E aqui estamos novamente, com mais alguns textos sobre conjuntos Hard Rock que estouraram com algum disco e logo depois caíram no marasmo, ou até mesmo bandas desconhecidas com álbuns ainda mais desconhecidos, mas que possuem ótimas composições e que não tiveram muita chance de mostrar sua música a um público maior.
ZODIAC MINDWARP AND THE LOVE REACTION
Tattoed Beat Messiah
(1988 - Vertigo/PolyGram)
Por um curto espaço de tempo os ingleses do Zodiac Mindwarp And The Love Reaction conseguiram fazer um estrondoso sucesso na cena do rock pesado com um visual cuidadosamente sujo, cabelos engordurados, muito couro, drogas, canções sobre sacanagens e muita piração debochada. Bom, nada disso é novo, e mesmo assim o Zodiac conseguiu fazer diferença com seu hard rock alucinado e enérgico.
Desde o início o Zodiac teve problemas com sua formação e seu primeiro disco é gravado com Mark Manning, que assume a identidade de Zodiac Mindwarp e o The Love Reaction fica por conta de Cobalt Stargazer (guitarra), Kid Chaos (baixo) and Slam Thunderhide (bateria). O mini-LP “High Priest of Love” sai em 1986 já conseguindo chamar muita atenção.
AXE
Offering
(1981 - Atco, Atlantic)
Conjunto da Flórida/EUA, que foi formado em 1978 com o nome de Babyface por Michael Osborne (nada a ver com o outro Osbourne) na voz e guitarra, Edgar Riley Jr. nos teclados, Teddy Mueller na bateria e Michael Turpin no contrabaixo. Durante suas inúmeras excursões descobrem que havia outra banda com o mesmo nome e já devidamente registrada. A partir daí adotam a simples palavra Axe, que gravam um álbum homônimo em 79 e o “Livin On The Edge” no ano seguinte.
Algumas faixas destes trabalhos se destacam, chamando a atenção da gravadora ATCO, que via no Axe a possibilidade de estourarem e acaba por contratá-los. Com o novo baixista Wayne Haner gravam “Offerings”, apresentando canções seguindo a linha do grande Thin Lizzy, porém um pouco mais melódico e em alguns momentos até mesmo pendendo para o lado quase pop da coisa. Mas é um disco muito bacana, com grandes faixas como “Now Or Never" e "Rock and Roll Party In the Streets”, as boas guitarras de “Silent Soldiers”, “Jennifer”, entre tantas outras.
Conseguem excursionar pelo mundo por dezoito meses com OZZY OSBOURNE, Judas Priest, Scorpions, ZZ Top e Mötley Crüe. Seu próximo álbum, “Nemesis” vem somente consolidar todo o trabalho do pessoal, repercutindo de maneira positiva especialmente na Europa e Austrália. Mais turnês vêm e vão, e quando o Axe começa a compor para seu quinto disco a tragédia golpeou a banda. Em 1984, um acidente automobilístico tira a vida do vocalista Osborne e fere seriamente Bobby Barth, conduzindo ao término desta que poderia ter sido mais uma das grandes bandas oitentistas.
Porém, em 2000, Axe se reformou com membros originais Barth, Edgar Riley e Teddy Mueller e a inclusão de Blake Eberhard no baixo e com Bob Harris (Zappa, STEVE VAI, Warren Zevon, Ant Bee) adicionando seus talentos nos teclados, onde lançam mais dois trabalhos.
JUNKYARD
Sixes, Sevens and Nines
(1991 – Geffen)
Formado em 1988 em Los Angeles por um par de amigos texanos chamados David Roach nas vozes e o guitarrista Chris Gates, chegando ao time logo depois o baterista Pat Muzingo, que trouxe Clay Anthony para o baixo. A banda se completa com Brian Baker para a segunda guitarra. Sempre tocando em clubes de pequeno e médio porte, o Junkyard tinha grande presença de palco e geralmente atraía muitos rockers, curiosos, motoqueiros e doidões para a festa que eram suas apresentações. E assim atraem a atenção dos olheiros da grande gravadora Geffen; e como não poderia deixar de ser, logo em seguida lançam seu primeiro álbum auto-intitulado, que nada mais era do que o genuíno rock n´roll que refletia as raízes punks de alguns de seus membros.
