A História e as informações que você sempre quis saber sobre seu Artista/Banda preferidos, Curiosidades, Seleção de grandes sucessos e dos melhores discos de cada banda ou artista citado, comentários dos albúns, Rock Brasileiro e internacional, a melhor reunião de artistas do rock em geral em um só lugar.
Tudo isso e muito mais...
Nos mais velhos, em especial os remanescentes dos anos 80 (grupo no qual estou incluso), está a clara noção de que o estilo não é somente música, mas que deve gerar atitudes produtivas para si, e contra-produtivas diante de um sistema que excluiu e marginaliza seres humanos, a mesma atitude que leva pessoas comuns, com as mesmas dificuldades sócio-econômicas a matarem vários leões por dia em prol das cenas locais brasileiras, quando não pela mesma como um todo, criando webzines, fóruns de debate nas redes sociais, e mesmo batalhando eventos e produções.
Isso vem devido ao fato que a maioria dos veteranos eram jovens nos últimos anos do Regime Militar, que ainda suspiravam pela abertura, e mesmo pela democratização na relação pais-filhos, onde, em geral, os pais falavam e os filhos “obedeciam” (muitas vezes, sob a fúria do cinturão de couro do pai). Esses fatores geravam revolta, e revolta gera atitude, a mesma atitude que permitiu que as portas do país se abrissem ao underground após o primeiro Rock in Rio, que trouxe um verdadeiro exército de novos bangers, ávidos pelo estilo, pois não era raro ver discos lançados pelas grandes gravadoras sendo feitos de aeroportos de poeira nas lojas, enquanto discos importados (que custavam os olhos da cara) saíam aos borbotões.
Na época, bandas como SLAYER, METALLICA, MEGADETH, VENOM, DESTRUCTION, KREATOR, SODOM,ANTHRAX, BATHORY (sempre aparecendo nas páginas da Rock Brigade) e outros pontos comuns eram nomes certos na seção dos importados, mas que tinham rápida saída, às vezes quase em leilões, ao passo que, tirando gigantes como BLACK SABBATH, IRON MAIDEN, AC/DC, DEEP PURPLE e LED ZEPPELIN, outras como KING KOBRA, KROKUS, MÖTLEY CRÜE, ICON, BLIND FURY e outros, com suporte das ‘majors’ e de grande parte da mídia especializada (leia-se revistas e programas de rádio, já que o Metal nunca teve grande espaço em jornais e TV) davam prejuízos enormes, pois não vendiam. Acabavam virando encalhe.
Fora isso, ainda teve a atitude do Walcir, um herói para o Metal em nosso país, da loja Woodstock, de São Paulo, em transformá-la no selo Woodstock Discos e começar a pôr nas prateleiras as versões nacionais de discos do Underground. Se ainda me lembro bem, seus primeiros lançamentos foram ‘The Warrior’, do finado CHARIOT inglês, ‘Witch Hunter’ do GRAVE DIGGER e o ‘Endless Pain’, do KREATOR. Daí para frente, ele não parou mais, e acabou sendo um dos grandes incentivadores (não sei se de forma consciente ou indiretamente) do surgimento dos selos independentes da época, voltados mais para as bandas brazucas, e graças a atitudes assim, surgiram para a cena bandas como OVERDOSE, SEPULTURA, MUTILATOR, SARCÓFAGO, CHAKAL (todas pela Cogumelo Records), VULCANO (pela Lunário Perpétuo Records), DORSAL ATLÂNTICA (primeiro de forma independente, depois passou pela Lunário Perpétuo, Heavy, Cogumelo), AZUL LIMÃO (Heavy), CALIBRE 12 (Heavy), VIPER, VODU (esses dois últimos pela Rock Brigade Records), entre tantas outras.
É, essa história é verdadeira, cheia de planos econômicos no governo tampão de José Sarney (que só foi presidente porque Tancredo Neves, eleito em janeiro de 1985, faleceu em abril do mesmo ano), do lançamento de uma nova Constituição Brasileira em 1988, do acidente nuclear em Goiânia, ou alguém achou que as coisas na época eram tão fáceis como hoje em dia?
