Natural do Rio de Janeiro, o Sodomizer é um produto do underground em sua forma mais pura. Os caras liberam inúmeros registros por pequenos selos nacionais e gringos, e vão construindo uma sólida reputação entre seu público. Aproveitando que estão lançando o excelente “Jesus Is Not Here Today” – e muitas outras coisas! – o Whiplash! conversou com o baixista e fundador Leatherface sobre o atual estágio do grupo. Confiram aí!
Whiplash!: Seu novo álbum, “Jesus Is Not Here Today”, novamente resgata muito do espírito oitentista, e o considero como o que possui o melhor acabamento de sua discografia. Como você o compararia com os antecessores "Tales Of The Reaper" (04) e “The Dead Shall Rise To Kill” (07)?
Leatherface: Eu fiquei responsável pela capa do “The Dead Shall Rise To Kill” (versão em CD e tape), “More Horror And Death Again...” (versão do CD) e do “Jesus Is Not Here Today” (também da versão do CD). Eu tive a idéia de transformar Lucio Fulci (lendário diretor italiano de filmes de terror) em um zumbi. Ele é uma fonte sem fim de inspiração e nada mais justo do que nós o homenagearmos na capa e na faixa homônima.
Leatherface: Sempre fico responsável pelas capas e o layout dos encartes com os designers, e dessa vez trabalhei com o talentoso Marcelo Vascus, grande designer e amigo. A versão em LP do desenho foi feita pelo artista americano Mike Riddick e traz Lucio Fulci também como um zumbi, e personagens nascendo do seu corpo como a Emily (do “Exorcismo de Emily Rose”), Ronald DeFeo Jr (que ainda cumpre pena por ter assassinado toda a sua família no episódio de Amityville), zumbis e mortos vivos... Gostaria que ele estivesse vivo para ver sua reação à homenagem, mas acredito que, onde esteja agora, está feliz com nosso humilde tributo. Espero que mais pessoas procurem seus filmes, como “Zombie”, “House By The Cemetery” e outros.
Whiplash!: Saudações, pessoal. Que balanço vocês fazem de sua trajetória, considerando que o Sodomizer já esteja na ativa desde 1999 e com vários registros lançados oficialmente?
Leatherface: Salve e obrigado pelo espaço e oportunidade, meu caro amigo Ben. Se eu colocar numa balança o saldo é positivo. Passamos por dificuldades como baixas na formação, atrasos de lançamentos, pouco orçamento para gravações de ensaios, álbuns e sempre há gastos com manutenção de instrumentos, ensaios e etc, mas estamos aqui, firmes e fortes.
Leatherface: São três álbuns oficiais: dois splits, uma compilação e duas tapes. Então, olhando toda essa estrada percorrida, foi tudo muito árduo, porém, colhemos agora os frutos do que plantamos. Não existe outra resposta senão paciência e perseverança. Se você joga limpo e faz um trabalho honesto, uma hora sua vez chega.
Whiplash!: Ainda que a imensa maioria dos grupos atue em nível underground, poucos hasteiam essa bandeira com tanto orgulho como o Sodomizer. Em dias em que o consumismo está mais forte do que nunca, como vocês definiriam o termo ‘underground’ para a nova geração?
Leatherface: Sou de uma geração que cresceu comprando tapes, LPs e depois CDs... Hoje tudo é mais fácil e tudo está mais à mão. O underground está aí, firme e forte e sempre vai permanecer vivo e forte. Fiquei surpreso e feliz ao saber que o Autopsy vendeu 600 mil cópias de seu novo álbum, em tempos que o download esta cada vez mais freqüente. Isso foi uma vitória para banda e para a indústria fonográfica.
Leatherface: A verdade é que você não pode forçar a barra para ser cult e underground. Isso é um status que sua banda possui naquele momento, que está fazendo determinado trabalho naquele meio em que vive. É ridículo ver bandas UNDERGROUNDS colocando uma coroa na cabeça e se proclamando os melhores disso ou daquilo, quando na verdade não passam nem das melhores bandas de suas ruas. Como disse antes, o underground está aí e temos mais ferramentas para ajudar as bandas undergrounds, e sim, eu me refiro à internet, e-mails, youtube, myspace. Tudo se trata de exorcizar a preguiça e trabalhar sério.
Leatherface: “Tales Of The Reaper” foi nosso primeiro trabalho, e a voz de Ripper remete mais ao Tim Baker do Cirith Ungol e UDO do Accept, a produção foi corrida e a mixagem não ficou como nós queríamos. Há excelentes músicas que estamos regravando aos poucos e as novas versões estão muito melhores e mais dinâmicas do que o oferecido neste álbum de estréia.
Leatherface: Já o “The Dead Shall Rise To Kill” foi um divisor de águas. Eu e Warlock cuidamos de todas as músicas, arranjos e produção, e mostramos que não estávamos brincando. É pesado, rápido e sem perder nossa essência, porque quem nos acompanha desde nossa demo-tape sabe que sempre estivemos dentro do verdadeiro Metal, com nossas influências de Exorcist, Piledriver, Sarcófago, Deceased, Black Sabbath, etc... E do verdadeiro Horror. Muitas bandas mudaram sua sonoridade quando essa onda retrô Bay Area explodiu (um punhado de bandas inofensivas). Eles faziam algo bem pula-pula nos seus primórdios, e se você pedir suas demos eles vão inventar mil desculpas para nunca vender ou mostrar isso em qualquer veículo de comunicação ou internet.
