Iggy é um mito. O pai do punk, a figura que levou todos os excessos que o rock consagrou aos extremos. Um poeta urbano com um aguçado senso de realidade, um tigre com um microfone na cara, um enlouquecido ao vivo. Em cena fez de tudo e mais um pouco: cortou-se, desmaiou, simulou sexo com músicos e fãs, provocou arrepios com seu olhar selvagem e suou noites e noites por puro prazer e tesão.
Seu Rostinho Lindo Vai Parar No Inferno
Apesar de uma carreira de mais de 30 anos de estrada, chamá-lo de "dinossauro" soa uma heresia. A cada disco, projeto, Iggy sempre mostrou coragem, carisma e uma sinceridade rara. Suas histórias com os Stooges ou internações psiquiátricas apenas reforçam o mito que construiu.
Por ironia do destino, Iggy é tido como uma mera descoberta de David Bowie (esse pensamento existe e muito!). Saiba que Ziggy Stardust, a criação de Bowie, não existiria sem Iggy Pop. E nem Sex Pistols, Siouxie and the Banshees, Joy Division, New Order, Jesus & the Mary Chain, Nick Cave, Smiths, e por aí vai. Iggy fez (e continua a fazer) músicas de inegávél mérito e qualidade. Ele é um pensador simples, com uma sonoridade básica, e embora de forma bem diferente, acaba se tornando tão influente para o rock quanto um Lou Reed ou Jimi Hendrix.
Crescendo em Carpenter Park
”Na época, o trailer era uma idéia revolucionária para qualquer um que não precisava morar em um. Meu pai era um doido.” – Iggy Pop
Bebê Iggy & mamãe Louella
No dia 21 de outubro de 1947, em Muskegon no estado de Michigan, nasceu James Newell Osterberg Junior. Ele era filho de Louella Christensen, descendente de noruegueses e finlandeses e James Newell Osterberg, de descendência irlandesa e inglesa, que havia sido adotado quando menino por uma família sueca que foi morar nos Estados Unidos. Louell era controladora de vôo enquanto James pai era professor de ensino ginasial.
Quando o pequeno Jim tinha um ano e meio, a família mudou para Ypsilanti, uma cidade industrial, nos arredores de Ann Arbor. Sr. Osterberg não era uma pessoa muito social e não gostava da idéia de ter vizinhos xeretas aparecendo e observando o que faziam ou deixavam de fazer no próprio quintal. Iggy definiu seu pai como uma pessoa meio esquisita e meio socialista. Com sua aversão aos vizinho, Sr. Osterberg jamais se interessou em ter uma casa, no sentido tradicional da palavra. Assim sendo, na primeira oportunidade, ele comprou um trailer e a família se estabeleceu no Carpenter Trailer Park na estrada US23, perto do campus da Universidade de Michigan entre as cidades de Ypsilanti e Ann Arbor.
O parque ficava situado nos terrenos que pertenciam a um fazendeiro local chamado Leverette. Geralmente parques de trailers são locais habitados por dois tipos de pessoas: as de passagem, turistas ou trabalhadores e suas famílias vindo de outras cidades ou estados onde o trabalho ficou escasso. Encontram trabalho periódico em Ann Arbor ou Detroit, que fica perto. Permanecem por um tempo, depois seguem para outro lugar ou voltam para o estado ou cidade de onde vieram. Outro grupo de pessoas que vivem em trailers são as pessoas de poucos recursos, sem condições de comprar uma casa, mas com algum dinheiro guardado. Não querendo ficar pagando um aluguel alto, compram um trailer e vivem em um parque específico que oferece um espaço com um ponto de eletricidade em troca de um aluguel bem inferior (praticamente irrisório) do que qualquer apartamento no centro ou subúrbio. Desta maneira, os Osterberg acabaram sendo a única família do parque com educação formal completa.
Iggy só iria conhecer o conceito de casa como algo fixo no chão quando estava cursando o primeiro ano primário, aos sete anos de idade. E mesmo assim, a diferença entre a maneira dele viver e de seus colegas de escola só iria começar a lhe afetar depois dos dez anos. A família Osterberg morava em um modelo ‘Full Moon,’ com 45 pés de comprimento por 8 de largura. Um trailer tem como regra, para economizar espaço, portas tipo sanfona sem trancas. Exceção feita para a porta do banheiro. Portanto, com o inicio da puberdade e a descoberta da satisfação encontrada no próprio sexo, o menino Jim passou a viver o maior tempo possível se masturbando no milharal do fazendeiro Leverette.