No outro lado, está o jovem da modernidade, em sua maioria, moldados e alienados por diversos fatores (programas televisivos vazios de significado, educação familiar parca ou ausente, poucas noções de valores, educação escolar deficiente, entre tantos outros), mas que em geral, não têm a mínima noção de sua herança metálica, legada pelos mais velhos que sofreram o inferno na Terra. E muitas vezes, os experientes são vistos por esses como velhos senis, que nada mais têm a acrescentar à cena, e até mesmo chatos.
O interessante neste ponto é lembrar que nos países desenvolvidos, os mais velhos são reverenciados por seus feitos, ao passo que por aqui, são tratados como lixo... A atitude na maioria dos mais jovens é quase que somente consumista, já que é comum ver os mais jovens com visuais antenados com o que há de mais em voga possível, adora beber todas (e mais algumas), sair com o máximo de parceiros(as) possíveis, mas não vai aos shows de bandas nacionais (‘está muito caro’, ‘as bandas brasileiras não fazem nada tão bom assim’, ‘são sempre as mesmas bandas’, entre outras alegações baseadas na repetição de argumentos usados ad infinitum), se faz cego diante da situação do país, com argumentos de ‘eu não posso mudar o mundo’, mas nem é preciso tanto, basta mudar a si mesmo e começar a ter atitudes produtivas; não lê nada, não estuda a realidade e nem a história do Metal (o que tem de novato que diz não gostar de DEEP PURPLE, BLACK SABBATH, LED ZEPPELIN e outros gigantes não está no gibi).
Há uma força enorme no jovem, vinda da revolta diante do mundo em que ele vive, e só lhe falta direção e objetivo, e é onde nós, os mais velhos, podemos ajudar. É preciso ter atitude, como as vaias para o GLORIA no Rock in Rio (não sei se justas, pois não vi o show e nem mesmo conheço a banda), o mesmo para o NX ZERO, mas outras mais, como nos 80, quando usar uma camisa do SEPULTURA ou VULCANO era o mesmo que usar uma do IRON MAIDEN ou do SLAYER, pois a atitude que se aprende no Metal, e mesmo no Rock’n’Roll, é uma atitude que irá ajudar os mais jovens por toda uma vida, logo, procure os mais experientes, como o próprio Walcir da Woodstock, Ricardo Seelig, Bem Ami Scopinho, André Delacroix (do D.A.D, METALMORPHOSE e IMAGO MORTIS), Leon Manssur (do APOKALYPTIC RAIDS), Fábio Costa (organizador do Garage, no RJ), o pessoal da Cogumelo, ou outros das suas vizinhanças, pois eles (bem como este que vos escreve) têm um enorme prazer em narrar nossas estórias (me perguntem sobre a quando fui a BH ver o show de lançamento do Split do OVERDOSE e SEPULTURA. Eu tinha 16 anos e me custou 15 dias de castigo, mas fui assim mesmo), pois elas irão mostrar a atitude que tínhamos (e temos), e que podemos transformar as coisas para melhor sempre, pois o país está ruim, mas juntos, podemos melhora-lo, a ponto de sonhar com um festival das dimensões de um Wacken ou Party.San no Brasil, lembrando que nas versões brazucas do Monsters of Rock e no dia do Metal do Rock in Rio, sempre foi lotação total (eu que o diga na segunda versão do festival, pois estava quente no Maracanã)...
E todo nosso conhecimento é a herança e direito dos mais jovens... Torno a dizer: não quero ofender quem quer que seja, e não é em todo jovem que não há atitude, mas em muitos, e isso precisa mudar, e juntos, os experientes e os novatos podem fazer a diferença, não só na cena Metal, mas na vida...
