20 de dezembro de 2010

Pensadores e autores que inspiraram o Heavy Metal: Aleister Crowley

O pensador britânico Edward Alexander Crowley, mais conhecido como Aleister Crowley (1875-1947), foi um dos mais respeitáveis ocultistas de todos os tempos, tendo sua obra sido considerada influente na literatura, na música, nas artes visuais; nas expressões mais significativas da metade do século XX.



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Crowley nasceu em 1875, filho de um pastor de uma seita fundamentalista protestante, tendo sido educado sob a égide de um protestantismo vitoriano, que foi uma das manifestações mais repressoras de que já se teve notícia e Crowley, juntamente com alguns artistas de vanguarda de sua época, teve a ousadia de se colocar contra todo esse sistema de valores e criar um sistema próprio.

Tanto o protestantismo quanto o catolicismo foram duas correntes doutrinárias, propagadoras de culpa e normas de conduta social repressoras, que encontraram na segunda metade do século XIX incluindo a primeira metade do século XX, forte abrigo nas sociedades burguesas em ascensão. Aleister Crowley, gerado neste período, manifestou sua repulsão às religiões cristãs através do seu livro “A Tragédia do Mundo”, afirmando, por exemplo, que não queria discutir as doutrinas de Jesus, pois elas seriam responsáveis pela degradação do mundo à sua condição atual. Além disso, o ocultista considerava o cristianismo a causa e o sintoma da escravidão. Expressando seu descontentamento com o cristianismo, ele ressalta:
essa religião que eles chamam de cristianismo; o diabo que eles honram chamam de Deus. Aceito essas definições, como um poeta faria, para ser inteligível à sua época, e é o Deus e a religião deles que eu odeio e vou destruir. (The World´s Tragedy, New Falcon Publications. p XXXIX, 1994)
O pensamento de Crowley, uma mistura de Nietzsche e Rabelais, parece sintetizar conceitualmente o campo imaginário dos signos/significados do heavy metal: coexistência de forte presença niilista nietzschiana, com negação da presença divina, que inclui o imaginário do cronista francês François Rabelais, homem contemporâneo do iluminismo, que afirma: “o riso é a marca do homem” - flagrante imagem positivista.
Considerado mago, personalidade que determinou novas formas de comportamento no campo das artes, ficou amplamente conhecido por também ser um anti-cristão e se auto-denominava "A Grande Besta" (To Mega THERION, em grego), se referindo à besta do Apocalipse (último livro do Novo Testamento, que contém terríveis revelações sobre os destinos da humanidade), título do álbum clássico da banda suíça de metal Celtic Frost, lançado em 1985. A título de referência, um versículo do livro do Apocalipse que faz referência ao número da besta é: “Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é um número de um homem, e seu número é seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13,18).
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Além do Celtic Frost, outras grandes bandas de metal foram influenciadas por Crowley. Bruce Dickinson, vocalista da banda inglesa Iron Maiden é um de seus admiradores com mais destaque, o que fica evidente em inúmeras composições tanto no Iron Maiden quanto na sua carreira solo. Para Dickinson,

Crowley é sem dúvida a figura mais inspiradora do universo do ocultismo. Leio e estudo Crowley desde minha pré-adolescência. Ele é sem dúvida a inspiração definitiva para todos aqueles que amam o ocultismo e dedicam suas horas vagas para entender o submundo em que vivemos. (retirado do site Morte Súbita)
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Um exemplo notório da inspiração causada pelo ocultista é a música intitulada “Man of Sorrows, do disco "Accident of Birth" (Sony BMG, 2004), que faz referências a Crowley, um jovem de 12 anos que desejava ser quando crescer, o Anticristo. A seguir, temos um trecho da música supracitada.

Aqui em uma igreja 

Um pequeno garoto está ajoelhado 
Ele ora para um Deus que ele não conhece 
Que não pode sentir 
Todos seus pecados da infância 
Ele vai se recordar 
Não vai chorar, lágrimas ele não vai chorar

Homem sofredor, não posso ver seu rosto 

Homem sofredor, você saiu sem deixar rastro 
Um pequeno garoto pergunta, o que foi isto tudo? 
Sua jornada acabou? Ou apenas começou?

Visões de um mundo novo vindo das cinzas do velho 

"Faças o que tu quiseres" 
Ele gritou de sua amaldiçoada alma 
Um visionário torturado, um profeta de nosso vazio 
Perguntando por que, Perguntando por que

Além de várias canções inspiradas em Crowley, Dickinson dirigiu o filme "Chemical Wedding", que trata da história de um tímido professor da universidade de Cambridge que é possuído pelo ocultista, devido a investigações e experimentos científicos.
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A banda polonesa de black metal chamada Behemoth gravou em 2001 o disco Thelema 66". Thelema refere-se à doutrina religiosa elaborada por Crowley e divulgada em 1904. A lei de Thelema está inserida no seu livro de maior difusão, o Livro da Lei (Liber AL e Liber Legis) e traz mensagens de revolução do pensamento humano, da cultura e religião, como os preceitos: "Faze o que tu queres há de ser toda a Lei” e "Amor é a lei, amor sob vontade".

O primeiro preceito citado motivou e influenciou o pensamento de vários jovens na revolução das DROGAS, comportamentos sexuais e os movimentos que tinham como base a idéia anticristã, e também movimentos históricos tais como: contracultura, movimento estudantil de 1968, o anarquismo tardio. Esta mudança de comportamento e de ideologia dos jovens foi mais acentuada na década de 1960, quando o movimento da contracultura estava no auge em países como Inglaterra e Estados Unidos, depois amplamente combatido pela cultura de massa da década de 1970 e início de 1980, onde a sociedade retorna a um conservadorismo disfarçado simbolizado na figura dos yuppies.
O segundo preceito de Crowley, "Amor é a lei, amor sob vontade", foi um significativo instrumento identificador do movimento pacifista Flower Power, slogan utilizado pelos hippies dos anos 60 até o começo dos anos 70 como um símbolo da ideologia da não-violência e de repúdio à Guerra do Vietnã, termo que foi utilizado pela primeira vez pelo poeta Allen Ginsberg em 1965. Desde então ele é freqüentemente utilizado para se referir aos anos 60.
Paradoxalmente, o citado preceito é encontrado em várias letras e títulos de músicas do metal, como é o caso da banda inglesa de metal industrial Coil, que no final do vídeo-clipe da música "Tainted Love", metáfora para AIDS, aparecem flashes das frases "Love is the law" e "love under will". A banda de metal inglesa Carcass, que recentemente, novembro de 2008, apresentou um show no Brasil, repete a frase "Hate is the law, love under will", uma espécie de variação ou interpretação da regra de Crowley, na música "Firm Hand" do álbum "Swansong", o que também denota a influência do ocultista nas bandas de metal do cenário contemporâneo.
Na mesma época em que Crowley praticava suas magias na Europa, o escritor norte-americano Howard Lovecraft também exercia alguma influência nas bandas de metal nas primeiras décadas do século XX. Lovecraft produzia textos de teor fantástico, fabular, literatura de forte potência geradora de imagens que proporcionaram grande prestígio para o mesmo; literatura imagética, inspiradora na elaboração da arte gráfica das capas dos discos de metal, apesar do autor não desenhar as criaturas de terror em suas obras. No próximo segmento, será apresentada a relação de algumas bandas de metal com o trabalho de Lovecraft.

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