Saudações! E lá vamos nós garimpar mais alguns bons discos que muitos talvez nem se lembrem que um dia existiram... Aos desavisados, vale citar que a série “Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás” não tem como foco a história dos grupos consagrados que venderam horrores.
A idéia aqui é abordar bandas sem muita relevância para o grande público, mas que em algum ponto de sua trajetória liberou um álbum marcante que, seja por falta de sorte, mau gerenciamento dos negócios ou alguma outra incompetência, não atingiu o primeiro escalão no inesquecível circuito de Hard Rock da década de 1980. Ou, se o conjunto chegou ao topo da pirâmide, não permaneceu lá por muito tempo...
Jetboy
Feel The Shake
(1988 - MCA Records)
Formado em 1984 na cidade de San Francisco por Billy Rowe e Fernie Rod, guitarristas que desde o início queriam seguir uma linha musical que fosse uma mescla de Hanoi Rocks e New York Dolls – tanto que a origem do nome Jetboy veio de uma das canções do próprio New York Dolls – e a banda teve sua formação preenchida posteriormente por Todd Crew (baixo), Ron Tostenson (bateria) e o moicano espetado Mickey Finn (voz), um punk que confessou amar o Heavy Metal e acabou participando de uma banda de Hard Rock.
O grupo gravou a demo “Pink” na garagem do pai de Billy e começam a batalhar na divulgação de seu nome, tocando pela primeira vez em Hollywood no ano de 1985. Sua música e visual eram mescla de glam, punk e metal, cabelos imensos, rendas e couro, o que gerou muitos comentários entre o público que circulava pela Sunset Strip. A coisa chegou ao ponto de até mesmo os promotores do Poison e Guns´n´Roses estarem sempre lhes oferecendo espaços para tocar.
Em 1986 o Jetboy já abria para nomes consagrados como Iggy Pop, Johnny Thunders, Ramones e W.A.S.P.; e a Elektra, de olho na reação do público, assinou neste mesmo ano com o conjunto. A esta altura, Todd Crew já era a típica ‘persona’ do rock´n´roll, tendo as DROGAS como uma constante em sua vida, comprometendo tanto seu desempenho que o Jetboy teve que dispensá-lo. O baixista morreu no ano seguinte em uma destas festinhas, na companhia do pessoal do Guns (logo quem!), onde estava trabalhando como roadie. Tinha apenas 21 anos.
Quanto ao Jetboy, o posto de baixista foi ocupado por Sam Yaffa (ex-Hanoi Rocks), e o empolgado quinteto começa as gravações de seu debut. Tudo corre bem, o álbum é finalizado e batizado como “Feel The Shake”, foram enviadas cópias promocionais para a imprensa, anúncios já vinham sendo veiculados... Mas, seja lá qual foi o real motivo, a Elektra simplesmente começou a adiar o lançamento do álbum.
Atrelados e desencorajados pela burocracia, a salvação para o Jetboy veio por parte de outra gravadora: a MCA Records, que já havia sondado a banda, aproveitou a situação e após meses de negociações, simplesmente comprou o disco prontinho da indecisa Elektra. Assim, “Feel The Shake” sai da geladeira e é liberado em 1988, chegando ao 135º da Billboard, um número até mesmo considerável para quem sequer havia tocado muito além de sua região.
Mas o Jetboy não estava contente com o resultado final de suas canções. A reclamação geral é que no meio do processo houve interferência de tanta gente que tudo acabou por soar por demais polido, indo no sentido oposto à idéia inicial, que era liberar algo mais sujo. Inclusive o próprio baterista Ron dizia que preferia a sonoridade das demos, é mole?
É fato que “Feel The Shake” não oferecia nada de novo, mas era um álbum carismático, com canções divertidas e que tinham lá sua distorção. E três delas – "Bloodstone", "Locked In A Cage" e "Make Some Noise" – também foram boas o suficiente para terem o privilégio de constarem na trilha sonora de “The Burbs”, estrelado por Tom Hanks.
Mas a vida continua... A gravadora já quer um segundo álbum, e os músicos, naturalmente mais experientes depois de tantos problemas com o disco anterior, não viam a hora de entrar em estúdio. O novo disco iria se chamar “Damned Nation”, mas antes de seu lançamento oficial Yaffa retorna ao Hanoi Rocks, obrigando o Jetboy a recrutar Bill Fraenze.
