Biografias não escritas pelos próprios artistas, e pior ainda, “não autorizadas” por eles, têm boas chances de se tornarem colchas de retalhos desesperadamente buscando polêmicas e histórias que possam justificar sua leitura. A não ser que o autor tenha protagonizado várias das histórias constantes do livro. Neste caso específico é exatamente isso que ocorre, só que são dois os autores: David Tangye, assistente pessoal de Ozzy Osbourne em seus tempos de Black Sabbath, bem como na parte inicial de sua carreira solo; e Graham Wright, assistente pessoal do baterista Bill Ward no Sabbath dos anos 70.
Nota: 9
Em adição, algumas biografias são extremamente chatas de serem lidas, ou por conterem detalhes em demasia, ou pelo fato do narrador não possuir o dom de escrita aprimorada, acabando por tornar a leitura cansativa. No caso deste “How Black Was Our Sabbath”, esse balanço está muito bem feito, sendo portanto a leitura muito fácil. Várias histórias até então inéditas aos fãs são narradas de forma muito espirituosa, nunca com o objetivo de invadir a privacidade de Ozzy, Iommi, Butler e Ward, mas sim para mostrar quão diversa e divertidaera essa época da banda. Tangye e Wright nitidamente se divertiram um bocado nos anos 70, e fica claro que esse livro é um tributo a esse período.
Tal período vai especificamente dos anos pré-Sabbath (final dos anos 60), quando ainda eram conhecidos como Polka Tulk e posteriormente Earth, indo até a virada dos anos 70 para os 80, com a saída de Ozzy, a entrada de Dio, e a saída de Ward. Nessa época, tanto Wright quanto Tangye pararam de trabalhar com a banda e se voltaram a outros objetivos profissionais. Claramente, para eles, a química da formação original nunca poderia ser, e não foi, igualada ou mesmo suplantada.
Histórias envolvendo grupos anti-satanistas se manifestando contra a banda, que invariavelmente tirava um sarro de tais extremistas, não faltam. Há também histórias de grupos satanistas pleiteando a participação da banda em rituais (o que foi, obviamente, recusado). Por exemplo, os integrantes do Sabbath passando por um grupo numa procissão com velas acesas e soprando-as, para em seguida cantar “Parabéns pra você”, são hilárias. Outras histórias presentes envolvem questões completamente distintas, como por exemplo as que mencionam o fato de Bill Ward ter medo de avião e ter chegado a dirigir 800km nos desertos australianos somente para evitar uma viagem aérea. Ou as que narram episódios que terminaram com carros indo parar dentro de piscinas, entre outras. “Spinal Tap”?
Alguns mistérios (e antigos boatos) são finalmente desvendados. Para dar apenas um exemplo, e não estragar as surpresas de quem for ler o livro, posso citar as várias menções a Spock Wall. Durante muito tempo correram boatos fortes (que acabaram se transformando em “verdade”) de que esse seria um pseudônimo do tecladista Rick Wakeman (Yes), que por questões contratuais não poderia aparecer com seu nome verdadeiro nos créditos dos discos do Sabbath dos quais participou (“Volume 4” e “Sabbath Bloody Sabbath”). Segundo a lenda, Ozzy teria criado o apelido em virtude das orelhas de abano de Rick (daí a comparação com Mr. Spock, da série “Jornada nas Estrelas”), que ficariam de fora de sua longa e lisa cabeleira loura (daí o “wall”, parede). Tudo balela. Spock Wall existe, e foi membro da equipe técnica do Sabbath por vários anos, sendo que várias fotos suas estão presentes neste livro, bem como várias histórias o envolvendo.
Resumindo, um livro altamente recomendável, indicado tanto aos fãs do Black Sabbath quanto aos fãs de rock em geral. Uma leitura descompromissada e prazerosa, e um exemplo de como se escrever uma biografia de uma banda. O livro não é oficial e nem tampouco autorizado pelos integrantes originais da banda (conforme mencionado acima), mas extra-oficialmente tanto Ozzy quanto Ward já afirmaram ter adorado o livro, e deram seu aval de que as histórias são todas verídicas.
Um único porém: o livro não foi lançado no Brasil, e portanto só pode ser encontrado em inglês...
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