Aluno Modelo
“Não tenho nenhuma opinião sobre o que pessoas falam sobre coisas que eu tenha feito.” – Iggy Pop
Ann Harbor era uma cidade estudantil, distante 65 km a oeste de Detroit. Devido ao ar poluído, o pequeno Jim sofreu durante vários anos de bronquite e princípios de asma, o que obrigava os pais a terem sérias preocupações com sua saúde. Seu quadro ficava sistematicamente pior no final de outono, durante a extensão do inverno e às vezes até o inicio da primavera. Nunca no calor do verão. Sua condição exigia que tivesse um adulto supervisionando seus movimentos sempre. Como seus pais trabalhavam, ele ficava por conta de uma babá. O pequeno James passou boa parte de seus primeiros oito anos de vida tomando banhos de vapor e sendo vigiado vinte e quatro horas por dia. Somente depois dos oito anos ele teve permissão para sair sozinho pelas redondezas, desde que desse notícias a cada vinte minutos. Esta vigilância sistemática continuaria até quase os quatorze anos.
Independente disso, James era uma criança alegre, divertida e simpática, além de ser excelente aluno, disciplinado, inteligente e observador, chegando a ser considerado um "aluno modelo". Seu primeiro educandário foi uma escola comunitária chamada Carpenter School. James logo demonstrou uma extrema facilidade com Matemática e Inglês. Durante o segundo ano primário já podia soletrar palavras grandes não importando quantas silabas tivessem, causando constrangimentos durante os campeonatos internos de soletração, em alguns alunos da terceira e da quarta série. Aos poucos, foi mostrando também uma forte queda pela arte, sempre engajado nos projetos musicais e de teatro da escola.
Depois dos oito anos, seu tratamento contra asma passou a ser uma droga receitada chamado Quadranol. Sua composição química continha efedrina para estimular as glândulas adrenais e fazendo com que os brônquios inchados encolhessem, permitindo assim que a pessoa voltasse a respirar normalmente. Para não ficar muito excitado, o composto também incluía uma dose de fenobarbital, que servia como relaxante e calmante. Sua dose era meia pílula por dia, mas aos nove anos, James passou a ter o hábito de roubar algumas e tomar secretamente uma pílula inteira. Em suas palavras, ele define a experiência como sendo "Wow!"
Durante toda a sua vida até então, James foi incutido o medo de andar livremente pela vizinhança, por medo de ter uma crise repentina e não ter ninguém para acudi-lo. Mas agora que ele tomou uma pílula inteira, dentro de seu raciocínio infantil, ele achou que podia tentar dar uma volta. James Júnior descobre o que é fazer uma caminhada pelo campo sozinho pela primeira vez. Ele também descobre o barato que é tomar DROGAS e o associa a sua nova sensação de liberdade. Ainda continuaria havendo um considerável controle sobre o jovem Jim; o receio e temor pela saúde do menino foi um hábito difícil para seus pais quebrarem. E aos poucos, James começava agora a dar sinais claros de rancor.
Paixão Por Baseball
Uma das maiores mágoas era que seu pai jamais o deixou jogar nenhum esporte coletivo. Seu pai, James Osterberg Senior quando solteiro foi um ótimo jogador de beisebol, mostrando-se um exímio batedor e guardião da primeira base. Tanto que chegou a jogar nos times juvenis do Brooklyn Dodgers antes da Segunda Guerra. Quando ele ia ser aproveitado para o time profissional, estourou a Guerra e ele acabou convocado. Ao retornar, resolveu investir em uma educação superior. Com a mesma facilidade para aprender que seu filho demonstrava, James Osterberg pai acaba fazendo faculdade e se formando em letras, se tornando em seguida professor de primeiro grau.