O segundo álbum chegou às lojas em 1990 e seguia por caminhos mais bluesy como em “Trouble Comes”, “Ready To Rumble” e “Heavy Chevy” (co-escrita com Jeff Klaven, do Krokus). Partiram para tours com Vixen, Eletric Boys e Quireboys, as resenhas para o disco eram positivas, mas novamente começa um processo que os músicos não podiam controlar: a Sony Music adquiriu a MCA Records.
Aí já viu... Entre as bandas dispensadas pela fusão das gravadoras estava o Jetboy. A gota d´água que acabou com tudo foi a decisão de Ron Tostenson em deixar a banda. Sem gravadora, sem baterista e com mudanças no panorama musical – lembram-se do grunge? – o Jetboy decide não ser mais o Jetboy. Agora se chamaria Mindzone e teria uma direção musical que procurava seguir os novos tempos. Mas quebrou a cara. Artificial demais...
Enquanto Billy Rowe montou o ótimo American Heartbreak e liberou uma série de EPs ao longo da década, o vocalista Mickey então estava morando no Havaí e colecionava raridades ao vivo de sua ex-banda. Quando o pessoal da gravadora Cleopatra viu o material, sugeriu que o lançasse em disco, e o resultado saiu em 1999 sob o título “Lost & Found”, inclusive com o sr. Killmister (Motorhead) colaborando em “The Reading”.
O dono da Cleopatra era um aficionado pelo Hard Rock norte-americano e em 2003 publicou um livro que documentava a Sunset Strip em seu auge, ilustrada com panfletos, fotos e muita história, além de um CD com canções da época. Em função disso, é feito um convite para o Jetboy tocar no Key Club e, depois de 14 anos de encerrada suas atividades, Mickey, Fernie e Ron estão juntos novamente, com o novato baixista Michael Butler.
O conjunto continuava mostrando vigor sobre os palcos, e a partir daí vieram DVDs e a regravação de “Feel The Shake”. Considerando que o Jetboy foi meio diferente das outras bandas, com seu estimulante visual meio deformado pelo punk e um Hard Rock com traços de blues e rockabilly que insiste em não soar datado, há muitos boatos de um novo álbum de inéditas vindo por aí. É esperar para ver...
Shark Island
Law Of The Order
(1989 - Epic Records)
Aqui temos um excelente conjunto vindo de Los Angeles cuja trajetória começou nos idos 1979, na escola ainda, onde a amizade e paixão pela música fizeram com que Richard Black (voz) e Spencer Sercombe (guitarra) montassem sua primeira banda, inicialmente batizada como Shark. O posto de baterista e baixista era alterado regularmente, e mesmo assim estrearam com um disco independente chamado “Altar Ego” em 1982.
Em 1986 a seção rítmica ainda era instável, mas o nome ficou em definitivo: Shark Island. E assim chega ao público outro álbum independente, “S'cool Buss”, que, mesmo constituído principalmente por material de suas demos anteriores, atraiu muita atenção pelo circuito underground, inclusive tendo o pessoal da A&M Records mostrado grande interesse pela banda.
Bom, na realidade o tal interesse não foi pelo Shark Island propriamente dito. Depois de assinado o contrato, começa a manipulação dos ‘homens de negócios’ da gravadora... Eles queriam somente o vocalista Richard Black! Os outros músicos estavam para ser descartados, inclusive o guitarrista e fundador Spencer Sercombe. E adivinhem com quem colocaram o vocalista para trabalhar? Com Dave 'Snake' Sabo (Skid Row) – e daí o leitor tire a conclusão que quiser. A parceria rendeu a excelente faixa "Somebody's Falling"; além de outras canções que surgiram com a colaboração de Jack Ponti, compositor famoso por sua parceria com o Bon Jovi.
A pressão da A&M sobre Richard Black para demitir os outros músicos – um processo natural, segundo os engravatados – continuava forte, tanto que passaram por uma audição pelo Shark Island o baixista Matt Bissonette e o baterista Greg Ellis. Com estes músicos o Shark Island gravou duas faixas que entraram para a trilha sonora de "Bill & Ted's Excellent Adventure", mas o clima entre a banda e a gravadora estava tão deteriorado que as partes não demoraram a romper o contrato.
Agora, aliviados com a liberdade e novamente sem baterista e baixista (Bissonette se afastou e posteriormente ficou conhecido por seu trabalho na banda de David Lee Roth), o próximo passo para Richard Black e Spencer Sercombe foi recrutar Chris Heilmann (baixo) e Greg Ellis (bateria), para então assinar um (cuidadoso) contrato com a Epic Records. E, agora sim, as condições eram viáveis para o lançamento de um álbum com a qualidade que o conjunto já vinha merecendo há tempos.
