Mas o que faz de "Reign in Blood" um álbum tão especial? Porque ele é tão influente? O que ele mudou no heavy metal? Pra começo de conversa, "Reign in Blood" é, sem dúvida alguma, o melhor trabalho do Slayere o seu ápice criativo. Um dos criadores do thrash metal, o grupo foi formado em 1981 na Califórnia. Seus dois primeiros discos – "Show No Mercy" (1983) e "Hell Awaits" (1985) – já mostravam uma banda diferenciada, com bala na agulha para causar uma revolução. E essa expectativa se confirmou em "Reign in Blood".
Nunca um álbum havia soado tão extremo antes. Musicalmente, a agressividade instrumental pegava o ouvinte totalmente desprevenido, mostrando que era possível ir muito além do que qualquer banda já havia ousado antes. Em termos líricos, as letras acompanhavam a violência instrumental, porém com uma mudança de foco em relação aos dois primeiros discos, que exploravam temas satânicos. Em "Reign in Blood" as letras passaram a relatar temas mais mundanos, retratando acontecimentos reais do cotidiano. Isso fez com que as histórias cantadas por Tom Araya se tornassem assustadoramente próximas ao ouvinte, perturbando por serem totalmente verossímeis e possíveis. No lugar da fantasia entrava a realidade, e ela era muito mais assustadora.
Essa acentuação para o lado mais extremo foi o principal trunfo de "Reign in Blood". Foi essa característica que fez não só o disco, mas o próprio Slayer, se transformar em uma banda única. Ao tornar o seu som mais agressivo tanto instrumental quanto liricamente, acelerando a velocidade e acrescentando doses cavalares de peso, o grupo formado por Tom Araya (vocal e baixo), Kerry King (guitarra), Jeff Hanneman (guitarra) e Dave Lombardo (bateria) foi responsável direto pelo surgimento e popularização do metal extremo, através de estilos como o death metal. As bandas iniciais do gênero, como Death, Possessed e Atheist, mesmo sendo contemporâneas do Slayer e já terem os seus primeiros registros em demo tapes em 1986, foram influenciadas profundamente por "Reign in Blood". Além disso, a maneira como o Slayer tornou a sua música mais agressiva, usando para isso uma grande dose de técnica, mostrou que aquele estilo que surgia não era apenas mero barulho, mas sim um esforço consciente em busca de novas fronteiras para o heavy metal.
Há uma história interessante sobre a capa de "Reign in Blood". O disco foi lançado pela Def Jam, um selo que, até então, era quase que exclusivamente focado em artistas de hip hop. A distribuição da Def Jam era feita pela Columbia, que, ao ver a arte criada pelo ilustrador Larry Carroll, se recusou a colocar o álbum nas lojas. O LP acabou sendo distribuído pela Geffen Records.
As dez faixas de "Reign in Blood" estão entre os momentos mais marcantes da história do heavy metal. Repleto de composições excelentes, o disco tem o seu ápice em suas faixas de abertura e encerramento. “Angel of Death”, a primeira faixa, se transformou em um dos maiores clássicos do Slayer. A letra, escrita por Jeff Hanneman, conta, de forma aterrorizante, as experiências com cobaias humanas levadas a cabo pelo médico Joseph Mengele durante a Segunda Guerra Mundial. Isso fez com que a banda fosse acusada de simpatizante do nazismo, motivando declarações contrárias dos músicos. Uma das composições mais violentas já gravadas, “Angel of Death” transporta o ouvinte para um mundo de sombras e pesadelos. A interpretação sublime de Tom Araya, com sua voz aguda e gritos ensandecidos, é uma das grandes responsáveis por isso.
"Reign in Blood" entrou no top 200 da Billboard, alcançando a posição 94. Na Inglaterra, o disco chegou no número 47 nas paradas. Além disso, foram lançados cinco singles para o álbum, para as faixas “Raining Blood”, “Angel of Death”, “Necrophobic”, “Postmortem” e “Criminally Insane”. O disco ganhou uma reedição em 1998, com a inclusão de duas faixas bônus - “Aggressive Perfector” e uma nova mixagem para “Criminally Insane”.
Pessoalmente, apesar de reconhecer a inegável qualidade de "Reign in Blood", coloco "Master of Puppets" (1986) e "Ride the Lightning" (1984), ambos do Metallica, a sua frente em uma lista com os melhores álbuns da história do thrash metal. Essa é uma opinião estritamente pessoal, e está baseada muito na relação emocional que tenho com esses dois discos do Metallica, já que foi através deles que conheci a banda e ambos sempre estiveram entre os meus favoritos. Só fui ter contato com "Reign in Blood" mais tarde. Porém, como já disse, trata-se de um álbum estupendo, que merece todo o status que possui.
Se por algum motivo você ainda não possui esse clássico em sua coleção, aproveite o aniversário de 25 anos de "Reign in Blood" e se dê de presente essa obra-prima da música pesada. E, como a maioria que está lendo esse texto já o possui em seu acervo, sugiro uma audição em alto e bom som em comemoração.
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