Riff... palavra sem tradução na língua portuguesa. Talvez porque não precise de uma: o som rasgado do R, o suave intervalo do I, a dupla faísca do F no final... pronto, está dito. Quatro letras que sintetizam ao máximo aquilo que descrevem. Já reparou que não existe uma riffologia por aí? Acontece que não há muito como escrever sobre esses “caras”. Riffs falam por si, numa linguagem tão direta que dispensa palavras.
Afinal de contas: o que é um riff?
Há duas maneiras de responder:
1. Você pode tentar com seu melhor repertório de jargões: base, frase, acordes de fundo, linha de guitarra, “batida” da guitarra, palhetada, etc. Talvez você precisa de vocábulos mais intimidadores, como ostinato. Algo do tipo “sequência de notas da guitarra rítmica” pode causar um efeito interessante. Se não for suficiente, procure um dicionário e saia à caça de mais floreios.
2. Esqueça os idiomas oficiais e apenas cante. As primeiras quatro ou cinco notas de Smoke on the Water bastarão. Seu interlocutor não apenas compreenderá, como saberá identificar riffs onde quer que apareçam. Tudo a partir desta simples “definição”.
Na hora de descrever um riff, as palavras dãããn, dãããããããn e dããããããããããn são as únicas que realmente transmitem algo. Trazem consigo um fantástico poder: são compreensíveis por qualquer ser humano, independente de sua língua formal. Estão acima de qualquer fronteira, e ainda assim são apenas a simulação cantarolada do real idioma da música, compreendido por todos mas impossível de traduzir.
A origem da palavra riff é atribuída a músicos de jazz, em torno de 1917, com registros oficiais a partir de 1935. Eles usavam o termo para se referir a combinações de sons legais que se repetiam ciclicamente. Eram o suporte das infindáveis viagens dos solos de trompete, piano, contrabaixo vertical e mesmo bateria. Riff seria, então, uma derivação de refrain [refrão], com identidade própria e um papel diferenciado dentro da música.
Receita do dia: Riff ao ponto
Ingredientes
Cordas: Para alguns, as três mais agudas são apenas figurativas, pois não fornecem a consistência necessária. Outros sentem-se à vontade para misturar todas as seis. Agora, se forem sete, é melhor sair de baixo. Neste caso, o peso final equivale ao do concreto armado, daqueles usados para sustentar túneis do metrô. Cautela ao servir no café-da-manhã.
Captação: segundo as práticas tradicionais, ativar o captador agudo confere uma textura mais crocante à massa. Posições intermediárias sugerem sabores de blues. Há quem prefira o som abafado do captador grave. É o mesmo que popotear seus biscoitos no café-com-leite, perdendo toda a crocância. Questão de gosto.
Alavanca: para atingir o ponto, é preciso agitar o conteúdo de vez em quando. Pense no canudo que mistura o drink, apenas para renová-lo antes de mais um gole.
Jack: apesar do nome de peso, esta peça só aceita conectores do tipo "banana".
Volume: se não for no máximo, você está chupando bala com papel.
Tone: aberto, proporciona uma textura mais rasgada, desfiada, próxima à da carne louca. Fechá-lo é como abrandar o fogo e ver surgir um saboroso caldinho.
Palheta: à moda do gourmet. As mais respeitadas costumam atacar as cordas de cima para baixo apenas, sempre que a velocidade da batedeira permitir. O peso gerado por esse movimento soma-se à gravidade da Terra, desencadeando os mais sublimes terremotos.
Modo de preparo
Feche os olhos. Unte as ondas sonoras com alguns acordes, começando pelo mais grave que a afinação alcançar. Em movimentos rítmicos, aplique a palheta sobre as cordas. Com as mãos, procure intercalar notas abafadas e outras mais abertas. Misture até obter um conteúdo uniforme. Você saberá quando estiver pronto.
Acompanhamentos
Tradicionalmente servido com bateria e baixo. Ótimo com vocal e perfeito com solos de guitarra e teclado. Sirva sobre uma orquestra inteira se desejar. O riff é imbatível como prato principal.
Fonte:Whiplash
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