21 de dezembro de 2010

Parte 02 - O Creme do Rock

Na segunda parte desta História do Cream, o caro leitor entrará em contato com o início da escalada ao sucesso daquele que é considerado o grupo estaca zero do rock pesado, e saberá como o blues e a psicodelia ajudaram a parir um dos estilos de rock mais apaixonantes e cheios de admiradores desde sempre. Verá como Clapton e seus comparsas fundiram vários elementos em uma música altamente densa e criativa, e como nasceram as grandes celebrações que são as intermináveis “jams” de rock ao vivo, perpetradas depois por grupos que vão de Led Zeppelin a Metallica. Conhecerá a gênese dos êxitos fonográficos da banda, de seu malfadado primeiro single ao sucesso do álbum “Disraeli Gears”. E, de quebra, perceberá as fases pela qual atravessou o grupo em suas mudanças de postura e de visual, migrando do trinômio blues-pequenos clubes-Inglaterra direto para rock pauleira-grandes auditórios-EUA.


Parte 02 – O “creme” do rock
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Durante seus últimos dias nos Bluesbreakers de John Mayall, uma idéia contaminava a mente de Eric Clapton: o guitarrista não conseguia tirar da cabeça a idéia de uma super banda de três elementos, um power trio. Era um lance que já havia sido meio esquecido havia algum tempo no ramo do rock – retornar às raízes instrumentais, a formação básica de guitarra / baixo / bateria num line up preciso e criativo. Algo que já não acontecia desde os bons e velhos grupos, de Buddy Holy & the Crickets a algumas incríveis surf bands americanas. Exigia destreza e inventividade extra de seus integrantes. Para Clapton, era tudo o que bastava naqueles dias. O seu instinto desafiador apontava para isto. Ele mesmo confessaria, meses depois, à revista Beat Instrumental: “Eu já estava pensando em um grupo com Jack e Ginger havia meses, mas eu não achava que seria possível. Pra começar, na minha opinião Ginger era bom demais para tocar comigo; ele era bastante jazzy (improvisador). Então, um belo dia, ele ME PROCUROU, e pude a partir de então sacar que ele era, realmente, um tremendo baterista de rock, por instinto. O cara, na verdade, sempre foi um bluesman.” De fato, foi o que aconteceu.
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John Mayall havia acertado com o seu empresário uma série de shows em Oxford, lá pelo início de 1966. Era abril quando Baker perguntou, na noite de uma das primeiras apresentações, se ele poderia acompanhar a banda. Para Mayall, um eterno cabeça fresca entusiasta do espírito experimentalista e incestuoso do blues, com seus grupos invariáveis e eternas trocas de componentes, no problem. E assim, Baker e Clapton foram se aproximando à medida que estudavam o jeito de tocar um do outro – e quanto mais conviviam, mais gostavam do que viam (ou ouviam). Conforme Clapton conta na entrevista dada à Beat Instrumental, realmente foi Baker que o abordou com a idéia de saírem dali já com uma banda, partindo juntos para o seu próprio sucesso. Clapton, no entanto, companheiro musical de Jack Bruce fascinado pela habilidade do cara com o contrabaixo desde aquelas sessões de estúdio para a coletânea What’s Shakin’, impôs uma condição: só toparia formar o grupo caso fosse um power trio, e o melhor, com Jack Bruce no baixo. Dá para imaginar a cara com que Baker ficou na hora em que Clapton mencionou esse nome, já há algum tempo esquecido. Enquanto o seu rosto mudava de uma tonalidade de cor para outra, sem saber o que responder, Baker provavelmente imaginava: “Não posso acreditar. De todos os baixistas nesse mundo... esse cara, de novo...”. Clapton, por sua vez, sorria timidamente, esperando a decisão do baterista e mal imaginando o que o passado já havia feito na vida daqueles dois caras.
Finalmente, em uma cinzenta tarde do mesmo mês de abril daquele ano, Baker, depois de muitos drinques para esfriar a cabeça e armado da cara mais amável e da maior humildade desde mundo, resolveu vencer o seu orgulho e ir à casa de Bruce. Janet, a então namorada de Bruce que se tornaria sua esposa, atendeu à porta, e lá estava aquele esquálido e alto cara ruivo de olhos esbugalhados, querendo falar com Jack. A figura era por demais engraçada, quase um espantalho de feições irlandesas! Na hora em que viu Baker, Bruce não pôde acreditar, e a reação de grande surpresa inicial logo foi substituída por suposições cheias de enigmas sobre o que deveria o cara que praticamente o expulsara da banda de Graham Bond querer com ele.
Durante os quase quarenta minutos em que colocaram a sua conversa em dia, Baker e Bruce foram, aos poucos, concordando em guardar os velhos fantasmas dentro do armário, e Baker foi o mais humilde, sincero e simpático cara que poderia ser em muito tempo. Mais de uma vez pediu desculpas pelas implicâncias do passado e tentou resumir, em poucas palavras, o quão bom poderia ser acompanhar Clapton e partilhar com ele as suas idéias musicas, pois o cara era muito bom também e tinha grandes planos para os três. Devemos nos lembrar, afinal, que estar junto com Clapton naqueles dias, como ainda hoje, não era algo para se considerar pouco – afinal, estar com Clapton era estar com Deus!
Cream, no início (1966)
Cream, no início (1966)

