O menino prodígio do heavy metal realmente não pára. Tudo bem, podem dizer que Tobias Sammet, vocalista e compositor do Edguy, criou o projeto paralelo Avantasia de maneira despretensiosa, apenas para trabalhar ao lado de seus grandes heróis musicais. Se ele o fez, parabéns, o fez de maneira brilhante, dando uma verdadeira sacudida no combalido mundinho do metal melódico/power metal com as duas partes de sua “Metal Opera”. Com o terceiro disco, “The Scarecrow”, Tobias manteve a potente máquina de hits ligada, mas desta vez apontando em uma direção mais hard rock, o que enfureceu parte de seus admiradores. Sinceramente, Tobias não parecia estar ligando – e está certíssimo, aliás.
Nota: 9
Porque, seja fazendo hard rock ou heavy metal, queira dar você o nome que bem entender, o sujeito já provou que faz bem, transformando tanto baladas quanto porradas em canções que você não consegue parar de cantar junto. Os recém-lançados “The Wicked Symphony” e “Angel of Babylon” – respectivamente as partes 2 e 3 da história iniciada em “The Scarecrow”, seguem a mesma trilha de qualidade do anterior. A pegada ainda é mais hard, mas digamos que Mr.Sammet revisita a fúria de aspiração power de algumas faixas dos “Metal Opera”, só para mostrar que continua com a mão afiada.
Em tempo: optei por escrever sobre os dois discos justamente porque, apesar de terem sido lançados como obras distintas, e funcionarem muito bem desta forma, eles se encaixam e complementam de tal maneira que, no final, a experiência se torna mais rica quando se ouve os dois na seqüência. Em termos de história, novamente ponto para o autor, por evitar o tom excessivamente didático dos dois “Metal Opera”, que traziam a descrição quase cronológica da trama nos encartes, relacionando-as com as canções. Não tem necessidade. Aqui, você só precisa saber que Tobias nos apresenta sua versão pessoal para o “Fausto”, de Goethe, com um músico que desaba em seu próprio inferno pessoal por conta de um grande amor. Isso já basta. O resto você conclui sozinho, ligando os pontos ao ouvir as letras. Não vamos subestimar a inteligência de nossos ouvintes, não é mesmo?
Entre os convidados especiais inéditos, destaque para a performance do gordinho Jon Oliva (Savatage) na sublime “Death is Just a Feeling” (de “Angel of Babylon”), na qual ele interpreta de maneira totalmente teatral, dando um clima de musical tétrico e sombrio ao qual, obviamente, o próprio músico está acostumado no Trans-Siberian Orchestra. Já em “The Wicked Symphony”, o dueto de Tobias com Klaus Meine soa 100% Scorpions na radiofônica “Dying for an Angel”, enquanto Tim "Ripper" Owens imprime uma dose extra de potência e agressividade em "Scales of Justice", com direito até a guitarras dobradas em homenagem descarada ao Judas Priest. Também construída na medida certa para a voz do cantor convidado é “Wastelands”, que repete a fórmula de “Shelter from the Rain” e entrega para o parceiro freqüente Michael Kiske uma canção que é tipicamente HELLOWEEN, de sua fase mais feliz e positiva.
No entanto, é preciso dizer, quem rouba a cena mais uma vez é o fenomenal cantor norueguês Jorn Lande, possivelmente uma das mais empolgantes vozes do metal atualmente. Seja cantando acompanhado ou mesmo desempenhando seu papel em uma faixa solo – como na avassaladora “Forever is a Long Time”, Lande domina o disco quando entra em cena. Não sobra pra mais absolutamente ninguém. Ambos os discos são abertos por faixas épicas, bombásticas, com a participação de boa parte dos convidados usuais – a faixa-título de “The Wicked Symphony” e “Stargazers” em “Angel of Babylon”. E nas duas, Lande deixa o próprio Tobias, além de Russell Allen (Symphony X) e o gogó de ouro Kiske no chinelo, misturando ecos de David Coverdale e Ronnie James DIO na interpretação de seu personagem com ares meio demoníacos.
Por falar no KISS, aliás, o atual baterista da banda, Eric Singer, é um dos destaques da faixa mais peculiar da história do Avantasia: “Crestfallen”, de “The Wicked Symphony”. A guitarra tem uma pegada tão furiosa que, em alguns momentos, chega a soar thrash. Nos vocais, Tobias grita de forma surpreendentemente agressiva. Só que repare bem na melodia eletrônica que abre a canção e que dá o tom ao longo de toda a execução. Bingo. Tem uma improvável levadinha bossa nova. Em um disco do Avantasia? Genial.
Quem dera todo fã de rock celebrasse suas influências e seus grandes ídolos com tamanho talento. E que venha (logo) a próxima saga saída da gloriosamente perturbada cabeça de Tobias Sammet.
Line-Up Fixo:
Tobias Sammet – Vocal/Baixo
Sascha Paeth – Guitarra
Michael "Miro" Rodenberg – Teclado/Orquestrações
Eric Singer – Bateria
Tracklist:
THE WICKED SYMPHONY
01. The Wicked Symphony
02. Wastelands
03. Scales of Justice
04. Dying For An Angel
05. Blizzard On A Broken Mirror
06. Runaway Train
07. Crestfallen
08. Forever Is A Long Time
09. Black Wings
10. States of Matter
11. The Edge
ANGEL OF BABYLON
01. Stargazers
02. Angel of Babylon
03. Your Love Is Evil
04. Death Is Just A Feeling
05. Rat Race
06. Down In The Dark
07. Blowing Out The Flame
08. Symphony of Life
09. Alone I Remember
10. Promised Land
11. Journey To Arcadia
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