Mas foi este “Sixes, Sevens and Nines” que mostrou o grande entrosamento em que a banda se encontrava, a inflluência punk desapareceu, dando lugar a canções hard rock que continuavam pesadas e despojadas, acrescidas de mais melodias e certas nuances de blues, além de duas bonitas baladas.
O pessoal do Junkyard sempre foi muito simples, dava muita importância às músicas em detrimento da imagem e este foi um dos motivos de seu pouco sucesso para as grandes massas, lembrando que na época o grande lance eram as bandas que investiam muito no aspecto visual. Isso acabou por resultar no abandono do conjunto pela gravadora poucos momentos antes de colocar no mercado seu terceiro trabalho, que já estava até mesmo finalizado e que acabou por nunca ter sido liberado oficialmente.
KEEL
The Final Frontier
(1986 – Vertigo)
Keel foi uma das legendárias bandas dos EUA e seu mentor, vocalista e guitarrista Ron Lee Keel desde os dezessete anos estava na batalha, passando por inúmeros conjuntos, sendo o que merece maior destaque é o Steeler, de 82, que contava com a participação do sueco novato (na época, obviamente) Yngwie J. Malmsteen, e é de se imaginar que esta parceria não durou muito.
E em 1984, Ron monta sua própria banda, simplesmente chamada Keel, que tinha ainda em sua formação os guitarristas Marc Ferrari e Bryan Jay, Kenny Chaisson no contrabaixo e Dwain Miller na bateria. Após muitos ensaios, lançam “Lay Down the Law” em 1984 e “The Right To Rock” no ano seguinte e este, por ter sido produzido por Gene Simmons, ajudou bastante o Keel a crescer na cena hard rock norte-americana, sendo que este disco vende bem até os dias de hoje.
Apesar deste álbum ter estourado, o próximo trabalho lançado em 1986 é chamado “The Final Frontier” e é considerado por Ron Keel e até mesmo por este que vos escreve bem melhor em termos de composição. Novamente produzido por Simmons, que desta vez deu total liberdade de criação à banda, sendo que o disco mantém a banda no topo com grandes, pesadas e melódicas canções como a faixa-título, “Rock And Roll Animal”, que, perdoem a redundância, é realmente animal; o cover da bonita semi-balada de Bruce Springsteen “Because The Night” e “Tears Of Fire”.
E o Keel segue gravando mais dois álbuns previstos no contrato com a Vertigo até 1989, mas não são tão bons quanto os anteriores. Com a chegada do grunge, a banda se desmancha e Ron Keel parte para projetos estranhos em álbuns de música country (?!? – bom, o cara tem que se alimentar, não?!?) e toca ao lado das belas garotas do Fair Game. Em 1998 o Keel se reúne novamente, lançando “Keel VI – Back In Action”, bem aquém de seus antecessores. Atualmente Ron Keel está no Ironhorse, onde colocou dois discos no mercado.
ALANNAH MYLES
Alannah Myles
(1989 – Atlantic)
A canadense Allanah Myles se apresentou em vão durante muito tempo em locais de pequeno porte em sua terra natal, sempre visando um contrato de gravação que nunca chegava. Decidida a chegar ao estrelato, resolve partir juntamente com seu companheiro compositor Christopher Ward para os EUA, onde surge muito interesse pela sua demo e conseguem rapidamente assinar com a Atlantic.
Por ironia, seu primeiro single estoura no Canadá, onde sempre foi ignorada, pouco antes do primeiro álbum ser colocado no mercado. E com o apoio da gravadora, que coloca ótimos músicos para acompanhá-la em seu debut auto-intitulado, Alannah Myles estourou nas paradas de todo o mundo, vendendo mais de cinco milhões de cópias e concorrendo ao Grammy de melhor cantora na categoria rock.
O disco realmente mereceu todas as críticas positivas que recebeu, pois apresentava faixas com puro rock n´roll com tempero blues, ora pesado e seco, ora voltado mais ao pop. Para quem se lembra da canção carro-chefe “Black Velvet” e acha que o álbum é somente isso se engana completamente. Esse disco foi subestimado pela grande maioria do público rocker por esse motivo, quem pode imaginar um álbum, com um bonito rosto feminino numa capa que não apresenta nenhum traço gráfico na linha rock n´roll, apresentasse músicas tão bacanas?
