27 de fevereiro de 2011

King of Limbs - Radiohead

Já disse, e repito: na realidade em que vivemos, para uma banda fazer não só eu e você, mas todo mundo – gente normal mesmo, que não compra mais discos e baixa tudo na internet -, parar e ir em uma loja comprar um CD original é preciso que ela seja muito grande. Imensa. Gigante. Como poucas. Desta lista fazem parte nomes como U2, Rolling Stones, Metallica e Iron Maiden para os fãs de heavy metal, e quem mais? A julgar pela comoção mundial em torno de "The King Of Limbs", o Radiohead também, é claro.



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"The King of Limbs", novo álbum do quinteto de Oxford, foi anunciado semana passada e pegou osfãs de surpresa, já que não havia comentário algum sobre a banda estar em estúdio. A expectativa entre os fãs e na crítica especializada chegou a níveis estratosféricos, com previsões já apontanto "The King of Limbs" como álbum do ano. Mas a coisa não é tão simples assim.
Como sempre, ouvir um disco do Radiohead continua sendo uma experiência sonora complexa. O novo álbum não foge disso. A audição de "The King of Limbs" é difícil, com faixas sem refrão e com estruturas diferentes daquilo que estamos acostumados. Talvez o charme de um trabalho do Radiohead esteja nisso mesmo, mas o fato é que não dá para entender "The King of Limbs" de saída. É um disco viajante, que leva o ouvinte para outra dimensão. Não é pop, não é rock, não é eletrônica, não é jazz, não é ambient, não é blues. É Radiohead, e tudo o que isso significa – tanto para bem, quanto para o mal.
“Bloom” tem um início esquisito, mas aos poucos o ar inóspito vai ficando para trás, revelando uma composição climática e perfeita para a abertura do álbum – e, muito provavelmente, também dos shows. “Morning Mr Magpie” é um loop hipnótico com boas linhas vocais, uma canção simpática que busca levar o ouvinte ao transe, mas precisa, indiscutivelmente, de sua cumplicidade para tal feito.
Instrumentos acústicos marcam “Little by Little”, em contraste com o clima eletrônico das duas primeiras faixas. Já “Feral” é uma instrumental com andamento quebrado e sons esquisitos, e que, muito provavelmente, funcionaria melhor como trilha, acompanhada de imagens, já que é uma composição muito mais sensitiva do que qualquer outra coisa.
“Lotus Flower”, o primeiro single, é a faixa mais audível de "The King of Limbs". Agrada de imediato, muito pela sua estrutura mais tradicional, ao contrário das outras, que vêm carregadas com a onipresente inovação e inquietação criativa do grupo. Linhas vocais grudentas de Thom Yorke sob uma base eletrônica resultam em um som agradável e reconfortante. Grande canção!
Um piano soturno inicia “Codex”, balada triste e climática. “Give Up the Ghost” é outra com sonoridade acústica, mas acaba passando a sensação de, literalmente, nunca acontecer para o ouvinte. O encerramento com “Separator” é outro bom momento de The King of Limbs, onde, mais uma vez, o uso de estruturas mais tradicionais torna a assimilação das ideias do grupo mais fácil para quem está do outro lado, tentando curtir o disco.
Dizem por aí que a versão disponibilizada pela banda para "The King of Limbs" seria, na verdade, apenas uma prévia do álbum, e que ele só estaria completo na versão dupla em LP que chegará às lojas em breve. Se for só isso mesmo, "The King of Limbs" é muito barulho por nada, já que suas oito canções – com exceção de “Lotus Flower” e “Separator” - ficam dando voltas ao redor do próprio rabo, revisitando conceitos já explorados pela banda anteriormente, e com a dose habitual de brilhantismo que nos acostumamos a ouvir.
Se for só isso mesmo – e tomara que o grupo nos surpreenda e revele mais material -, "The King of Limbs", ao invés do título de álbum do ano, é sério concorrente à decepção de 2011, infelizmente.
Faixas:
1 Bloom 5:14
2 Morning Mr Magpie 4:40
3 Little by Little 4:27
4 Feral 3:12
5 Lotus Flower 5:00
6 Codex 4:46
7 Give Up the Ghost 4:50
8 Separator 5:20
Fonte desta matéria: Collector's Room

Um comentário:

  1. "É um disco viajante, que leva o ouvinte para outra dimensão. Não é pop, não é rock, não é eletrônica, não é jazz, não é ambient, não é blues. É Radiohead, e tudo o que isso significa – tanto para bem, quanto para o mal."

    Sinceramente, isso aí que vc disse já faz do álbum um dos melhores do ano. Quem, na posição de banda que o Radiohead tem, tem coragem suficiente para mandar um álbum que na primeira audição deixa o ouvinte com uma baita interrogação no meio da cara? E a produção? É tão intrincada, não dá quase para identificar o que cada um faz em cada música! Refrões? Praticamente nenhum. Estilo? Qual? Não dá para descobrir quantas influências eles trazem, de tantas misturadas (até baião tem em Little By Little). Pois é, por isso que Radiohead é tão bom.

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