Tendo como produtor Randy Nicklaus, "Law Of The Order" é liberado em 1989, e curiosamente possuía uma sonoridade com muitas das características do Hard Rock europeu. Com um desempenho instrumental incrível e linhas vocais que mostravam o porquê de seu cantor gerar tantos comentários positivos, o repertório apresentava os singles "Paris Calling" e "Bad For Each Other"; seguindo com canções matadoras do porte de "Somebody's Falling", “Spellbound”, as baladas "Bad For Each Other" e "Why Should I Believe" e um cover para "The Chain" (Fleetwood Mac).
Mas a vida sempre gostou de pregar suas peças... Depois de tantos anos de apresentações pelos clubes tornar o Shark Island tão popular, a ponto de ser considerado como o próximo grande nome de Los Angeles a estourar no mundo, nada aconteceu. A aceitação de "Law Of The Order" ficou limitada apenas aos fissurados pelo estilo.
Aguardando os acontecimentos, o requisitado Richard Black é convidado a participar do Contraband (ver Hard Rock parte 07), projeto em que o vocalista estaria ao lado de Michael Schenker (UFO, MSG) e Tracii Guns (L.A. Guns) nas guitarras, Share Pedersen (Vixen) no baixo e Bobby Blotzer (Ratt) na bateria. O Contraband lançou apenas um disco auto-intitulado em 1992 que não deu em absolutamente nada, o que, convenhamos, chega a ser constrangedor pelo nível dos músicos envolvidos.
Sercombe também optou por outros rumos ao formar parceria com Vivian Campbell (Dio, Def Leppard) no Riverdogs e, até 1997, era um membro da banda solo de Bill Ward (Ozzy Osbourne). O baixista Chris Heilmann tocou com Spike (vocalista do Quireboys) no obscuro Spike's Soul Thing, enquanto Richard Black também fez algumas apresentações ao vivo ao lado de Jake E. Lee no Bourgeois Pigs.
O Shark Island somente mostrou as caras novamente com “Gathering Of The Faithful”, lançado em 2006, tendo Glen Sobel (Impelliteri) como novo baterista. Um bom álbum, mas sem a sensibilidade e requinte que permitiu que seu antecessor se tornasse tão especial entre os que tiveram a oportunidade de escutá-lo.
Da Vinci
Da Vinci
(1987 - Polygram Records)
Os anos oitenta não brilharam somente para o famoso Hard Rock norte-americano. Este movimento também foi muito forte nos países escandinavos, tão bem representados por nomes como Hanoi Rocks, Europe e Treat. Na própria Noruega havia uma série de conjuntos desconhecidos agitando pelo underground e com uma sonoridade distinta do que era apresentado pelos artistas dos Estados Unidos ou Reino Unido. E o Da Vinci foi um destes bons grupos.
Natural de Oslo, sua carreira se iniciou lá pelos meados da década de 1980, quando Lars Aass (voz), Gunnar Westlie (guitarra), Dag Selboskar (teclados), Bjorn Boge (baixo) e Jarle Maloy (bateria), cinco músicos de bandas rivais, se tornaram grandes amigos ao decidir fazer o melhor possível em se tratando de Hard Rock/AOR. Tocaram por todos os bares e clubes que puderam e, com carisma, foram conquistando muitos admiradores pelas redondezas.
E todo o esforço do quinteto fez com que o Da Vinci passasse rapidamente de aspirante a profissional quando atraíram a atenção e caíram nas graças da Polygram Records. Em 1987 debutam com um belíssimo registro auto-intitulado, dono de uma invejável gravação de Bjorn Nessjoe, onde o talentoso guitarrista Gunnar Westlie, tão influenciado pelo rock progressivo setentista, acerta o tom das canções com algumas doses de originalidade, além de muitas melodias pegajosas conduzidas pelos teclados, em grandes momentos como a emocional “Tarquinia”, “Look At Me Now”, “Forever In My Heart” e a balada “Young Desperado”.
A resposta do público escandinavo foi tal que a banda recebeu sinal verde e avançou para o segundo álbum, "Back No Business", lançado em 1989 e considerado como outra pérola do rock melódico norueguês, com muitos críticos alegando que era de qualidade ainda superior ao disco anterior.
