13 de setembro de 2011

Forever Changes - Love



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Entretanto destes o melhor e mais respeitado grupo era o Love formado (originalmente em Memphis 1964) por Arthur Lee (Guitarrista e compositor) que tinha Bryan McLean e John Echols nas guitarras, o baixista Ken Forssi e o baterista Don Conka (logo substituído por Alban "Snoopy" Pfisterer). Com esta formação debuta pela Elektra Records com LP homônimo, uma viagem sonora com pouco mais de meia hora que trazia pelo menos duas canções inesquecíveis: a lisérgica "Signed D.C." e uma cover da clássica "Hey Joe". Com acréscimo de Tjay Cantarelli nos sopros e Snoopy (substituído na bateria por Michael Stuart) comandando os teclados a banda lança ainda em 1966 o segundo trabalho “Da Capo”, cujas seis primeiras canções (lado A do LP) formam um dos mais perfeitos medleys já gravados (ideia copiada pelos Beatles em “Abbey Road”) com destaque para as etéreas "Stephanie Knows Who" e "Seven & Seven Is".
Os dois primeiros discos venderam cerca de 100 mil cópias, número expressivo para a época. Entretanto por seu forte temperamento Lee se recusava a excursionar com banda muito longe de Los Angeles, cidade onde então haviam se estabelecido, o que de certo modo tornava o Love um grupo cult fora destas cercanias. De nada adiantou a insistência da gravadora por uma excursão e um hit single como “Light My Fire” dos Doors. Nas palavras de Jac Holzman, presidente do selo: "Arthur era e provavelmente é um das pessoas mais espertas que conheci do meio. Apesar do talento, ele preferia ficar isolado mais do que o necessário e isso prejudicou muito sua carreira. Ele foi um dos maiores gênios que conheci, mas apesar de tanta genialidade, recusava a aparecer em público."
A partir daí a banda viveria então uma seria crise interna com os integrantes se afastando um dos outros, cada vez menos interessados em tocar em conjunto e uma vez mais interessados em obter lucros. Parecia quase uma tarefa impossível um terceiro disco do grupo, entretanto quase no fim de 1967 após 4 exaustivos meses de trabalho dava as caras ao mundo o excepcional "Forever Changes" o melhor disco já gravado pelo Love e um dos melhores discos de todos os tempos comparável mesmo ao “Sgt. Peppers” dosBeatles em termos de excelência musical.
Bruce Botnick (junto com Neil Young que tão logo pularia fora do projeto) foi então cooptado pela gravadora para produzir o projeto e havia encontrado o grupo em um estado lastimável, durante uma única sessão o grupo gravara duas canções “Andmoreagain” e “The Daily Planet”. Botnick então deu período de “férias” para a banda que esporadicamente se reunia em estúdio para trabalhar as novas canções. Como bem lembra Lee: "Nós tínhamos o costume de trabalhar toda a noite. Depois que começamos a ganhar dinheiro paramos de produzir. Quanto mais dinheiro entrava, menos produzíamos e isso deteriorou o Love. Cada um queria seu carro, sua casa e não precisavam mais de mim, que escrevia 90% das canções.”
Neste ritmo e com pouco entusiasmo por parte dos seus integrantes dificilmente seria gravado um trabalho decente, foi aí que apareceu David Angel - figura central para a concepção deste álbum. Com o insucesso das gravações de junho de 67 a banda retornaria ao estúdio durante quase três meses por períodos descontinuados de um ou dois dias para terminar o que havia começado.
A esta altura Arthur e Lee já estava ciente de que sua banda não possuía membros tão técnicos como oJimi Hendrix Experience e o The Doors. Sua ideia era então fazer um disco bem menos enérgico e mais calcados nas canções que então teriam um maior requinte instrumental e de fato as canções que compõe “Forever Changes” são de uma sofisticação poucas vezes (ou talvez nunca mais) alcançada na historia do Rock. Angel cooptou músicos da Filarmônica de Los Angeles e Lee então lhes explicava em quais partes desejava ter o som mais elaborado.