Leatherface: “The Dead Shall Rise To Kill” é um monstro descontrolado, é o nosso Frankenstein. Mas “Jesus Is Not Here Today” é mais Speed Metal e bem obscuro, os samples de filmes de horror estão neste álbum e ele segue a linha do “The Dead Shall Rise To Kill”, porém a produção está melhor, as músicas estão melhor executadas e tem faixas marcantes como “Lucio Fulci’, “Amityville” e “Jesus is Not Here Today”, que vão perturbar a mente dos hellbangers die hards. Estou orgulhoso desse álbum e acredito que os que vem acompanhando o Sodomizer por todos esses anos não ficarão desapontados.
Whiplash!: Supõe-se que o mundo evoluiu desde o surgimento do Heavy Metal... Você acha que as pessoas estariam agora mais preparadas para subversões como zumbis, pornografia e ocultismo, que é a abordagem clássica do Sodomizer? Ou o estigma do Heavy Metal ser mera ‘música do diabo’ permanecerá forte por muito tempo ainda?
Leatherface: Não, jamais. As pessoas ainda têm medo do diabo, do demônio, e mesmo o cristianismoperdendo forças você não pode subestimar o terror que as pessoas têm do inferno. Uma religião sem um purgatório e um vilão ia dar uma grande merda. É hilário bandas de Black Metal tentando atingir o mainstream falando do DIABO. Vejo uma legião de pessoas deslumbradas quando lançam um CD e tocam num bar sujo para quase cem pessoas e muitas vezes meia dúzia, largando empregos e fazendo tudo em nome do ‘SUCESSO’ e ‘FAMA’. Essas bandas têm um sonho, viver de Metal, de um tipo de música totalmente fora da lei dentro do Brasil; e eu tenho um sonho de comer sardinhas e arrotar diamantes. A diferença é que meu sonho tem chances de se tornar real, e o deles NÃO.
Leatherface: Nosso objetivo é lançar álbuns sempre dentro de nossas raízes de metal e horror, fazemos isso por puro ímpeto, porque temos de fazer. Simplesmente isso.
Whiplash!: A estética do Sodomizer está muito bem posicionada por todo o encarte, e o fato de ‘zumbificarem’ o próprio diretor de cinema Lucio Fulci na capa de “Jesus Is Not Here Today” foi uma ótima sacada. Até onde vocês se envolvem nos detalhes do projeto gráfico, afinal?
Whiplash!: Aliás, algo realmente satisfatório é que, desde o primeiro álbum, o Sodomizer sempre fez questão em liberar versões no formato vinil. O que podemos esperar para o “Jesus Is Not Here Today”?
Leatherface: Três versões como foi com o “The Dead Shall Rise To Kill”, em vinil preto, colorido e picture. Já lançávamos nossos pesadelos sonoros em vinil, mesmo antes de todo esse revival do LP, e “Tales Of The Reaper” teve sua primeira edição em LP e depois em CD. Amamos o formato LP, a possibilidade de o trabalho de arte ser mais bem apreciado e o som mais grave é sempre melhor aos nossos ouvidos...
Whiplash!: “Jesus Is Not Here Today” é mais um exemplo de como está tornando comum nossas bandas terem seus discos lançados somente no exterior... A que você atribui esse fato? E, considerando toda a diferença cultural, como rolou a negociação com o selo japonês Deathrash Armageddon?
Leatherface: Eles entraram em contato conosco e primeiro lançaram a compilação “More Horror And Death Again...”, depois veio o “Jesus Is Not Here Today”. Acredito que o Metal quebre barreiras e, no caso da diferença cultural que você citou, nunca foi um problema entre nós, pois o Heavy Metal une as pessoas e no final todas as diferenças entre os povos caem. Pode parecer clichê, mas é a pura verdade. O famoso choque cultural não existe.
Whiplash!: Já falamos sobre a tendência em as novas bandas seguirem uma linha mais retrô... Sendo um veterano, como o Sodomizer avalia essa cena de uma forma geral? Até que ponto poderia existir um desgaste da proposta original?
Leatherface: Bom, parece que esta tendência de bandas inofensivas de Bay Area deu uma parada e o Metal Punk é a nova moda. Agora todos são punks e anarquistas vegetarianos, marchando em prol de alguma causa que nunca vai dar em nada, pessoas contraditórias em movimentos contraditórios. Quando começamos com esse som ninguém queria tocar Black, Thrash, Death Metal... Lembro de poucas bandas fazendo isso por aqui, como o Farscape. O desgaste vem rápido e prejudica muitas bandas boas e poucas sobrevivem (o tempo mostra a verdade) como o próprio Farscape que está aí até hoje.
