“... A prioridade é o visual! A música é uma conseqüência!...” Com certeza o aspecto visual sempre foi um dos mais importantes elementos da Arte, mas naturalmente ele não deve prevalecer sobre a Música. Ou deve? Quaisquer que seja a resposta, foi dando grande atenção à sua imagem que muitas bandas disputavam um espaço na década de 1980, tanto que a lendária cena de Los Angeles deu origem a inúmeras feras dividindo o espaço com tantas aberrações que muitos até hoje apregoam que a cidade produziu praticamente o que há de melhor e pior em termos de Hard Rock.
Isso tornou o Glam Metal – ou Hair Metal, Hard Rock Farofa, Hard Poodle, ou seja lá como prefiram chamar – como o subgênero do rock´n´roll mais amado e odiado entre o público. E, em função deste conflito, o Glam acabou por estigmatizar praticamente todo o Hard Rock deste período como sendo um estilo que somente se preocupa com o lado estético da coisa.
Um dos objetivos iniciais da série "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás" sempre foi mostrar bons discos não tão conhecidos do grande público, assim como tentar fugir dos grupos munidos do comentado aparato visual. Mas, ao contrário desta idéia, optamos por uma parte com somente bandas assumidamente Glam, que faziam questão de utilizar nuvens de químicos nos cabelos, cremes, batons e roupas tão escandalosas, elementos que pareciam sobrepujar a Música em si.
Madam X
We Reserve The Right To Rock
(1984 - JET/CBS Records)
Lembro-me que na época de seu lançamento, quando vi este álbum na prateleira de uma loja, fiquei impressionado com as dimensões do cabelo de seu baixista. Como um cabeleireiro conseguia aquela proeza, com choque elétrico?!? O Madam X sempre admitiu sua preocupação com o visual, e boa parte da crítica o malhou impiedosamente por isso. Mas não adiantou muito, pois este disco acabou se tornando mais uma destas peças cultuadas por parte do público ao longo dos anos.
Naturais da cidade norte-americana de Detroit, as irmãs Maxine (guitarra) e Roxi Petrucci (bateria) sempre foram estimuladas pelo pai a tocar algum instrumento musical, na esperança de que suas meninas seguissem o caminho da música clássica. Mas, nestas peças que a vida nos prega e ao contrário da boa intenção paterna, as irmãs deram início ao Hard Metal do Madam X em 1982.
A seleção dos músicos foi feita na casa da própria família Petrucci, que ficou ultrajada com o aspecto e os constantes palavrões emitidos por Chris Doliber, que fatalmente acabou sendo o baixista recrutado. A maior dificuldade foi encontrar o vocalista ideal, cuja busca somente se encerrou em New York, na pessoa de Bret Kaiser, que na época tocava com seu irmão Bruce no Cheetah.
Já com os planos traçados – a idéia era ser extravagante em todos os sentidos – seus shows tinham enorme impacto com todas as luzes e um barulho infernal, e assim o nome Madam X começa a passar de boca em boca como aquela banda com um visual alucinante e que também tinha duas garotas em sua formação.
A oportunidade do tão esperado apoio de uma gravadora ocorreu quando Don Arden, um dos homens da JET Records, estava numa das apresentações ocorridas em Hollywood. Aliás, apresentação esta que quase não aconteceu, pois o clube estava lotado e a banda não subiu ao palco enquanto certo proprietário caloteiro não pagou o devido cachê previamente combinado.
Contrato assinado, em 1984 o Madam X fica aos cuidados do produtor e guitarrista Rick Derringer (que tocou com Johnny Winter e Edgar Winter), e com uma verba mínima gravam em apenas três semanas "We Reserve The Right To Rock". Boas lembranças para Roxy, pois durante as gravações ela até mesmo recebe algumas orientações por parte de ninguém menos que o baterista Carmine Appice (Vanilla Fudge, Cactus, King Kobra).