Apesar de o Da Vinci ter iniciado as sessões para a gravação de um terceiro disco, seus músicos simplesmente decidiram acabar com as atividades da banda, deixando para a posteridade apenas duas composições sobreviventes: “Ain’t No Goodbyes” e “Blame It On The Radio”. Este disco que nunca existiu acabou sendo ironicamente conhecido com "Unfinished Business" (negócios inacabados).
Com o fim precoce, o Da Vinci se tornou um dos nomes que poucos se lembram, mesmo tendo conquistado alguma glória em seu país. Seus dois álbuns se tornaram objetos de colecionadores por um bom tempo, até que em 2006 a MTM alemã tomou a iniciativa em relançá-los na série ‘MTM Classix’, agora com uma óbvia mixagem digital, e que facilitou o acesso dos adeptos do estilo. Inclusive estas novas versões trazem como bônus as já citadas canções, até então inéditas, “Ain’t No Goodbyes” e “Blame It On The Radio”, incluídas respectivamente no repertório de “Da Vinci” e “Back No Business”.
Johnny Van Zant Band
The Last Of The Wild Ones
(1982 - Polygram Records)
Nada como fazer parte de uma família em que vários de seus membros têm algo realmente em comum... Natural de Jacksonville, Flórida, a família Van Zant já tinha os irmãos Ronnie no Lynyrd Skynyrd e Donnie no 38 Special, e, como se não fosse pouco, havia ainda um caçula que assistiu ao sucesso de seus irmãos por toda a década de 1970. E naturalmente que ele estava determinado a seguir os mesmos passos!
Johnny Van Zant começou a tocar com 15 anos, tendo a bateria como paixão inicial, mas depois optou por ser um cantor – provavelmente por Ronnie dizer que o garoto possuía a melhor voz da família. Aliás, o próprio Ronnie foi o mentor de sua primeira banda, o Austin Nickels Band, com Robbie Gay na guitarra e Ribbue Morris na bateria, turma que explorou as redondezas tocando o famoso Southern Rock, tão enraizado nos músicos da família.
Como muitos dos leitores devem saber, nesta época o Lynyrd Skynyrd ocupava o trono do Southern Rock, até que um famoso acidente de avião ocorrido em outubro de 1977 acarretou a morte de vários de seus músicos, inclusive a do próprio fundador, Ronnie Van Zant, e que consequentemente finalizou as atividades da banda. Em função desta tragédia, quem assumiu o posto de conselheiro do Austin Nickels Band foi o segundo Van Zant, Donnie.
Mas a carreira musical para o pequeno Johnny foi bem mais difícil do que para seus irmãos. A Johnny Van Zant Band estreou com “No More Dirty Deals” somente em 1980, pela gravadora Polydor, onde Johnny, Gay e Morris vinham acompanhados de Eric Lundgren (guitarra) e Ronnie Clausman (baixo). A recepção do público foi bastante tímida, talvez por 38 Special, Molly Hatchet e ainda o Blackfoot serem concorrentes duros no páreo...
De qualquer forma, “Round Two” veio no ano seguinte, mostrando que ainda estavam na luta. A aceitação não mudou muito, mas as canções mostravam uma melhor definição de sua fórmula e preparou o terreno para o terceiro e último disco da banda.
Agora, sob a tutela da Polygram Records, em 1982 chega ao público “The Last Of The Wild Ones”. E, respondendo a uma provável pergunta que talvez alguém tenha feito – “Mas o que um Van Zant está fazendo numa matéria sobre Hard Rock?”. Bom, a realidade é que este discaço apresentava muitas canções devidamente atualizadas em um repertório bem balanceado entre o southern e o hard, tendo faixas como “It´s You”, “Can´t Live Without Your Love” e “Inside Looking Out” mostrando todo o talento de Johnny pelo lado mais pesado da música, enquanto a faceta sulista era mais evidente em “Good Girls Turning Bad”, na própria faixa-título e na apoteótica balada orientada pelo piano, “Still Hold On”.
Mas o público já começava a mostrar interesse pelo Hard Metal que estava começando a tomar força, e “The Last Of The Wild Ones” não se enquadrava nem um pouco neste perfil, e nunca que um Van Zant iria usar roupas ou maquiagens esquisitas... Johnny lançou um solo auto-intitulado em 1985 pela Geffen – que novamente não rendeu muito – e simplesmente virou um típico caminhoneiro, passando os anos seguintes nas estradas.