Seu filho James Osterberg Júnior herdou de seu pai o talento natural para jogar baseball. Porém, as únicas ocasiões em que tinha oportunidade para demonstrar o talento eram nas partidas amadores em campos de férias. Eventos onde seu pai era um dos professores/conselheiros e vigias. Sr. Osterberg era responsável por organizar os times, a partida e ainda servia de pitcher (ou lançador) para os dois times. O pequeno James, uma vez já na adolescência, estava começando a se sentir frustrado pela constante presença controladora do pai. Foi em uma destas partidas que Jim de taco na mão, ao receber o lançamento do pai, tentou acertar a tacada de forma que a bola fosse direto de volta em direção do lançador. Iggy diria que ele mirou nos dentes de seu pai. Bom batedor que era, dito e feito, a bola acertou o pai na cabeça, resultando em um galo.
Foi cursando Junior High School no Ann Arbor High que o pequeno James começou a sentir os primeiros conflitos com garotos de sua idade. O motivo era o mais simples possível. Jim estudava com meninos ricos, abastados e que o ridicularizavam por morar em um trailer. "Os meninos não deixavam que eu me aproximassem deles por me considerarem uma pessoa pobre, esquisita. Eu tinha tanto conhecimento ou até mais do que eles, mas era julgado pela aparência modesta da minha família. Isso me machucou muito."
Uma importante lição de vida aprendida pelo pequeno Jim aconteceu quando vários meninos de sua turma da escola vieram lhe visitar. James inicialmente pensou que vieram como amigos, mas os garotos criaram uma algazarra na casa, mexendo e desarrumando tudo. Depois, para coroar o dia, passam a empurrar o trailer pelos lados, sacudindo-o na esperança de ver se a geringonça poderia ser virada. Mesmo não conseguindo o que queriam, muitas coisas acabaram caindo e se espalhando ou espatifando pelo chão. Esta foi a lição. Sempre desconfiar de gente com melhor situação financeira que você, principalmente se vierem com um papo de ser seu amigo.
Ainda um bom aluno, James mostrou ser um bom orador. Acabou se tornando vice-presidente de sua turma, o que lhe conferiu a tarefa de orador em um projeto da escola que imitava as reuniões internacionais realizadas na ONU. O projeto foi chamado "The Model United Nation". "Eu não me lembro qual país Jim tinha que representar. Ele ficou dias e dias trabalhando nisso e fez um excelente projeto sobre como deveria ser a Nações Unidas naquele tempo", lembra sua mãe. Foi também durante o segundo grau que Jim passou a se desenvolver com composições escritas. Jim escrevia tão bem que alguns de seus poemas acabaram sendo publicadas em revistas estudantis. Muitos dos outros alunos consideravam este material bem avançado para os tempos. Foi também nesta fase que a música entrou definitivamente em sua vida.
A Descoberta do Som
“Na fábrica, com a criação de cada pára-choque, fazia-se um estrondo impressionante. Era um som tão simples, que até nós podÍamos domá-lo.” – Iggy Pop
Quando Jim tinha nove anos, ele fez um passeio escolar com o resto de sua turma. Morando em Ann Arbor ao lado de Detroit, centro automobilístico do país, no lugar de um museu ou o zoológico, o passeio foi visitar a fábrica de automóveis da Ford que ficava em River Rouge. Este passeio foi representativo, porque nele, Jim acabou ouvindo um som. Era o barulho da maquinaria fazendo pára-choques de ferro. A cada impacto, um estrondo e seu eco subseqüente. Este estrondo, simplista em sua essência, fazia o coração bater mais forte, tamanho volume, graças a violência do impacto. Jim jamais iria esquecer daquele som.
A partir daí, Jim passaria a perceber com maior atenção, os sons que existia ao seu redor. Morar em um trailer, onde tudo é elétrico, trouxe para Jim uma variação diferente de sons e uma noção para apreciá-los. Um dos sons que passou a chamar muita sua atenção era o aquecedor elétrico de ambiente, uma espécie de ventilador que soprava ar quente. O barulho do aparelho em si o deixava intrigado ao ser ligado ou desligado. Jim às vezes usava a grade do aparelho, tocando-a feito uma harpa. Outro som que ele gostava de ouvir era o zumbido emitido pelo barbeador elétrico do seu pai. Iggy hoje credita a seu trailer e todo o metal que o cercava, por provocá-lo a ser baterista. Ele passaria a batucar em tudo, usando as panelas de sua mãe como tambores e seus brinquedos como baquetas.