Ao final do bate-papo, devidamente acompanhado pelo tradicional English tea das cinco, Bruce marcou um lugar para os três se encontrarem e resolverem tudo, e mais: com os seus instrumentos junto, para verem se realmente a química rolava. Não é preciso nem dizer que a jam inicial, ocorrida dois dias depois, foi a confirmação de que os três precisavam para saber se eram capazes de dominar o mundo.
Um dos locais preferidos para os ensaios, nesta época, era o salão de basquete de uma velha escola em Willesden, a poucos quilômetros de Londres – a boa acústica do lugar, um antigo prédio praticamente abandonado, ajudava a nascente banda a dar vazão às suas idéias revolucionárias. Bruce trabalhava já em algumas poesias que poderiam servir de letras às composições do grupo, enquanto Clapton se exercitava em riffs no melhor estilo de Buddy Guy, como frontman não declarado da banda. Ele havia deixado os ensaios dos Bluesbreakers para próximas gravações poucos dias antes, e apesar de uma de suas últimas participações efetivas no grupo ter sido um single em que cantava pela primeira vez, a clássica “Rambling On My Mind”, ele preferiu deixar os vocais da nova banda a cargo de Bruce, mais experiente no assunto. Baker, por sua vez, esmurrava sem dó o seu instrumento, denunciando já ali uma tendência de mostrar serviço e segurar, da melhor forma que pudesse, um som que para todos eles era algo incrivelmente novo de se fazer. Ele mesmo dizia: “A formação de trio requer muito dos músicos que dela participam. Como um baterista desde tipo de banda, eu precisava fazer o máximo que pudesse para preencher todas as lacunas de som, mantendo o ritmo todo o tempo, e traduzir, da melhor forma e com coesão, as idéias que tínhamos.” Foi dele e de Clapton, aliás, a preocupação inicial sobre a idéia de um nome para o grupo. Após a visita de um repórter da Melody Maker, Chris Welch, convidado por Baker para ver o que os três estavam aprontando, Welch avisou a Baker: “Arranjem um bom nome para o grupo e me mantenham informado. Mês que vem, queremos publicar sobre vocês com exclusividade.” Uma matéria de uma página da Melody Maker de 11 de junho de 1966 anunciava, com alarde, e sob o título “ERIC, JACK E GINGER SE JUNTAM!” o que Welch havia visto (e apreciado bastante): “Um sensacional ‘grupo de grupos’(se referindo ao fato de todos já terem vindo de bandas famosas), estrelando Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, está sendo formado”. O artigo, que vinha com o propósito de matar a absurda curiosidade que acometia os fãs de Clapton sobre o que o ídolo vinha fazendo na época, ainda dizia que a formação realmente deveria ser a de um trio e que Bruce seria o possível vocalista. A matéria da Melody Maker provocou alarde na Swingin’ London – todos estavam loucos para saber que tipo de som estaria vindo de três caras como aqueles. A felicidade só não atingiu os ex-grupos de Clapton e Bruce, que não haviam anunciado formalmente a tais conjuntos que eles estavam debandando. Desnecessário dizer que John Mayall (apesar de sua cuca fresca) e Manfred Mann ficaram bastante desapontados – Mayall, especialmente, por haverem lançado recentemente o LP Blues Breakers: John Mayall with Eric Clapton. O nome do disco dava aos fãs a impressão errônea de que Clapton, dividindo as honras da casa com o líder, ainda estava com o grupo.
Uma das primeiras fotos promocionais do grupo, de

Após algumas sugestões e trocas de idéias, os três acolhem, com unanimidade, aquela burilada por Clapton e Baker: Cream, significando, nada mais, nada menos, e sem nenhuma modéstia, o que pretendiam ser: o creme do rock e da música pop do momento. Para empresariá-los, escolhem Robert Stigwood, dono do selo londrino Reaction, de acesso livre no show business inglês. E em 25 de julho, a Melody Maker estampa em sua capa: “ESTEJAM PRONTOS PARA O ‘CREAM’!”. Em uma bela matéria de duas páginas, os integrantes do grupo falam de suas perspectivas para a banda, o tipo de som a que se propõem fazer (“é blues antigo e moderno, ao mesmo tempo”, diz Clapton, enquanto Bruce prefere um “doce e saboroso rock and roll”), e coletam impressões sobre as suas raízes (“estamos pesquisando até sons de 1927 para o nosso repertório!”) e as expectativas alheias (“muitas pessoas devem estar achando que seremos três solistas duelando entre si. No entanto, estamos mais interessados em tocar como uma banda coesa”, diz Clapton – ingenuamente, não prevendo o futuro!).
Cream ao vivo: o grupo dava tudo de si em suas apresentações.
Cream ao vivo: o grupo dava tudo de si em suas apresentações.

