29 de junho de 2011

Of The Archaengel: artisticamente desafiador e prazeroso

O Of The Archaengel conseguiu surpreender ao debutar com o excelente “The Extraphysicallia", liberado pelo selo grego Sleaszy Rider. Seu Heavy Metal obscuro, pesadíssimo e repleto de detalhes certamente encontrará um leque bastante amplo em termos de público, e o Whiplash! conversou com o vocalista Alex Rodrigues, que deu uma geral na história da banda.



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Whiplash!: Olá pessoal. A história do Of The Archaengel está diretamente ligada ao Lethal Curse, que conseguiu boa repercussão com o álbum "Rape The Innocence" em 1997. O que motivou o término desta banda para dar início ao Of The Archaengel?
Alex Rodrigues: Sim, é verdade, e foi grande poder viver a cena dos 90. Lembramos com saudosismo de shows feitos ao lado de nomes como Sarcófago, Sextrash, Mystifier, Amen Corner e Anathema, que serviram como um valoroso aprendizado, já que as coisas naquela época eram completamente diferentes de hoje em dia. O que conseguimos aprender foi na raça e, como parte deste aprendizado, veio a convicção de que, se quiséssemos ter a pretensão de ser algo além de simplesmente uma versão genérica das bandas que curtíamos e nos inspiravam, precisávamos ter uma identidade distinguível a ponto de podermos somar algo tanto à cena nacional, como nas demais. E foi esse o objetivo que partimos para concretizar a partir de então.
Alex: No momento em que tivemos uma mudança de formação, escolhemos rebatizar o grupo (o que não foi uma escolha fácil de ser tomada) com o nome atual, Of The Archaengel, que é uma referência ao conceito ocultista da dualidade entre luz e sombras, sendo Arcanjo uma ‘patente hierárquica que pode ser atribuída igualmente a entidades superiores ou inferiores’.
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Whiplash!: O Of The Archaengel liberou em 2005 a demo “The Dante's Children Extravagance: Chapter Alpha”, e somente agora conseguiu marcar sua estréia com “The Extraphysicallia". Primeiramente, gostaria de parabenizá-los pelo álbum, fazia muito tempo que não escutava um produto brasileiro com tantas texturas e detalhes. E é isso o que gostaria de saber: até onde vocês se permitem inserir tantas informações em sua música?
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Alex: Obrigado. Realmente levamos um tempo grande desde a demo até o álbum, e isso se deve basicamente a duas coisas: a essa nossa ‘auto-reinvenção’ que era algo no qual não podíamos estipular um tempo de conclusão, até mesmo porque foi um processo artisticamente desafiador e prazeroso, e às questões de mercado mesmo, de conseguirmos viabilizar o nosso projeto de uma forma satisfatória, caso contrário muito do nosso esforço seria em vão.
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Alex: Quanto à questão das informações nas músicas, nada do que apresentamos está ali ‘solto por acaso’. Cada detalhe, cada ambiência, estão relacionados com o contexto que se desenvolve em cada uma das músicas no intuito de compor um cenário na imaginação do ouvinte.
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Alex: Trabalhamos em “The Extraphysicallia" numa abordagem similar à sonoplastia como parte desta idéia de soarmos à nossa maneira. Não somos a favor de usar um monte de instrumentos, efeitos, ou seja lá o que for -por mais legais que eles possam soar - apenas para ‘entulhar’ uma determinada música.
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Whiplash!: “The Extraphysicallia" capta e transmite toda a angústia do livro espírita "O Abismo", de R. A. Ranieri. A história é bem macabra... Quais as maiores dificuldades enfrentadas neste empreendimento?
Alex: Sempre gostei de usar estórias, ficção no geral, como temas para letras e a estética cinematográfica do álbum permitiu explorar algo nessa direção. No entanto, queríamos um ângulo novo para fazer isso e tentar fugir dos clichês do gênero. Se houve uma dificuldade, encontrar esse tema foi a maior. Creio que fomos bem sucedidos nisso, pois, independente da origem da estória, ela é tão sombria e perturbadora como uma obra de H.R Giger e ao mesmo tempo fantasticamente grandiosa como os contos épicos de Tolkien, para situar melhor o leitor desta entrevista.
Alex: Existe também um caráter transgressor nisso tudo, uma vez que nossas letras corrompem fortes padrões aceitos e difundidos na esfera do Heavy Metal, e por outro lado nossa música é considerada inapropriada e inferior para transmitir alguns temas que são comuns apenas em círculos esotéricos e espiritualistas, e que estão contidos nestas letras.
Whiplash!: Vocês conhecem o Rotting Christ há muito tempo, então me pareceu natural à participação de Sakis Tolis em "Water Flows Through The Slimy Walls". Essa composição é maravilhosa, com muitas orquestrações... Sakis teve liberdade para cantar como quisesse nessa faixa?