Jim se tornara um menino atento a música que rolava nos finais dos anos 50 e começo da década de 60. Seus artistas favoritos eram o mais ecléticos possíveis: jazzistas como John Coltrane, Archie Shepp, Sun Ra, e crooners como Frank Sinatra. Bluesmen como Howlin' Wolf, Muddy Waters, eram influências da cidade de Chicago que não ficava muito longe. Grupos vocais de negros também eram apreciados, uma influência da cidade vizinha Detroit. E rockers como Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e Elvis Presley, uma influência em praticamente todo garoto da época. Tanta paixão acabou fazendo com que relaxasse sua vida acadêmica e optasse por tornar-se um baterista. Mas não foi nada fácil.
Os Iguanas
“Todos nós quando garotos sonhávamos com o sucesso, em atrair outros adolescentes, em encontrar o prazer de viver. Eu descobri isso através da música.” – Iggy Pop
Foi ainda em Junior High School que James passou a tocar bumbo na banda da escola. Ele tinha um colega de sala que tocava bem violão chamado Jim McLaughlin. Osterberg convence McLaughlin a se juntar a ele e entrar em uma apresentação de talentos promovida anualmente pela a escola. Este acabou sendo o primeiro gosto pela ribalta dos dois. Apresentam "Let There Be Drums" e outro número, um improviso a base de um riff criado por McLaughlin cujo o nome até ele mesmo já esqueceu.
No ano seguinte, já em High School, McLaughlin chama seu amigo e vizinho Sam Swisher para se juntar ao grupo tocando saxofone. Nasce assim The Iguanas no outono de 1963, Osterberg então com 15 anos de idade. Como havia dois Jims na banda, Jim Osterberg passava ser chamado de Jim O. O primeiro emprego dos Iguanas foi uma apresentação realizada em uma festa na University High School. A banda foi paga com nove dólares pela noite, um total de três dólares para cada um, uma boa soma já que em 1963, um compacto simples custava meio dólar.
Empolgado com a recepção do público, Jim O incentiva a investir mais na banda, e portanto gravam as primeiras demos com a ajuda do pai de Jim McLaughlin, que preparava profissionalmente a trilha sonora para patinadores olímpicos. A sessão rendeu a gravação de sete instrumentais. São eles "Out of Limits", "Walk Don't Run", "Surfin' Bird", "Johnny B. Goode", "Tequila", "Pipeline" e "If I Had A Hammer", versão americana para o sucesso Italiano “Datemi Un Martello.” Pelo repertório escolhido, verifica-se a influência de surf music da costa oeste e a ausência total de bandas inglesas que em 1963, ainda não haviam conquistado o mercado norte-americano.
No início de 1964, The Iguanas sentiram a necessidade de um baixo para dar chão ao som e um segundo guitarrista. Chegava então Nick Kolokithas e Don Swickerath, respectivamente guitarra e baixo, transformando assim o trio em um quinteto. The Iguanas fizeram um relativo sucesso em Ann Arbor, e durante a maior parte do ano, tocaram em festas colegiais e fraternidades, depois evoluindo para conseguirem apresentações em clubes noturnos e concertos.
Conforme seu envolvimento com The Iguanas e a cena musical de Ann Arbor ia consumindo mais de seu tempo, mais preocupados e irritados ficaram seus pais. "Eu me lembro de uma discussão que tive com meu pai porque ele disse que estava decepcionado comigo por ter largado a escola para me tornar músico e que eu deveria sair de casa se quisesse continuar com isso. Eu disse que saía, mas no primeiro segundo que botei os pés fora do lar fiquei assustado e ele foi bastante compreensivo e carinhoso para rever sua opinião e me ajudar." Depois do desapontamento inicial, os pais de Jim decidiram que o correto seria dar total apoio à escolha do filho, tanto na parte material, como emocional.
Com a nova formação de quinteto, uma nova sessão de demos foram gravados, novamente na casa de Jim McLauglin. Agora com McLaughlin e Kolokithas fazendo vocais, gravam um repertório que já demonstra a influência da época imposta pela invasão do rock britânica no mercado americano. Gravam então "Twist And Shout", "Things We Said Today", "Slow Down", "I Feel Fine", "Tell Me", "Wild Weekend", e "California Sun". Gravam também a mais clássica dos roques de garagem, "Louie Louie", primeira ocasião conhecida em que Iggy assume os vocais.