Mas o legado é algo importante, e o que vem a seguir é história conhecida: em 1987 cogitou-se de o Lynyrd Skynyrd ser reformulado para uma apresentação em comemoração aos 10 anos do acidente que vitimou alguns de seus músicos. Considerando que os sobreviventes seguiram por projetos que não deram grande resultado, a idéia era boa. Mas quem seria o nome ideal para ocupar o posto do carismático vocalista falecido? Oras, ninguém melhor do que a ‘melhor voz da família’...
É claro que apenas uma apresentação comemorativa do Lynyrd Skynyrd seria inviável. O evento foi esticado por uma semana, se transformou em uma excursão e como era de se esperar, o Lynyrd Skynyrd estava definitivamente de volta. Gravaram-se alguns discos de estúdio pelos anos 1990 e início da década seguinte, mesmo com alguns setores da tal mídia especializada simplesmente dizendo que a nova versão do conjunto estava jogando todo o passado da banda no incinerador mais próximo – o que, convenhamos, é uma grande besteira.
E, paralelo ao Skynyrd, Johnny liberou ainda em 1990 “Brickyard Road”, e com seu irmão Ronnie gravou inúmeros álbuns sob o nome Van Zant, inclusive o bonito “My Kind Of Country”, que chegou às lojas norte-americanas em 2008 e cairá nas graças de quem curte Rock´n´Roll, Hard, Country e Pop.
220 Volt
Eye To Eye
(1988 - CBS Records)
Natural de Östersund, Suécia, a própria biografia do 220 Volt alega que, se não fosse por uma partida de mini-golfe ocorrida em 1976, a banda nunca teria existido. Mats Karlsson não estava em seus melhores momentos durante o jogo, e se complicou ainda mais quando lançou sua bola a mais de cinqüenta metros de onde ela deveria cair. Um outro observador, Thomas Drevin, cheio de boa intenção, simplesmente arremessa a bola de volta – e acaba machucando a mão de Karlsson, que a pega de mau jeito...
Apesar de um início que não foi dos melhores, Mats e Thomas formam uma grande amizade em função de seu interesse mútuo pela música. Após dois anos a vontade de montar uma banda é grande, passam a ter aulas de violão e praticar juntos, para logo surgirem os primeiros riffs. Uma coisa leva a outra, e o próximo passo foi buscar outros músicos com o mesmo interesse.
Assim surge Christer ‘Frille’ Åsell (voz) e Tommy Hellström (baixo), que simplesmente abandonaram a banda em que tocavam para se juntar à que nascia, e, por fim o baterista Pelle Hansson. É claro que, por serem tão jovens, foi difícil preparar um material realmente original, mas estavam dispostos e começaram a ensaiar e gravar.
Assim apareceu a primeira oportunidade de tocar – e nem sequer haviam tido a preocupação em se batizarem com algum nome... E este surgiu enquanto plugavam seu equipamento, quando alguém sugeriu 9 Volt. Mas pelo jeito já tinham mania de grandeza, tanto que decidiram por 220 Volt e assim se manteve desde abril de 1979, quando se apresentaram pela primeira vez.
Trocando seu baixista por Mike "Larsson" Krusenberg e tendo em ‘Frille’ um frontman de respeito, as apresentações passam a se tornar freqüentes, inclusive tocando em uma rádio de Estocolmo, e sua reputação também começou a crescer porque eles promoviam seus próprios shows. Sua primeira gravação foi uma demo de 1982, agora com o baterista Peter ‘Herman’ Hermansson. Esta demo vendeu suas 500 cópias rapidamente, tanto que a CBS rapidamente quis conhecer o novato 220 Volt.
O problema é que ‘Frille’, um monstrinho sobre o palco, acabou por não se sair bem na audição para a gravadora. Para a CBS, a escolha era simples: ou trocavam de vocalista, ou não tinha contrato... O próprio ‘Frille’ toma a iniciativa e deixa a banda seguir seu sonho. O posto então é oferecido a um antigo companheiro chamado Jocke Lundholm, que rapidamente parte para Estocolmo, toca em várias apresentações e, enfim, são bem-vindos a fazer parte do cast da criteriosa CBS Records.