Após o "grandioso" término do Rock In Rio, no dia 02/10/2011, começou todo o esperado falatório sobre o 'concerto' do Guns N' Roses. Até aí tudo bem, visto que a banda de Axl Rose ainda consegue chamar atenção de... bem, de todo mundo! Mas, a situação atual do grupo é uma prova de que sucesso realmente não quer dizer nada, especialmente nos dias de hoje.
Logo de cara, apareceram em diversos veículos as esperadas críticas negativas - muito bem redigidas e munidas de ótimos argumentos - sobre o show em questão. Pouco tempo depois, a "turma do bom senso" teve o desprazer de ler as igualmente esperadas respostas nervosas das 'fanzocas' de Axl Rose. E eu devo dizer que não existe nada de mais vergonhoso do que se assumir como um legítimo fã de Guns N' Roses neste momento...
É de doer na alma o ato de ler asneiras do tipo "Você critica porque tem inveja!", "Criticar é fácil, quero é ver você fazer melhor!", "Você não pode falar nada porque viu pela tv, você não estava lá!" ou mesmo o altamente discutível 'argumento' "Eles não precisam mais provar nada a ninguém!".
Cito em especial as velhas defesas ao habitual atraso de Axl Rose para subir ao palco, como ele tivesse todo o direito de nos tratar como lixo, apenas porque "ele sempre foi assim mesmo" e "nós vamos ao show como fãs, já preparados para esta eventualidade". Se isso não é equivalente a assinar - orgulhosamente - um atestado de burrice, eu não sei o que é...
Sério mesmo que as 'fanzocas' alienadas se contentam apenas em repetir as mesmas besteiras por aí, sem conseguirem encontrar qualquer aspecto que possam elogiar de forma genuína no "show" em questão? Quero dizer, como podemos elogiar um show iniciado com um século de atraso, com um Axl de voz totalmente detonada, e um 'circo' de músicos deslocados que mal conseguem manter o astral do público nos inúmeros momentos de descanso do "vocalista"?
Não, eu não estava lá, e eu sei muito bem que o público já estava completamente destruído naquela altura do campeonato. Mas, Axl Rose, como o profissional que deveria ser, com certeza teria levado tais fatores em conta antes de fazer seus fãs passarem por mais uma eternidade de aperto após o apoteótico show do System of a Down. Chega a parecer que o cara estava nos fazendo um grande favor, a partir do momento em que resolveu pisar no palco.
Por fim, como já era de se esperar, a banda divulgou uma nota explicando os motivos pelos atrasos. Eles apenas esqueceram de um pequeno detalhe: nós não nascemos ontem! Afinal, insulto à inteligência e bom senso de fãs pensantes do Guns N' Roses também tem limite!
Depois de dez anos fazendo biquinho ao público brasileiro, e como todo bom filho a casa retorna, o festival, que hoje se gaba de ser intercontinental, Rock in Rio foi oficializado novamente no município do Rio de Janeiro. Como todo bom projeto, as variáveis e os desafios de tirar do papel aquele que já foi um sonho - todavia, hoje se conforta sendo mais do que uma real conquista - não estavam listadas no hall das tarefas mais simples. Afinal, não é só armar uma tendinha com som meia-boca e duas garrafas de cerveja quente e, voilá!, está pronto o festival. A coisa é mais embaixo, amigo. Eventos desse porte requerem estudos elaborados, planejamentos, estratégias para as mais diferentes situações, que vão desde o transporte público à hora que você, camarada, for fazer seu xixi nas dependências do festival. Enfim, são muitas as variáveis e muito trabalho duro para fazer a festa acontecer.
Economia
Como foi oficializado há bom tempo antes de todo arrasta pé acontecer, organizadores e produtores, aliado ao poder público do Estado, fizeram o dever de casa, tentando diminuir a zero todos os problemas que eram certos de acontecer, quando as engrenagens do festival começassem a rodar. Escalado para o mês de setembro e começo de outubro, onde o setor hoteleiro do município do Rio fica quase às moscas, o Rock in Rio veio com a ‘responsa’ de suprir essa lacuna, além disso, alavancar a economia do Estado que não está lá essas coisas e, lógico, entreter o público.
