Em 1991, não havia nada maior que o Guns N' Roses em todo o planeta. A banda havia lançado um álbum megalomaníaco, porém muito bom – os dois volumes de "Use Your Illusion" -, lotava estádios nos quatro cantos do mundo e sua influência ia muito além da música, respingando na cultura, na moda e no comportamento de toda uma geração. Axl Rose, Slash e companhia estavam no ápice, colhendo os louros de uma trajetória que havia começado em meados dos anos oitenta nos clubes noturnos de Los Angeles.
As mais de 100 mil almas que ontem estiveram no Rock in Rio eram formadas, em sua maioria, por pessoas que conheceram o rock através do Guns N' Roses. E é justamente aí que está o maior mérito da banda: em seu auge, quando estava no topo, o grupo atraiu milhões de novos ouvintes para o gênero. Porém, o problema é que a maioria desses ouvintes ficou só no Guns mesmo, não se interessando por outros nomes dentro do estilo e cultuando, até hoje, a imagem idealizada que foi a trilha-sonora de suas juventudes.
Axl Rose, com todas as suas esquisitices, se transformou em uma espécie de Michael Jackson do hard rock, habitando uma realidade alternativa doentia e catastrófica, onde tudo gira conforme as suas variações de humor. Um cara como Axl só alcança, atualmente, o posto de atração principal em festivais como o Rock in Rio, que acontecem em países onde o seu passado ainda é idolatrado, sabe-se lá a razão. Em eventos que estão alinhados com o que ocorre atualmente na música, Axl e sua banda atual passariam longe do palco. Basta ver o cast dos festivais europeus, que, apesar de promoverem o retorno de diversos ícones dos anos oitenta, tem bom senso e sabem que o negócio de Axl atualmente gira em torno de tudo, menos da música.
Deu pena ver o que o vocalista fez com o seu público ontem, no Rock in Rio. Uma audiência formada por dezenas de milhares de pessoas de todas as regiões do Brasil, que se deslocaram para o Rio de Janeiro em busca de sonhos e ilusões, esperaram pacientemente o desfile de atrações que desfilavam pelo palco - algumas ótimas, como o System of a Down, outras que nem merecem comentários, como o Detonautas -, passaram horas de pé em um evento ao ar livre e, pra piorar tudo, ainda foram brindadas com uma chuva torrencial sobre suas cabeças. Tudo o que essas milhares pessoas precisavam era que Axl Rose fizesse o mínimo, apenas o necessário, sem maiores esforços, e elas já estariam satisfeitas. Mas não. Axl nem isso consegue fazer mais. Perdido em sua própria fantasia de rock star, Rose entrou acompanhado por uma banda perdida e que errava notas em profusão, e, para piorar, provou que a sua voz está a séculos de distância do que já provou ser capaz.
Axl Rose não merece os fãs que tem. Se você gosta de Guns, não seja tolo de tentar reviver o passado da banda através do trabalho que Axl faz atualmente. Se você quer sentir o gostinho do grupo hoje em dia, ouça o que Slash anda fazendo. O guitarrista gravou um ótimo disco em 2010 e está tocando sem parar pelo mundo. O mesmo vale para o baixista Duff McKagan, que acabou de lançar um álbum novo com o seu grupo Loaded. Mas, em relação a Axl, a única coisa que se pode dizer é que aquele ícone que foi objeto de desejo das garotas e ídolo dos adolescentes no final dos anos 1980 e início dos 1990 hoje é apenas uma piada de mau gosto vestida em figurinos espalhafatosos.
Pensando bem, o Axl Rose atual guarda similaridades com os finados Reis do Pop e do Rock: ele é tão esquisito quanto Michael Jackson em seus últimos dias e está cada vez mais parecido, em todos os sentidos, com o balofo Elvis que era atração de gala nos cassinos de Las Vegas na década de setenta. Aliás, pode estar aí o futuro de Axl: se transformar em crooner para clones de Donald Trump e Chiquinho Scarpa.
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