Passados os dois dias de festival, a missão teve seu curso desviado. Simplesmente porque não foi encontrado o que se buscava. De picareta nas costas e esperança no coração, fui à montanha do Porão do Rock em busca de ouro, e a única coisa que garimpei foi água e lama. Havia boas bandas? Sim, claro, mesmo que a qualidade do som estivesse ruim para um festival desse porte. Havia vários estilos? Sim, incluindo um artista de choro local! Mas nada de novo, nada de fresco, nada que não se ouça todos os dias. Simples Assim.
Entre o palco interno e os demais havia um vácuo. Um buraco locupletado por um público visivelmente desinteressado em ouvir o que se tocava. De um lado, uma profusão de bandas de Indie Rock exatamente iguais umas às outras, com uma menininha bonitinha nos vocais, uma batidinha com um quê de eletrônica, e uma guitarra com um timbre “antigo”. Do outro, uma profusão de bandas de Hardcore/Metal exatamente iguais umas às outras, com um macho feio vomitando os vocais, uma batida “chacuchacuchacu” em alta velocidade e riffs de guitarra pesados, incompreensíveis e iguais. Uma ou outra banda ia para outro lado, mas sem preencher o vácuo. A animação dos shows, excluindo-se, claro, os artistas mais renomados, era proporcional à roda punk. Alguns nem foram aplaudidos, tão disperso estava o público. É o público de Brasília que é desanimado? Não foi o que se viu no concerto dos Raimundos. É muito fácil para um artista dizer que aqui no DF-Brasil-América Latina não se valoriza uma banda como lá longe, onde os gramados são mais verdes e as velhinhas, metaleiras. Mas o público não é o foco principal deste texto. Nem o sistema de som, nem o esquema de segurança do festival. A música em si está fraca, não há sentido de propulsão ao futuro naquele rock ouvido durante o porão. Existem releituras de estilos e abordagens que já fizeram história, ou o extremismo daquilo que já era suficientemente extremo. Entre o HC/Metal e o Indie Rock/Pop Rock há um vazio no meio do Porão.
E a responsabilidade é dos artistas. Sim, pois o público é e sempre será um agente impulsivo, por vezes pouco fiel, suscetível a modismos e descontinuidades. A fidelidade decorre do que o artista está fazendo no palco, no estúdio, em sua masmorra compositiva. As bandas estão afundadas em conceitos desgastados, estão tocando como ouvintes, não como músicos. Eles ainda estão lá, no sagrado palco do Porão, mas, na minha humilde opinião, é dali para baixo nos próximos anos.
Há um buraco não só no meio do Porão, mas no meio do Rock.
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