Alex: Excursionamos com eles em 98 e desde então estivemos mantendo o contato, pois há uma grande afinidade entre as bandas. Essa música recebeu uma atenção especial desde que a concebemos, e foi muito gratificante conferir o resultado final que obtivemos com ela, que, de longe, está entre as nossas preferidas no álbum.
Alex: A participação do Sakis, de certa maneira, está relacionada no contexto das letras, com ele representado um papel dentro da dualidade luz/sombras e foi extremamente gratificante para nós contarmos com a sua participação, que foi, sem dúvida, o ponto alto das gravações e que contribuiu muito para que esta música soasse tão poderosa. “Water” já tinha a linha vocal pronta, mas ele teve sim liberdade para contribuir à sua maneira, e o fez. Chegou a alterar algumas dinâmicas da linha original e também acrescentou diversas dobras...
Whiplash!: Vocês têm uma relação bastante estreita com a Grécia... Além de Sakis, o selo Sleaszy Rider Records é de lá, e vocês ainda contrataram os serviços do talentoso Seth Siro Anton para o projeto gráfico do disco. Como rolou a parceria com todo esse pessoal?
Alex: A mais pura obra do acaso! Simplesmente uma sucessão de coincidências! Sakis aceitou o convite em fazer a participação antes de termos um selo, depois quando fechamos o contrato, a gravadora também era da Grécia, e talvez por esta razão ela tenha nos indicado o Seth. A parte boa nisso é que se criou uma proximidade maior entre a banda e o país, pois temos tido uma boa divulgação por lá, o que possivelmente virá a contar positivamente no caso de uma turnê.
Whiplash!: O Of The Archaengel estava em uma situação delicada com a saída do vocalista Laurence Funes, e logo depois a Sleaszy Rider Records demonstrou interesse em lançar “The Extraphysicallia" na Europa. O que estava rolando com a banda nesse período?
Alex: Acho que acabamos sendo vítimas de nossa própria proposta. O Laurence decidiu que não era mais possível para ele continuar na banda e a gravação do álbum foi seu último trabalho conosco. Passamos a procurar por um substituto, e foi um período longo de testes, expectativas e frustrações, pois não encontrávamos alguém que segurasse as pontas nos diferentes extremos vocais que o repertório exigia, o que deixou as atividades da banda praticamente congeladas.
Alex: Chegamos a um ponto onde, se passássemos mais tempo a procura de um membro, iríamos comprometer o lançamento do CD e foi neste período, impulsionado pelo fato de eu ser o responsável pela parte lírica da banda, que passamos a considerar a possibilidade de eu assumir o posto, o que foi o meu maior desafio musical desde que comecei a me envolver com música, pois sempre fui um guitarrista.
Whiplash!: Pois bem, o guitarrista finlandês Timo Kaarkoski também saiu, e as perspectivas para a banda eram boas, pois “The Extraphysicallia" estava alcançando território europeu. O que aconteceu, afinal?
Alex: O Timo continua sendo um grande amigo nosso e, inclusive, ele foi a pessoa que nos apresentou ao Kleber Fabianni, nosso atual guitarrista e que está conosco desde 2009. O que aconteceu é que sempre vimos com bons olhos termos membros com backgrounds musicais diferentes, é assim que basicamente é composta a nossa formação.
Alex: Pela grande afinidade pessoal que tivemos, resolvemos testar como as coisas rolariam já que estávamos em um período de adaptação também das vozes... Enfim, passado o tempo, ambos os lados perceberam que ‘algo não estava no lugar’ mesmo não tendo conversado isso de forma assim formal. As coisas aconteceram de forma natural e tomamos a decisão em conjunto.
Whiplash!: Alex, quando abriram para o Opeth houve certa polêmica. As discussões se estenderam a fóruns de Internet e ainda ao show do Katatonia. Gostaria de expor algo sobre isso?
Alex: Não sei se tenho muito a acrescentar neste tipo de assunto, pois todos sabem que no Brasil, desde sempre, o Heavy Metal sofre com seu próprio fã. O crítico mais cruel do Heavy Metal é o próprio fã de metal e também tem o ditado ‘Santo de casa não faz milagres’.
Alex: Em virtude disso, não podemos considerar nada que alguém possa falar da banda como algo muito pessoal, ainda mais se levando em conta as circunstâncias dos shows que realizamos. Tocamos ao lado de grandes nomes como Paradise Lost, Opeth, Dark Tranquillity e Katatonia, e foram eventos bastante expressivos. Em muitos deles, por ser a primeira vez que algumas destas bandas se apresentavam no país, as pessoas estavam envolvidas num clima de muita euforia e ansiedade, o que pode ter levado a algumas pessoas que tem uma relação, digamos, mais ‘passional’, a tomar este tipo de ação.