Seu primeiro álbum, auto-intitulado, é datado de 1983 e seguia uma linha bem clássica de Heavy Metal. Mesmo com a recepção bastante favorável, o guitarrista e fundador Drevin deixa seu posto para tocar com seu antigo colega ‘Frile’ no Empire. Assim, foi com Peter Olander que o 220 Volt libera “Powergames” (84) e “Mind Over Muscle” (85), trabalhos que aumentaram consideravelmente seu público pela Europa.
A CBS, de olho no forte mercado dos EUA, faz a estréia neste país com a coletânea “Electric Messengers” em 1985, quando o 220 Volt abriu para o AC/DC em território norte-americano. Mas seus músicos ainda eram muito jovens e tiveram que dar uma parada forçada em sua carreira numa fase crucial, pois foram convocados para o serviço militar. A única cabeça que escapou de ser devidamente tosquiada foi a de Olander, que, enquanto ficava no aguardo de seus companheiros, participou de "Total Control", um solo do guitarrista John Norum (Europe).
Somente em 1987 é que o 220 Volt se viu livre de sua patriótica obrigação e voltou a se concentrar em novas composições. Apesar de alguns problemas iniciais com a produção, tudo se resolve perfeitamente quando optam por Max Norman (Aerosmith, Rainbow) e, depois de duas semanas ensaiando de 10 a 12 horas por dias, partem para a gravação propriamente dita.
O resultado é “Eye To Eye”, que revelou uma versatilidade até então desconhecida na banda. A faceta metálica agora estava em segundo plano, tendo no Hard Rock e pitadas de AOR a linha principal. Inicialmente o álbum foi muito bem recebido, mas a gestão dos negócios começou a ir de mal a pior, e nem mesmo a participação no ‘Monsters Of Rock’ fez com que o disco tivesse a repercussão merecida, principalmente nos Estados Unidos. De qualquer forma, faixas como a abertura “The Harder They Come”, ”Beat Of The Heart” e a própria “Eye To Eye” fazem com que este disco seja lembrado com carinho entre os que apreciam o Hard Rock europeu feito na segunda metade da década de 1980.
Em 1990, o 220 Volt passa por uma reformulação e, com a entrada do vocalista Per Englund, passam a se chamar Voltergeist (sacaram o trocadilho?) e preparam novas canções por dois anos, mas sem gravar nada. Estas composições somente viram a luz do dia em 1997, quando liberam “Lethal Illusion”, novamente sob o nome 220 Volt, reascendendo a esperança de uma reunião entre os fãs.
Mas a reunião definitiva só acontece mesmo depois de cinco anos, e com a formação de 81-83, quando Christer Åsell (sim, o vocalista renegado!), os guitarristas Tomas Drevin e Mats Karlsson, o baixista Micke Larsson e o baterista Peter Hermansson finalmente retornam para uma aparição no festival 'Sweden Rock'. Mas um álbum inédito, nada... Apenas a coletânea "Volume 1" (02), cujas 1000 cópias se esgotaram em duas semanas; e o álbum ao vivo “Made In Jämtland” (05), que comemora o 20º ano do lançamento de seu primeiro single, “Prisoner Of War” / ”Sauron”.
REO Speedwagon
Hi Infidelity
(1980 - Epic Records)
Com certeza uma das melhores bandas do AOR da época. Veterano até o osso, o norte-americano REO Speedwagon foi formado em 1967 por alunos que freqüentavam a Universidade de Illinois em Champaign, e que inicialmente tocavam pelos bares da cidade. Seu nome exótico tem origem no caminhão REO Speed Wagon, da REO Motor Car Company – o ‘REO’ são as iniciais do fundador da empresa, Ransom Eli Olds, que fundou a Oldsmobile, uma divisão da General Motors.
Sua formação se alterava de forma incrivelmente rápida, até que em 1971 os fundadores Neal Doughty (teclados), Alan Gratzer (bateria) e Terry Luttrell (voz) encontraram em Gregg Philbin (baixo) e Gary Richrath (guitarra) certa estabilidade para o REO Speedwagon. Mesmo não tendo um estilo realmente definido ao mesclarem Rock Progressivo, Fusion e Hard Rock, eles vão consolidando a base de fãs que já tinham em sua região.
Foi neste mesmo ano e com esta formação que assinaram com a Epic Records. Após adquirem da General Motors os direitos para o uso do nome e logotipo, debutam com um álbum auto-intitulado. Mas o problema com sua formação persiste, e, o pior, agora atacava os vocalistas, tanto que seus dois álbuns seguintes trouxeram respectivamente Kevin Cronin (que cantava num grupo folk) e Mike Murphy para o microfone. E depois novamente Cronin retorna, desta vez para ficar.
