8 de outubro de 2011

Live Dead - Grateful Dead



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Ao vivo a banda era eletrizante. Contando com um repertorio muito limitado, o grupo estendia as músicas em longuíssimas improvisações psicodélicas, sempre comandadas pela guitarra de seu genial líder Jerry Garcia que parecia nutrida de um fluxo criativo incessante e inesgotável. Reza a lenda que em certos shows a orgia sonora promovida pelo Grateful Dead era tamanha que se levava mais de uma hora para decidir qual a próxima música a ser tocada. Por conta de seus lendários concertos o grupo arrebatava uma legião de fãs fidelíssima pelos locais onde se apresentava (na realidade, uns hippies doidões de pedra vidrados em maconha e LSD que atendiam pelo nome de Deadheads).
Já em estúdio a situação era completamente diferente. Não se sabe por que razões, sob quatro paredes o grupo se tornava uma parodia de si mesmo e não conseguia imprimir em seus discos o virtuosismo de suas lendárias apresentações ao vivo. Seu álbum de estreia o autointitulado “Grateful Dead” de 1967 é no mínimo decepcionante, já “Aoxomoxoa” de 1969 consegue se sair um pouco melhor, pois além de trazer arranjos mais bem acabados, marca as primeiras incursões da banda com a música Folk ianque tendo algumas canções caráter predominantemente acústico. Exceção honrosa seja feita a “Anthem Of The Sun” de 1968, este certamente o melhor disco de estúdio da fase psicodélica do grupo que se utiliza de colagens sonoras, distorção, microfonia, escalas modais e o que mais for possível para forjar uma muralha sonora bizarra e assustadora, que ao mesmo tempo soa incrivelmente bela, o disco como um todo se assemelha a enorme Jam-session com seus quase 40 minutos de duração.
Fato era que os primeiros lançamentos do grupo venderam muito pouco apesar do enorme acolhimento do Grateful Dead pelo grande público. E eis que numa das mais ousadas apostas da música pop mundial o Grateful Dead apresenta ao mundo um dos mais importantes discos ao vivo da história “Live Dead” que na realidade é uma junção de canções de diversas apresentações ao vivo durante a turnê de 1969 no lendário teatro Fillmore East e no Ballroom D’ Avalon.
Nem o grupo, nem a gravadora ao qual estavam vinculados na época (Warner Bros) esperavam altas vendagens do disco, mas o fato é que as gravações de “Aoxomoxoa” tinham sido bem dispendiosas e como o grupo dispunha de algumas demos de shows gravados, a Warner decide então compilar as melhores gravações para um álbum duplo ao vivo (três pelo preço de um). Ironia do destino ou não “Live Dead” acabou se tornando o primeiro sucesso de vendas do Grateful Dead.
O pioneirismo do Grateful Dead já fica evidente pelo formato inusitado do disco que apesar de ser um álbum duplo contém somente sete longas canções, totalmente fora do formato pop padrão. A capa do LP cortesia R. D. Thomas é de uma beleza singular, poucas vezes igualada, mas são as canções presentes no disco que o tornam tão especial.
A começar pela abertura com “Dark Star”, registrada aqui em uma versão jamais superada. Num rompante psicodélico jamais presenciado até então, a música segue com uma melodia hipnótica abrindo espaços para Garcia e Cia. se lançarem em digressões jazzísticas alucinógenas que causariam arrepios em John Coltrane. Viagem pura!!! Não a toa a versão de “Dark Star” aqui presente é considerada o melhor momento do grupo já registrado em disco.
“St. Stephen” com um dos mais geniais riffs de guitarra já concebidas pela mente humana é apresentada em uma versão abissal muito superior a de “Aoxomoxoa”, as complexas mudanças de tempos na música; ora um 4:4, ora 11:8, soam tão naturais que parece coisa simples. Um milhão de apresentações tivessem feito dificilmente a banda conseguiria repetir uma façanha dessas. Colada na faixa anterior temos o Grateful Dead caindo pelas tabelas em “Eleven” um instrumental dominado pela guitarra genial de Jerry Garcia. Seus quase10 minutos de duração, demonstram a versatilidade de Garcia em cima dos palcos e confirmam de uma vez por todas sua posição de líder dentro da banda.
“Turn On Our Love Light” que abre o segundo disco se apresenta no melhor estilo Free-Jazz, dando oportunidades ao grupo alçar voos maiores com solos de guitarra e bateria muito criativos. Figura entre os pontos do disco. Uma ótima releitura da já tradicional “Death Don’t Have No Mercy” de Gary Davis dá sequência ao play, embora desta vez em uma roupagem mais psicodélica. Já “Feedback” com o uso proeminente de distorção e microfonia, leva o experimentalismo a níveis inimagináveis. A singela despedida da banda em “And We Bid You Goodnight”, encerra com maestria o disco.
Em 2001 “Live Dead” foi relançando em vinil duplo, trazendo como atrativo uma versão de “Dark Star” gravada em estúdio e lançada como single, além de uma promo utilizada para divulgação do álbum na época. Em 2005 foi a vez do bootleg “Fillmore East”, um disco triplo ao vivo que contém a integra das gravações realizadas no teatro do Fillmore East em 1969. Estes lançamentos juntamente com os discos Rockin’ the Rheine with The Grateful Dead (1972)/ Europe 72/ Steppin’ Out with the Grateful Dead: England ’72/ Hundred Year Hall 4-26-72; gravados durante a turnê europeia de 1972 registram o auge desta verdadeira instituição californiana e demonstram o poder da música de improviso, abrindo caminhos que seriam explorados a exaustão pelas “Jam Bands” como o Phish, mas que jamais alcançaram a força dos modelos originais.
Essencial!!!
Disco 1
1.Dark Star (Fillmore East – 27/02/1969)
2.St. Stephen ( Fillmore East – 27/02/1969)
3.The Eleven (Ballroom D’ Avalon – 26/01/1969)
Disco 2
1.Turn On Your Love Light (Ballroom D’ Avalon – 26/01/1969)
2.Death Don’t Have No Mercy (Fillmore East – 02/03/1969)
3.Feedback (Fillmore East– 02/03/1969)
4.And We Bid You Goodnight (Fillmore East – 02/03/1969)

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