Pelo o que foi apurado até o momento, segundo nota apresentada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o festival foi mais que benigno à economia carioca, estimando a injeção de um número superior a quatrocentos milhões de dólares à economia do estado. E que contou também com uma taxa de ocupação média de 98% do sistema hoteleiro, segundo levantamento realizado pela ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) a pedido da Riotur.
Sem dúvida são estatísticas a serem comemoradas, mas ainda é um olhar pequeno, talvez até romântico, perto dos problemas sentidos na pele pelas centenas de pessoas que visitaram a Cidade do Rock, e, sem dúvida, pela grande parcela de cidadãos que queria na melhor das hipóteses prestigiar o festival de bem longe - de preferência no aconchego do lar -, mas, infelizmente, se viram no meio do furacão. E esse furacão veio na forma de grandes congestionamentos; policiamento pouco informado e menos ainda educado; transporte público insuficiente diante do volume de pessoas, o que foi prato cheio ao transporte irregular com preços que atravessavam, fácil, fácil, a estratosfera. E a cereja desse indigesto bolo foram os gatunos de plantão que se aproveitaram da ocasião e fizeram sua festinha, digamos, particular.
Isso dá uma breve noção do quanto o governo do Estado do Rio de Janeiro - isso se aplica para os outros Estados também - precisa investir em infra-estrutura. Se o país está imbuído da idéia de deixar de ser colônia investindo na área cultural. O que é excelente e já passou mais que da hora. Ações enérgicas devem ser tomadas para ontem, anteontem... E se os jogos Olímpicos e Copa do Mundo estão “certos” de terem o Brasil como sede é mais que necessário os Estados, aliados ao poder Federal, se debruçarem sobre os projetos com total entrega. A melhora das infra-estruturas dos municípios é uma necessidade que não pode ser deixada para qualquer dia ou para o dia que pintar vontade, a menos que a pretensão do poder público seja retroceder na corrida pelo desenvolvimento, onde o Brasil não é o lanterna, mas, tampouco, deixou de ser retardatário.
Rock in Rio
O ano de 1985 pode ser considerado decisivo para a composição da história do Brasil. Algum desinformado olharia com desdém e perguntaria por que. A resposta mais simples e direta seria o processo que o país atravessava com a redemocratização. Junto a isso, e até alicerçando esse processo, o festival Rock in Rio foi decisivo em carimbar o país como rota dos grandes concertos internacionais. O Brasil já tinha sentido gostinho de hospedar apresentações internacionais como Genesis, Alice Cooper Group, Carlos Santana,Queen, Van Halen, Kiss, etc. Mas era algo que acontecia uma vez na vida e outra na morte, como é expresso no ditado popular, tendo em vista a tamanha carência do povo em relação a shows internacionais, e se bobear à cultura em geral.
Filho do produtor carioca Abraão Medina - idealizador das noites de gala, paradas de Natal - o publicitário Roberto Medina trouxe o conceito de festival musical de grande porte ao país, algo até então inédito, levando em conta a infra-estrutura que a festa demandou e a quantidade de pessoas que o evento comportava e atingia direta e indiretamente. Não adianta uma ou outra viúva chorona bater o pé dizendo que o Brasil tinha esse ou aquele festival. É fato que as coisas começaram ganhar moldes profissionais - ou se preferir, começou a melhorar - com o Rock in Rio 1.
Na primeira edição do festival, entre os dias 11 e 20 de Janeiro de 1985, dispôs, como ressaltado anteriormente, de uma infra-estrutura inédita aos parâmetros brasileiros até aquele momento, com shoppings, lojas de fast-foods, centros médicos, etc, o que, junto às atrações da festa, foi algo determinante ao alcance do sucesso. Se o primeiro festival foi para abrir os caminhos do Brasil aos grandes shows, a segunda edição, no ano de 1991, veio numa versão mais reduzida realizada no Estádio do Maracanã com a bandeira de enaltecer o Brasil no circuito mundial dos principais shows. As edições de 2001 e 2011, com o país mais que consolidado na rota dos principais artistas, o Rock in Rio teve o trabalho de administrar o jogo ganho e não cometer nenhuma insensatez.
