1 de setembro de 2011

Carnavelhas 2: Do Love Story até a Av. São João - Velhas Virgens



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“Carnavelhas 2: Do Love Story até a Av.São João” é uma homenagem, de peito escancarado, à cidade de São Paulo. E tudo no álbum soa como uma verdadeira declaração de amor à vida e obra de ninguém menos do que Adorinan Barbosa, apaixonado pela Terra da Garoa e um exímio cronista urbano. Assim como grande parte de seus contemporâneos, Adoniran escrevia sobre boêmia, sobre as figuras da noite, sobre os bares, sobre a mulherada e as dores de amor – a seu jeito bem particular, sempre com bom humor, é claro. Alguém aí notou algum tipo de semelhança com as Velhas Virgens? Mulher, boteco, cerveja, humor? Bingo. Tratados como criaturas à margem da sociedade pelos “medalhões musicais” da época, sambistas como Adoniran e Noel Rosa foram os roqueiros de seu tempo. Se Paulão os tivesse conhecido, talvez tivessem formado juntos a sua própria versão das Velhas Virgens.
“Carnavelhas 2” tem batuques, cuícas, tamborins. Mas também tem muita guitarra – e altíssimas doses da sacanagem que é tão importante para as Velhas quanto o baixo ou a bateria. Em “Um Chopps e Dois Pastel”, a banda evoca o português particular e peculiar de Adorinan enquanto desfila personagens típicos da sociedade paulistana como Hebe Camargo, Tom Zé e o Professor Pasquale. Já “São Paulo Meu Amor, Minha Menina”, dedicada aos Demônios da Garoa (não por acaso, grupo que mais gravou as composições de Adoniran), trata a metrópole como uma mulher apaixonante, do tipo que “de noite é deslumbrante”. O ápice do CD, no entanto, é “Praia de Paulista”, uma elegia politicamente incorreta (Graças a Deus!) ao beberrão urbano que não tem a menor paciência para a combinação areia e mar – e que, se pudesse, ia mandar “azulejar o mar”. Refrão simplesmente irresistível.
Vale também ressaltar as excelentes participações especiais, que dão ainda mais charme à bolacha. Em “DNA de Malandro”, Paulão divide os vocais com Nasi (ex-Ira!) numa canção que é puro Bezerra da Silva. Procurando um novo amor “Nos Bares da Vila Madalena” (de preferência, uma mulher bunduda e burra, conforme atesta a letra), o cantor troca experiências com Laert Sarrumor, a voz do Língua de Trapo. Faminto depois de encher a cara a noite inteira, Paulão pede um toque para Wandi Doratiotto (Premê) sobre onde é possível encher a pança de madrugada. Com direito à introdução de “Eu Gosto de Mulher”, Roger Moreira (Ultraje a Rigor) volta a fazer parceria com as Velhas na quase chicleteira “Em Tese”, que leva a pegação para o ambiente universitário e bem que poderia embalar uma micareta. O momento crucial, no entanto, é mesmo quando Paulo Miklos (Titãs) entra em cena, para o rock travestido de samba-enredo das antigas “Adão e Eva”, sobre uma mulher traidora que dá um “perdido” no namorado durante o Carnaval.
Ah, sim, uma coisa é fato: “Carnavelhas 2” deixa mais do que claro que, finalmente, as Velhas encontraram uma vocalista feminina à altura da banda. Basta perceber que Juliana Kosso comanda sozinha não uma, como de costume, mas duas faixas – “SP Pornô” (com uma série de piadinhas de duplo sentido sobre os principais pontos de referência da cidade) e “Taca Silicone na Japa” (tributo aos imigrantes japoneses cujo título é auto-explicativo).
Ao final do disco, na festiva “Turnê do Chopp”, Paulão oferece aos turistas um verdadeiro mapa da mina sobre os melhores bares para tomar um chopp de qualidade na capital paulistano. Uma pérola, como só as Velhas Virgens conseguiriam fazer. Um brinde a mais um discaço.
Line-up:
Paulão Carvalho – Voz
Juliana Kosso – Voz
Alexandre “Cavalo” Dias – Guitarra
Roy Carlini – Guitarra
Tuca Paiva – Baixo
Simon Brow – Bateria
Tracklist:
1. Introdução
2. Marcha do Diabo
3. Um Chopps e Dois Pastel
4. Praia de Paulista
5. São Paulo Meu Amor, Minha Menina
6. DNA de Malandro
7. Nos Bares da Vila Madalena
8. Feijuca na Madruga
9. SP Pornô
10. Em Tese
11. Adão e Eva
12. Taca Silicone na Japa
13. A Nêga
14. Turnê do Chopp
15. Eu Nasci Aqui
16. Hino do Terra Nova

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