31 de julho de 2011

Time of No Time Evermore - Devil's Blood

Os temas mais polêmicos do heavy metal, principalmente aqueles relacionados à religião, costumam vir acompanhados de uma grande dose de violência sonora. Quanto mais agressivas as letras, mais pesado o som. Foi seguindo esse raciocínio que surgiram estilos como o death e o black metal. Traduzindo: o incômodo transmitido pelas letras vinha sempre acompanhado pelo transtorno e caos da parte instrumental, resultando em uma sonoridade propositadamente pouquíssimo acessível e com nenhum apelo comercial.





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Esse paradigma é quebrado pela banda holandesa The Devil's Blood. O primeiro álbum do grupo, "The Time of No Time Evermore", lançado em 2009, é uma jóia obscura do heavy metal contemporâneo. O caminho seguido pelos caras é originalíssimo: instrumental hard rock com abundantes melodias e guitarras gêmeas, tudo temperado por doses certeiras de psicodelismo, adornando com uma sonoridade agradável e acessível letras que casariam perfeitamente com a mais radical das bandas de black metal. Isso faz com que o debut do The Devil's Blood soe como um excelente álbum de rock pesado lançado há 30 anos atrás, gravado por músicos que parecem um bando de hippies a serviço de Satanás.
A psicodelia vintage faz com que "The Time of No Time Evermore" tenha uma sonoridade bem setentista. Os vocais – femininos – a cargo de F. The Mouth of Satan, sempre limpos e jamais guturais, variam entre momentos etéreos e trechos onde soam fantasmagóricos e mal assombrados, como se estivéssemos ouvindo uma versão endiabrada de Jennie Haan (Babe Ruth). A parte instrumental traz grande influência de Thin LizzyIron Maiden  e NWOBHM e, para efeito de comparação, pode-se dizer que o The Devil's Blood é uma espécie de Coven – cultuada banda norte-americana que lançou o clássico"Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls" em 1969 - do novo milênio.
O contraste gritante entre as composições cativantes e repletas de melodia com as letras que exploram temas sombrios e satânicos é um ponto interessantíssimo na sonoridade do The Devil's Blood. A banda consegue transformar o mal em algo agradável aos ouvidos, tornando digeríveis tópicos tradicionalmente polêmicos. Não à toa Erik Danielsson, vocalista do Watain – um dos nomes mais celebrados do black metal atual – colabora com o grupo e é o autor de uma das melhores músicas do disco, “The Yonker Beckons”.
O álbum é rico em ótimas faixas. “I'll Be Your Ghost”, lançada como single, é um exemplo. A bela “House of 10.000 Voices” tem passagens mais atmosféricas e trechos cadenciados que entregam uma tensão absurda. A sensacional “Christ or Cocaine” é uma blasfêmia grudenta que viraria hit sem esforço se chegasse ao grande público.
É espantoso como o disco consegue se manter nas alturas, alternando uma composição excelente atrás da outra. Isso se dá principalmente pelas excelentes guitarras, que sempre trazem para o primeiro plano melodias que deliciam os ouvidos. Ouça “Queen of My Burning Heart” e “Angel's Prayer” e comprove. “The Anti-Kosmic Magick”, com mais de onze minutos, encerra o trabalho deixando um inevitável desejo de quero mais no ouvinte. A boa notícia é que o novo álbum do grupo, "The Thousandfold Epicentre", já tem confirmada a sua data de lançamento para o próximo dia 11 de novembro.
Se você curtiu o Ghost certamente irá gostar do The Devil's Blood. "The Time of No Time Evermore" resgata uma atmosfera que havia sido deixada de lado no metal atual, utilizando com talento elementos já conhecidos e consagrados do estilo – como as fartas doses de melodia e as sempre bem-vindas guitarras gêmeas – para construir uma sonoridade original e fascinante.
O diabo nunca soou tão agradável quanto aqui.
Faixas:
1 The Time of No Time
2 Evermore
3 I'll Be Your Ghost
4 The Yonder Beckons
5 House of 10.000 Voices
6 Christ or Cocaine
7 Queen of My Burning Heart
8 Angel's Prayer
9 Feeding the Fire With Tears and Blood
10 Rake Your Nails Across the Firmament
11 The Anti-Kosmik Magick



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