17 de janeiro de 2011

Suicide













Um duo bizarro e que nasceu junto com a cena punk: esse é o Suicide, uma banda de carreira tumultuada, com várias idas e vindas e que (surpresa!) estão de volta. Formado por Alan Vega e Martin Rev, o Suicide influenciou Cabaret Voltaire, Soft Cell, The Cars e até Bruce Springsteen!



Informação geral
OrigemNova IorqueNova Iorque
País Estados Unidos
GênerosNo WaveArt punkArt rockMúsica eletrônicaMúsica industrial,Synthpunk
Período em atividade1971 - Presente
Integrantes
Alan Vega - Martin Rev




Alan VegaEles são duas figuras lendárias da cena nova-iorquina, amigos de longa data de Iggy Pop (fase Stooges), Patti Smith, MC5, etc... e também os fundadores de uma banda habitué do clube CBGB, que abrigou todos os grupos ou músicos que começaram na cidade, durante os anos 70: Ramones, Television, Talking Heads, Blondie, Patti Smith, entre outros.
A idéia de formar um grupo não surgiu imediatamente. Tudo começou com Alan Vega, um jovem nascido no bairro do Brooklyn, em 1948. Vega era considerado um jovem excêntrico, um escultor que fazia figuras com luzes e que não sentia conexão alguma com o rock progressivo ou hard que os grupos mais famosos na virada dos anos 60 para os 70 faziam. Ele gostava da cena local, dos poetas desconhecidos (e entre eles, havia uma moça talentosa chamada Patti Smith), da vida imunda e doente retratadas nas letras do Velvet Underground. Alan era um típico garoto de Nova York e que amava a vida cosmopolita da cidade. Tinha uma certa notoriedade como artista, chegando a montar uma pequena galeria em Manhattan, batizada de “Project of Living Artists”.
Martin Rev e Alan VegaMais do que uma galeria de arte, o Project deu apoios às inúmeras bandas locais que começavam a pipocar na cidade. Três delas marcariam de forma crucial o cenário musical: Television, Blondie e o New York Dolls. E foi num desses shows, que Vega conheceu um músico que participava de um grupo de jazz experimental com 15 integrantes: Martin Rev. Ele tocava no Reverend B. e era o tecladista, usando um teclado Farfisa barato e uma bateria eletrônica bem vagabunda. Vega gostou do som totalmente maluco da banda e logo ficaram amigos.
Junto com Martin, Alan começou a conceber um projeto musical diferente e radical até mesmo para Nova York, em 1971: fazer uma música agressiva, minimalista, usando uma base de sons repetidos tirados dos teclados de Martin, enquanto Alan emitia sons esquisitos em um microfone: berrados, rosnados, mas com influência dos cantores dos anos 50, em especial Eddie Cochran. O nome de tudo isso? Suicide. Eles contam que tiveram a idéia de dar esse nome após irem em uma festa da pesada e ao verem os presentes bebendo, se drogando e fornicando, berraram “suicídio!”, já que a vida dos presentes parecia um convite a tal proposta. Assim, nascia o Suicide.
O Suicide em uma das primeiras apresentações no CBGB, em 1977Alan e Martin começaram a tocar em vários clubes da cidade e, como não poderia deixar de ser, deixaram sua marca no CBGB. O visual, misturando o futurismo com o lixo moderno e a postura selvagem de Alan, acrescido dos sons estranhos de Martin, fazia do grupo uma experiência única. O CBGB parecia ser um dos poucos palcos onde o Suicide podia ser sentir em casa e várias vezes dividiram a noite com os Ramones, de quem eram bons amigos. E das duas, com certeza, o Suicide era a mais radical. Aliás, em materia de radicalismo, ninguém chegava perto do duo.
Apesar de não terem nenhuma similaridade sonora com o punk (o conceito deles mais parecia um som feito pelos integrantes do Kraftwerk sofrendo de abstinência química), o Suicide se espelhou e adotou os conceitos do estilo: não era preciso saber cantar e tocar para subir a um palco; bastava apenas ter um recado a passar. Vega mostrava que sabia atiçar o público, berrando, confrontando os presentes e invariavelmente acabava sendo agredido ou xingado. Nada mais punk. As performances do grupo eram perigosas..