O final de julho de 1966 é a época que presencia o nascimento da banda em um de seus mais memoráveis habitats: nos palcos. Uma pequena apresentação de “aquecimento”, feita no clube Twisted Wheel de Manchester, desavisadamente, para poucas testemunhas, no dia 29, prepara o grupo para a sua grande estréia, oficial, que se dá dois dias depois, no grande Festival de Blues e Jazz Nacionais de Balloon Meadow – o popular Festival de Windsor. O grupo apareceu no último dos três dias de shows, e foi ruidosamente ovacionado por uma platéia afoita por ouvi-los. Durante a hora e meia em que se apresentaram, renderam versões matadoras de “Outside Woman Blues” e “Steppin’ Out”, bem como de vários outros clássicos do blues e standards. Na palavra de todos, uma apresentação irrepreensível e emocionante, repleta de peso e energia, que gerou a impressão coletiva de que realmente se estava diante de algo novo: a cozinha perfeitamente sintonizada e tonitruante, hard e jazzística ao mesmo tempo como nunca se ouvira, casando jazz e blues elétrico amplificado com singular esmero, tendo à frente um guitarrista que se consolidava como verdadeiramente o melhor do Reino Unido, alçando vôos repletos de feeling e destreza com os seus solos endiabrados, diretamente da fonte de Robert Johnson e Muddy Waters. Era hard rock puro e descontrolado, como a equipe do jornal Record Mirror se orgulhava de dizer. Na mesma publicação, no entanto, Clapton dava mostras de um certo descontentamento, revelando os planos do grupo para coisas ainda melhores: “Estávamos um pouco nervosos em Windsor. Ainda vai levar uns dois meses para a gente ficar ‘okay’ mesmo. Já estamos treinando uns bons quatro números, próprios, e alguns clássicos...”.
Os primeiros tempos mostram uma certa confusão nos rumos do grupo em sua tentativa de acertar o passo com seu estilo – inicialmente, não bem resolvido comercialmente.
O começo: a mudança para um visual mais
O começo: a mudança para um visual mais

Primeiro, Clapton tentou direcioná-los para uma linha de rock dadaísta, que estava começando a rolar na Inglaterra de 1966, com os grupos aderindo a idéias psicodélicas ainda nascentes e ingênuas, como os famosos happenings em shows ao vivo: apresentações pop inusitadas, com a pretensão de mostrar ao público alguma mensagem ou filosofia do grupo, por mais doida que fosse. Iam desde shows dentro de zoológicos até o grupo praticando o famoso “ritual de destruição” dos seus instrumentos ao final do show, um encerramento caótico iniciado por Pete Townshend do The Who, e seguido por bandas durante praticamente todos os anos seguintes da história do rock – vide o Nirvana, em plena aurora grunge. Poderia haver, ainda, a leitura de poesias e coisas estranhas acontecendo no palco enquanto a banda tocava, como grupos teatrais fazendo mímica – um pouco do clima nonsense destes hypes (as tais apresentações pop exóticas) daqueles dias estranhos pode ser conferido na seqüência que figura uma apresentação da ex-banda de Clapton, os Yardbirds, agora já com Jeff Beck e Jimmy Page, em um clube londrino, no filme clássico de Michelangelo Antonioni, Blow Up (Depois Daquele Beijo), e que hoje se tornou uma referência obrigatória bem mais por este trecho, que retrata com incrível singularidade o espírito louco daqueles tempos, do que por qualquer outra mensagem hermética que tenha a passar.
Pois bem: influenciado pelos novos conceitos da arte pop que despontavam, e que já lhe haviam sido apresentados na Escola de Arte na qual estudara, Clapton pôs na cabeça que as apresentações do Cream deveriam conter elementos inusitados, como perus pintados de rosa soltos no palco enquanto eles tocavam, múltiplas luzes estroboscópicas girando, e até bonecos de plástico e de borracha espalhados pelos cantos – como um insuspeito gorila com a enorme inscrição “Molly” na barriga. “Tenho que confessar que era algo bem ridículo, mas fazia parte dos conceitos que estávamos experimentando”, disse Clapton posteriormente ao Los Angeles Times, na primeira tour deles pelos EUA. Gradativamente, as idéias dadaístas e de arte pop foram sendo abandonadas, à medida que o grupo notou que estava se preocupando muito menos com tais badulaques e parafernália do que com a equalização, a qualidade de som e a organização de suas imensas caixas Marshall no palco (adquiridas após um contrato de Stigwood com os fabricantes, garantindo publicidade). Somente um grupo de Cambridge, o PINK FLOYD, levaria adiante pelos anos seguintes, com sucesso, a conjugação entre música e tais idéias psicodélicas.
Pete Brown
Pete Brown