Mesmo o quarteto sendo totalmente inexperiente em estúdio, gravando sob pressão e apenas fazendo o que lhes era mandado, "We Reserve The Right To Rock" foi uma estréia melhor do que se poderia esperar, chamando muita atenção em função da poderosa voz de Bret Kaiser e da atuação de Maxine na guitarra. Para promover o disco, sai em turnê pela costa oeste de seu país com a Lita Ford e logo a seguir vão para a Inglaterra, onde reforça sua reputação entre o público europeu num memorável show no programa televisivo ECT, quando tocam com o MOTORHEAD. Ainda fizeram algumas apresentações neste país, inclusive uma jam com Rob Halford, mas infelizmente o Madam X tem que cancelar a excursão em terras britânicas, tendo como alegação oficial um falecimento na família de Kaiser.
A banda nunca mais retorna à Europa, pois começam as divergências entre o vocalista e o resto dos músicos, com o descontentamento chegando a tal ponto que Kaiser cai fora, voltando a tocar com seu irmão no agora projeto Kaiser – e atualmente Bret é um dos milhares de imitadores de Elvis Presley nos EUA.
Quanto ao Madam X, este realmente perdeu a química, padecendo com uma sequência de alterações em sua formação, passando pelo microfone o inglês John Ward e ainda ninguém menos que Sebastian Bach, um moleque ainda. A banda continua a perder integrantes importantes como a baterista Roxy, que foi para o famoso Vixen; e a promissora viagem circense que era o Madam X se encerra de vez em 1988 com a saída de Chris Doliber, que montou o Godzilla.
Easy Action
Easy Action
(1983 - Tandan Records)
Natural de Estocolmo, o Easy Action foi uma das primeiras bandas Glam da Suécia. Empolgados com a fama crescente do vizinho finlandês Hanoi Rocks, os amigos de longa data Kee Marcello (guitarra) e Alex Tyrone (baixo) contatam Zinny J. Zan (voz), Danny Wilde (guitarra) e Freddie Von Gerber (bateria), e dão início ao Easy Action em 1982, apostando num visual extremamente colorido e músicas com todo o típico clima de festa.
Em 1983 debutam com um disco auto-intitulado que tinha boas canções como "Mental Dance", "Rocket Ride", "Don't Cry Don't Crack" e "End Of The Line". Mas a boa aceitação entre o público glam da Europa ocorreu principalmente pelo alto-astral do single “We Go Rockin”, que acabou sendo o primeiro hit do grupo em seu país natal.
Mas como Danny Wilde não durou muito tempo na banda, o Easy Action liberou outra versão deste mesmo disco com a guitarra de Chris Lynn, uma nova capa, fotos atualizadas e acrescentou ainda a canção “Rock On Rockers”. Em 1985 o grupo estréia no cinema, aparecendo no filme "Blood Tracks" do conhecido produtor ‘B-movie’ Mats-Helge Olsson, onde emplacam ainda duas canções para sua trilha sonora.
Mesmo com as coisas começando a acontecer para a banda, o vocalista Zinny abandona seu posto para formar o Dream Police (... e depois foi para o Kingpin, Shotgun Messiah, Grand Slam e Zan Clan). O microfone foi assumido por Tommy Nilsson (ex-Horizont), e assim gravaram o próximo registro, "That Makes One", que saiu em 1986 mostrando certo distanciamento da descontração de outrora ao apostar numa orientação musical bem mais voltada para o AOR.
Mas estavam aparecendo melhores opções para alguns dos membros do Easy Action, e a banda acaba encerrando suas atividades logo após o lançamento deste disco. Estas ‘melhores opções’ culminaram com Tommy Nilsson seguindo uma carreira-solo de sucesso como cantor pop e Kee Marcello indo para o EUROPE.
E neste mesmo ano o nome Easy Action aparece nas notícias internacionais. Os suecos entram com uma ação judicial contra o norte-americano Poison alegando violação dos direitos autorais, pois o refrão de "I Want Action”, do álbum “Look What The Cat Dragged In” (86), é uma cópia do hit “We Go Rockin''. O final deste fato culminou em um acordo viável para ambas as partes.