Leatherface: As bandas tendenciosas se vão tão rápido quanto surgiram, e infelizmente algumas poucas boas se vão também. Já não existe uma procura tão grande no exterior (Europa, EUA, Ásia) por toda banda que esteja tocando ‘retro thrash’. Ainda bem, mas os ventos vão trazer novas tendências (sabe-se lá o quê???), e com elas uma legião de posers que gostam de se fantasiar. Estávamos aqui antes e vamos continuar vendo essas bandas e punhado de oportunistas surgindo e sumindo.
Whiplash!: Vocês estão com vários outros lançamentos agendados... Qual a história de “Making The Devil Work”, o split com sua banda paralela, Hellkommander? E aproveite para falar também dos splits com os italianos do Hands Of Orlac e Sign Of Evil...
Leatherface: “Making The Devil Work” foi lançado pela gravadora Morbid Tales. Estamos muito satisfeitos com esse trabalho e todas as nove faixas são inéditas, das duas bandas (quatro faixas do Sodomizer e cinco do Hellkommander). A capa foi feita pelo artista Sickness 666 (grande desenhista que já assinou a capa dos maníacos do Impiety também). Uma edição em LP deve sair na Alemanha em breve e os splits que você citou saíram apenas em vinil 7’ EP, pela gravadora Cult Horror Rec (Dinamarca), que é responsável pelo lançamento do “The Dead Shall Rise To Kill” em vinil e, futuramente, nosso terceiro álbum.
Leatherface: No momento, o Hellkommander também relançou pela gravadora mexicana EBM Records o seu primeiro álbum, “Death To My Enemies”, que vem com uma nova capa e três músicas bônus (um ensaio cru, porém violento e visceral). Devemos gravar no final do ano ou início do próximo nosso segundo álbum, o título é “Hell Is More Beautiful Than Heaven, que será lançado pelo selo escocês Bestial Invasion Records. Um split entre o Farscape e Hellkommander deve sair na Europa pelos selos Heavy Steel (Portugal) e Dying Victms Productions (Alemanha), com o título “I Piss On Your Grave”. O formato desse lançamento será apenas em 7’ EP (vinil).
Whiplash!: Em termos de Brasil, quais suas expectativas em um cenário cada vez mais insustentável, cuja cultura nega e inferioriza nossas bandas e, consequentemente, os shows autorais vão cada vez mais cedendo espaço às bandas covers?
Leatherface: A solução é simples, as bandas têm que se dar o valor, não ficarem tocando em qualquer lugar a troco de NADA, para esse ‘produtores’ de shows que não passam de PARASITAS. Todos enchem a boca para falar de organizar seus próprios eventos, mas ninguém mete a mão na massa. A casa ganha com a bilheteria, o bar da casa lucra e o cretino que organiza esses ‘eventos’ e ‘festas’ LUCRA. Uma banda tem gastos e muitos gastos, eu compro muitos LPs, CDs e sempre que posso vou a shows de bandas que gosto.
Leatherface: Quando compro um CD, LP ou tape fico feliz não apenas em adquirir o material, mas também em apoiar aquela banda, sabendo que aquele dinheiro que gastei vai manter a banda viva para produzir mais e mais. Se uma banda que gosto tem recursos vindos da venda se seus merchandises e shows para produzir discos e etc, eu que saio ganhando, pois em breve eles vão estar lançado mais álbuns. Então, o público precisa tomar vergonha na cara e, quando gostar de uma banda, sempre que puder comprar seu material e ir aos shows. Depois que as bandas acabam não adianta ficar se lamentando, tal banda era tão legal, pena que acabou e blá, blá, blá...
Leatherface: Não gosto de bandas covers, respeito os músicos que estão ali suando e ganhando seu dinheiro, é um fenômeno e tanto, pois muitas vezes eles arrastam multidões e são tratados como se fossem o verdadeiro Iron Maiden (e na verdade é o cover). Quando você está em um bar bebendo uma cerveja e tem uma banda cover do Lynyrd Skynyrd tocando, Metallica, ou seja o que for, é uma coisa, mas quando esses eventos acontecem com várias bandas autorais e eles infiltram meia dúzia de bandas cover para ter lucro certo é lamentável.
Whiplash!: Ok, Leatherface, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte ao Sodomizer! Fique a vontade para os comentários finais.
Leatherface: Obrigado Ben e Whiplash!, pelo espaço cedido e oportunidade. Devemos em breve entrar no estúdio para registrar as músicas desses splits e a versão em LP do “Jesus Is Not Here Today” devem estar saindo da fábrica dentro de alguns meses. Temos camisas para venda e o split está à venda conosco e com a Morbid Tales (www.morbidtalesrecords.com). Estamos nos preparando para alguns shows na Europa e, depois deste giro, vamos trabalhar pesado no nosso quarto álbum de estúdio. O Sodomizer é uma banda underground que trabalha duro e faz o melhor com o pouco que tem para espalhar sua trilha sonora de pesadelos para todos os maníacos Die Hards Hellbangers. Sem vocês não seríamos nada.
Novamente muito obrigado e aguardem novidades muito em breve.
Novamente muito obrigado e aguardem novidades muito em breve.
Vídeo de “Lucio Fulci.
Promo-vídeo do split “Making The Devil Work”.
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