A Trator BR é daquelas bandas que causam admiração pelo profissionalismo. Vindos do interior de São Paulo, o grupo, que passou por recente mudança de formação, segue na jornada do thrash/death metal com muita garra. Em 2009 soltaram o ótimo álbum “Verde Amarelo Azul e Preto” (ler resenha em http://somextremo.blogspot.com/2011/08/trator-br-verde-amarelo-azul-e-preto.html), uma aula de música extrema de qualidade. Agora, o grupo ensaia já pensando no próximo CD, e quem conta mais detalhes sobre a banda é o guitarrista Amil Mauad em entrevista ao blog Som Extremo.
Som Extremo : Fale um pouco sobre a história da banda. De onde surgiu o nome? Por que colocar o "BR" junto?
Amil Mauad: Resumindo a longa história da banda que vem desde 1995, onde eu, que toco guitarra, o Aldo Gaiotto - Vocal e o Ricardo Razuk - Guitarra, tínhamos outra banda de thrash metal, a Kama-Sutra. Nela, Aldo era guitarrista e o Razuk era baixista. Com o passar dos anos, fomos adquirindo um estilo próprio de composições e acrescentando mais elementos do death metal e grindcore em nossas músicas. Foi então que o baterista Rafael Graziani, para nossa sorte, entrou em 1998 para dar mais agressividade ao som, mas isso já em outra banda, a "Spiritual". Na época, ainda compúnhamos em inglês (1998 - 2001), mas quando o antigo vocalista decidiu partir para outras atividades, Aldo resolveu se arriscar nos vocais, e a experiência saiu melhor que a encomenda. Nisso o Razuk assumiu a segunda guitarra e o Adriano Silva foi escalado para o contra-baixo. Essa situação exigiu também a mudança de nome, pois os temas, idiomas e estilo musical já estavam bem diferentes do que era o "Spiritual". Passamos então a procurar um novo nome, que mostrasse peso, força e a caipiragem do nosso interiorzão (nota do redator: a banda é de Bauru). Portanto, nada mais apropriado que um Trator não é?! hehehe Com toda essa história, chegamos ao ano de 2005, quando começamos a esboçar a gravação do CD "Verde Amarelo Azul e Preto", lançado em 2008. O “BR”, juntamente com o título do CD, veio para reforçar o orgulho que temos de nossa pátria, língua, terra e gente. São as melhores coisas do mundo, além do underground nacional, mundialmente reconhecido como celeiro de excelentes bandas!!!
Som Extremo: Vocês apresentam um diferencial ousado para o estilo, que é cantar em português. Fale sobre isso. A proposta sempre será essa?
Mauad: Justamente. A ideia era fugir dos padrões: como queríamos fazer algo diferente do já apresentado e até um pouco batido dentro do estilo, resolvemos compor em português. Foi difícil no começo, mas nos habituamos e agora nem cogitamos compor em outra língua, a não ser que o tema da música exija isso. E iremos compor até em Aramaico se assim for melhor para o que queremos expressar. Aliás, no segundo CD teremos uma música com um algo a mais nesse quesito hehehe, aguardem!!!!
Som Extremo: Você acha que cantando em nossa língua a valorização no país é maior? Por que?
Mauad: Olha, a princípio, é uma faca de dois gumes. Já ouvi várias vezes sobre pessoas que vêem o nome Trator BR, e já torcem o nariz, taxando a banda como uma verdadeira #$%¨%$. Entretanto isso cai por terra quando o cidadão assiste à nossa apresentação e vê que o bicho pega. Além disso, a galera curte muito entender as letras ao pegar o encarte, cantar junto e ver que estamos compondo para o nosso país. Tem até partido político de extrema direita elegendo o Trator BR como banda mascote, apesar de não termos nenhum vínculo partidário. Além disso, é muito satisfatório ver gringo cantando um português, mesmo que todo zuado. Chega a ser engraçado, mas é muito legal e portanto, caros headbangers, não julguem a banda pelo nome!!!
Som Extremo: Thrash e death metal estão na veia da Trator BR. Quais as principais bandas que influenciam vocês? E com é o processo de composição?
Mauad: Apesar da nossa proposta ser a de exaltar nosso país e nossa cultura, nossas principais influências são da gringa: Slayer, Cannibal Corpse, Deicide, Morbid Angel, Napalm Death, Carcass, Exodus, Terrorizer, Brujeria e Venom, entre muitas outras da velha escola. Também escutamos muito na adolescência Ratos de Porão, Sepultura, Dorsal atlântica, Torture Squad e até mesmo trouxemos influências de bandas das quais já fizemos parte, como Violator (Pederneiras), Siegrid Ingrid (São Paulo), Zoltar (Votorantim), Demigod (Bauru), Overthrash (Bauru), Kama-Sutra (Bauru), Morbad (Pederneiras) e Masakra (Londrina), para citar as principais. Todas essas bandas foram somando em nosso aprendizado metálico. As composições acontecem de maneira natural, sem regras. Às vezes um de nós aparece com o instrumental e então montamos a batera e a linha de baixo, enquanto o Aldo trabalha nos vocais. Em outras ocasiões, a inspiração vem da letra, e com essa ideia vamos montando os riffs. Um exemplo é "No Comando dos Vermes", composta pelo baterista, onde fizemos o instrumental e vocais em cima do que ele criou. Assim vamos arando e cultivando nosso repertório.