capa do disco SuicideE quando já tinham uma reputação razoável resolveram gravar um disco. Em 1977 lançam o primeiro álbum, batizado apenas de Suicide. Com uma capa simples, a dupla conseguiu nas sete faixas do primeiro lançamento capturar uma violência e um niilismo que fariam os Sex Pistols e os Ramones parecem um grupo de freiras. O casamento entre a eletrônica com rockabilly e punk era algo único, como se Eddie Cochran cantasse tendo o Kraftwerk como banda de apoio, algo que os grupos de hoje dariam os dois braços para terem criado. As letras eram pesadas, críticas, ácidas. “Frankie Teardrop” conta a história de um sobrevivente do Vietnã e a canção deixou Bruce Springsteen alucinado. “Ghost Rider” foi cantada por vários fãs famosos: Soft Cell, R.E.M., Sisters of Mercy e Sigue Sigue Sputnik.
“Suicide sempre falou da vida. Mas não podíamos chamar o grupo de Life. Então, resolvemos chamar a banda como esse nome para darmos valor à vida”, disse Alan Vega. Uma das melhores críticas do primeiro disco foi escrita por Roy Trakin. Diz o texto: “O Suicide não é sobre alienação, mas sobre esperança. Eles não são monstros robóticos tentando viver em um mundo altamente civilizado e culto. O Suicide irá sobreviver em cada tendência porque eles são reais - únicos e experimentais, e ainda totalmente acessíveis e em conexão com a tradição do rock and roll. Suicide é Alan Vega - sua vulnerabilidade e seu olhar pessmista/otimista e é a máscara estóica de Martin Rev, escondendo um senso de humor e humildade que são inspiradores e de cortar o coração."
cartaz de show do Clash e SuicideO disco atraiu um público razoável na Europa e foram convidados a tocarem lá em 1978, abrindo shows para o Clash. O público ficou totalmente alucinado com o que via e ouvia. A massa sonora cantada/berrada por Alan e os sons estranhos e horripilantes do teclado de Martin deixaram os punks alucinados e irritados. Tamanha demência e caos acabou sendo imortalizado em um dos mais insólitos lançamentos da história da indústria fonográfica: 23 Minutes in Brussels, é um disco ao vivo que mostra a raiva do público belga, que roubou o microfone de Alan e ficou dizendo todos os impropérios possíveis e imaginários para a dupla. E tamanha bizarrice virou disco.
Mas tamanha afronta acabou trazendo para o grupo um importante nome: Ric Ocasek. Líder dos Cars, excelente banda new wave, Ocasek era um fã apaixonado do som do grupo e tinha como grande sonho produzir o Suicide. Em 1979, conseguiu convencer a dupla a entrar em estúdio para novos trabalhos. O primeiro deles foi o compacto Dream Baby Dream, que se tornou um clássico da banda.
capa do disco Alan Vega – Martin RevMas Ocasek queria mais. Queria produzir um LP e no ano seguinte é editado Alan Vega – Martin Rev, que em 2000 foi editado com o nome The Second Album – The First Rehearsal Tapes.
O segundo disco conseguiu um sucesso bem maior do que a própria estréia, embora tenha sido um pesadelo gravá-lo. Produzido no Power Station Studios em janeiro de 1980, o disco foi lançado em março e marca a primeira separação da dupla, após inúmeras brigas.
No mesmo ano em que se separaram, tanto Alan quanto Martin debutaram em carreiras solos. Alan lançou Jukebox Babe, enquanto Martin lançou um disco que levava apenas seu nome. Dos dois, era o vocalista que tinha uma vida mais agitada musicalmente falando, lançando bons álbuns com regularidade e trabalhando em vários projetos e frentes. Ainda assim, o grupo se reunida para shows. Em 1981, foi editada em fita cassete, um show chamado Half Alive, com metade das músicas sendo músicas gravadas em estúdio durante os anos de 1975 a 1979. As notas da fita eram assinadas pelo editor da Creem Magazine, Lester Bangs.