Foi uma surpresa para todos quando, alguns anos depois, o Easy Action anunciou que voltaria às atividades com três de seus principais integrantes: Kee Marcello, Zinny J. Zan e Alex Tyrone. O retorno aconteceria numa apresentação com o Hanoi Rocks e o Nocturnal Rites, mas infelizmente o espetáculo foi cancelado sem maiores esclarecimentos. De qualquer forma, a volta ocorreu em 2006, com os membros originais Zinny J. Zan e Kee Marcello acompanhados por Simon Roxx, Micael Grimm e Grizzly Hoglund tocando no famoso Sweden Rock Festival, com tal repercussão que decidiram voltar em definitivo ao relançar seu debut com uma infinidade de faixas-bônus.
O Easy Action merece os créditos por influenciar inúmeras outras bandas suecas como o Hardcore Superstar, Backyard Babies e Crashdiet. Agora é esperar para ver se o grupo consegue lançar um novo álbum de estúdio que seja interessante, considerando que passou mais de duas décadas afastado da cena.
Britny Fox
Britny Fox
(1988 - CBS Records)
Originário da Filadélfia, o Britny Fox foi mais uma das inúmeras bandas que se mandou para tentar a sorte na efervescente Los Angeles. Com o curioso nome inspirado num antepassado britânico de seu vocalista, o grupo foi fundado em 1985 por Dizzy Dean (voz e guitarra), Michael Kelly Smith (guitarra), Billy Childs (baixo) e Tony ‘Stix’ Destra (bateria). Como todo e qualquer iniciante, o Britny Fox preparou sua patriótica demo “In América”, saiu tocando pelos bares e clubes da costa leste norte-americana e começou a formar sua base de fãs.
E aqui o leitor merece um aparte: Michael Kelly e Tony Destra foram o guitarrista e baterista que fizeram parte da primeira formação do Cinderella. No começo da carreira seus músicos passaram alguns meses sendo testados em estúdio pela gravadora Polygram, que ao final deste tempo decidiu somente assinar com o Cinderella se este dispensasse os serviços de Kelly e Destra, que então foram afastados discretamente. O resto é história.
O Cinderella, depois de atingir o estrelato, provavelmente se sentiu em débito e passou a dar grande apoio aos ex-membros e, consequentemente, ao Britny Fox – inclusive servindo de canal para a banda obter um contrato com a Columbia Records. Assim, tudo estava devidamente planejado, mas infelizmente Tony Destra não chega a entrar em estúdio para gravar o tão aguardado primeiro álbum, pois vem a falecer em 8 de fevereiro de 1987 num acidente automobilístico, logo depois de uma apresentação na Pensilvânia.
Ainda que naturalmente pesaroso, o conjunto havia batalhado muito e rapidamente recruta Johnny Dee (ex-Waysted), e no começo de 1988 libera o debut batizado simplesmente como “Britny Fox”. Dedicado ao finado baterista, o disco obteve uma surpreendente e inesperada recepção por parte do público e crítica, com rockaços como "Kick 'n' Fight", "Fun In Texas", "Rock Revolution", o cover do Slade "Gudbuy T'Jane" e "In America".
A gravadora investe nos vídeos "Long Way To Love" e no sacana "Girlschool", e “Britny Fox” atinge a marca de um milhão de cópias vendidas, mordendo ainda o prêmio de “Best New Band” do ano pela revista Metal Edge. E, considerando que muitos comparavam a similaridade do visual e da música entre o Cinderella e o Britny Fox, ambas saem em turnê para divulgar seus respectivos discos.
Talvez tentando sair da sombra do Cinderella, para o próximo álbum o confiante Britny Fox contratou o produtor Neil Kernon e procurou explorar temas mais emocionais, mas sem mudar sua sonoridade. O resultado chega em 1989 sob o título “Boys In Heat” e novamente outra surpresa, agora não tão agradável: mesmo sendo um bom trabalho, desta vez as vendas não chegam nem mesmo à metade de seu antecessor...
O vocalista Dizzy Dean não se conforma e sai da banda, montando o Blackeyed Susan. Quanto ao Britny Fox, não restou alternativa a não ser escutar centenas de demos em busca de uma nova voz. O eleito foi Tommy Paris, que estreou em 1991 no excelente “Bite Down Hard”, que mostrou como seus músicos haviam crescido em termos de composições. E, mesmo trazendo as participações especiais de Rikki Rockett (Poison) e Zakk Wylde, e tocando com Kix, Warrant e Ratt, o novo disco vende apenas o respeitável número de 250.000 cópias.
