9 de outubro de 2009

Discos Marcantes do Deep Purple III






Deep Purple – Made In Japan (1972)

Origem: Inglaterra

Produtor: Deep Purple

Formação Principal no Disco: Ian Gillan – Jon Lord – Ritchie Blackmore – Ian Paice

Estilo: Hard Rock

Relacionados: Led Zeppelin/Rainbow/Black Sabbath

Destaque: Space Trukin’

Melhor Posição na Billboard: Não encontrado


Existem exemplos memoráveis de grandes momentos ao vivo de bandas de rock. No princípio era o caos: o registro era precário e a tecnologia de mixagem e masterização idem. Do que se gravava, pouco se aproveitava. Microfones falhavam, guitarras 'sumiam' ou pior — os decibéis da platéia ensandecida punham tudo a perder. Um exemplo foi o Got Live If You Want It!, dos Rolling Stones. A gravação é péssima, a despeito do desempenho em palco da banda de Mick Jagger. A Decca pôs o show do Albert Hall em 1966 a contragosto da banda numa montagem desleixada e terrível — feita em estúdio que vale apenas pelo registro histórico. A verdade é que se há um tempo para tudo, como diz o Eclesiastes, o tempo dos grandes concertos de rock ainda não havia chegado. De lá para cá, o rock evoluiu, o público também. Se antes eram um batalhão de bobbysocks histéricas berrando para um grupo tocando com uma aparelhagem de som que qualquer conjunto de bar hoje se recusaria a utilizar (para se ter uma parca idéia, em 1965 e 66, os Beatles tocaram no Shea Stadium de Nova Iorque para 55 mil garotas ululantes e capazes de anular o ruído de um jato comercial, e em vão tentando se fazer ouvir com os amplificadores improvisados em microfones que eram captados pelo precário sistema de som do estádio). Os Stones, depois do fiasco compulsório do Got Live, prepararam um disco mais audacioso, que redundaria no Get Her’s Ya Ya Out, registro da turnê de 1969. Mesmo que manipulado em estúdio, talvez este seja um dos primeiros grandes discos do gênero. Mas eles eram os pioneiros, o rock estava mudando, e o palco passou a ser um reduto especial e sagrado da nova geração. A partir daquele ano é que surgiram os grandes álbuns ao vivo com bandas que, independente do estilo, tinham estavam imbuídos dessa concepção transformadora do palco, ao transformar shows em sofisticados rituais sagrados — e o público, que antes ia só para gritar e ver os seus ídolos, agora ia para ouvir. A partir dessa nova geração, surgiram pérolas como o Live/Dead, do Grateful Dead (que é uma banda essencialmente performática), o At Leeds, do The Who e o At Fillmore East, do Allman Brothers Band. Os exemplos não são gratuitos. Mais do que registros históricos, são performances exemplares e singulares, não meras reproduções de versões de estúdio, ou seja, longe do que é sublimado dentro do formalismo das produções de estúdio, o palco se transformaria num espaço para catalisar todo o vigor, o virtuosismo, dentro do espírito do lúdico e da improvisação. No caso do Deep Purple, por exemplo, é incrível observar como a histórica segunda formação do quinteto britânico evoluiu num espaço entre um disco ao vivo, experimental e audacioso, o Concerto For Group And Orchestra e outro, que além de ser o apogeu da fórmula do Purple como banda, ao sintetizar toda a experiência adquirida naquele espaço de tempo — de setembro de 1969 até agosto de 72 — é um registro histórico único. Isso sem contar que, apesar do DP ter decidido gravar a sua primeira turnê ao Japão (em Osaka e Tóquio, mais precisamente), eles não tinham certeza de que valeria a pena transformar os highlights das apresentações em disco. Mas o passo seguinte seria dado pelas bandas de progressivo e de hard rock que surgiram no final dos anos 60 e que fecharam aquele ciclo representando o começo de outro. Já era possível ver que, nesse momento, discos (e filmes) ao vivo deixavam de ser simulacros fonográficos para ganharem vida própria. Ewxemplos não faltam: o primeiro LP do Ummagumma, do Pink Floyd, o Pictures An Exibition, do Emerson, Lake And Palmer, o The Last Waltz (filme e o disco). Mas se é já difícil comparar estes entre si, mais difícil é classificar entre eles algo como Made In Japan, que é um espetáculo wagnerianamente sublime. Para tanto, basta ouvir a versão gravada no NHK Hall em Osaka para Child In Time, onde Ian Gillan, no auge da sua excelência como vocalista, mimetiza de forma inefável e inacreditável os agudos da guitarra de Ritchie Blackmore e faz uma versão definitiva da música. A performance é tão singular que, tempos depois, o próprio Ian confessou que ele ficaria refém de sua proeza vocal e que, dificlmente em anos seguintes, suas cordas vocais conseguiriam efeito análogo. Mas, graças a Thomas Edison, é possível aos mortais ouvir coisas que, se não fossem gravadas, seriam apenas lendas urbanas na tradição oral, como o violão de Robert Johnson e, é claro, o Made In Japan.

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