Mesmo com a imensa repercussão que esse primeiro disco teve, a carreira de Alannah Myles não conseguiu manter esse ritmo, pois nenhum de seus trabalhos posteriores lançados durante os anos 90 chegou perto deste álbum, nem em termos de composição – que deixou de lado a distorção nas guitarras - e muito menos sucesso comercial.
KISS OF THE GYPSY
Kiss Of The Gypsy
(1992 – Atlantic)
Excelente banda inglesa inicialmente conhecida como Fantasy e teve como mentor o vocalista e guitarrista Tony Mitchell, que recrutou para a outra guitarra Darren Rice, Martin Talbot para o baixo, Scott Elliott na bateria e o tecladista George Williams. Kiss Of The Gypsy também foi um dos inúmeros conjuntos que lança somente um contagiante disco auto-intitulado e pára por aí...
Com um hard rock meio na linha de BON JOVI com menos teclados, um pouco mais pesado e cheio de otimismo e energia, o disco traz canções incríveis para o gênero. Tony é um compositor como poucos, além de ter uma voz meio rouca que realmente agrada em todas as dez faixas, possuindo um clima de muito alto-astral, ótimas guitarras com boa timbragem, vozes de fundo muito bem encaixadas, sem esquecer a atuação de Scott, que é um monstrinho na bateria.
São faixas de fácil assimilação e bastante melódicas, o que garante a simpatia logo de cara. Nas músicas mais pesadas a banda se sai muito bem, mas nas baladas, tão reconhecidas nesse gênero, a banda se torna previsível, mas mesmo assim tal fato não tira o brilho deste álbum.
Mesmo sendo um disco tão bacana e tendo boa cotação nas resenhas e muitos elogios para suas performances no palco, infelizmente o KISS Of The Gypsy rachou logo após a liberação do álbum. Tony e George tocam ainda juntos no Reino Unido na banda Cowboys and Angels, que fazem versões cover. Realmente um desperdício para esta banda desconhecida por aqui, mas que somente apareceu no momento errado.
WAR BABIES
War Babies
(1992 - Columbia)
Imaginem, em plena ascensão da onda grunge, uma banda de hard rock tradicional tentar tocar a carreira na própria cidade de Seattle. Pois é, foi o que esses caras do War Babies fizeram por um curto espaço de tempo. Formada em 89 por Tommy McMullin (guitarra) e Richard Stuverud (bateria), entrando no time depois Brad Sinsel (voz), Guy Lacey (guitarra) and Shawn Trotter (baixo). O pessoal foi tão dedicado que conseguiu colocar em seu primeiro e único registro convidados de peso como Paul Stanley (Kiss) e Benmonth Tench (tecladista do Tom Petty).
Seu disco homônimo sai em 92 e mostrava músicos que, apesar das tradicionais poses, tinham muito talento, tendo como principal foco de criação Tommy e Brad. Com guitarras distorcidas, cozinha competente e um vocalista experiente, dono de uma voz potente e relativamente melódica, fizeram bonito num álbum que tinha de tudo, desde músicas grudentas e ritmos festeiros como em “Hang Me Up” e “Death Valley of Love”, as quase heavy nas excelentes “Care (Man I Just Don't)” e “Sweetwater”, a sombria e sabbathica “Blue Tomorrow”, além da certeira faixa lenta “In The Wind” , que era semi-setentista e cheia de feeling.
Estavam empolgados em dar continuidade à sua música, mas, mesmo sendo de Seattle, onde a cultura musical estava em efervescência, a arte do War Babies era diferente do que estava rolando ao seu redor, e como tudo o que não está dentro dos padrões de consumo norte-americano, War Babies foi abandonado pela mídia. E como é a mídia é que faz a cabeça do consumidor modista, o grupo acabou sendo deixado de lado pelo seu público. Obviamente a banda se dissolve, e para sobreviver, Stuverud toca a vida gravando com diversos grupos de Seattle.
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