On The Road possivelmente é um dos livros mais comentados e menos lidos da história. Com sua escrita automática, alimentada por rolos de papel contínuo na máquina e muita benzedrina na cabeça, Jack Kerouac foi o principal personagem da beat generation, exemplo maior de um modo de vida que revolucionou os costumes em sua relação com os meios de comunicação.
Antes que alguns gritem: É plágio! É plágio! Vou logo avisando: calma, gente, é homenagem. On The Road possivelmente é um dos livros mais comentados e menos lidos da história. Com sua escrita automática, alimentada por rolos de papel contínuo na máquina e muita benzedrina na cabeça, Jack Kerouac foi o principal personagem da beat generation, exemplo maior de um modo de vida que revolucionou os costumes em sua relação com os meios de comunicação. Que após o episódio beat passaram a idealizar e divulgar toda forma de vagabundagem romântica e transgressora, preparando o terreno pro drop out dos hippies e todas as suas conseqüências. Pois é, o espírito da coisa era esse mesmo, como se fosse um solo de be bop, Kerouac escreveu de uma penada só, batendo alucinadamente, sem corrigir e sem voltar atrás todo o livro que escorria pelo chão no formulário continuo, levando a bicha invejosa, Truman Capote, a afirmar em histórica entrevista: "Isto não é literatura é datilografia".
Lançado no meio dos anos 50, On The Road foi escrito em três semanas na mais autêntica prosa espontânea beat e narra as desventuras de uma viajem alucinada através e ao redor da América no meio de muito jazz e disponibilidade pra levar a vida ao sabor dos ventos dominantes ou nem tanto. O boom publicitário de tudo isso foi enorme e tanto Kerouac quanto seus companheiros de aventura Allen Ginsberg e William Burroughs (a santíssima trindade beatnik) passaram à condição de fazedores de cabeça globais influenciando muito mais gente e atitudes que possamos suspeitar. Junto com Howl de Ginsberg e Naked Lunch de Burroughs este livro foi um dos três pilares onde se sedimentou um caldo de cultura que gerou coisas como John Lennon, Jim Morrison e muito do pensamento libertário e porra louca do rock dos anos 60.
Projeto pessoal e de vida de um dos artistas mais paranóicos e perfeccionistas da história do rock o King Crimson e seu líder Robert Fripp estavam de roupa nova e com o som totalmente reformulado no início dos anos 80. Com o auxílio luxuoso da guitarra do ex Talking Head Adrian Belew, do baixo de Tony Levin e do antigo membro Bill Bruford na bateria lançou o segundo disco desta nova fase com o sintomático titulo de Beat, uma escancarada homenagem a beat generation e toda sua mitologia. Sei que a afirmação é altamente polêmica, mas classifico este disco e o anterior Discipline como uma renovação no ar bolorento que vivia o rock dito progressivo na época, uma saída altamente criativa ao beco em que se encurralara o gênero. A primeira música começa logo com Belew desfiando todo um rosário de súplicas nostálgicas falando de Paris, Sartoris, subterrâneos e roupas pretas e de Neal (Cassady) e Jack (Kerouac) e tem na instrumental Sartori in Tangier o ápice com as guitarras de Fripp e Belew fazendo simplesmente o diabo acompanhadas pela melhor cozinha progressiva de todos os tempos.
O King Crimson seguiu em frente, sempre se renovando, e dos grupos desta época talvez seja o único que não vive do culto a um passado remoto e repetitivo onde as bandas sobrevivem tocando seus clássicos para uma platéia de meia idade que compra os relançamentos e novidades requentadas imóvel em suas confortáveis lembranças de um tempo louco que há muito já passou. Mesmo assim estes dois discos e principalmente Beat foi o auge desta nova fase criativa, onde a proposta de autenticidade de propósitos e ruptura com a repetição do passado se fizeram presente.
O que é um sartori? Na tradição Zen Budista o Sartori é um momento de iluminação instantânea quando atingimos um estado em que num só segundo temos a intuição de todo o universo.Simplificando ao extremo: Seria como se uma criança que houvesse vivido desde que nasceu em um quarto escuro tivesse, por acaso, achado o interruptor e em um segundo vislumbrasse todos os detalhes deste quarto num só momento.
O que é e onde fica Tanger? Na pontinha mediterrânea do Marrocos, quase Espanha.Tanger sempre foi um lugar de aventureiros, devassos, local onde toda sorte de outsiders sempre aportou.André Gide morou um bom tempo por lá assim como Paul Bowles, William Burroughs e era o local preferido de férias de todos os beats.Um local mágico, ensolarado, com um marzão azul onde o haxixe e o nudismo são altamente tolerados.
A música é instrumental, mas dá para entender o sentido?
Uma historinha beat:
William Burroughs, herdeiro de uma família milionária (Burroughs Computers) só começou a escrever depois dos quarenta. Antes disso teve toda a sorte de empregos e vícios que a imaginação pode conceber. Os empregos ele largou pelo caminho, o resto ele trouxe até o fim da vida quando foi considerado um dos escritores americanos mais importantes. Uma verdadeira lenda viva underground, amigo intimo de gente como Lou Reed, Pattie Smith, Laurie Anderson e muitos outros mais. De alguns de seus livros saíram termos e nomes de bandas que dizemos no dia a dia sem suspeitar da origem: Heavy Metal, Steely Dan, Soft Machine etc....
Certa vez, completamente chapado, resolveu brincar de Guilherme Tell com a mulher. Botou a maçãzinha pegou o três oitão e pimba, mandou bala antes que ela pudesse dizer: É mais pra cima Bill!
No mais é ouvir este disco, se possível lendo alguns destes livros e seguir o lema deixado por AllenGinsberg: "Soltem as fechaduras das portas! Soltem também as portas de seus batentes".
Por Cláudio Vigo
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