O segundo passo em falso (ou incerto) do Cream foi em relação à sua estréia fonográfica. Como compositores, o time já estava bem engrenado: um amigo de Bruce, o poeta Pete Brown, foi trazido ao grupo para ajudá-los a compor material para a banda. O interessante é que Brown era velho conhecido também de Baker, que já o havia acompanhado, anos antes, em recitais de poesia musicados com jazz. Então, Baker e Brown experimentaram compor juntos inicialmente, mas como todas as tentativas de escrever uma música foram infrutíferas, pelo fato de juntos eles invariavelmente caírem na risada lembrando de alguma piada ou fato engraçado, Janet, a esposa de Bruce, se dispôs a compor com Baker. Este, mais inibido então, começou a trabalhar a sério com ela, e desta parceria saiu “Sweet Wine”, uma dos grandes êxitos do primeiro LP do Cream. Bruce, por sua vez, começou a compor com Brown, nascendo daí uma parceria de grande sucesso – ele relembra com humor até hoje: “No final das contas, eu peguei o Pete Brown, e o Ginger pegou minha mulher”.
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O problema é que, lançado em outubro de 1966, o tão esperado primeiro compacto do Cream, “Wrapping Paper” (com a instrumental “Cat’s Squirrel” no lado B) desapontou os fãs. Aquela música, um típico tema vaudeville conduzido com leveza ao piano que dava a todos a impressão de que o Cream estava mais para cabaret band do que grupo de rock, deixou meia Inglaterra com um ponto de interrogação na cabeça. Pouco ou nada tinha do hard rock intenso apresentado em Windsor. Foi Bruce que saiu em defesa do grupo, em declaração concedida na Melody Maker: “Devo admitir que na verdade queríamos um pouco chocar as pessoas, havia um desejo neste sentido”. O choque, entretanto, passou despercebido das paradas de sucesso: apesar de seu som bluesy extremamente agradável e original, “Wrapping Paper” atingiu a posição 34 nos charts britânicos. Ainda um mês depois, em uma aparição do grupo na Rádio BBC, para a apresentação em primeira mão de algumas das músicas que iriam compor o seu álbum de estréia, Clapton foi perguntado pelo apresentador do programa, Brian Mathew, o porquê do som apresentado no primeiro single. O guitarrista respondeu: “Eu tenho que admitir que queríamos surpreender os fãs um pouquinho, pois não queríamos que eles nos aceitassem simplesmente como uma blues band. Pretendemos algo mais que isso.” Dadas as palavras divinas, era a hora de apresentar a música – e o Cream emendou com uma versão arrebatadora de “Sweet Wine”, que deixou quem estava ouvindo o programa daquela noite aliviado. O corinho cheio de harmonia pop fresca e contagiante como introdução, a bateria tribal selvagem de Baker, o baixo forte e compressor de Bruce e seus vocais poderosos, o solo hipnótico de Clapton: aquele era o Cream que todos queriam ouvir, e que estaria presente no primeiro álbum.
Na verdade, “Wrapping Paper” representou não só uma dor de cabeça inicial para a banda no momento de atender a fãs e imprensa, como também em seus relacionamento internos – abalados já antes e no início de sua história devido à notória animosidade entre Bruce e Baker, conflito este que novamente veio à baila pelo fato de “Wrapping Paper” ter sido creditada a “Bruce /Brown”, quando Baker insiste, até hoje, que na verdade esta canção foi escrita por todo o grupo, como uma contribuição conjunta, em um ensaio no estúdio. A alegação de Baker e a relutância de Bruce em aceitá-la constituiriam mais um ponto na longa trajetória de discórdias entre ambos, a ser continuada num futuro bem próximo.
O que muitos não compreendem, até hoje, é o caráter bastante comercial que foi dado ao Cream pelos seus próprios membros desde o início do grupo – eram uma banda que, apesar de sua imensa criatividade e brilho, era notavelmente projetada para dar certo, ao melhor estilo das pop bands inglesas da época, como Herman’s Hermits ou os Yardbirds após a saída de Clapton. Com todo um mercado pop alavancado com esmero por Beatles, ROLLING STONES e, um pouco mais tarde, The Who, todos queriam a sua fatia de sucesso no meio. Especialmente caras talentosos como Clapton, Bruce e Baker, já cansados do binômio “grande popularidade-pouco dinheiro” previamente alcançado nos circuitos blueseiros. O Rover conversível de Baker adquirido por ele com o dinheiro ganho por ter contribuído com uma simples música para o lado B do single “Substitute”, do The Who, fomentava tais expectativas. A simples declaração, bastante sincera, por sinal, de Clapton ao jornal musical Disc & Music Echo, de novembro de 1966, era uma prova gritante disto: “Nós (o Cream) queremos fazer dinheiro. Tenho trabalhado já há muito tempo por muito pouco e achei que já era hora de fazer algo a respeito para mudar isso”.
Sem dúvida, estavam fazendo. Planejado para dar totalmente certo, o álbum Fresh Cream, lançado em 9 de dezembro de 1966, se tornou, ao longo dos dias seguintes, um estrondoso sucesso. Resultado de dias inteiros da banda trancada no estúdio, ensaiando, tirando novas idéias e testando novas sonoridades, resultantes das arrojadas inovações técnicas trazidas pela produção de Robert Stigwood (apelidado pelo grupo de “Old Stigbot”), o LP trazia 11 faixas, que davam ao público do rock inglês o que eles queriam: um Cream pesado e dinâmico, psicodélico e bluesy ao mesmo tempo, competentes o suficiente para fazer frente a medalhões da época como a tríade santa do som pop britânico: Beatles, ROLLING STONES e The Who.
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O maior êxito do álbum, por sua vez, o single que puxaria as suas vendas, “I Feel Free”, permanece até os dias atuais como um dos mais perfeitos e concisos exemplos do hard rock sessentista e precursor do Cream: são três minutos e pouco de um som que começa inspirado no melhor blues & soul, com uma vocalização contagiante perpetrada pelos três, mais estalares de dedos anunciando a tempestade de som que se aproxima. A seguir, a entrada de uma condução imponente e atropeladora de Baker se faz acompanhar por guitarra e baixo cheios de suingue, enquanto as vocalizações prosseguem: “Feel, when I dance with you... we move like the sea...”. Um intermezzo súbito pára a música, deixando espaço para um agressivo comentário de Bruce, exaltando os sentimentos de liberdade. O seu baixo lhe acompanha, ele libera tudo de seu vocal, e novamente a banda entra no ritmo hipnótico de antes, um rythim n’ blues rápido, elétrico e acachapante, enquanto Clapton deita em nossos ouvidos um solo incrível, épico e sinuoso, repleto de feedback e evocativo de toda a geração sixties. “NSU” e a já citada “Sweet Wine” também não deixavam a peteca cair, sendo que a primeira relembrava acordes tipicamente surf music para depois emendar numa porrada sonora monumental. Do lado dos covers de blues, tínhamos “Rollin’ and Tumblin’”, de Elmore James, transformado num expresso locomotivo aflitivo e envolvente, mas o destaque ficava mesmo era com “I’m So Glad”, de Skip James: a exemplo do que o grupo faria futuramente com “Crossroads”, de Robert Johnson, esta era uma releitura inteiramente nova de um standard, injetando hard rock e sensualidade na dose certa, dando ainda espaço para um dos melhores momentos já registrados pela guitarra de Clapton em vinil, até então. Havia também “Spoonful”, de Willie Dixon, metamorfoseada para um mastodôntico blues pesado, capitaneado pelo som furtivo da harmônica de Jack Bruce e os riffs viajantes de Clapton, ao passo que Baker explorava a batera e suas possibilidades rítmicas em suas miríades. Fresh Cream foi um sucesso: atingiu a sexta posição nas paradas britânicas, fazendo todos esquecerem do fracasso do primeiro single da banda, e conseguiu chegar ao número 39 nos EUA sem qualquer grande divulgação em território americano, mais na base do “de boca em boca” – nada mal para uma estréia, o que indicava já um proeminente sucesso além do Atlântico.
O grupo executando