capa do relançamento de Ghost Riders, em 1996, em CDDurante o restante da década de 80, Alan concentrou-se em sua carreira, e participou do projeto Sisterhood, liderado por Andrew Eldritch, dos Sisters of Mercy, e que resultou no disco The Gift, em 1986. Nesse mesmo ano, é lançado outra fita cassete: Ghost Riders, contendo seis músicas gravadas no Walker Art Center, no dia 19 de setembro de 1981, em Minneapolis, data em que o Suicide comemorava 10 anos de carreira.

A influência da banda era enorme e não se resumia apenas aos grupos da vanguarda eletrônica como os ingleses Cabaret Voltaire ou Soft Cell. Várias bandas de dance music, de hip hop, rap e da cena industrial pagavam tributo ao duo.

Sabendo de tudo isso, o grupo retorna em 1988 com um novo disco, o primeiro em oito anos: Way Of Life. Produzido mais uma vez por Ric Ocasek e desta vez no lendário estúdio de Jimi Hendrix, o Electric Lady, a volta foi bem mais calma e acessível. O grupo havia estabelecido que fariam um som mais perto do pop, mas sem cair de cabeça em tal estilo.

capa do disco Why Be BlueApós uma nova parada na carreira retornam em 1992 com um novo disco e novamente produzido pelo fiel escudeiro Ocasek. Why Be Blue foi gravado de uma maneira bem mais simples, no porão da casa de Ric e escrito de uma maneira mais autoral.
Martin explica sobre essas idas e vindas do grupo: "não é verdade que nós decidimos voltar, porque nunca nos separamos. Eu penso que apenas entre 1982 e 1985 é que não houve muita atividade para o Suicide, por alguma razão, e também porque não procuramos nada para fazer. Estávamos envolvidos com nossas carreiras solos e outros aspectos pessoais e profissionais. Em 1986 começamos a fazer alguns shows e descobrimos que havia um público crescente e interessado em nossa obra na Europa. E isso aconteceu novamente agora."
Mas apesar de considerar normal esses encontros e desencontros, o grupo só voltou a lançar um novo trabalho em 1997, com Zero Hour e em 1998, com o EP 22/1/98 Reinventing America. E após novo sumiço, em 2002 o grupo volta finalmente a dar as caras e, ao que parece, de maneira definitiva.
O disco American Supremes voltou a chamar a atenção de crítica e de antigos fãs. Sobre o título, "América Suprema", Martin fala que há uma ambigüidade: "a América é hoje um país muito hostil, não apenas para os imigrantes e estrangeiros, mas para nós mesmos. O Suicide teve grande problemas em tocar por todo país e nossa única saída era a Europa. Nós simplesmente não podíamos tocar em lugar nenhum dos Estados Unidos! Isso acabou fazendo com que tivéssemos de assinar com um selo da Inglaterra, a Mute, que tem nos ajudado bastante. O atentado de 11 de setembro conseguiu isolar os Estados Unidos ainda mais do mundo. Eu acho interessante que a minha geração ser a que hoje governa o país. Nós somos a geração dos anos 60, éramos hippies, mas hoje temos mais poder do que nunca com o fim da União Soviética e acho incrível que algumas pessoas que lutavam pela liberdade tenham se tornado tão conservadora e xenófobas. Essa Nova York é totalmente diferente da Nova York em que cresci e aprendi a amar. Eu espero que essa histeria toda diminua com o passar do tempo, mas acho que a tendência é aumentar, até porque hoje somos vistos como os grandes imperialistas do mundo, uma visão que é verdadeira. Mas a história mostra que os imperialistas sempre sofrem ameaças dos demais."
capa do disco Attempted: Live at Max's Kansas City 1980Em 2004 o grupo lançou Attempted: Live at Max's Kansas City 1980, gravado na célebre casa nova-iorquina e que junto ao CBGB, foi um dos locais mais importantes para a geração dos anos 70 se apresentarem.

O grupo ainda segue uma grande excursão mundial e seus admiradores e artistas que foram influenciados por ele são imensos. Não é necessário dizer que nada deles se encontra em catálogo no país. Uma boa opção para quem quiser adquirir algo, é comprar o primeiro disco, que traz, de bônus, o show de Bruxelas; ou ainda The Second Album – The First Rehearsal Tapes, lançado em 2000.



Discografia
Suicide (1977)
23 Minutes in Brussels (1978)
Dream Baby Dream (compacto, 1979)
Alan Vega - Martin Rev (1980)
Half Alive (1981)
Ghost Riders (cassete, 1986)
Way Of Life (1988)
Surrender (compacto, 1988)
Why Be Blue (1992)
Ghost Riders (edição em cd da fita cassete, 1996)
Zero Hour (1997)
22/1/98 Reinventing America (EP, 1998)
The Second Album – The First Rehearsal Tapes (2000)
American Supremes (2002)
Attempted: Live at Max's Kansas City 1980 (2004)
Discografia solo de Alan Vega
Jukebox Babe (1980)
Collision Drive (1981)
Outlaw / Magdalena 84 (EP, 1982)
Saturn Strip (1983)
Just A Million Dreams (1985)
VEGA (reunião dos dois primeiros discos, 1989)
Deuce Avenue (1990)
Power On To Zero Hour (1991)
New Raceion (1993)
Dujang Prang (1995)
2007 (1999)
Discografia solo de Martin Rev
Martin Rev (1980)
Clouds of Glory (1985)
Cheyenne (1991)
See Me Ridin’ (1996)
Marvel (coletânea com seis faixas do primeiro disco e mais duas gravadas em 1991, 1997)
Strangeworld (2000)
To Live (2003)







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