18 de abril de 2011

Sepultura (Virada Cultural, São Paulo, 17/04/11)

Por Sérgio Fernandes

Desde que as atrações da 7ª edição da Virada Cultural de São Paulo foram anunciadas, um dos shows que gerou mais curiosidade entre os amantes do rock foi a participação da lendária banda Sepultura no espetáculo da Orquestra Experimental do repertório. Sim, é importante notar que o Sepultura foi um convidado, e não a atração principal...


Com isso em mente, não é de se espantar o repertório relativamente curto, com apenas 9 músicas (sendo que uma delas, no caso a clássica “Refuse/Resist” foi tocada duas vezes).
Com um atraso de cerca de 20 minutos, a orquestracomeçou o show com uma versão de “Die Meistersinger von Nümberg” de Richard Wagner. Uma parte do público mostrou certa impaciência com a versão, de cerca de 10 minutos, da obra do compositor alemão e começou a jogar algumas das cadeiras de plásticos que estavam dispostas nas laterais da “pista” contra o palco.
Confusões a parte, logo depois o maestro vem à frente do palco saudar o público e anunciar a execução de “Valtio”, do álbum Nation, em homenagem a Andreas Kisser. Mesmo essa sendo uma canção do próprioSepultura, os ânimos de alguns “metaleiros” ainda não foram acalmados, e o festival de imbecilidade continuava com vaias, xingamentos direcionados à orquestra e ao maestro regente da noite, Jamil Maluf.
Após duas primeiras músicas do evento (que foram belissimamente executadas pela orquestra, diga-se de passagem...) entram em cena os integrantes do Sepultura, à exceção de Derrick Green. Ao entrar, Andreas saúda o público e manda um “vocês são foda” para a orquestra em agradecimento à homenagem a ele prestada.
A primeira música executada em conjunto foi uma das escolhas mais felizes do repertório: “Inquisition Symphony” do álbum “Schizophrenia”. Era curioso notar que muitas pessoas que olhavam para o palco pareciam não acreditar no que viam: ali estavam os caras do Sepultura, ícones do metal, responsáveis por elevarem o nome do Brasil dentro do cenário da música pesada e do rock em geral no mundo inteiro, dividindo o palco com uma orquestra. Parecia que naquele exato momento em que os primeiros acordes foram tocados em conjunto, o espetáculo tomava proporções históricas.
Tanto banda quanto orquestra mostravam empolgação e sabiam o quão importante era aquele espetáculo. Era possível ver muitas famílias assistindo a apresentação e curtindo o show, o que provava que a ideia da junção de dois estilos que a primeira vista parecem tão opostos foi realmente acertada dentro da proposta da “Virada CULTURAL”. Seguindo com o show, entra no palco Derrick Green, sendo ovacionado pelo público. A próxima canção foi a clássica música de abertura do clássico álbum “Chaos AD”: “Refuse/resist” ganhou contornos épicos com o auxílio da orquestra, apesar dos problemas de som que atrapalharam praticamente todo o show (o som da orquestra ficou com um volume um pouco mais baixo do que o do Sepultura, que também não estava com o volume ideal de seus intrumentos. Porém, nada que realmente atrapalhasse o espetáculo).
Logo depois foram executadas duas músicas que nunca haviam sido tocadas ao vivo: “City of Dis” do álbum “Dante XXI” e “The ways of faith” do “Nation”. Como são duas músicas mais “alternativas” dentro do som que o Sepultura se propõe a tocar, os que estavam ávidos para abrirem rodas de mosh esfriaram um pouco, mas valeu muito pelo espetáculo e para mostrar a versatilidade da banda. “Kaiowas” foi a música seguinte e ganhou uma versão muito mais encorpada. Como em todas as execuções ao vivo que presenciei dessa canção, grande parte do público acompanhava o ritmo bem característico dessa música com palmas e algumas danças bem desengonçadas, além de uma ou outra “roda de capoeira” se abrir...
Desde o anúncio da parceria do Sepultura com uma orquestra, muitos fãs já esperavam a execução da versão que a banda fez da famosa “Nona Simfonia” de Beethoven, “Ludwig Van”, que consta no mais “recente” álbum de estúdio do Sepultura, “A-lex” de 2009. Esse foi um dos momentos mais marcantes do espetáculo, com todos cantando a “Ode a alegria” acompanhando o solo de Andreas.
Outro momento que era aguardado com ansiedade e curiosidade era o da execução da versão de “Roots bloody roots” para esse show. Assim como em “Refuse/resist”, a canção ganhou contornos grandiosos e dramáticos, com toda a profundidade que só uma orquestra real daria. Palmas para Andreas, o regente da noite, Jamil Mauf, e o também maestro Alexey Kurkdjian que foram responsáveis pela criação das orquestrações das versões apresentadas na noite.
Geralmente a banda encerra os shows exatamente com “Roots bloody roots” e muitos fãs já estavam se afastando do palco localizado em frente à Estação da Luz. Mas, para a surpresa geral, a banda agradece a presenção do grande público e Andreas anuncia a última música da noite: "Refuse/resist". Tentei apurar o porquê da repetição dessa música, mas não consegui uma informação concreta. Agora sim, show finalizado, banda e orquestra se cumprimentam e agradecem a presença do público.
Dentro do rock muitas bandas já haviam feito shows e/ou experimentos com orquestras, e, pode-se dizer, que os dois gêneros em questão (o próprio rock, ou a música pesada em geral, e a música clássica) formam uma mistura tão homogênea quanto leite com chocolate, cerveja com fritas ou pão com manteiga: se você gosta de um dos dois elementos com certeza tem chances de gostar da mistura que eles proporcionam, não sendo esse fato uma unanimidade (afinal de contas, existe alguma unanimidade?). Valeu pela ousadia do Sepultura e da Orquestra experimental.
Foi muito legal ver famílias inteiras curtindo o show e mostrando interesse em conhecer o som da banda: pais, filhos, pessoas de mais idade e muitos metalheads juntos assistindo a um espetáculo que com certeza ficaram para a história tanto da Orquestra Experimental de repertório quanto para o Sepultura e para o próprio evento da “Virada Cultural”. Porém, foi muito triste e chato ver que ainda existem muitos “trolls” que insistem em manchar a imagem já não tão boa que muitos ainda têm dos fãs de rock e da música pesada. Os (poucos) erros ficam como lição para uma possível repetição do evento
Talvez um espetáculo como esse devesse ser feito em um teatro ou outro local fechado e com uma acústica melhor e onde os ingressos seriam caríssimos. Mas, acredito que a intenção era justamente a de popularizar um espetáculo com contornos tão elitista. Ou será que a intenção era a de melhorar a imagem de um estilo musical tão marginalizado? Ou, ainda, será que a intenção era apenas a de levar um show memorável, com a junção de dois estilos tão “diferentes” ao grande público? Na verdade, será que havia alguma outra intenção além da de levar diversão e cultura para as pessoas? Ou será que a intenção...

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