De fevereiro a março de 1967, durante a apoteótica turnê feita pela Europa (datas na Alemanha, Irlanda, Suécia e Dinamarca já contavam com ingressos esgotados), os fãs do grupo presenciaram o aperfeiçoamento de uma das suas mais sagradas instituições: as grandes improvisações ao vivo, feitas no palco como uma forma de dar mais espaço aos músicos para as suas habilidades individuais, bem como para compensar a falta de prática ou de interesse em tocar algumas músicas do álbum que não haviam sido bem treinadas para a execução pública. Na verdade, isto já havia começado logo após o Festival de Windsor, nas primeiras apresentações do grupo, quando descobriram que não detinham repertório grande o suficiente para animar uma platéia durante uma hora e meia, ou duas – desta forma, apelaram para os seus vastos conhecimentos musicais, e começaram a emendar as poucas músicas que haviam treinado com longas codas e intermezzos instrumentais variados, tornando uma prática comum em seus shows o casamento da liberdade jazzística com o peso do hard rock. Estavam criando, sem qualquer pretensão ou plano pré-estabelecido, uma espécie de celebração que seria feita por milhares de grupos de rock dali em diante, sempre se espelhando neles. Os admiradores iam à loucura com tamanho ataque sensorial – algumas “viagens” em cima de músicas como “NSU” e “Spoonful” duravam até vinte minutos, dependendo da inspiração que rolasse no momento, formando paredes de som intensas construídas por insistentes camadas de baixo, guitarra e bateria se sobrepondo, umas às outras!
De volta à Inglaterra, o Cream tinha mais algumas apresentações pela frente, mas a sua grande marca de vendagem de discos fez com que a Polydor, a sua gravadora, se interessasse sobremaneira em fazê-los embarcarem no grande lance da Invasão Britânica, e mexeu os pauzinhos junto a Robert Stigwood para que uma sólida turnê aos EUA fosse armada. Em poucas semanas, através de contatos com o DJ norte-americano Murray Kaufman, o célebre “Murray the K”, foi organizado um grande evento pop em solo americano, chamado “Música em Quinta Dimensão”, que tinha de tudo para atrair as grandes massas jovens do país, loucas por ácido e som, aos seus concertos, no RKO Theatre, em Nova Iorque. E o melhor: tendo o Cream como carro-chefe, ao lado de outros nomes célebres como Lovin’ Spoonfuls e The Who. Começava a era dos grandes festivais, e o Music in Fifth Dimension era mais uma dessas oportunidades de várias bandas faturarem conjuntamente, tocando um set de duas ou três músicas cada uma, e dando ao público a oportunidade de experimentar concertos ecléticos e variados, com diversos artistas. Para o Cream, no entanto, a experiência foi desanimadora, pois a má organização do evento deixou más impressões nos rapazes acerca de sua chegada ao Tio Sam: “Passamos a considerar estes tipos de show uma piada. Primeiro, pelo set apertado, não houve tempo para que Ginger tocasse o seu solo, e quase fomos expulsos do palco pelos organizadores. Depois, nos disseram que nosso equipamento não poderia ser trazido, e tivemos que usar o do The Who para fazer o show”, relembra Clapton.
A bem da verdade, a primeira visita do Cream aos EUA serviu mais por três coisas, fundamentais: a mudança de visual, a descoberta de novos equipamentos e sonoridades, e o LP Disraeli Gears.
O visual bem comportado dos primeiros meses logo seria abandonado
O visual bem comportado dos primeiros meses logo seria abandonado