A banda já tinha encontrado seu nicho, um Hard Rock com tendências pop que sempre emplacava algum hit. Mas o REO Speedwagon estava insatisfeito por não atingir o maisntream e culpava seus produtores, alegando que estes não conseguiam reproduzir a energia de suas apresentações nos discos de estúdio – tanto que seu primeiro registro ao vivo, “Live: You Get What You Play For” (77), arrebatou um certificado de platina. Assim, tomaram a decisão de os próprios músicos participarem como produtores para os próximos álbuns.
E foi em 1980 que a banda atinge o auge de seu sucesso. Depois de mais de uma década refinando sua música e agora contando com o baixista Bruce Hall, o REO Speedwagon liberou “Hi Infidelity”, um nono álbum que inesperadamente desovou vários hits. "Keep On Loving You" chegou ao primeiro lugar das paradas de sucesso, sendo que "Take It On the Run" e "In Your Letter" também permanecerem por 65 (!!!) semanas nas paradas, sendo 32 destas entre as 10 melhores. Convenhamos, são pouquíssimas as bandas que atingem estes números...
“Good Trouble” (82) e ”Wheels Are Turnin’” (84) continuam mostrando a grande fase do conjunto, que agora tocava nas grandes arenas e recebia convites importantes, como para participar do “Live Aid”, famoso evento em prol da fome que assolava a África na época. Mas em 1987, “Life As We Know It” marca o declínio comercial do REO Speedwagon, ainda que emplaque algumas ótimas canções. E isso parece ter marcado profundamente alguns de seus músicos, tanto que ao final da década o conjunto havia praticamente se desintegrado, cada qual partindo para outros projetos ou estilos de vida mais saudáveis.
Em 1990 retornam com Bryan Hitt na bateria e Dave Amatto (Ted Nugent, BON JOVI e Richie Sambora) assumindo a guitarra, mudança esta que chocou os fãs mais antigos, que admiravam o estilo do ex-guitarrista Richrath, considerando-o a alma do conjunto. “The Earth, A Small Man, His Dog And A Chicken” se apresentava um pouco mais pesado e chegou apenas ao 129º da Billboard. Muito, mas muito aquém dos números de outrora.
A situação foi piorando até 1996, quando liberaram “Building The Bridge” por duas gravadoras, que faliram logo em seguida. O REO Speedwagon vai se mantendo por meio de coletâneas e discos ao vivo até que a ressaca comece a passar, o que parece estar acontecendo somente agora, pois em 2007 a banda retornou com o agradável “Find Your Own Way Home”, que, ainda com o contestado guitarrista Amato, colocou dois singles na Billboard's Adult Contemporary – isso depois de 19 anos.
Talvez o maior problema do REO Speedwagon tenha sido “Hi Infidelity” ter feito tanto sucesso, o que naturalmente gerou demasiadas expectativas para as vendas de seus álbuns subseqüentes. Não houve o lucro desejado, mas eram trabalhos realmente convincentes, tanto que o próprio “The Earth, A Small Man, His Dog And A Chicken”, considerado um de seus maiores fiscos comerciais, se mostra um ótimo álbum de Hard Rock. E confesso: é um de meus preferidos desta banda. De qualquer forma, junto com o Journey e o Styx, o REO Speedwagon representa o que houve de melhor em termos de AOR norte-americano na década de 1980.
King Kobra
Ready To Strike
(1985 - Capitol Records)
O termo ‘vendido!’ era bastante comum lá pelos meados dos anos 1980. E, se alguém realmente mereceu esta alcunha, muitos por aí dizem que foi Carmine Appice. Até então este baterista era extremamente elogiado na mídia especializada, afinal, o homem já estava na ativa desde a década de 1960 e era uma lenda que fez história no psicodélico Vanilla Fudge, no blues rock Cactus e com o power trio Beck, Bogart e Appice.
Mas o rock´n´roll foi mudando – se é uma evolução saudável ou não, aí o leitor que decide – e tendo o visual como elemento muito importante para os conjuntos que queriam sobreviver na década de 1980. Foi nesta época que Carmine Appice decidiu montar sua própria banda de Hard Rock chamada King Kobra, mas o projeto teve que esperar por algum tempo, pois o baterista foi tocar com Ozzy Osboune numa excursão que se estenderia pelos Estados Unidos e Europa – e que não durou o quanto deveria, pois algum desentendimento fez com que Appice fosse demitido no meio da tour.