Com a invasão britânica, Jim O passou logo a admirar além dos Beatles, a banda irlandesa Them (que tinha como destaque o vocalista Van Morrison) e a banda mod The Kinks. Aliás, "You Really Got Me" foi durante um certo tempo uma das suas canções prediletas. O ano de 1965 traria também o impacto da canção "Satisfaction" e a primeira prova da influência dos ROLLING STONES sobre o circuito rhythm & blues. Agora, a adoração de Jim O pelos Kinks só fora suplantada quando ele ouviu The Who. Curiosamente, embora The Who só fosse conseguir conquistar efetivamente o mercado americano após sua participação no festival de Monterey em 1967, dentro do estado de Michigan a banda ganhou fãs imediatos desde seu primeiro lançamento, "My Generation" em 1965.
The Iguanas se mantiveram ativos durante todo o ano. Tanto trabalho rendeu ao grupo verba para investir em um compacto simples. A sessão de gravação foi realizado no United Sound Studio entre final dezembro de 1964 e inicio de janeiro de 1965. Gravaram então três canções. Duas composições novas, "I Don't Know Why" escrita por Kolokithas e "Again And Again" escrita por James Osterberg (Iggy). Além destes dois, teve ainda o grande número do momento da banda, "Mona" de Bo Diddley.
O estúdio era de quatro canais onde em um canal se gravou a banda tocando o número, no segundo e terceiro canal gravaram a voz e no quarto percussões e detalhes na bateria. Lançaram o compacto Mona/I Don't Know Why através de um selo que eles mesmo criaram, Forte Records, no melhor estilo faça você mesmo. Cerca de 1000 cópias foram produzidas onde a banda passou a vender durante seus shows. Em Ann Arbor, alguns compactos chegaram a fazer parte das seleções em jukeboxes, aquelas caixas que tocam discos por uma moeda. Outros chegaram a tocar nas rádios locais e até em uma programação na cidade vizinha de Detroit. Não chegou a entrar em nenhuma parada de sucesso, porém ajudou o suficiente para os Iguanas conseguirem apresentações em várias cidades como Lansing, Chicago e Toledo, iniciando um período que pode ser considerado o auge do grupo.
Nick Kolokithas, Don Swickerath, Sam Swisher, Jim McLaughlin, e Jim Osterberg
James Osterberg acabou os seus estudos em 1965, quando resolveu fazer da banda um grupo com apresentações constantes. Conseguiram no verão daquele ano seis apresentações semanais, com cinco entradas por noite no Club Ponytail em Harbor Springs. Jim O recebia a considerável quantia para a época de 55 dólares semanais. Uma das primeiras coisas que ele fez com seu primeiro pagamento foi comprar os recém lançados "Bring It All Back Home" de Bob Dylan e "Out Of Our Heads" dos Rolling Stones, seus dois primeiros LPs. Até então, ele só tinha compactos.
O Harbor Springs era um resort, ponto de alta classe, com hospedes seletos. Entre outras bandas que estavam tocando no local durante a estadia dos Iguanas estavam The Kingmen, The Shagri-las, The Four Tops, The Guess Who e The Reflections. Além do repertório da banda, em várias ocasiões, tiveram que servir como banda para cantores ou cantoras contratadas. Crooners com carreiras menos marcante; gente como Bobby Goldsboro.
O ambiente e clientela luxuosa serviu para fazerem contatos. Entre estes, conseguiram alguém para bancar a ida e estadia da banda em Chicago naquele outono para tocarem no aniversario da filha, que adorara a recente apresentação do grupo. O dinheiro e a atenção acabaram subindo a cabeça de Jim O que resolve pintar o cabelo de platina, coisa para aparecer no palco, uma vez que o baterista ficava sempre escondido lá trás. O problema é que fora do palco, um adolescente andando pelas ruas de cabelo comprido e platinado no interior de Michigan em 1965, geralmente atrai atenção mesmo que não queira. E foi de fato o que aconteceu. Jim acabou preso e depois despedido do Club Ponytail.