Som Extremo: A Trator BR está com nova formação, certo? Como está o rendimento desse time?
Mauad: Ótimo, a Trator BR estava engatada em marcha lenta, pois nosso antigo baixista e amigo Adriano foi trabalhar em Sampa e depois prestar serviço em Salvador. Com isso os shows e ensaios da banda foram ficando cada vez mais restritos. Foi com muito pesar que decidimos encontrar um substituto para o Adriano, mas a banda não podia parar, e no fundo isso acabaria acontecendo. Ele não estava dando conta de todos os compromissos, e com muita satisfação, convidamos Jé "Crust" Tarzia, que assumiu o baixo. Ele sempre foi um grande colaborador da banda, além de ser um amigo muito querido por todos e envolvido com o underground. É um ótimo baixista e agora estamos trabalhando bastante para deixar o repertório em dia e posteriormente trabalhar nas composições novas. Estrearemos a nova formação nos dias 07/10 (Bauru), 08/10 (Penápolis) e 09/10 (Botucatu). Quem puder, compareça pra dar aquela força.
Som Extremo: Quando sai o novo material da banda? Quais planos futuros?
Mauad: Já era para ter saído, na realidade. Com a entrada do Jé, estamos reformulando algumas coisas, mas garanto que o resultado ficará melhor. Quanto aos planos futuros, esperamos realizar apresentações no norte e nordeste do país, e mais pra frente ir para fora do país. Tudo depende do apoio dos organizadores. Estamos devendo um show para aquela galera true lá de cima, no Nordeste. Temos vários contatos e vários pedidos por lá e esperamos poder realizar tudo isso.
Som Extremo: Com uma banda tão competente e profissional, o que acha que falta para deslancharem de vez como uma das grandes do metal extremo nacional?
Mauad: Primeiramente obrigado pelos elogios. Ficamos muito honrados quando lemos palavras de apoio como estas. Acho que para nós, falta um selo ou gravadora que nos apóie, pois tudo que fizemos até hoje foi por conta própria, desde gravação, distribuição, mídias, shows, etc. Acredito se tivéssemos esse apoio estrutural, distribuição de CDs em um nível mais brando e shows em festivais de grande porte, o nível da banda se elevaria e consequentemente, a banda evoluiria musicalmente. Fica a dica para os donos de selos e/ou gravadoras ehehehe!!!
Som Extremo: Sei que Bauru conta sempre com um festival muito bom dedicado à música extrema, o "NoiseCore Fest". Além desse evento, existem outros similares? E quanto às bandas daí? Como é a cena underground de Bauru?
Mauad: Cara, não me pergunte isso rsss... Graças ao nosso bom Deus Metálico, existe o Noisecore Fest e seus organizadores. Não quero dar respostas feitas, mas Bauru já foi melhor hehehe. Tínhamos o Apocalipse, entre outros bares, que davam espaço a bandas underground. Hoje em dia, só existem espaços para bandas cover, e tem que ser daqueles covers bem batidos mesmo, tipo “Smoke on The Water”. Tem nego que paga R$ 40,00 para ver bandas cover e não paga R$10,00 para entrar em fest com várias atrações. Para se ter uma ideia, a dona de um dos maiores e mais tradicionais bares de rock daqui disse na minha cara que não põe banda de metal para tocar lá porque não quer clientes que saem do esgoto... até que dá uma música isso hehehe. Então, é triste isso, mas serve para separar os verdadeiros amantes do metal de posers embalistas. Foda-se esse povinho. Tem também o Enxame Coletivo, que está trazendo muita coisa interessante para Bauru. Não é focado no extremo, mas trabalha com o underground em geral, independente de estilo musical. Quanto às bandas, é uma desunião tremenda. São tantas histórias que não vou nem comentar, mas acho que isso é em todo lugar, né?!
Som Extremo: O blog Som Extremo agradece a entrevista. Por favor, deixe mais algumas palavras, pode ser?
Mauad: Bom, primeiramente somos muito gratos pelo espaço cedido à Trator BR. Espero que sejamos parceiros em várias outras ocasiões. Desculpe pelas respostas longas, mas olha que eu tentei resumir. Parabéns pelo trabalho de vocês, sei que é uma batalha eterna que se iguala às bandas que divulgam. Por fim, aquele velho pedido aos bangers de plantão: compareçam aos shows de bandas nacionais, comprem ou apoiem o material e divulguem as mesmas, pois só assim a estrutura metálica crescerá, podendo acrescentar qualidade e quantidade aos shows.... AVANTE, TRATORES!!!
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