3 de agosto de 2010

Pink Floyd e Stanley Kubrick: Universos que se chocam

Publicado originalmente no Blog Overdose Intuitiva.

O que um diretor de cinema e uma banda de rock progressivo teriam em comum? Seria difícil de imaginar se fosse qualquer diretor e/ou qualquer banda. Mas tratam-se de mentes geniais que marcaram pra sempre suas áreas de atuação.

Mas, a relação entre os dois vai além do puro fato de suas genialidades e importância para o cinema e a música. Stanley Kubrick foi um diretor revolucionário, criou filmes que com certeza, pelo menos um, está na lista dos 10 melhores de todos os tempos de qualquer cinéfilo. Pink Floyd, foi uma mega banda de rock progressivo admirada por todos amantes de rock progressivo. É o carro-chefe do estilo e a primeira a ser mencionada nesse assunto. O que veremos aqui são características em comum entre os métodos de criação de um marco no cinema e na música.

A exaustiva busca da perfeição

Ainda criança, Kubrick ganhou de seu pai um tabuleiro de Xadrez. Com certeza o pai não fazia idéia da importância disso. Esse simples presente ajudaria criar um espírito perfeccionista em seu filho. Perfeição sempre almejada nas formas, planos de filmagem e fotografias de seus filmes. Onde mais se pode ser notada é no filme Barry Lyndon, seu filme mais visualmente perfeito. Enquadramento, luz e também as atuações. Os atores tiveram que repetir exaustivamente as cenas para finalmente sair como Kubrick queria. É tido também como um marco na fotografia cinematográfica.

A busca da perfeição é uma característica de todo rock progressivo. Mas como o Floyd é a locomotiva desse estilo, cabe a ela o maior reconhecimento. O perfeccionismo do Pink Floyd poderia se resumir a um nome: Roger Waters. O britânico é conhecido como rabugento e excessivamente metódico na composição de suas músicas. Mas não, não se resume a apenas ele. Existem outros três com o mesmo espírito sempre inquieto. David Gilmour, Rick Wright e Nick Mason. Cada um em seus instrumentos. Cada acorde ou solo, letras ou capas é meticulosamente criado para o conceito dos álbuns. Nada é por acaso, tudo está lá porque tem um devido propósito.

O espaço e o tempo

O quesito primário para se assistir um filme de Kubrick. Ter tempo sobrando. Os filmes facilmente ultrapassam as 2 horas. Já o Pink Floyd tem uma discografia regrada de músicas com mais de 10, 12, 15 minutos, algumas com mais de 20. A banda além de ser rotulada como “progressiva”, está inserida em um estilo visivelmente comparável aos filmes de Stanley Kubick, trata-se do Space Rock. Esse estilo é marcado pelas longas passagens de instrumentos, como sintetizadores e uso experimental de guitarras. Kubrick esbanja tal característica. Seus filmes são marcados por longas cenas e, principalmente diálogos. Diálogos que fazem o espectador penetrar profundamente na mente do personagem. O que Kubrick e Floyd magistralmente fazem com isso é prender seu público mostrando o conteúdo denso e, mutas vezes, enigmático, que de suas obras. Embora para muitos não familiarizados com o tempo das músicas e filmes se trata de uma bela provação de paciência.

Megalomania

É difícil imaginar a produção de 2001: Uma Odisséia no Espaço em 1968. Não é um filme pra essa época, não existiam recursos para uma produção tão gigantesca. São efeitos especiais que até para hoje podem ser considerados de alto nível. Kubrick sempre pensa a frente de seu tempo, mas para a produção desse filme ele parece ter se teleportado para o futuro.

Mais difícil ainda era imaginar uma banda na década de 80, em pleno fervor punk, levantar um muro de dezenas de metros no palco pra depois simplesmente destruí-lo, bonecos infláveis gigantescos. Esse era o Pink Floyd em sua megalomaníaca turnê The Wall. O show The Wall Live in Berlin, que não era com o Pink Floyd mas apenas com Roger Waters foi considerado um dos maiores espetáculos da história da música. Destaque também para a turnê Division Bell com o famoso espetáculo de luzes.

A banda era conhecida por seu experimentalismo com instrumentos eletrônicos como sintetizadores e teclados. Era a banda que tinha, na época, o mais impressionante equipamento musical de todo mundo. Eram caminhões que seguiam viagem em suas turnês e postas no palco. Era também uma banda adepta do sistema de gravação quadrifônica. De tão complexos eram a sua complexidade técnica para instalação e alto custo de implantação o sistema foi um fracasso.

Conceito e conteúdo. O ser humano e seus conflitos

Dr. Fantástico, um fictício desfecho da Guerra Fria caso um cientista com problemas mentais fosse ouvido; Laranja Mecânica, um jovem líder de uma gangue que se diverte estuprando e promovendo a ultra violência que é submetido a um tratamento de choque para curar sua loucura; O Iluminado, uma pessoa aparentemente normal que de tanto ficar isolada enlouquece a ponto de querer matar sua esposa e próprio filho.

Dark Side Of The Moon traz músicas que refletem diferentes fases da vida humana, seus elementos mundanos e fúteis, e a sempre presente ameaça de loucura; The Wall, um rapaz que constrói um muro em sua consciência para isolá-lo da sociedade, e, através das drogas, refugia-se num mundo de fantasia que criou para si.

Nada tão complexo e denso como a mente humana e, mais precisamente, sua loucura. O tema foi tão explorado por Floyd e Kubrick que acabou se tornando características fundamentais de suas obras.
2001 e Echoes

Strauss que me perdoe, mas Echoes nasceu para ser trilha sonora de 2001: Uma Odisséia no Espaço.

Matéria original: Blog Overdose Intuitiva

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