“Forever Changes” é um disco que marca uma ruptura com os padrões musicais vigentes na época seja pela inclusão de elaborados arranjos de cordas e sopros ou pelas complexas estruturas que permeiam os arranjos de suas singulares canções. Além disso é o grande disco que marca em definitivo a sonoridade do Love uma das inovadoras mesmo em pleno desbunde psicodélico e que se delineava mais intensamente a partir de “Da Capo” (1966): uma psicodelia pouco ortodoxa que condensava num grande caldeirão musical idiossincráticos elementos de música Folk, com turvas passagens de Rhythm & Blues aliada a tons de balada e claras inspirações de música erudita.
O álbum abre com uma sensacional balada a incrivelmente Folk “Alone Again Or” de autoria de Brian McLean com direito a uma excepcional sessão de metais em dado trecho da canção, curiosamente é a canção mais conhecida do Love. A psicodélica “A House Is Not A Motel” mostra a diversidade de arranjos do disco, orapasseando calmamente pelo Folk ora golpeando o cérebro do ouvinte com intervenções instrumentais ao melhor estilo Jimi Hendrix Experience.
O disco prossegue com “Andmoreagain” romântica balada com belíssimo trabalho nas cordas, uma canção digna de elogios por Sir MacCartney. Já “The Daily Planet” recortada por abruptas interrupções e com a guitarra fazendo contraponto ao violão é um dos melhores rock feitos pelo grupo. O destaque aqui fica por conta da bateria de Stuart que literalmente “surra” seu kit com extrema precisão.
O bucolismo Folk de “Old Man” carrega nas passagens mais dramáticas, onde se sobressaem a nada sutis intervenções da filarmônica de Los Angeles e a emocionada interpretação de Lee nos vocais.
Complexas texturas psicoclássicas se fazem presentes na etérea “The Red Telephone” uma composição de rara beleza que divaga a situação do homem comum perante a existência, indubitavelmente se trata duma das maiores canções de todos o tempos com arranjos simplesmente geniais. Segundo reza a misteriosa letra da canção teria sido escrita por Lee após uma viagem regada a muito ácido em que teria assistido pessoas sendo mortas à margem de um enorme rio como atesta os primeiros versos da canção: “Sitting on a riverside/Watching Others people die/ I feel much better on the other side….”.
“Maybe The People Would Be Times Or Between Clark And Hilldale” é uma balada flamenco-orquestral mesclando claras influencias latinas com as inspirações mais eruditas de Arthur Lee. Já em “Live And Let Live” a banda arrisca um Folk aos moldes britânicos de Donovan entremeado por solos de guitarra ao melhor estilo Jerry Garcia.
“The Good Humor Man See Everything Like This” apresenta-se no melhor estilo balada classuda, entrecortada por abruptas interrupções (com direito a final falso no meio da canção) aqui são as cordas e os instrumentos de sopros que dão a tônica da canção. A esta altura do disco o inesperado semi rap dylanesco “Bummer In The Summer” certamente pega o ouvinte de surpresa. E realmente é impressionante a riqueza de arranjos das canções que compõe este disco como atesta a monstruosa (no bom sentido do termo) “You Set The Scene” que se inicia ao melhor estilo Pop Rock e gradualmente atinge o contorno de balada épica, encerrando com chave de ouro esta obra prima do Rock.
Arthur Lee na época com 26 anos acreditava loucamente que iria morrer e “Forever Changes” seriam as suas últimas palavras em vida e como a morte estava envolto em torno de sua pessoa essa seria sua “mudança para sempre”.
Bem, no fim das contas Arthur Lee viveu por muito tempo ainda (morreria apenas em 2006), continuando com o nome do grupo por alguns discos irregulares, mas felizmente deixou em “Forever Changes” uma herança para toda a humanidade para quem quiser matar saudades desse amor derretido por excesso de ácido e criatividade.
FAIXAS
1. Alone Again Or
2. A House Is Not A Motel
3. Andmoreagain
4. The Daily Planet
5. Old Man
6. The Red Telephone
7. Maybe The People Would Be Times Or Between Clark And Hilldale
8. Live And Let Live
9. The Good Humor Man See Everything Like This
10. Bummer In The Summer
11. You Set The Scene

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