Alex: Acho um pouco de papo furado o que muitas bandas dizem de ‘não se importar’ com que o público diz. Nós realmente achamos importante perceber como as pessoas estão recebendo e como estão assimilando a banda, mas não nos cabe a responsabilidade de os fazerem entender a nossa proposta e tampouco de que elas conheçam os nossos 19 anos de história a ponto de entender algo referente a mérito ou não.
Alex: Também não podemos deixar de levar em conta que tocamos para públicos variando de 800 a 1200 pessoas e não dá para esperar que o retorno seja unanimemente positivo, na verdade nos agrada que não seja assim, pois para nós a busca da unanimidade é a busca da mediocridade. O Of the Archaengel é para todos, mas nem todos são para o Of the Archaengel. Temos isto de forma muito clara.
Whiplash!: Vocês acabaram de liberar o videoclipe de "Black Raven". Considerando todo o clima refinado e sufocante de “The Extraphysicallia", poderia dar mais detalhes acerca das idéias e gravação deste material?
Alex: Exatamente. Estamos felizes em termos este videoclipe disponível, era algo que nunca havíamos feito antes e gostamos muito do resultado. Ele é basicamente um clipe ao vivo apresentando a banda como ela é. As imagens foram capturadas durante a nossa apresentação com o Opeth em São Paulo.
Alex: Trabalhamos com o diretor de curtas-metragens Victor Hugo Borges, que conseguiu adicionar uma estética e estilo que nos agradou, além de conectar as imagens com a arte do álbum criando uma identidade. Aqui no Brasil não temos tanto campo para explorá-lo, mas já fomos informados pela gravadora que o clipe passou por uma triagem e será veiculado em programas no estilo ‘Headbangers Ball’ que continuam no ar na Europa, e para nós isso por si só já fez a iniciativa valer a pena! Convido o leitor para assistí-lo e deixar seus comentários!
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Whiplash!: Vocês têm em mãos um debut invejável, com um feedback positivo e muito trabalho pela frente... Quais os planos para o futuro?
Alex: Estamos um pouco ‘chapados’ com a maneira que alguns feedbacks estão chegando a nós. São resenhas bastante calorosas acerca do álbum, notas altas, o que é obviamente um retorno muitíssimo gratificante e nos traz aquele sentimento de que o esforço começa a ser recompensado.
Alex: É inegável o quanto é lisonjeiro receber comentários positivos de gente respeitada como o Mikael doOpeth, por exemplo, especialmente porque estes caras não teriam outra razão para falar bem do nosso trabalho. Também nos entusiasma notar que “The Extraphysicallia" está conseguindo agradar a ouvintes que não são exatamente fãs específicos do nosso gênero musical. Fãs de mente mais aberta de estilos mais brutais e também fãs de metal tradicional tem encontrado algo que lhes agrada no CD.
Alex: Quanto ao futuro, recentemente tivemos uma baixa no posto de baixista e estivemos cuidando de colocar as coisas nos eixos novamente. Agora, com a formação novamente estabilizada com a entrada de Daniel Rizzo, nos colocaremos novamente disponíveis para tocar aonde quer que se encontre alguém querendo nos ver!
Alex: Há muitos estados que nunca visitamos desde a nossa formação, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Brasília, onde em especial adoraríamos poder tocar. Promotores interessados, por favor, entrem em contato! Temos também dois covers gravados, sendo um deles “Beyond The Realms Of Death” do Judas Priest, onde conseguimos uma roupagem muito foda para a música e gostaríamos muito de poder aproveitá-las de alguma forma.
Alex: A divulgação do álbum ainda é recente, recebemos a orientação da gravadora para aguardarmos e avaliarmos onde o álbum receberá maior retorno, de modo que possamos tornar em algo real a nossa intenção e disponibilidade de excursionar fora do país, e principalmente funcional de verdade para a solidificação de nosso trabalho em outras paragens.
Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista desejando boa sorte ao Of The Archaengel. O espaço é de vocês para as considerações finais.
Alex: Muito obrigado a todos os leitores que leram a estas linhas até aqui, pelo seu tempo e interesse, e igualmente nossos agradecimentos a você, Ben e a equipe do Whiplash!, por nos conceder a oportunidade de responder a esta entrevista interessante e bem redigida.
Alex: Àqueles que ainda não nos conhecem, convido para ouvir alguns samplers de “The Extraphysicallia" que disponibilizamos em nossos canais oficiais, e também dizer que o álbum está disponível para aquisição na loja virtual King Dragon (www.kingdragon.com.br), com um sistema de compra 100% seguro e entregas para todo o país. Para quem está em São Paulo, também é possível encontrá-lo na loja Die Hard na Galeria do Rock, além de também via Internet. Saudações a todos e esperamos ver vocês por aí. “Always HORNS-UP!”

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