Assim, o baterista pode continuar com seus planos. O vocalista Mark Free já era seu conhecido há algum tempo e estava cogitado desde o início, e, através de anúncios do tipo ‘precisa-se de músicos’ onde se especificava que os candidatos deviam ser jovens, de cabelos compridos e descoloridos (?!), o King Kobra teve sua formação completa com Mick Sweda (guitarra, Stormtrooper), David Michael Phillips (guitarra, Schoolboys) e Johnny Rod (baixo).
É claro que um músico consagrado como Carmine não teria dificuldades em conseguir um contrato com alguma gravadora, tanto que a Capitol se dispôs a lançar dois álbuns com o novo grupo. Aos cuidados do produtor Spencer Proffer, que já havia trabalhado com o Vanilla Fudge no passado, estréiam com “Ready To Strike” em 1985. E, apesar de toda a maquiagem, roupas cuidadosamente ‘rasgadinhas’ e, o imperdoável, o baterista estar entre quatro marmanjos-blondies fazendo biquinhos, com certeza ser uma visão desconcertante para os antigos fãs que acompanharam o Vanilla ou Cactus, não dá para negar que sua música era muito bem feita e do jeito que o mercado consumidor exigia.
“Ready To Strike” traz um Hard Rock bastante simples e com um peso que beira o Heavy Metal, além de um ótimo trabalho vocal de Mark Free. Além do single “Hunger” (composto pelos membros do Kick Axe, e que, segundo a lenda, havia sido rejeitada anteriormente pelo Black Sabbath), havia pesos-pesados como a faixa-título, “Breakin' Out” e “Piece Of The Rock”, além da belíssima balada “Dancing With Desire”. Em suma, um discão que impressionou muitos dos amantes da nova geração que estavam conhecendo o rock pesado na época.
Com a boa repercussão de seu debut, no ano seguinte é a vez de “Thrill Of A Lifetime” e... Bom, vamos dizer que este disco decepcionou muita gente. Cadê a distorção? Tudo aqui era bem mais pop e emplacou apenas a faixa "Iron Eagle (Never Say Die)", que fez parte da trilha sonora do filme "Iron Eagle", e ainda embalou os comerciais dos cigarros Hollywood. E nem isso animou o interesse público... As vendas foram um fiasco. E, considerando que o tal contrato com a Capitol seria apenas para dois álbuns, naturalmente nem houve interesse em renovação.
Mark Free deixou o King Kobra antes do terceiro álbum, o que gerou um verdadeiro tormento para Appice, pois o que se sucedeu a partir daí foi uma infinidade de alterações na formação da banda. Mick Sweda também pulou fora para entrar no Bulletboys e, ainda que tenha contribuído em algumas novas composições, Johnny Rod foi tocar contrabaixo no W.A.S.P., quando este estava deixando o horror para passar por uma (breve, graças!) fase circense.
Entre outras complicações, somente em 1988 é que o King Kobra libera “III” através de seu próprio selo. Além de Appice e Phillips, a banda agora contava com o vocalista Johnny Edwards (Buster Brown, Montrose), o guitarrista Jeff Northrup e o baixista Larry Hart, trio descoberto pelo próprio baterista quando tocavam em Sacramento sob o nome Northrup. O novo disco seguiu por uma linha mais pesada como a de “Ready To Strike”, trazendo como destaques “Meanstreets Machine”, faixa originalmente gravada pelo Icon, quando este ainda se chamava The Schoolboys; e ainda “Legends Never Die” e “It's My Life”, composições de Gene Simmons que já haviam sido gravadas por Wendy O. Willians (Plasmatics) em seu primeiro álbum-solo (ver Hard Rock 01). Ou seja, as melhores faixas nem eram do King Kobra...
Assim, o grupo automaticamente se desliga da cena até 2000, quando Carmine Appice até tentou uma espécie de reunião, contando novamente com o guitarrista Sweda, Kelly Keeling (voz e baixo, Blue Murder, MSG) e Steve Fister (guitarra, Lita Ford), para no ano seguinte colocarem no mercado "Hollywood Trash", um típico caça-níqueis que foi o último suspiro da cobra.
Falando em ‘cobra’, a do ex-vocalista Mark Free foi cortada fora... Ele realizou uma operação para troca de sexo – o que explica toda a afetação da criatura – e adotou o nome Marcie Free. Sem comentários...
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