23 de agosto de 2010

Metrópolis: Angra, Shakespeare, Metal e falta de informação

É impressionante como sempre que a grande mídia resolve falar sobre Heavy Metal a falta de informação e o preconceito transparecem nas reportagens. Exemplos disso não faltam e vão desde a cobertura de qualquer Rock in Rio até simples entrevistas que não duram mais que alguns minutos.

Recentemente tive outro exemplo disso. O programa “Metrópolis” da TV Cultura conduziu uma breve entrevista com a banda Angra a respeito de seu recém-lançado novo álbum, que leva o título de “Aqua”. Triste ver que até mesmo em uma emissora com um nível acima das outras, pelo menos, culturalmente falando, essa falta de informação ocorre.

Ainda no estúdio, na chamada da matéria, a falta de informação já reinava absoluta. Os apresentadores Cunha Jr e Adriana Couto chamam a matéria com a banda da seguinte forma: “Agora uma dobradinha que pode parecer esquisita: Heavy Metal e Shakespeare”. Pode parecer esquisita pra quem, Cunha Jr? Só se for pra você, que não entende nada de rock pesado. Literatura e metal caminham juntos há muito tempo, para sua informação. É muito comum encontrar músicas de heavy metal baseadas em obras literárias. Seria estranho se funk, axé, sertanejo ou qualquer outro desses estilos, estivesse ligado a essa temática.

Desde que o Heavy Metal ganhou esse nome, inúmeras bandas do estilo criaram músicas e, por vezes, álbuns inteiros baseados em livros. A lista é imensa e vai desde Iron Maiden com suas “To Tame A Land”, baseada no épico “Duna” de Frank Herbert e “Rime of the Ancient Mariner” baseada no poema de Samuel Taylor Coleridge, até o clássico disco “Nigthfall in the Middle-Earth” inteiramente conceituado na obra “O Silmarillion” de J.R.R. Tolkien, até a mais recente “The Odyssey” dos estadunidenses do SYMPHONY X, fundamentada na “Odisseia” de Homero. O próprio Shakespeare já foi homenageado tendo sua obra “Hamlet” completamente musicada por bandas nacionais no projeto de mesmo nome lançado pela gravadora Die Hard Records em 2002, tendo atingido um resultado deveras satisfatório.

Mas os exemplos não param por aí. Muitos outros grupos, e até esses já citados, compuseram muitas outras músicas e álbuns tendo livros como conceitos. Isso sem falar, nos casos em que a linha-guia não foi livros em si, mas a própria história e guerras da humanidade. O que mostra que o Heavy Metal é sim, um estilo com muita bagagem cultural e um dos poucos que em suas letras consegue fugir do já banalizados temas “amor, traições e afins”.

Como se a gafe da “dobradinha esquisita” já não tivesse sido suficiente, na entrevista a seguinte pergunta é feita ao guitarrista Rafael Bittencourt: “O que será que Shakespeare acharia desses solos virtuosos e tanta barulheira?”. Pera lá, solos virtuosos, tudo bem. Agora, tanta barulheira, é um pouco ofensivo, heim seu Cunha? De qualquer forma, o guitarrista respondeu muito bem, leiam: “É possível que Shakespeare, como um cara inteligente que era, ia gostar muito de Heavy Metal, que é um som bastante sofisticado. Ele ia adorar, com certeza”. Parabéns Rafael!

Só nos resta saber até quando esse preconceito e falta de informação da grande mídia contra o metal irá continuar. Mas algo me diz que ainda vai durar por muito tempo. Para encerrar, deixo aqui um recado ao pessoal da TV Cultura e da mídia em geral: dobradinha esquisita de verdade é essa que, infelizmente, assola o nosso país: jornalismo e falta de informação. Sad but true.


Matéria original: Café com Ócio


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