26 de setembro de 2011

Metal: como o mito do True levou tantas bandas a serem fake


Antes de começar, gostaria de fazer uma breve introdução sobre o texto por vir. Não se trata de um texto que quer defender bandas "true", "metal verdadeiro", nem de qualquer coisa do tipo. Trata-se da minha visão do que está acontecendo na cena, do por que de ela estar enfraquecida, estagnada e em uma espiral descendente cada vez maior.
Minha linha de pensamento parte das bandas que realmente foram grandes em seus estilos. Para mim, é evidente que as bandas que mais marcam um estilo, são quase sempre as primeiras a surgirem nele; as que realmente inovam, que rompem uma barreira, que criam um estilo que elas podem chamar de próprio - até que outras milhões de bandas as copiem.
Existe um padrão que eu observo não só no metal, mas no rock em geral, seja ele o progressivo, grunge, hard ou o que seja: a mitificação dos músicos. Não que grandes músicos não devam ser admirados, mas as "lendas" e "deuses" do rock, de uns tempos pra cá, estão sendo mais prejudiciais do que benéficos para a criatividade dos músicos.
Vejo muito na internet anúncios do tipo "Procuro guitarrista para banda de Power Metal". Para mim não há maneira mais eficiente de matar uma banda, antes que ela seja criada. E não me refiro apenas ao Power, mas a qualquer sub-gênero de rock. Por algum motivo, os fãs de rock parecem ter se esquecido de que música é arte e expressão. Um musico, não importa o quão novo ou inexperiente seja, possui em seu repertório muita influência que ele não é capaz de processar intelectualmente. Essa influência vem não apenas do que ele sabe tocar, nem mesmo das bandas que ele mais escuta, mas de tudo o que ele ja ouviu na vida.
Isso implica que ele possui uma amplitude criativa muito grande. No entanto, enquanto ele estiver preso a um estilo musical predeterminado, o que ele produzir vai ser apenas uma fração de seu potencial completo. Sua técnica, sua criatividade, tudo isso vai estar amputado, a vontade de criar algo que seja simplesmente bom estará abaixo da vontade de criar algo que se encaixe na sonoridade de algumas bandas que ja tocaram um som autêntico.
A grande maioria dos músicos hoje em dia não escuta um único gênero de música. O headbanger mais "purista" que você ja conheceu na sua vida não ouvia apenas Thrash Oitentista, nem nenhum gênero isolado apenas.
Pouco tempo atrás estava comentando sobre isso com um amigo meu, que estuda Pintura. Ele me falou sobre três quadros que ele pintou nos últimos 6 meses. O primeiro levou muito tempo para ser feito. Ele ja tinha a imagem do que queria desde o inicio, mas precisou experimentar e refazer tudo várias vezes até finalmente deixar seu quadro pronto. Gostou tanto do estilo final do quadro, que fez um próximo, partindo das mesmas idéias. Ao vê-lo terminado, ficou decepcionado com o resultado. E o mesmo aconteceu quando terminou o terceiro quadro. Foi aí que ele percebeu que não estava mais sendo autêntico, estava simplesmente tentando imitar a si mesmo. E sim, tentar imitar a si mesmo é tanta falta de autenticidade quanto imitar qualquer outra pessoa.
Até onde eu sei, a expressão "True" nasceu com a banda Mayhem. Espalhou pelos outros gêneros de música extrema, por todos os gêneros de metal, e hoje em dia até punk fala true.
O True é um mito que deve ser derrubado. A idolatria pelo som que certas bandas fizeram em uma determinada época não é nada além de uma prisão estilística, um limite gigantesco na criatividade de qualquer artista.
Todos os comentários de fóruns, no youtube, e em qualquer lugar na internet, dizendo que determinada banda se vendeu, não é mais true, lançou um CD muito comercial, estão trabalhando apenas em prol da mais completa falta de autenticidade e espontaneidade. O Black Metal está se tornando um estilo ridículo justamente por isso. Começou como um gênero que buscava romper brutalmente com vários dogmas. Não só no aspecto religioso ou filosófico; nas cartas escritas por Varg Vikernes, ele afirma que queria romper com todas as bandas que imitavam o Death e o Morbid Angel. O que aconteceu foi um rápido boom de bandas de Black Metal no inicio dos anos 90, que cunhavam um estilo até então indefinido, e então uma progressiva caminhada em direção à estagnação, propelida pelo mito do True, do "seja verdadeiro", onde "verdadeiro" quer dizer soar igual às outras bandas de um gênero especifico. Não existe hoje sentido algum em manter esses conceitos.
O que eu quero com isso tudo é que as bandas saiam dessa estagnação e passem a ser realmente autênticas. Que passem a explorar ao máximo o potencial técnico e criativo de cada um dos pelo menos três membros que a compõem, que gastem mais esforço na busca por sonoridades mais interessantes e próprias, ao invés de se contentarem em encaixar "influências".
Se quiser admirar um musico, admire-o não pelo ponto onde ele chegou, mas pelo percurso que ele percorreu. Tente ser BOM como ele, e não simplesmente ser como ele. Um musico não precisa ser igual a ninguém, muito menos os clássicos que ja foram tão repetidos. Vejo muitas bandas novas ruins sendo aplaudidas por que não existe nada para competir, e algumas bandas com potencial, mas que caíram na ilusão de que elas podem ser como as bandas que as precederam. Hoje, o metal precisa mais de bandas que desafiem os clássicos e se arrisquem, do que bandas que repitam o que ja está provado. De vocalistas que usem a própria voz na amplitude máxima, ao invés de gastar anos tentando cantar da mesma forma que as "lendas". De guitarristas que parem de tentar fazer o que Jimi Hendrix fez e se contentar com isso, e comecem a DESENVOLVER tanto quanto Hendrix desenvolveu.
O que eu quero com isso não é uma avalanche de experimentalismo ou busca desenfreada por algo novo, mas autenticidade, simples e pura, e o fim das prisões estilísticas. Que os músicos gastem mais tempo compondo e pensando sobre as próprias composições, SEM as amarras de um gênero e sem tentarem ser iguais a ninguém. Que simplesmente componham música, no aspecto mais puro e cru possível do que "música" quer dizer para eles. O fóssil da história do rock não precisa de uma quebra, apenas de continuidade.

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