Mas se para James, a música era sua paixão, para os outros integrantes, o grupo era apenas uma diversão de adolescência. Com o fim do verão e o inicio das primeiras aulas na faculdade para a maioria dos integrantes dos Iguanas, a turma resolveu que era melhor deixar a banda de lado para não atrapalhar os estudos. Jim O ficou arrasado quando os outros integrantes resolveram deixar o grupo. "Fiquei muito frustrado com isso. Música era a minha vida, e para eles não. Eles queriam ficar compondo ao estilo BEATLES. Eu queria rock mais bruto, tipo Kinks, Who, Them, Stones. Acabamos nos separando."
Aluno da Universidade de Michigan
“Tentei faculdade por um semestre mas percebi os estudantes como sendo brutos e idiotas.” – Iggy Pop
Para curar a dor, James Osterberg volta a estudar, conseguindo ingressar na Universidade de Michigan com facilidade, já que possuía um excelente histórico escolar. Acabou matriculando-se no curso de antropologia, e durante o tempo que esteve se dedicando às suas aspirações acadêmicas, conheceu através de uma amiga a banda The Velvet Underground.
A amiga é na verdade a mãe de um colega de sala, Tom Wehrer. Anne Wehrer era uma mulher extremamente engajada com movimentos culturais. Membro do grupo teatral The One Group, seus esforços e influência sobre assuntos culturais dentro da Universidade de Michigan lhe proporcionou a tarefa de co-dirigir The Dramatic Arts Center. Esta instituição, sobre sua tutela, passou a se dedicar a produções de peças avant-garde e exposições de filmes experimentais de 16mm. Junto com seu marido, acabam fundando The Ann Arbor Film Festival, The Ann Arbor Blues Festival e uma serie de concertos gratuítos no parque da cidade.
Seus contatos se estendiam para os dois pólos culturais do país, Nova York e Los Angeles. A ponto que sua casa foi freqüentada por gente como Jane Fonda ou Andy Warhol quando estes estiveram na cidade. Andy Warhol estava excursionando os Estados Unidos com seu show The Exploding Plastic Inevitable. Esta exposição consistia em ter uma banda em um palco tocando enquanto filmes e slides eram projetados sobre eles ao mesmo tempo em que três pessoas dançam e encenavam coreografias específicas, geralmente ligados ao sadomasoquismo. Tudo isto enquanto fazia-se jogos de luzes. Um conceito totalmente novo, idealizado inicialmente por um escritor beatnik chamado Byron Gysin, que usou para seus recitais. Warhol é o primeiro a pegar a idéia e explorar ela ao máximo dentro do conceito de show de música. É claro que hoje em dia, um show de rock com show de luz é coisa comum. Mas para março de 1966, isto era uma novidade.
A apresentação do show The Exploding Plastic Inevitable foi realizado na própria Universidade, onde houve sobre a tutela de Ann Wehrer vários eventos artísticos desta natureza. A banda que tocava neste evento montado por Andy Warhol era a coisa mais estranha que já se ouviu naquele pedaço do mundo. Chamavam-se The Velvet Underground e eram de fato extremamente diferentes do que se espera de uma banda supostamente de rock. Presente ao evento estava Jim O., que odiou a banda com toda a paixão. Após o evento, foi realizada uma festa na casa de Wehrer e através de sua amizade com Tom, Jim freqüentou. Lá conheceu e conversou com Andy Warhol, Lou Reed, John Cale e Nico, embora o VU musicalmente não fosse nada para ele então. Levaria meses até Iggy passar a realmente entender e se alimentar musicalmente desta fonte. No entanto, não demoraria muito para James concluir que a vida de estudante de antropologia pouco lhe acrescentava. Logo o interesse por música falou mais alto e Iggy acabou arranjando um emprego em uma loja de discos chamada Discount Records.