Haight-Ashbury e o movimento hippie estavam em plena efervescência quando o Cream aterrisou em solo americano. A psicodelia, com suas cores esfuziantes e cabelos longos, havia atingido o seu estágio mais avançado em todo o mundo, mas guardava diferenças geográficas – na Inglaterra, por exemplo, os jovens se ligavam mais nos terninhos tweed e em inspirações vindas dos mods e dândis londrinos, com os seus coletes, camisas de tecidos finos e casacos de veludo - uma tendência que virou febre após Brian Jones, dos Rolling Stones, um dos maiores dândis que o rock já teve, deixar clara a sua preferência por este tipo de roupa. Basta dar uma conferida no guarda-roupa de gente como Mick Jagger, Roger Daltrey ou de grupos como Status Quo e The Herd naquele ano para checar o que estava rolando no visual teenager dos britânicos nesta época. As cores e roupas de inspiração indiana, inclusive as batas, ainda demorariam quase um ano para virar sensação. Neste contexto, o hippie americano era bastante diferente: inspirada pelos paraísos artificiais induzidos pelo LSD tomado à luz de muito sol das praias californianas, – que estavam a anos-luz das foggy streets de Londres – a juventude passava a se vestir de roupas bem mais alegres e vivas, de um colorido psicodélico contagiante e bem a la vonté. Camisas esvoaçantes, lenços à exaustão, tecidos vindos da Índia: a nova moda era introduzida por bandas quentes como Love, Beach Boys e The Mamas and the Papas.
Cream em 1967: ícones da psicodelia
Cream em 1967: ícones da psicodelia

Contagiado pelo que viu (e ouviu), e por todo aquele visual ousado, o pessoal do Cream resolveu embarcar naquela: as cabeleiras de Clapton e Baker, já ficando vastas, deram oportunidade a loucos penteados afro que eles urdiram com a ajuda de cabeleireiros fashion de Nova Iorque e suas permanentes. Bruce, renegando o seu lado “negão”, não quis fazer o mesmo com o seu cabelo, mas tratou de trocar o seu figurino para o que havia de mais moderno e arrojado para a época, no que foi prontamente acompanhado pelos outros. Quando regressou a Londres para a realização de mais algumas datas antes da gravação do novo LP, o Cream já era a banda com o visual psicodélico clássico que os consagraria – lá se iam as primeiras fotos promocionais do grupo, vestidos com tímidos uniformezinhos de prisioneiros, ou de couro, como pilotos da força aérea britânica.
Uma nova roupagem para o grupo e seus instrumentos
Uma nova roupagem para o grupo e seus instrumentos