Como o declínio havia sido tão fulminante quanto seu crescimento, o grupo encerra as atividades e seus músicos partem para outros projetos cuja repercussão não chegou nem perto do que um dia o Britny Fox conseguiu. Somente em meados de 2000 o vocalista Tommy Paris reuniu o Britny Fox novamente, com os mesmos instrumentistas, para uma pequena turnê pelos clubes da costa leste norte-americana, resultando no registro ao vivo “Long Way LIVE!”, lançado em 2001.
O Britny Fox até começou a escrever novas composições visando um próximo álbum de estúdio, mas curiosamente não conseguiu gravar nada por problemas legais com o registro de sua empresa (ô mundinho burocrático...). A coisa toda somente vingou em 2003, quando a Spitfire Records enfim liberou “Springhead Motorshark”, cujo outrora vaidoso quarteto vinha com cabelo a menos e barriga a mais, motivos que nos velhos tempos fariam qualquer banda glam nunca mais colocar os pés pra fora de casa.
Tuff
What Comes Around Goes Around
(1991 - Atlantic Records)
O Tuff já foi bastante comparado ao Poison, tanto pelo seu rock´n´roll açucarado quanto à aparência de seus integrantes. A banda se formou no ano de 1985 em Phoenix, Arizona, tendo como formação inicial Terry Foxx (voz), Jorge DeSaint (guitarra), Todd Chase (baixo) e Michael Lean (bateria), e logo a seguir gravaram um EP com três canções.
Mas o começo da carreira do Tuff ficou marcado pela dificuldade em arranjar um vocalista fixo. Foxx não durou muito e abandonou o mundo do rock´n´roll, e para seu posto entrou Jim L'Amour, que rendeu menos ainda, optando por uma carreira-solo onde assumiu o nome Jim Gillette (mas não é incrível toda a criatividade para estes codinomes?!?). A procura terminou com Stevie Rachelle, em cuja aparência só se podia concluir que o mesmo era um clone do Bret Michaels.
Falando em Bret Michaels, foi sob sugestão do Poison que o Tuff se deslocou para Los Angeles em 1987. Mas a concorrência nesta cidade era tamanha que o grupo amargou alguns anos até conseguir chamar a atenção de alguma gravadora. De qualquer forma, o Tuff tocava frequentemente, possuía um considerável público e acabou se tornando auto-suficiente, até que a persistência culminou num contrato com a Atlantic Records em 1990.
No ano seguinte chega ao mercado “What Comes Around Goes Around”, repleto de alto astral e refrões grudentos que, aliás, trazia as vozes de vários de seus amigos da época. Mesmo não representando a real sonoridade do Tuff, o carro-chefe do disco foi a balada “I Hate Kissing You Goodbye”, e assim a banda parte para a Inglaterra, onde participa do 'American Dream' em uma série de shows, sendo insistentemente comparados com o Poison.
Mas, como o leitor pode ter percebido, o Tuff se dedicou tanto para conseguiu assinar um contrato, e o fez bem quando o grunge estava se preparando para inviabilizar comercialmente o Hard Rock e o Heavy Metal... Todos os sonhos se desfazem quando retornam aos EUA e descobrem que estão sem gravadora, e para ajudar, Todd Chase e Michael Lean pedem as contas.
A partir daí tudo se torna instável. As vagas de baixo e bateria foram respectivamente preenchidas por Jamie Fonte e Jimi Lord, e o próximo álbum, “Fist First”, é liberado pelo selo RLS somente em 1994, não sendo nada mais era do que uma coleção de suas antigas demos, que inclusive acabou aportando na Europa com o título “Religious Fix”.
E novamente sem nenhuma gravadora que se interessasse pela sua música, a única saída para o Tuff foi encerrar as atividades e voltar para o meio-oeste, o que acabou acontecendo em 1995. Seus músicos partiram para os mais variados projetos – acústicos, solos, paródias de rap (!?) – e nem mesmo as tentativas de retorno com um inacreditável entra-e-sai de músicos conseguiram vingar.
