30 de novembro de 2010

As Diversas Sessões de Jimmy Page - Prólogo

Na Inglaterra, o rock só ganhou respeitabilidade internacional a partir do surgimento dos Beatles no ano de 1963. Em Londres surgiram três guitarristas que são considerados até hoje os mais representativos e imitados das décadas de sessenta e setenta, exceção feita ao americano Jimi Hendrix, que por sinal foi primeiro apreciado em Londres e depois exportado de volta para a América. Estes três ingleses são Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Dos três, sem sombra de dúvida, o mais eclético e prolífico é Jimmy Page.



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No início da década de sessenta na Inglaterra praticamente só haviam dois guitarristas profissionais de confiança para cuidar de rock 'n' roll. Eram eles 'Big' Jim Sullivan e 'Little' Jim Page. Algumas estatísticas dão uma estimativa de que os dois dividiram entre si entre 60% e 90% de tudo que foi produzido pelos estúdios londrinos entre 1963 e 66. Creio que estas estimativas estejam exageradas, no entanto, são facilitados pelo fato de não haverem registros bem documentados sobre as participações de quais músicos em quais sessões.
O público, em última análise, deveria acreditar que os músicos da banda em questão, aqueles que aparecem na capa do disco, são os que se ouvem tocando. Dependendo muitas vezes exclusivamente da memória de técnicos e outros profissionais participantes das referidas sessões, o número de gravações em que Jimmy Page tenha participado é literalmente incontável, e nem ele mesmo sabe ao certo de todas.
Músicos de Estúdio
Através dos anos, em parte por causa da fama de Page, tem se procurando saber mais informação sobre esses músicos anônimos que efetivamente gravavam os discos de alguns de seus artístas prediletos, embora não aparecessem na capa ou nos créditos. Geralmente este trabalho era feito por músicos de jazz que viam no pop e no rock como um tipo de música inferior. Porém, em Londres no inicio da década de sessenta, surgia uma geração diferente, feita por músicos que idolatravam a música a partir de Elvis Presley.
De todos, certamente o mais valorizado e tido como o grande ás da guitarra elétrica é Jim Sullivan. Foi com Marty Wilde & The Wild Cats que ele surgiu em maio de 1959. Outros dois integrantes do The Wild Cats, que reverteriam suas carreiras para o trabalho de estúdio são Licorice Locking e Brian Bennett, respectivamente baixo e bateria.
John Paul Jones, 1967
John Paul Jones, 1967