The Prime Movers
“Muita da seriedade nos ensaios empregado nos Stooges eu aprendi com esses caras.” – Iggy Pop
Quando o Butterfield Blues Band tocou em Ann Arbor pela primeira vez em 1965, acabou germinando o interesse de alguns garotos brancos em tentarem tocar blues seriamente. Embora eles já gostavam do chamado blues clássico, o exemplo de ver músicos brancos tocando blues de qualidade, impulsionou o nascimento da banda The Prime Movers no verão de 1965. A formação inicial contava com os irmãos Erlewine - Daniel e Michael; Robert Sheff, Robert Vinopal e Spider Winn. A divisão de tarefas contava com Michael na guitarra rítmica, gaita e vocais, Daniel na guitarra solo e vocais, Sheff nos teclados e vocais, Viopal no baixo, enquanto Winn cuidava da bateria. Com a entrada do ano de 1966, Viopal acaba deixando o grupo e sendo substituído por Jack Dawson. Depois foi a vez de Winn deixar o grupo.
Ensaio em North Division Street
Tendo uma boa reputação com baterista, James Osterberg foi então procurado e convidado a integrar o grupo. James tinha apenas 18 anos, percebendo rapidamente que os rapazes desta banda, além de mais velhos, eram músicos melhores. Todos os integrantes da banda moravam juntos em uma casa em North Division Street e o novo integrante logo se mudou para lá. Nesta vida comunitária a banda forjou o seu som e James Osterberg aprendeu a ser um baterista melhor, um profissional melhor e levar ensaios extremamente a sério. Aprende também sobre arte, política e experimentalismo.
Esta seria a formação considerada clássica dos Prime Movers e a banda rapidamente passaria a ganhar fama e respeito pelas cidades vizinhas, graças a uma boa dose de blues tradicional, com pitadas de soul e gospel. Por causa de sua passagem pela banda The Iguanas, o pessoal dos Prime Movers passam a referir a ele como Iggy, o apelido ficando pelo resto de sua carreira. Michael Erlewine comenta sobre seu antigo colega de grupo, que neste ponto de sua vida Iggy é um rapaz que não fuma, não bebe, é extremamente polido, educado e bastante tímido.
The Prime Movers trabalhavam com um empresário chamado Jeep Holland, que era largamente conhecido na cidade graças ao seu trabalho com a principal banda da região na época, The Rationals. Holland tentou transformar The Prime Movers em uma banda pop, seguida a mesma direção apontada pelos BEATLES, que ele usava com The Rationals. No entanto, The Prime Movers recusou a proposta. Tocando e representando exclusivamente música enraizada no verdadeiro blues, The Prime Movers viu passarem várias oportunidades para um contrato com uma gravadora. No entanto, seu firme propósito em promover blues lhe deu extrema credibilidade e a banda conseguiu fama equivalente a outras bandas novas da área como The Amboy Dukes e MC5. Com a fama dos Prime Movers, crescia também a notoriedade de seus integrantes.
Robert Sheff, Iggy Osterberg, Michael Erlewine, Jack Dawson e Daniel Erlewine
Um destes fãs era Scott Asheton que passava a ir até a casa na rua North Division para assistir os ensaios. Certo dia pediu a Iggy se ele pudesse ensinar-lhe como tocar. Iggy o colocou sentado na sua bateria e lhe deu as primeiras dicas sobre o instrumento. Scott demonstrou ter um dom natural para manter a batida no tempo. Embora Iggy já vira esse e outros caras com ele na loja de discos onde trabalhava, foi através do contato com Scott que Iggy passou a conhecer melhor os seus amigos.
O irmão de Scott, Ron Asheton freqüentara a mesma escola que Iggy. Não se falavam, a pinta de mal do Ron não dando espaço, embora a pinta de pobretão de Jim O também não devia ter agido a favor. Os dois se viam pelos corredores, talvez até se cumprimentassem, mas nada muito além. No entanto, foi somente agora, após Iggy freqüentar a faculdade, que passariam a se ver mais, se encontrando perto de um café popular entre os universitários que ficava ao lado de uma drogaria, a Marshall's Drug Store. Com Iggy trabalhando na Discount Records, sua amizade com os irmãos Asheton se aproximaria, firmando-se ainda mais a partir deste período como baterista dos Prime Movers. Junto com os irmãos Ashetons, geralmente estavam seus amigos Dave Alexander e Billy Chetham, todos frequentadores assíduos tanto da drogaria, quanto da loja de discos, Discount Records.
Nenhum comentário:
Postar um comentário