Tigertailz
Bezerk
(1990 - Music For Nations)
Vindo do Reino Unido, o Tigertailz foi formado em 1985 e, ainda sem uma formação realmente definida, libera pela TT Records o single "Shoot To Kill", cuja bateria foi tocada por ninguém menos que Stephen Pearce, do Tokyo Blade. Depois de dois shows no London Marquee Club, e já estabilizado com Steevi Jaimz (voz), Jay Pepper (guitarra), Pepsi Tate (baixo) e Ace Finchum (bateria), a gravadora Music For Nations mostra interesse no grupo e oferece um contrato.
Gravado em apenas duas semanas, lançam em 1987 “Young And Crazy”, cuja capa trazia a foto de seus músicos numa situação tão ‘afetada’ que poderiam competir com os norte-americanos do Poison. O disco era extremamente pop e apenas a canção “Livin Without You” realmente conquistou o interesse do público. Durante sua divulgação, o Tigertailz começa a ter problemas com Steevi Jaimz, que passa a se exceder no consumo de álcool, comprometendo sua atuação e muitas vezes entrando em discussões que acabavam em agressões físicas entre os músicos.
Cansados de retocar a maquiagem depois de tanta briga, a solução foi arranjar outra voz para a banda. O recrutado foi um amigo de longa data chamado Kim Hooker (baixista no Rankelson) e assim o Tigertailz pode continuar sossegado com suas apresentações, tendo ainda como aspecto positivo que, desde o primeiro momento, seus fãs mostraram grande apoio ao novo vocalista.
E a escolha se mostrou realmente acertada. Gravado entre janeiro e março de 1989 e liberado pela Music For Nations no ano seguinte, “Bezerk” fez um sucesso estrondoso graças a canções como “Love Bomb Baby”, “Noise Level Critical” e “Heaven”. O disco alcançou o Top 40 das paradas, mostrando que os britânicos possuíam no Tigertailz um forte candidato para fazer frente aos grandes nomes do Glam norte-americano.
Mas o início da era Grunge fez com que a banda ficasse efetivamente na obscuridade. Tentando manter seu nome em evidência, o Tigertailz prepara em 1991 uma coletânea de ‘B-sides’ e regravações sob o nome “Banzai!”, lançada somente no Japão, única nação que ainda mostrava interesse pelo Hard Rock.
Seus músicos se recusavam a ficar no ostracismo e aos poucos foram preparando seu próximo registro de estúdio, e, apesar de toda a boa vontade, o que vem a seguir é uma confusão dos diabos. Sob a tutela do selo Amuse America Inc, Hooker, Pepper, Tate e o novato baterista Andy Skinner gravaram “Wazbones!”. O problema é que a temática deste disco tinha como inspiração o filme “Laranja Mecânica” e as fotos promocionais mostravam os músicos fantasiados como os personagens do filme passeando por toda New York. Resultado: o Tigertailz levou um belo processo da empresa detentora dos direitos autorais da película e só conseguiu permissão para lançar o disco depois de um ano de transtornos, ou seja, em 1995.
E não vá o leitor pensar que o caos parou por aí... Enquanto rolava o processo, Jay Pepper já não suportava mais toda a pressão e pediu as contas. A banda decidiu gravar outra versão de “Wazbones!” com o novo guitarrista Cy Danaher, e o problema agora seria em função do contrato com a Amuse America Inc, que não permitia que o Tigertailz lançasse “Wazbones!” com outros músicos. É mole?! Para encurtar a história: a banda mudou seu nome temporariamente para Wazbones (!!!) e a versão desse disco é encontrada pela banda “Tigertailz” na Inglaterra e “Wazbones” no Japão. Simples assim.
Mas a história desta banda é digna de novelas latinas... Em 2003 dois músicos da primeira formação, o vocalista Steevi Jaimz e o baterista Ace Finchum, retornam aos palcos com o nome Tigertailz. Naturalmente que Kim Hooker, Jay Pepper e Pepsi Tate não iriam deixar a coisa assim, e no ano seguinte também anunciam um retorno. Então, em 2004 havia dois Tigertailz (como se um já não fosse o suficiente...) tocando pela Europa enquanto a Justiça decidia quem levava a melhor.
