Uma palavra não tem o mesmo significado em todos os tempos. Nos anos 60, o mundo já não era o mesmo após os Beatles, que influíram drasticamente na cultura internacional da música trazendo o rock inglês, a psicodelia, as DROGAS e a cultura oriental. Uma década depois, essa banda acabou e toda aquela cultura musical adolescente começou a amadurecer. O rock tornou-se também um objeto de estudo técnico. O Woodstock de 1969 polemizou a grande imprensa destacando os hippies e, entre os músicos, um negro canhoto com talento descomunal na guitarra elétrica e engajado contra a Guerra do Vietnã. Seu nome? James Marshall Hendrix.
Hendrix abusou de efeitos de pedais “wah-wah” nas guitarras, além de simplificar os acordes das seis cordas, utilizando uma técnica consagrada e simples chamada Power Chords (conhecido em português pela palavra bicordes, acorde com apenas dois dedos). Ele popularizou também o modelo Stratocaster da Fender, que revolucionou a guitarra elétrica usando menos madeira do que a Les Paul, da Gibson, e com uma captação elétrica razoável. Importante também lembrar que Hendrix aproveitou o máximo da potência dos amplificadores do engenheiro inglês Jim Marshall. Jimi utilizava as caixas de som com o máximo de saturação, dando todo o peso que seria reconhecido pelo heavy metal posteriormente, nos anos 70.
O guitarrista é fundamental para entender os primórdios da mudança que estava para vir. Além dele, músicos como Eric Clapton e o Cream, The Kinks e ROLLING STONES se distanciavam do rock simples e leve dos Beatles, abusando de improvisações instrumentais e amplificadores VOX no volume máximo.
Nesse contexto, surgiu o primeiro uso documentado na imprensa da palavra heavy metal: Barry Gilfford, em 1968, em um artigo sobre a banda Electric Flag na revista Rolling Stone, descrevendo o som dos caras como “um blues branco e um heavy metal rock”. Outro crítico da mesma publicação, Mike Saunders, usou o termo para explicar que a banda Humble Pie tinha músicas “altas e barulhentas” que o desagradaram, em 1970. Por fim, o último grande nome da imprensa a ser mencionado é o de Lester Bangs, da revista Creem e também da Rolling Stone. Acompanhando de perto os novatos BLACK SABBATH e Led Zeppelin, ele difundiu a música pesada pelo mundo em dezenas de artigos.
Antes dos jornalistas, o escritor beat William S. Burroughs divulgou o heavy metal para a esfera popular com o significado de “vício em drogas” em seus livros, ao contrário do termo clássico aplicado a metalurgia. Com esse contexto, o rock pesado adquiriu toda uma profundidade cultural, mas não era um movimento organizado como hoje.
O metal se consolidou, então, com o surgimento de três importantes bandas, que divulgaram ainda mais o estilo, a preocupação técnica ao tocar alto e pesado, além de amadurecer o rock´n´roll como um todo. Em 1968, LED ZEPPELIN surgiu dos trabalhos em estúdio e do sucesso que o guitarrista Jimmy Page tinha com os The Yardbirds, unindo também o talento do baterista John Bonham, do baixista John Paul Jones e do vocalista Robert Plant. Excursionando pelo mundo, o Zeppelin ganhou fama como banda de rock pesado, mas sem nunca perder suas raízes no blues negro, origem comum de todos os integrantes, embora misturassem folk e diversas outras influências. "Stairway to Heaven" tornou-se um hino da banda, contagiando até hoje por sua complexidade.
Com outra origem, totalmente diferente dos demais, no mesmo ano do Zeppelin, surgiu o DEEP PURPLE, de um projeto chamado Roundabout. Nesse grupo, os músicos trocavam de instrumentos, num exercício em grupo incomum na época. O Purple atingiu popularidade desde seu surgimento em 68, consolidando o tecladista e especialista em órgãos Jon Lord, o baterista versátil Ian Paice, o baixista Roger Glover, o vocalista que abusava de agudos Ian Gillan e o guitarrista com influências de música erudita Richie Blackmore. Mas não foi somente essa formação que ganhou destaque, revelando outros músicos nas diversas trocas de integrantes, como o vocalista David Coverdale, o baixista e vocalista Glenn Hughes e a segunda guitarra de maior sucesso na banda, nas mãos de Steve Morse. Entre reuniões e brigas, o Purple marcou toda uma geração com complexas composições, que iam das notas básicas de músicas como "Smoke on the Water" até solos instrumentais extensos.
Por fim, a banda que oficializou o heavy metal como vertente do rock foi o BLACK SABBATH, em 1970. Inspirados por um filme de terror B, Tony Iommi, Geezer Butler, Bill Ward e Ozzy Osbourne trouxeram músicas obscuras, que foram polêmicas na época e são excessivamente copiadas por grupos musicais até hoje. Assim como as brigas do Purple, o Sabbath teve outras formações com as separações, que revelaram músicos expressivos como Ronnie James Dio e Vinny Appice. A banda não trazia somente o sombrio, o épico e o satânico nas canções, mas traduzia também a realidade dos próprios músicos, vindos do setor trabalhador de Birmingham, Inglaterra, em obras como "War Pigs".
Em fevereiro deste ano, dia 13, o Sabbath fez 40 anos do lançamento de seu primeiro CD com o mesmo nome da banda, extremamente sombrio. No mesmo ano de 1970, em setembro, "Paranoid" invadiu as lojas e levou o grupo ao estrelato, com músicas imortais como a canção-título, "Iron Man" e outras.
Seja pelas classificações que a imprensa dava na época do surgimento, ou pelo visual de músicos como o próprio Sabbath e bandas como o KISS e o Judas Priest, o heavy metal pendura até hoje por ser o representante do peso e amadurecimento do rock´n´roll como espetáculo. Diferente do punk rock, que revolucionou também nos anos 70 pela mensagem de protesto, a mudança que o metal trouxe há 40 anos não foi abrupta, como uma ruptura, sendo na verdade uma progressão do blues pesado e dos roqueiros que passaram a improvisar como jazzistas, ou seja, é um processo.
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