É Clapton que conta, em entrevista concedida a um jornalista americano, nos anos 80, o resultado de suas peregrinações pelos estúdios e lojas de equipamentos musicais de Nova Iorque naqueles dias: “O pedal wah-wah utilizado em todas as sessões de gravação de Disraeli Gears eu comprei em Nova Iorque, em uma excelente loja de instrumentos musicais que eu achei por lá, a Manny’s. Tinha um som incrível, que dava um efeito impressionante, que eu usei largamente em “Tales of Brave Ulysses”. As inovações técnicas advindas com a estadia do grupo nos EUA se fizeram refletir, também, no modo de gravar. Os estúdios da Atlantic, em Nova Iorque, foram escolhidos como novo reduto musical do grupo, e ali foram gravadas as duas primeiras faixas que figurariam no próximo trabalho da banda: “Lawdy Mama” e a emblematicamente psicodélica “Strange Brew”, cantada por Clapton. Quando retornaram à Inglaterra, em 12 de abril, levaram os tapes daqueles novos sons que fariam gerações delirarem por anos e anos adiante. Para Clapton, então, em nova entrevista à Disc & Echo Music, a experiência de gravar em solo americano tinha se revelado inigualável: “Os engenheiros de som por lá são inacreditavelmente sábios musicalmente, tanto que até parece que são um outro membro da banda. Eles são magos musicais, e não apenas engenheiros de som.”
Após cobrirem algumas datas em clubes ingleses ansiosos por verem seu espetáculo de peso e blues, o Cream retornaria aos EUA, eleitos o seu novo lar inspirador, onde gravaria as outras faixas de seu histórico segundo álbum, Disraeli Gears, que ainda demoraria uns bons meses para ser lançado – em muito, devido a problemas burocráticos com executivos da gravadora que não estavam achando muito “potencial criativo” nas novas faixas. O futuro trataria de provar quão erradas estavam aquelas pobres almas. As novas músicas, repletas de influências psicodélicas e cheias de um som cheio e vibrante proporcionado pelos estúdios da Atlantic, que dava maior dimensão à música heavy do grupo, iam sendo geradas, uma a uma, numa explosão de criatividade. Eram dias mágicos nos estúdios aqueles, e agora, junto à “gang” do Cream, estava um novo e precioso elemento: o baixista de ascendência grega Felix Pappalardi, grande amigo da banda desde os seus primeiros shows e uma espécie de roadie que os acompanhava aonde quer que fossem, agora dando também um suporte musical: “Strange Brew”, o novo single programado para lançamento no mês de junho, havia sido composto por ele, sua esposa, Gail Collins, e Eric Clapton.
Felix Pappalardi: nome importante na história do Cream e do rock pesado
Felix Pappalardi: nome importante na história do Cream e do rock pesado

“Strange Brew” era um blues lisérgico e visceral embalado pela dança envolvente entre a guitarra de Clapton, alçando riffs fenomenais um após o outro, e o baixo de Bruce, conduzidos ritmicamente pela percussão precisa de Baker. Os vocais agudos de Clapton faziam a cama para adiante ele solar à vontade, com grande criatividade, enquanto a cozinha massacrava ao fundo. Um grande sucesso. Mas não menor, talvez, do que o lado B do compacto: a épica “Tales of Brave Ulysses”, até hoje considerada uma das melhores canções do Cream. Era uma balada heavy em tom majestoso, cantada com imponência por Jack Bruce sobre a jornada do célebre personagem da literatura grega, e que dava margem a um dos melhores usos da guitarra wah-wah em uma canção de rock até hoje, emoldurando todo o som da música e conferindo-lhe uma atmosfera toda mágica. Clapton, aliás, preferia esta canção ao lado A do single. Ambas fariam parte do álbum Strange Brew.
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Por falar em Clapton, este deu um verdadeiro arroubo de arrogância no retorno do Cream à Inglaterra em junho daquele ano, mas não sem razão: na verdade, a sua polêmica declaração, que irritou profundamente alguns ingleses mais bairristas, era uma porrada indireta no olho da imprensa oportunista: “É um verdadeiro saco estar neste país neste momento. Todo mundo anda obcecado por Jimi Hendrix – e se alguém mais ousa tocar uma frase de blues na guitarra que seja, é acusado de estar copiando ele!”, declarou um revoltado Clapton à Disc & Music Echo. Clapton respondia a uma crítica feita por Lulu, célebre apresentadora de TV e cantora pop inglesa, uma espécie de ancestral dos teen media entertainers que temos hoje em dia, como os VJs da MTV – um de seus grandes hits foi a música-tema do filme To Sir, With Love (Ao Mestre Com Carinho), de 1967, no qual ela, inclusive, fazia um papel coadjuvante. Comentando o novo single do Cream, “Strange Brew”, na mesma revista, ela dizia: “Clapton Cabeludo realmente ficou todo Hendrix, não é mesmo? Ele é espetacular em sua própria composição, mas tudo o que eu ouço nela soa a Hendrix.” O que, analisemos bem, era uma visão totalmente distorcida da verdade: qualquer crítico com um mínimo de sensibilidade musical distinguiria muito bem os estilos de tocar guitarra de Clapton e de Hendrix.
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O lendário guitarrista Jimi Hendrix havia aportado em Londres no final de 1966, levado pelo ex-baixista dos Animals, Chas Chandler, agora convertido em empresário musical, e estava agora fazendo o maior sucesso acompanhado da banda que Chandler arranjara para ele, o Experience. Por sinal, eram um trio, o que levantou rumores, posteriormente, sobre a intenção de Chandler de formar um grupo justamente na cola do Cream, que já estava sendo bastante comentado quando o Jimi Hendrix Experience começou os seus primeiros ensaios. Os dois grupos acabariam formando a linha de frente do então nascente rock pesado: ambos eram atordoantes em suas apresentações e gravações, apresentavam guitarristas apaixonantes e absurdamente inspirados, e sugeriam um visual “alienígena” e um clima psicodélico que agradava às platéias da época.
A obsessão inglesa pelo Jimi Hendrix Experience, entretanto, acabaria rendendo uma rivalidade saudável entre eles e o Cream que, ao modo dos Beatles e ROLLING STONES, acabaram até ficando muito amigos, se cruzando em aeroportos e em casas noturnas célebres da época – como no Whisky A Go Go, de Los Angeles, EUA, assiduamente freqüentado por Clapton e Hendrix, que volta e meio trocavam figurinhas por lá e riam das comparações feitas pela imprensa entre ambos.
Eric Clapton e sua Gibson com pinturas psicodélicas, ao vivo em 1967: blues em acordes a serviço do hard rock
Eric Clapton e sua Gibson com pinturas psicodélicas, ao vivo em 1967: blues em acordes a serviço do hard rock