Mas, como o time liderado por Hooker já tinha experiência de sobra em batalhas judiciais, este adquire os direitos do nome da banda. Em 2006, contando com a bateria de Matt Blackout, o quarteto tenta reconquistar seus velhos fãs batizando seu próximo trabalho como “Bezerk 2.0”, um disco com canções inéditas que visa resgatar a química de outrora com um pouco mais de peso em seu pop rock.
Por fim, vale mencionar que o baixista Pepsi Tate faleceu em setembro de 2007 em função de um câncer no pâncreas. O Tigertailz havia recém lançado "Thrill Pistol", que trazia como bônus o tão discutido CD “Wazbones”, de 91.
Pretty Boy Floyd
Leather Boyz With Electric Toyz
(1989 - MCA Records)
Na Hollywood de 1987, o Doll dava seus últimos suspiros ao perder seu vocalista e guitarrista, que estavam desanimados com a estagnação da banda e suas demos não atraíam nenhum interesse. Vinnie Chas (baixo) e Kari Kane (bateria) resolveram continuar adiante ao recrutar o vocalista Steve ‘Sex’ Summers e o guitarrista nova-iorquino Kristy Majors, e, como era uma fase de grandes mudanças, passaram a se chamar Pretty Boy Floyd.
Mesmo o novo guitarrista sendo o principal compositor, a química entre o quarteto é imediata, e foi só uma questão de tempo até alguma gravadora conhecer sua música e investir no conjunto, e quem se adiantou neste processo foi a MCA. Assim sendo, adotando um estilão ‘glam sujo’, o Pretty Boy Floyd entra num estúdio da Filadélfia com o produtor Howard Benson (Motörhead) e estréia com “Leather Boyz With Electric Toyz” em 1989.
E este é um disco que remete à distorção do início da carreira do Mötley Crüe, com os hits "Rock And Roll (Is Gonna Set The Night On Fire)" e "I Wanna Be With You” empurrando a banda até a 130º posição da Billboard. E a coisa não para por aí, pois conseguem ser capa da conceituada revista Kerrang! no fim deste mesmo ano e ainda atingem o forte mercado europeu.
O nome da banda continua na mídia especializado ao disputar os direitos autorais com outro grupo também chamado Pretty Boy Floyd, do vizinho Canadá, que inclusive também havia lançado seu primeiro disco, "Bullets And Lipstick", no mesmo ano. Mas os canadenses não venceram no tribunal e acabou passando a se chamar Tommi Floyd, que era o nome de seu vocalista.
E a boa estrela do Pretty Boy Floyd continuava a brilhar forte. No início de 1990 sua música é incluída na versão demo do filme "48 Hours" e na versão final de “The Karate Kid III”. Mas tudo o que é bom não dura muito, não é mesmo? Apesar de estar em evidência, no ano seguinte a MCA decidiu dispensar o conjunto.
Somente em 1995 o Pretty Boy Floyd marca seu retorno, devidamente reformulado com Keri Kelli (guitarra) e Keff Ratcliffe (baixo, ex L.A. Guns). Mas toda a posição conquistada anos antes parecia não fazer diferença, tanto que somente em 1998 é que conseguem liberar outro registro, “A Tale Of Sex, Designer Drugs And The Death Of Rock´n´Roll”. Apesar de o título impor respeito, era apenas um EP com cinco faixas...
Passando por cimas das dificuldades, o conjunto continuou tocando pelo undergound. Foi com os lucros da excursão com o Bullet Boys e Bang Tango que financiam “Porn Star”, seu novo disco com uma produção bastante crua, cujo repertório trazia cinco regravações de seu debut e um cover para “Department Of Youth”, do Alice Cooper.