Outros músicos que tiveram uma considerável carga de trabalho na década de sessenta são Clem Cattini, baterista da segunda e melhor formação do grupo Johnny Kidd & the Pirates, além de integrante do The Tornadoes; Bobby Graham, baterista do Joe Brown & the Bruvvers e com passagem tambem pelo The Outlaws; Nicky Hopkins, pianista original de Screaming Lord Sutch & The Savages mas que ficou mais conhecido durante sua fase na banda Cyril Davies & The All Stars. E pela janela, veio o baixista e aprendiz de arranjador John Paul Jones, que fez amizade com Mickie Most e acabou aprovado e utilizado por Most em um cem número de sessões a partir de 1964. Como adendo, tem também o guitarrista Ritchie Blackmore, integrante de outra formação dos Outlaws, que embora tenha sido o profissional menos requisitado desta lista, ainda assim teve sua cota de trabalho de estúdio.
Jimmy Page comentaria que dentro do esquema da época, quando se gravava uma banda que era de fato aproveitada para o disco, eles ainda assim teriam o costume de chamar um baterista e um guitarrista como garantia. Com certeza os titulares desta dupla de guitarra e bateria eram Jim Sullivan e Clam Cattini. Os outros dois mais requisitados eram Jimmy Page e Bobby Graham.
Produtores
Apesar de Jimmy Page ter trabalhando com vários produtores diferentes, existem quatro nomes que precisam ser destacados. O primeiro deles é Joe Meek, produtor e empresário que infelizmente faleceu cedo (1966) e acabou tornando-se uma pequena lenda da era do rock mais ingênuo. Meek foi um dos primeiros a sistematicamente optar pelos serviços do novato Jimmy Page. Em 1963 surgia na cena inglesa o americano Shel Talmy, que igualmente adotou Jimmy Page para uma boa parcela das sessões com o qual ele tenha sido envolvido. Depois temos Mickie Most, que de artísta se tornou um dos mais famosos empresário/produtor da década. Por último temos Andrew Loog Oldham que depois de deixar a Decca no verão de 1965, fundou a gravadora Immediate Records e conferiu para Jimmy Page o importante cargo de produtor artístico. Estas informações nos ajudam a rastrear várias de suas participações junto ao catalogo da Immediate. Contudo, Jimmy trabalhava também para vários outros produtores e artistas durante o mesmo período em que estava ligado a aquela gravadora.
A Segunda Metade da Década
A partir de junho de 1966, Jimmy Page iniciou o seu envolvimento como integrante do grupo The Yardbirds. Isto apenas o fez diminuir sua carga de trabalho como músico de estúdio, mas não a extinguiu. Como podem perceber, torna-se praticamente impossível determinar e mapear com certeza inquestionável todas as sessões com sua participação. O trabalho fica ainda mais hercúleo se incluirmos ao caldeirão suas participações em jingles comerciais e material muzak. Page, como todo bom profissional, nunca recusou um trabalho se o salário pago no final fosse bom. Méritos artísticos do produto gravado nunca foi uma preocupação sua. O que lhe interessava era apenas a qualidade de sua execução. E nisso, a fama de Jimmy Page era impecável, capaz de conseguir a versão perfeita logo no primeiro ou segundo 'take.'
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Embora a tendência tenha sido de sempre associa-lo com os solos de guitarra, na grande maioria dos casos Page está tocando apenas guitarra ou violão rítmico. Em seu primeiro ano de carreira, Little Jim Page aprendeu muito com Big Jim Sullivan, quem realmente solava na maioria dos discos produzidos na Inglaterra durante a década de sessenta. Foi Sullivan também quem ensinou Page a ler partitura, uma necessidade para a profissão no qual Page era visivelmente fraco, porém compensava com muita técnica e intuição em suas escolhas de notas. Em alguns casos Page estaria tocando o baixo elétrico ou a gaita de boca. Em outros, ele é responsável apenas pela produção da sessão, sem participar como músico. Evidentemente existem também as faixas onde Jimmy Page está realmente cuidando dos solos.
Por falta de registros exatos, podem haver músicas constando nesta lista onde a participação de Jimmy Page se limita aos arranjos ou à produção sem este fato ser apontado no texto. Álbuns serão mencionados em itálico. Esta lista de maneira alguma tem a pretensão de ser considerada completa. Se você tiver informações complementares sobre alguma participação de Jimmy Page em uma gravação de estúdio que não consta nesta lista, por favor escreva paracreedance@whiplash.net. No email, deve constar o nome do artísta e o nome da musica. Informações adicionais (como mês, ano, álbum, etc.) serão bem vindos.
O Começo
Bem, se é impossível saber ao certo todas as sessões em que Page tenha participado, mais impossível ainda seria poder informá-las em ordem. Versões variam sutilmente mas basicamente Jimmy Page tocava desde 1959 em uma banda de seu bairro em Epsom, com aparições regulares no Epsom Dance Hall, geralmente abrindo para a banda principal da noite. Parece que foi a namorada de Christopher Tidmarsh, então motorista de uma banda chamado Red E. Lewis Rock 'n' Roll Band, que lhe falou deste menino na guitarra que seria inacreditável.
Christopher foi vê-lo e após o seu set, que naquela noite abria para Johnny Kidd & the Pirates, chamou o então menino de apenas 15 anos de idade para excursionar pelo o país como guitarrista do Red E. Lewis Rock 'n' Roll Band. Depois de receber o consentimento dos pais, Page começa sua carreira profissional excursionando por boa parte da Inglaterra em uma van com a banda. Em determinado momento o vocalista Red E. Lewis foi demitido e Christopher Tidmarsh assume o posto, agora utilizando o nome artístico Neil Christian.
A banda igualmente mudou de nome, nascendo assim Neil Christian & the Crusaders. Jimmy Page no final de 1960, desnutrido e com febre glandular, desiste da vida de músico e passa dois anos estudando desenho em Art College. No entanto, Page durante este tempo transforma a sala de estar de sua casa em um pequeno estúdio de ensaio onde aos domingos, vários amigos aparecem para tocar com ele. Entre esses, Jeff Beck e Glyn Johns. Depois, em 1962, passaria a frequentar o Marquee Club nas noites que apresentava Cyril Davies & His All Stars. Entre sets, Jimmy Page e três outros garotos se juntavam e tocavam. Mais tarde, Jeff Beck tambem iria passar a participar destes encontros informais. Cyril Davies então convida Jimmy Page a entrar em sua banda mas temendo voltar a adoecer, Page recusa.

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