Há quem diga que tudo que Bono diz tem um propósito narcisista, mas este tipo de 'melancia na cabeça' merece no meu entendimento aplausos e reflexões.
Para entender, leia matéria publicada no site Omelete sobre o re-lançamento do Achtung Baby, por outros artistas, em formato cover:
http://omelete.uol.com.br/u2/musica/u2-anuncia-disco-de-covers-de-achtung-baby/...
http://omelete.uol.com.br/u2/musica/u2-anuncia-disco-de-covers-de-achtung-baby/...
Vivemos, mais que intensamente, a era na qual, colocamos no chinelo, o início 'imperial' do etnocentrismo/ antropocentrismo, quando o homem se desiludiu com o deus que criara, com as regras desse deus e o resultado da obediência a estas regras. Desde então a batalha travada entre religiosos e não religiosos rendeu sangue, discussão e muitas dúvidas.
A humildade tornou-se um artefato raro e caro, na qual, seu principal alvo (o homem) menosprezou seus atributos e aniquilou qualquer mínima chance que alguns princípios éticos, uma vez valorizados pelo ser humano, sejam novamente retomados e alvos de busca. Ninguém hoje em dia deseja menos. A proposta do consumo em um país que atingiu níveis semelhantes aos países de primeiro mundo revelou uma geração de compradores emergentes e urgentes de suas superficialidades.
Qual é a relação desse resumo filosófico com a declaração de Bono a respeito de sua própria obra?
Vir a público e expor suas incapacidades, defeitos, erros e desilusões é nadar contra corrente de construção de deuses que funcionam por estação. Ou como diriam os Titãs: "A Melhor Banda dos Últimos Tempos da Última Semana". A tolice, o boçal, o esdrúxulo, o ruim tomaram pra si adjetivos mais gentis e se transformaram em possibilidades. Não existe o tolo, o ruim, o vazio, o desnecessário. Você que não se encaixa nestes parâmetros, dirão alguns.
Logo, a confissão de uma insegurança partindo de um ícone da música pop, pelo menos há 25 anos, indica, que, a convicção de certos valores, ainda são capazes de colocar 'em seu devido lugar' uma turma que acha que encontrou a solução do rock, do pop, do emo, do black, do death... A overdose de informação não transformou essa geração na melhor geração ouvinte, apenas outorgou arrogância, desprezo, falta de ética, descompromisso e outras tantas coisas que há algum tempo se tornaram integrantes de debate na sociedade, embora fora dos cidadãos.
Se o vocalista de uma das melhores bandas do mundo vem a público questionar a qualidade daquilo que, no momento, julgou ser o melhor, podemos colocar cartazes e fazer outdoors para uma molecada que não entende (ou não quer entender) que uma avaliação de si mesmo e do seu próprio desdobramento artístico é a prova de que nosso olhar pode ser sim mais ameno, menos contundente e muito mais modesto e honestamente democrático, uma vez que, os fóruns, comunidades, redes sociais e tudo que é inventado para aperfeiçoar/piorar essa 'porcaria' de interatividade apenas em um espelho de gente muito próxima de bestas feras e muito longe de se parecer com gente.
Bono desceu do seu pedestal. Que tal fazer o mesmo.
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