Todo mundo conhece a história de Aquiles Priester. Fundador do Hangar, baterista do Angra entre 2001 e 2008 e considerado um dos melhores do mundo em seu instrumento, o músico acaba de lançar a sua autobiografia, "De Fã a Ídolo". Lendo as 162 páginas do livro percebe-se que, na verdade, poucas pessoas conhecem de verdade a história de Aquiles.
Historicamente, o período anterior à criação do Hangar e a entrada no Angra, quando Aquiles vagou por dezenas de bandas primeiramente em Foz do Iguaçu e depois em Porto Alegre, é de grande valia para os fãs, pois mostra como o cara que hoje é apontado como um dos melhores bateristas do mundo nunca desistiu naquilo que acreditava, e em como foi encontrando e desenvolvendo o seu estilo.
Esclarecedor também é o período em que Aquiles se afastou da música e focou todas as suas energias na Dana Corporation, empresa norte-americana onde ingressou no departamento de marketing. As ideias de Aquiles fizeram com que ele se destacasse e acabasse saindo de Porto Alegre e sendo enviado para a unidade da Dana em São Paulo. Essa transferência aconteceu um pouco antes da entrada de Aquiles Priester no Angra, e, com absoluta certeza, foi fundamental para que isso acontecesse.
Mas os trechos mais importantes e chamativos de "De Fã a Ídolo" ocorrem quando o assunto é o Angra. Aquiles narra os primeiros encontros com Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, e em como os três definiram e aprimoraram os arranjos das faixas que fizeram parte de "Rebirth", álbum lançado em 2001. Aquiles foi o primeiro a entrar na banda após a saída traumática de Andre Matos, Luís Mariutti e Ricardo Confessori, e só depois que as músicas já estavam em adiantado estado de composição é que Edu Falaschi e Felipe Andreoli foram anunciados como integrantes.
Fica claro que os problemas enfrentados pelo Angra tinham a sua raiz totalmente na adminisstração das finanças da banda, nas mãos de Antônio Pirani, o dono da Rock Brigade. As coisas nunca ficavam claras para o trio que chegava ao grupo, com Aquiles, Edu e Felipe de um lado e Kiko e Rafael de outro. Aquiles deixa clara a sua admiração por Kiko e Rafael como músicos, mas também fala claramente o que pensa a respeito de ambos – na opinião do baterista, Rafael Bittencourt é a mente pensante por trás da música doAngra, o verdadeiro maestro do grupo, quem faz as coisas acontecerem, enquando Kiko, nas palavras de Aquiles, “sempre poupava ser agradável”.
O texto não se furta de nada, falando claramente sobre os problemas internos e administrativos que oAngra atravessou durante o processo de composição e gravação do álbum "Aurora Consurgens" (2006) e que culminaram com a saída de Aquiles em 2008. O músico fala inclusive que ele, Edu Falaschi e Felipe Andreoli comunicaram a Kiko e Rafael que estavam saindo do grupo em conjunto, mas os dois últimos acabaram retornando mais tarde. A polêmica história sobre a agressão física entre Rafael Bittencourt e Aquiles, que acabou em vias de fato, bem como a transparente e bombástica entrevista dada por Aquiles para a Roadie Crew no período, onde falou de forma aberta sobre os problemas do grupo e a insatisfação que sentia, estão no livro, formando um documento muito interessante sobre aquela que é uma das mais importantes bandas do heavy metal brasileiro.
É revelador também conhecer a opinião de Aquiles Priester sobre o álbum "Temple of Shadows" (2004), considerado pelo baterista o seu melhor trabalho no Angra e um dos grandes discos da história do metal, opinião idêntica a que possuo, já que, para mim, "Temple of Shadows" entra fácil na lista dos melhores discos de power metal / metal melódico de todos os tempos. A parte final do livro é focada no Hangar e nas atividades recentes do conjunto, como não poderia deixar de ser.
Alguns pontos devem ser levados em conta ao final da leitura de "De Fã a Ídolo". O livro é ótimo, e uma grande lição de vida. Fica claro com o passar da história que Aquiles, como lhe falou um companheiro das antigas, “nasceu para ter a sua própria banda, para liderar o seu próprio grupo”. Isso, aliado aos problemas internos vividos pelo Angra, foram os fatores que levaram o baterista a deixar o conjunto, afinal dois “machos alfa” como ele e Kiko Loureiro jamais conseguiriam conviver de maneira harmoniosa em uma mesma banda. Ainda em relação ao Angra, é importante lembrar que o que está em "De Fã a Ídolo" é a visão de apenas um dos lados da história, portanto sair julgando as coisas sem conhecer o outro lado é uma atitude um tanto precipitada, apesar de, pela simpatia e proximidade que Aquiles sempre demonstrou com os fãs em sua carreira, isso ser meio inevitável.
"De Fã a Ídolo" é um grande livro, um documento sobre a carreira de um dos músicos mais talentosos e, acima de tudo, profissionais que o metal brasileiro já conheceu. Sua leitura é obrigatória não só para os fãs de Aquiles Priester, do Hangar e do Angra, mas para qualquer pessoa que curta música e relações humanas. Recomendável, e ponto final!
E viva o rock!
ResponderExcluirPor favor fique atento ao autor do texto. Não é de ACM.
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