22 de outubro de 2011

VMB 2011: focando na comédia segregada e mutilando a música


Acreditem: foi um martírio manter os olhos abertos e assistir o talentoso MARCELO ADNET fazer piada de tudo – em uma velocidade impressionante – e confessar, de forma quase que objetiva, que músicano canal paulista, hoje, é apenas uma desculpa e que a “festa mais importante da música brasileira” transformou-se em um stand-up comedy de 2 horas.
A preocupação em consolidar os novos ídolos da molecada (este mesmo ADNET, RAFINHA BASTOS, RAFAEL CORTES, CARIOCA-PÂNICO) no âmbito humorístico, enterra de vez as chances de que a emissora em algum momento, realmente se preocupe em lançar novas tendências e seja mais democrática possível.
Quando CRIOLO vence várias categorias indicadas e faz um discurso político correto mas com uma feição antipática, não dá para crer nos herois ideológicos ‘por estação’, porque é mais ou menos assim que a emissora trata suas revelações: pelo canal, artistas novos serão “sempre” novos enquanto novidade. Depois disso são substituídos – sem cerimônia e degustação – por outras bandas e artistas iniciantes. Algumas vingam e outros continuam promessas.
Um evento deste porte só cria falsas ilusões em quem concorda com as indicações do canal. Parece que no momento a tendência é deixar o rock choroso e colorido de lado para se dedicar aos artistas do hip hop e do rap. Sem dúvida, uma pá de gente (especialmente de São Paulo) produz trabalhos interessantes e que merecem audições cuidadosas, mas fica difícil acreditar que não tem nada novo no mundo da MPB, do rock nacional e de outros estilos tão menosprezados pela emissora, além de Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Marcelo Jeneci.
Em um ano estelar para quem teve oportunidade de curtir Rock in Rio e ainda vai curtir SWU, a emissora perdeu uma ótima oportunidade de prestar tributo ao maldito estilo. Prefere venerar Caetano, que vive de passado há no mínimo 15 anos ou mesmo apostar na figura imponente e insossa de Malu Magalhães, ancorada por Marcelo Camelo, apostando em um estilo riponga e descolado mas sem a ingenuidade refrescante dos tempos de hermano.
E o que dizer de Marina Lima, que subiu ao palco para entoar um dos seus clássicos (“Prá Começar”) em um dos desempenhos que mais cabem na expressão cunhada pelos novos falantes; a tal da VERGONHA ALHEIA fez a festa antes da festa começar nos bastidores. Sem contar que Wanessa (assim, sem Camargo), ainda teve que ouvir o público gritar “Rafinha, Rafinha”, manter a pose e dar continuidade aos discursos de palco que lembram muito os feitos por mestres de cerimônias na entrega do Oscar…
…só que de Oscar o VMB não tem nada. Ver o “Tremendão” Erasmo Carlos subir ao palco, aparentemente debilitado, faz a gente pensar se convidá-lo para show deste tipo agrega algum valor a sua intensa e importante carreira ou vale apenas para o ex-parceiro de Roberto Carlos ir até o camarim e pedir seu whisky preferido…
Emicida – o queridinho da vez – tem talento mas sua retórica moralista fica tão embaçada mediante aquele público com olhar blasè, que perde toda a eficácia e legitimidade. Coragem é nem aparecer para premiação, mas, quando no seu curtíssimo curriculum vitae o músico já acumula função na potente Intel e é figura fácil nos eventos da playboyzada, é muito bom pensar antes de falar…
Enquanto isso, Marcelo, Bento Ribeiro, Dani Calabresa, Paulinho Serra e Tata Werneck se empenhavam em ser o que são: bons humoristas mas não sumidades. O deboche, o pastelão, a ironia e a presença de espírito, quando aplicadas em doses industriais na veia do telespectador pode causar efeitos colaterais impressionantes. Um deles é transformar gente talentosa em verdadeiros pagadores de mico, porque afinal de contas estão no lugar errado e na hora errada.
Até Marcelo (desse vez o D2) estava meio perdidão lá no meio dos habitantes do Rap. A ideia de trabalhar com vários palcos, ao mesmo tempo que traz dinâmica para um programa ao vivo configurou uma certa confusão… As atrações ficaram tão diluídas de tão misturadas que o lance de convidados juntos – de forma inusitada – não trouxe nenhuma resposta positiva, ao menos de quem estava lá.
O evento tem um caráter “party”, embora seja repercutido como um apontador de novas tendências. No entanto de tão ‘engraçado’ é chato e não deixa nenhuma vontade de assistir de novo. Agora o ano pode terminar em paz.
twitter: @aliterasom

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