Durante o período de junho a novembro de 1967, o Cream realiza algumas das suas mais quentes apresentações, antecedendo o lançamento de seu fervorosamente aguardado novo disco, e tocando faixas dele durante elas, que levam as platéias ao delírio. Tocam na sétima edição do Festival de Windsor, num concerto de agradecimento pelo sucesso anterior por lá, assim como em San Francisco, EUA, lotando o Fillmore Auditorium e deixando extasiados os críticos musicais norte-americanos, que elevam o Cream à condição de culto, maravilhados com o brilhantismo, o domínio musical e os improvisos do grupo no palco. Tocam no Whisky A Go Go, em Los Angeles; em Boston, Massachusetts; no Café Au Go Go, em Nova Iorque. Para finalizar, enchem de gente o Grande Ballroom, de Michigan, dando um show irrepreensível. Do Los Angeles Free Press ao Melody Maker, a imprensa não se cansa de deitar elogios à banda e seu virtuosismo musical. Finalmente, na edição de 18 de outubro daquele ano, o prestigioso Time declara em suas mundialmente lidas páginas: “A turnê do Cream pelos EUA é a maior e mais bem sucedida aventura musical ocorrida desde os Beatles e Rolling Stones.” Clapton, vingado perante a imprensa musical inglesa, diz simplesmente: “Acho que somos mais bem conhecidos e admirados aqui do que imaginávamos...”
Eric em estúdio, durante as gravações de

Novembro de 1967 testemunha o lançamento de Disraeli Gears, que, confirmando todas as expectativas, chega ao topo das paradas tanto norte-americana quanto britânica, terminando por conceder ao grupo o status de lendas vivas do rock. Além do sensacional trabalho de arte de Martin Sharpe, fazendo da capa do LP um verdadeiro delírio ácido de cores e imagens, chamam a atenção faixas como a atemporal “World of Pain”, a ultra-psicodélica “SWLABR” (originalmente intitulada “She Was Like a Bearded Rainbow”), de letra surrealista e ritmo inebriante, e a dramática balada “We’re Going Wrong” que são até hoje consideradas clássicos absolutos do rock, e são uma visão bem mais profunda e contemplativa das possibilidades criativas do hard rock lisérgico. Talvez, no entanto, não mais do que o maior êxito do álbum: uma das músicas pelas quais o Cream será eternamente lembrado, “Sunshine of Your Love”, capitaneada por uma das frases de guitarra mais inspiradas e copiadas da história do rock. Este blues pesado e sincopado, cantado com grande garra por Bruce e Clapton, além de apresentar um solo sensualíssimo de Clapton e um dos mais perfeitos casamentos de baixo e bateria de todos os tempos, figurando alguns dos melhores momentos sonoros do grupo, termina com o primeiro “quebra-pau” gravado em estúdio de que se tem notícia, uma coda ensurdecedora que sinaliza o clima das apresentações ao vivo da banda, sumindo em fade out. É um clássico instantâneo.
O sucesso e a ovação geral, bem como a energia criativa, haviam chegado ao seu nível mais alto. Agora, era curtir cada vez mais e ir além... ou descer vertiginosamente, em declínio. Ou, possivelmente, os dois.

Para que fosse possível a realização de nossa pesquisa, foi consultado o seguinte material:
A História do Rock (Edições Som Três, 1982)
Eric Clapton – Por Ele Mesmo (Ed. Martin Claret, 1992)
John Platt, Disraeli Gears (Schirmer Books, 1998)
Chris Welch, Strange Brew (Castle Communications, 1994)
Brian Hogg & Robert Whitaker, In Gear (UFO Books, 1992)


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