27 de março de 2011

Rock In Rio 2011: "Eu vou ficar em casa"


Internautas roqueiros demonstram indignação com a convocação de artistas do pop e da axé music para o set do Rock in Rio 2011, o que só ajuda a promover ainda mais o evento.
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Confesso que desde meu nascimento musical, por volta dos meus treze anos de idade, sempre tive curiosidade por bandas desconhecidas do grande público, algumas tão desconhecidas que não estariam aptas sequer para alcançar o status de underground. São bandas comprometidas acima de tudo com a liberdade artística e de expressão, que talvez jamais figurem entre os trending topics do momento. Acima do desejo por grana e fama, sua ânsia pela liberdade de poder fazer seu trabalho do jeito que bem entendem, de não dar limites à sua imaginação e espírito criativo, superam a vontade de agradar a quem quer que seja. Isso é a essência da rebeldia. Mas só no mundo ideal.
Porque no mundo real, muitas vezes abortamos nossos sonhos em nome de nossa própria sobrevivência. No momento em que se elege como opção de vida trabalhar na área artística, viver da arte significa viver para a arte. Mas isso se torna muito difícil e implica muitas renúncias, pois não raro temos que trocar o viver pelo sobreviver. E para sobreviver da arte, como para sobreviver de qualquer outra profissão, nem sempre podemos fazer o que queremos ou gostamos.
E talvez seja esta a razão que nos leve a achar injusto que tantas boas e talentosas bandas ainda estejam desconhecidas do grande público enquanto artistas já famosos, consagrados, milionários e que não fazem nada de novo ganhem cada vez mais espaço na mídia, inclusive nas ditas alternativas e formadoras de opinião.
Por falar em trending topics, eu estava justamente pesquisando no Twitter quais são os assuntos musicais mais comentados do momento, e me chamou a atenção o tópico “SHAKIRA e IVETE confirmadas no Rock in Rio causa revoltas em fâs do Rock” (sic). Mas não foi a grafia errada (coisa tão lamentavelmente normal na internet) da palavra “fãs” que despertou minha curiosidade, mas sim a constatação de que ainda sobrevive no espírito de muitos a chama essencial da rebeldia do rock’n’roll, mesmo após tantos ataques da onda do bom-mocismo que assola o mundo. Meu colega João Pedro Wapler, em excelente artigo publicado no site O Café, abordou o tema da influência cada vez maior do politicamente-correto na música e na arte em geral.
Em verdade, há muito tempo que o rock’n’roll virou um negócio, se é que não o foi desde o início. Mas o que antes era, de certa forma, mascarado, hoje é escancarado. O primeiro contato das crianças com o rock é através do videogame, orquestras sinfônicas se apresentam com bandas de rock, existe até curso universitário voltado ao estudo do rock. O rock virou ciência, virou objeto de teses acadêmicas, virou música erudita lato sensu. O fato de o rock apresentar variações que consistem em mesclas com vários outros estilos, alguns deles se constituindo em misturas inimagináveis para os puristas (samba-rock, funk-rock, sertanejo universitário) é apenas conseqüência inevitável de sua popularização. A propósito, o rock’n’roll em si já é uma subdivisão de outro estilo, no caso, o blues, como já expliquei em um artigo anterior.
Isso não impede que algumas almas roqueiras, imbuídas pelo espírito de seu princípio norteador, que é a rebeldia (palavra que aliás poderia ser seu sinônimo) volta e meia demonstrem sua indignação com fatos como a inclusão de artistas como SHAKIRA, IVETE SANGALO, RIHANNA e CLAUDIA LEITE no line up de um festival dito de rock (confira aqui a lista dos shows já confirmados). Vale lembrar que, paradoxalmente, os artistas pop de prestígio sempre foram muito bem recebidos nas edições do festival, e que contraditoriamente a maior vítima do radicalismo em uma edição do Rock in Rio foi justamente um roqueiro. LOBÃO, na edição de 1991, interrompeu aos seis minutos seu show na chamada “noite do metal”, por conta da resposta “pouco receptiva do público, mas antes de se retirar, respondeu à altura, como vemos neste trecho da impagável entrevista concedida à Zé do Caixão.
Intolerâncias e preconceitos à parte, mesmo para as mentes mais abertas causa estranheza que um festival que conta com a participação de MILTON NASCIMENTO, BEBEL GILBERTO e LEO GANDELMAN seja chamado de Rock in Rio, da mesma maneira que não haveria qualquer necessidade de utilizar este nome em suas edições em Lisboa e Madri. Acontece que quando o festival teve sua primeira edição, em 1985, as guitarras ainda predominavam em importância e influência sobre os instrumentos eletrônicos na música pop. A repercussão do festival foi tamanha que ele não só ampliou o âmbito estilístico como também se internacionalizou. O que era apenas um nome virou marca e símbolo, que carregam, além do valor histórico, o valor comercial, fato que não pode ser desprezado. O Rock in Rio é um festival não de rock, mas de música e também de debate, o que se demonstra pelo projeto social “Por Um Mundo Melhor.”
Quanto às atrações que ora causam indignação, SHAKIRA e IVETE SANGALO, vale referir que a musa colombiana fechou com chave de ouro o show de abertura da Copa do Mundo na África, ano passado, sendo que a música tema do evento, quase um ano depois de seu encerramento, ainda toca nas rádios incessantemente. Já a rainha do axé brasileiro há cerca de cinco anos vem se firmando como a principal atração de outro festival supostamente roqueiro, o Planeta Atlântida, sendo recordista de público. Portanto, creio não só que os empresários estão felizes com a contratação destas duas artistas como também certos do excelente negócio que fizeram. Desta forma, tenho que os berros indignados dos rebeldes roqueiros pouco efeito vão surtir, a não ser no sentido de promover ainda mais o evento. Afinal a vida é assim, e nem sempre é justa. Mas quem disse que era?
Matéria original: O Café

2 comentários:

  1. Acho que quem gosta de rock não pode esquecer que lá nos idos dos anos 70 um festival notoriamente dedicado ao jazz é que abriu as portas para imponentes nomes do hard-rock e blues-rock como Deep Purple, Frank Zappa e Rory Gallaguer, que foi o Festival de Montreux, lá na Suiça, organizado pelo Claude Nobs. Então acho que, apesar de particularmente achar contra, faz sentido essa abertura que o Rock In Rio está proporcionando a outros ritmos. Se o festival está perdendo sua verdadeira identidade, paciência. Fiquemos em casa e deixemos outras pessoas aproveitar essa oportunidade.

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  2. Concordo com vc Rafael...eu tb sou contra...mas não nego vou assistir a tds os shows possíveis qdo estiver lá...aliás pra quem não sabe...muitas das músicas pop...das cantoras que misturam eletronico com hipo-hop entre outras...quase td veio de batidas tiradas de músicas de rock...muitos Dj's admitem e muitos negam...mas suas mixagens e td mais...vem em sua maioria de bandas de rock da decada de 60,70 e 80...e outra é normal que um festival desse tamanho de abertura a outros sons...mas eu gostaria que tivesse mais abertura para bandas novas brasileiras...e que tem muitas mesmo...não não falo ed Restart e sua familia(nd contra)...digo de bandas com outros sons...Black Drawing Chalks, Pullovers, Cérebro Eletrônico, entre outras q naum me lembro agora...mas é isso ai...quem naum quer fique em casa...eu vou ver.Gun's,Stone Sour, Slipknot, Angra, Sepultura,e tds os outros...

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