Apesar de ter sumido do mapa, vez ou outra circulam boatos de um retorno do Pretty Boy Floyd com a formação original, que vão gravar outro disco, fazer os mais alucinantes shows, etc e tal. Mas de concreto, nada. Até que, há pouco tempo atrás, o guitarrista Majors e o vocalista Steve Summers se envolveram numa discussão amarga e humilhante, cujo conteúdo chegou ao público através da internet, mostrando insultos, desafios de luta e outras palhaçadas que mostram que dificilmente a banda voltará à ativa. Pelo menos com a formação que tocou no clássico “Leather Boyz With Electric Toyz”...
Nitro
OFR
(1989 - Rhino Records)
Alguém aí se lembra daquele vocalista de Hollywood, o Jim Gillette? Pois bem, assim que deixou o Tuff, ele formou uma parceria com o guitarrista Michael Angelo Batio para gravar seu primeiro álbum-solo, “Proud To Be Loud” (87), que contou ainda com T.J. Racer (baixo), Kevin Jacheta (teclados) e Vinnie Saint James (bateria).
Lançado o disco, Saint James e Kevin Jachetta deixam o projeto. Abandonando os teclados, adicionam o baterista Bobby Rock, e então Gillette e Michael Angelo decidem formar uma banda propriamente dita, que foi batizada como Nitro. E se alguém acha que o Poison é poser, é porque não conhece este Nitro... As excentricidades do novo grupo eram tais que muitos o consideram como aquele que levou a aparência glam e o Hard Rock de Los Angeles ao extremo – o guitarrista era o mais rápido, o cabelo do vocalista era o maior e mais branco, essas coisas...
Toda a extravagância, como não poderia deixar de ser, começou a atrair muitos curiosos às apresentações. E foi em seu primeiro show que Jim Gillette estilhaçou três taças de vinho com sua voz (naturalmente com amplificação de áudio), para espanto de um público que não acreditou no que viu. E nesta mesma platéia incrédula estavam alguns executivos da gravadora Rhino, que prontamente ofereceram um contrato ao Nitro.
Cheio de estilo, o Nitro libera seu primeiro disco em 1989, chamado “O.F.R.”, cujo Hard Metal, como alguém já bem resumiu aí no fórum do Whiplash, tem umas ‘pauleiras interessantes’. Mas a combinação da voz de Gillette, escandalosamente alta e cheia de falsetes, aliada às pirotecnias de Michael aparentemente não foram tão interessantes a ponto de segurar Bobby Rock e T.J. em seus postos, que acabaram sendo substituídos por Ralph Carter e Johny Thunder durante as turnês subsequentes.
“O.F.R.” se caracteriza por também apresentar o mais longo grito da história do rock pesado: Jim Gillette berra por 32 segundos em "Machine Gunn Eddie", e a banda afirma categoricamente que não foi utilizado nenhum efeito de estúdio. E esta é para os death e blackbangers (... mas tem algum interessado nesta matéria...?!?): o Nitro também alega que foi a primeira banda de metal não-extremo a incorporar 'blastbeats' em suas canções, o que ocorre em "Machine Gunn Eddie" e "Fighting Mad".
Mas as canções mais populares de “O.F.R.” foram mesmo "Long Way Home Do" e principalmente "Freight Train", cujo vídeo-clip mostrava Michael Angelo com sua guitarra de quatro braços, inventada e concebida pelo próprio músico e batizada como ‘The Quad Guitar’. Toda a bizarrice do instrumento instigou o desejo de terceiros, pois ela foi roubada em El Paso, Texas, logo após o segundo show da excursão de divulgação deste disco.
Em 1991 o Nitro volta com a mesma atitude em “HWDWS”, cujas canções mais interessantes talvez sejam o cover para "Cat Scratch Fever" (Ted Nugent), a faixa-título "Hot, Wet, Drippin 'Com Sweat" e "Johhny Died On Christimas". Este foi o último álbum de estúdio do grupo, que encerrou sua carreira em 1992.
Michael Angelo começou uma carreira-solo, Jim Gillette se casou com a famosa Lita Ford e atualmente é o cara menos indicado para se chamar de ‘poser’, pois o vocalista está gigantesco, sendo mais um dos adeptos das grandes competições de lutas marciais, inclusive já tendo enfrentado a família Gracie. Em 1998 o Nitro dá seu último suspiro com a coletânea de demos "Gunnin' For Glory", liberada de forma independente.
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