É engraçado que a terceira noite do Rock in Rio tenha começado com vaias. A banda que abriu o show foi a brasileira GLORIA, que faz um som com influências de heavy/new/thrash metal e letras em português e que acho deveras muito bom. Digo que acho engraçado ter começado com vaias, pois o Gloria é a única banda de uma geração de RESTARTS e REPLACES que toca músicas realmente pesadas e sem papas na língua, estando perfeitamente colocada no contexto dos shows do dia. Infelizmente havia um mar de fãs "truu", como se auto-denominam, que não têm respeito pelo que não gostam ou não entendem, o que em minha opinião é uma lástima. Sorte que o Gloria tocou algumas músicas do PANTERA, e assim evitou maiores problemas. Checkpoint.
Também não há necessidade de comentar o show do MOTÖRHEAD, cujas qualidades divinas são indizíveis e inexplicáveis, quase transcendentais. Mesmo com problemas no som, os caras fizeram tudo o que tinham de fazer. Em outras situações até escreverei um texto sobre MOTÖRHEAD por todo o seu valor histórico e visceral, mas hoje escrevo sobre dois outros sóis que raiaram durante a madrugada de 25 para 26 de setembro de 2011.
Pouco depois das onze da noite o SLIPKNOT subiu ao palco. A primeira coisa a ser notada foi a falta de baixista. Sim, o ex-baixista Paul Gray faleceu de uma provável overdose quase um ano atrás, e havia muita especulação sobre quem seria o substituto. E a resposta foi: Ninguém. Não sei explicar se estariam tocando com uma faixa de baixo gravada ou com um baixista atrás das cortinas, quem sabe até com uma peripécia técnica para fazer com que alguma das guitarras preenchesse a lacuna, mas de fato só havia 8 membros do SLIPKNOT no palco.
Depois de quase um ano de luto por conta do falecimento anteriormente mencionado, esse foi o show de volta da banda. E como já disse anteriormente em outras ocasiões, não foi somente uma aula, mas um ano letivo inteiro das matérias "Performance ao Vivo" e "Organização Musical". A teatralidade da banda aliada ao caos expressado pelas letras e pelo instrumental arremetem a espaços longínquos e despertam sentimentos que normalmente não fazem parte do cotidiano.
A banda estava absolutamente entrosada, mesmo com o baterista Joey Jordison aparentando certo cansaço e não realizando o seu inesquecível solo de ponta-cabeça como em shows anteriores. A competência musical dos integrantes é absurda, o que fez com que as músicas em nenhum momento soassem emboladas ou qualquer outro adjetivo que qualificasse a performance como algo abaixo de "profissional e ainda feito com absoluto esmero".
Havia uma névoa de inspiração no ar, e o vocalista Corey Taylor soube se aproveitar perfeitamente do clima. É impressionante vislumbrar um mestre sala em seu auge criativo e com todas as ferramentas à sua disposição. Com palavras lentas e pausadas o vocalista conseguiu hipnotizar todos os que prestavam atenção na performance e fazia com que todos gritassem mesmo sem que soubessem a razão. Por essa razão, sou impelido a acreditar até que realizou a façanha de estabelecer um recorde mundial, não por ter conseguido fazer com que quase 100 mil pessoas se abaixassem ao seu comando como ele mesmo disse, mas por maior sessão de hipnose realizada em um show de rock na história. Não há outro termo para definir o que se via quando as câmeras focavam na plateia durante o show.
Os percussionistas e Djs foram um espetáculo à parte. Rodopiando pelos ares em plataformas elevadas ou correndo pelo palco e espancando os tambores vazios, eles fizeram uma maravilhosa bagunça. Não satisfeito, um deles correu para uma das estruturas de quatro metros localizadas no meio do público e simplesmente saltou. Não uma, mas duas vezes. "Atitude", como os "truus" chamam, foi pouco nesse caso.
Por fim, já com um ar de dever cumprido, o grupo de oito integrantes deixou o palco, talvez para encerrar a carreira da banda em grande estilo, quem sabe para continuar o caminho sem Paul Gray, só o tempo dirá.
Precisamente à 01:17 da manhã o METALLICA entrou no palco do Rock in Rio. E não há outra maneira de descrever a situação alem de entrar em campo com o jogo ganho. O quarteto sem nenhuma frescura despejou uma metralhadora de clássicos antológicos e mostrou porque faz jus ao fato de ser uma das maiores bandas na face da terra.
Sem frescuras nem alegorias a banda conduziu a plateia ao delírio em uma performance sem erros. E, vindo do Metallica, isso não é nada alem do esperado. Destaque para algumas surpresas no repertório como Orion, música que nem sempre está no setlist e pela fantástica One, regada de explosões e fogos de artifício na introdução.
O que mais foi interessante foi ver uma multidão quase sem fim cantando, gritando, aplaudindo e pulando ao som de músicas rotuladas no mínimo como anti-comerciais pela indústria fonográfica. Fica claro assim que o público que admira e idolatra a música pesada existe, e que se a banda faz o dever de casa direito e se esforça ao máximo para fornecer um bom trabalho, esse público vai comparecer. Não há para onde fugir.
E assim foi a noite dos metaleiros do Rock in Rio. Regada a ótima música e muita empolgação. Como nem tudo são rosas nem guitarras, acabei vendo também algumas brigas e discussões em que "truus" fiéis a um só estilo ou banda difamavam outros sem razão lógica. Existe uma antiga filosofia que diz "Gosto é gosto, não se discute, comenta-se." Não vale à pena vaiar, brigar ou xingar simplesmente por conta de uma boa noite de diversão. As bandas podem ter trazido tons de agressividade e até despertado certa raiva contida nos espectadores, mas isso faz parte do propósito do espetáculo e da música, essa que inclusive não deve ser levada de maneira alguma como uma competição. Música é sentimento, não arma e nem muito menos fomentadora de guerra.
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