e arrebenta. Igualmente se você não parar de cheirar, você passa de acordado, lúcido e disposto para extremamente eletrizado, tenso e explosivo. No caso deste casal, vivem com egos inflados e uma doentia necessidade de disputar belezas e caprichos. Brian tinha mesmo um desequilíbrio qualquer, que era dele já de muito antes. Com a cocaína, o casal passa a discutir com veemência, geralmente chegando em seguida a agressões físicas.
Relacionamentos em Declínio – Marianne
Incrível pensar que Marianne Faithfull teria dado trabalho ao ser convencida a ser cantora em 1964. Agora, não consegue se imaginar longe de um estúdio ou dos olhos do público em geral. Ela adorava ser adorada e tinha o poder de manter a atenção do público somente usando um violão e sua voz, em contraste a bandas, toda eletrificada.
Seu relacionamento com John Dunbar está desintegrando. A casa dela está sempre entulhada de beatnick junkies pela sala, com cápsulas usadas de heroína espalhadas pelo chão e a pia com seringas por lavar. Mas em uma atitude tipicamente machista da época, John não permite a Marianne participar da socialização intoxicante e ela depois de algum tempo se enche de ser excluída e resolve sair, passear e passar o tempo com os seus amigos. Ela aturou um ano deste ambiente, enquanto cuidava de Nicolas bebê, mas chegando do meio pro final do ano, Marianne sente que precisa sair de casa. Assim, ela passa a ser uma freqüentadora assídua na casa de Brian Jones. Lá, geralmente ela encontrava além de Brian e Anita, o fotografo Michael Cooper, Robert Frazer, seu amigo Tony Sanchez, e Tara Browne.
Depois Keith Richards também passou a praticamente morar na casa com Brian e Anita, conversando, tomando ácido e fumando maconha ou haxixe o dia inteiro. Além do acido, estão aumentando consideravelmente mais o consumo de cocaína. O descontrole sob o pó era tanto que quando acabava, mesmo que no meio da madrugada, iam para a casa de algum amigo, para poderem cheirar mais. Conta Tony Sanchez que bateram na sua casa às quatro da manhã certa vez, e ele foi obrigado a bater umas linhas para Brian, Anita, Keith, Marianne Faithfull, John Dunbar e um pequeno grupo de amigos dos amigos, como quem prepara o mingau matutino para crianças esfomeadas.
Pensão
Linda Lawrence ainda não recebera nada da pensão combinada, e no íntimo, ainda não havia totalmente deixado de sonhar com a possibilidade de uma volta com Brian. Ela passa dias tentando falar com o pai de seu filho sem conseguir. Finalmente vai até sua casa em Courtfield Road porém Brian sequer abre a porta para recebê-la. Linda passa então a ficar postada em frente a uma das janelas com o pequeno Julian Mark no colo, na esperança que Brian sentisse algum remorso do que estava fazendo. Quando percebe Brian na janela, levanta o menino para que ele possa ver seu bebê. Mas o casal Brian e Anita ficam da janela rindo dela, Brian oferecendo caretas (nankers), entre goles de Brandy e beijos ardentes. Para eles, toda a cena com a Linda chorando angustiada, mostrando o filho da rua e gritando por Brian, mais parecia algo saído direto de uma novela Mexicana. Como Brian, Anita também tinha um quê de crueldade.
Depois desta, Linda Lawrence se afastaria da vida de Brian Jones, definitivamente. Acabaria por se mudar para os Estados Unidos, morando na California por um ano e depois, em 1970 voltaria para Inglaterra. Ela se reencontraria com Donovan Leitch, com quem conheceu e namorou durante 1967/68. A canção "Sunshine Superman" do cantor fora escrito para ela. Eles se casariam e teriam uma menina juntos, chamada Astrella. Julian Mark Jones passa a se chamar Julian Jones Leitch.
Entre Amigos
Marianne que estava sempre indo à casa de Brian como forma de fugir da frustração de seu casamento, acaba lá sozinha e à toa com ele. Naturalmente Brian dá em cima e Marianne confessa que nunca soube muito bem como dizer não a ninguém. Pode soar hoje em dia, excessivamente promíscuo, mas repito, para entender o que se passa no seu devido contexto, precisa-se lembrar que na década de sessenta, estava-se derrubando as arbitrariedades sexuais. Dentro de certos círculos, amigos de sexos opostos naturalmente dormiam juntos. Até certo ponto, seria considerado estranho, amigos não treparem. Passava a ser, em certos círculos, socialmente questionável recusar um amigo em sua cama. Era uma geração bem menos presa a protocolos do que as que vieram lhe substituir.
A Última Excursão Britânica da Década
Embora ninguém soubesse, passariam muitos anos antes da banda voltar a montar outra excursão Britânica. Have You Seen Your Mother Baby é um sucesso por parte da critica mas só chegou a No.2 nas paradas, possivelmente por causa da capa tendo a banda vestido de mulheres. A idéia, ao que parece, era revolucionária demais para a época.