4 de julho de 2011

Illud Divinus Insanus - Morbid Angel

Quem se liga em música extrema sabe que o MORBID ANGEL é uma banda crucial para o desenvolvimento de várias tendências do Death Metal do final dos anos de 1980 para cá. Muitos atribuem, com justiça, o epíteto de “Reis do Death Metal” à banda da Trey Azagthoth e cia. É quase unânime entre as grandes bandas de Death Metal de todo o mundo a reverência aos seus trabalhos. Algumas características são bem marcantes como o timbre da guitarra (riffs, frases e solos) de Trey que dão um tom obscuro e pesadíssimo às músicas; a interpretação e o vocal gutural de David Vincent com sua voz barítono imortalizado, por exemplo, na música “God of Emptiness” do álbum “Covenant” (1993); e a bateria insana de Pete Sandoval, que com certeza pode ser classificado como um dos bateristas mais rápidos e técnicos do Metal.





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Contudo, a banda naturalmente foi passando por altos e baixos ao longo dos anos e neste processo o vocalista David Vicent saiu para tocar outros projetos. Isto foi há 15 anos. Neste intervalo o Morbid Angel lançou discos muito bons como “Gateways to Annihilation” (2000) e “Heretic” (2003) com Steve Tucker no vocal e baixo. Mas, em 2008 foi anunciada a volta de David Vincent ao line-up da banda, notícia recebida com entusiasmo pelos fãs. Após fazer algumas turnês com a formação clássica, eis que Trey e cia decidiram lançar um novo disco.
E então... Decepção.
“Illud Divinus Insanus” talvez seja a grande decepção de 2011 para o Metal Extremo. Nele não encontramos, na íntegra, o velhoMorbid Angel que conquistou fãs fiéis mundo afora e foi inspiração para muitas bandas. Neste álbum temos uma infeliz mistura de elementos industriais e eletrônicos com o peso das guitarras de Azagthoth. A abertura do disco ficou até legal, mas quando soam os primeiros acordes de “Too Extreme!” é difícil acreditar que se trata de um disco do Morbid Angel. Com uma batida industrial e efeitos incompatíveis com o Death Metal primoroso da banda, esta música irrita e decepciona. Entretanto, o disco tem momentos de alento que remetem ao Death Metal característico da banda como as matadoras “Existo Vulgoré”, “Blades for Baal”, “10 More Dead”, “Nevermore”. As faixas “Destructos Vs. the Earth/Attack”, “Radikult” seguem a linha da experimental que vem gerando polêmica em torno deste lançamento. Porém, o ponto mais problemático é a última e irritante faixa “Profundis – Mea Culpa”. Após várias audições não foi possível digeri-la.
Sendo mais flexível, é até possível considerar como interessante a atmosfera densa criada pelo trabalho de guitarra de Trey em “Destructos...”, mas a estrutura da música como um todo está muito descaracterizada para ser considerada como um trabalho do Morbid Angel que conhecemos e gostamos.
Não sou contra inovações e experimentalismo, mas tudo tem que ser feito com bom senso, talvez de forma gradual. Imagine, por exemplo, se o CANNIBAL CORPSE lança um disco com vocais femininos líricos e batidas eletrônicas? Não que estes elementos musicais sejam ruins, mas num contexto equivocado pode soar estranho e inadequado.
MORBID ANGEL nunca foi uma banda repetitiva, isto é, que lança discos parecidos uns com os outros sem inovar. Pelo contrário, sua discografia é rica em inovações de um disco para o outro e até mesmo experimentalismos como no álbum “Formulas Fatal To The Flash” (1998). Experimentar os limites da guitarra pesada com afinação em freqüências abaixo do normal sempre foi característica de Trey Azagthoth, e isto é um dos fatores que ajudaram a consagrá-lo como um compositor de mão cheia e um guitarrista criativo e talentoso. Entretanto, as experimentações tentadas neste álbum são mal sucedidas mesmo se considerarmos um contexto de Metal Industrial na sua estrutura consagrada por bandas como MINISTRY, FEAR FACTORY, WHITE ZOMBIE, STATIC-X e RAMMSTEIN. Soa forçado.
A inovação no metal é muito bem vinda, ainda mais em estilos como o Death Metal que por vezes carece de criatividade por parte de bandas mais novas, mas tudo com equilíbrio para evitar a descaracterização.
É entristecedor ver um lançamento que, embora tenha momentos positivos, tinha tudo para ser um dos melhores do ano e um marco positivo na discografia da banda, ser desperdiçado com experimentalismos fadados ao fracasso no contexto de uma banda que é referência de peso, criatividade, talento técnico, velocidade e letras ácidas. Resta-nos esperar o próximo lançamento e torcer para que Trey e cia retomem sua criativa e estimulante arte de fazer nossas cabeças bangear e sentirmos toda a energia e poder que o Death Metal bem feito tem.
Ponto alto: “Blades for Baal”
Ponto baixo: “Profundis – Mea Culpa”
Morbid Angel – “Illud Divinum Insanum”
Pais: EUA
Lançamento: junho de 2011
Selo: Season of Mist
Line-up:
David Vincent – Vocais/baixo
Destructhor - Guitarras
Trey Azagthoth - Guitarras
Tim Yeung – Bateria (Pete Sandoval não pôde participar da gravação deste álbum, pois teve que submeter-se a uma operação)
Tracklist:
01. Omni Potens 02:28
02. Too Extreme! 06:13
03. Existo Vulgoré 03:59
04. Blades for Baal 04:52
05. I Am Morbid 05:17
06. 10 More Dead 04:51
07. Destructos Vs. the Earth / Attack 07:15
08. Nevermore 05:08
09. Beauty Meets Beast 04:57
10. Radikult 07:37
11. Profundis - Mea Culpa 04:06

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