Não chega ser insensatez ou um ultraje, mas as bolas chutadas acima do gol na atual edição do festival ficaram por conta das cansativas filas para alimentação; a má comunicação do festival em veicular em seu site oficial a informação que era proibida a entrada de qualquer tipo de alimento, quando na realidade não era - o mal entendido foi desfeito para segunda semana do festival; os banheiros, pelo menos o masculino, não comportaram o volume de xixi da moçada, entupindo, e para piorar, com inúmeras poças se formando pela área do banheiro, era quase como pisar num terreno minado; o fraco policiamento dentro da área do festival, o que possibilitou um número elevado de furtos na primeira semana de shows e, por fim, os preços de alimentos e bebidas um pouco acima da realidade econômica do país.
Artistas
Comentei que o banheiro masculino parecia campo minado, certo? Mas campo minado mesmo, caro leitor, é meter o bedelho no delicado assunto: cast do festival. Mas o bom é cutucar a fera com vara curta. O assunto é cheio de nove horas por um erro de interpretação, o festival se chama Rock in Rio, sendo essa sua marca, e não deve ser veiculado diretamente ao estilo. Parece bobagem comentar sobre isso, entretanto, há uma parcela de pessoas que não entendem, ou se fazem de desentendidas, o que é o estopim para a guerra começar onde as afiadas armas são as palavras.
Desde sua primeira edição o festival acobertou atrações fora da “jurisdição” do estilo rock ‘n roll, artistas como George Benson, James Taylor, Ivan Lins, Gilberto Gil, The Go-Go’s e B’52’s destoam do pessoal que é mais chegado no peso das guitarras. O mesmo conceito estava presente na segunda edição do festival, prova disso fora as escalações de grupos/ artistas como A-Ha, Information Society, Debbie Gibson, Jimmy Cliff e Colin Hay. As outras duas edições seguiram o roteiro. E novamente a mesma indagação sobre as atrações em comparação direta ao nome do festival aconteceu, com alguns radicais fazendo birra porque atrações como Katy Perry, Ke$ha, Ivete Sangalo, etc, fizeram parte do cast do festival.
Cabe a uma boba, mas válida analogia a restaurante: ninguém é obrigado comer o que não quer ou o que não gosta, ou seja, cada pessoa analisa o cardápio e julga o melhor para si. Em festivais de música cabe a mesma ideia e analise: consuma aquilo que for do seu agrado. Simples assim. E a melhor parte é que todo mundo se diverte sem precisar pisar num terreno que não fale sua língua.
O bacana que a festa voltou para seu endereço de origem, e é muito bem vindo, diga-se. Afinal, foi com o pontapé dado pelo festival que o Brasil começou a ser enxergado na área do entretenimento pelo pessoal gringo. Então, que venha outras edições do festival alicerçado em uma infra-estrutura ainda melhor e com menu recheado de rock, metal, pop, blues...
Acreditem: foi um martírio manter os olhos abertos e assistir o talentoso MARCELO ADNET fazer piada de tudo – em uma velocidade impressionante – e confessar, de forma quase que objetiva, que músicano canal paulista, hoje, é apenas uma desculpa e que a “festa mais importante da música brasileira” transformou-se em um stand-up comedy de 2 horas.
A preocupação em consolidar os novos ídolos da molecada (este mesmo ADNET, RAFINHA BASTOS, RAFAEL CORTES, CARIOCA-PÂNICO) no âmbito humorístico, enterra de vez as chances de que a emissora em algum momento, realmente se preocupe em lançar novas tendências e seja mais democrática possível.
Quando CRIOLO vence várias categorias indicadas e faz um discurso político correto mas com uma feição antipática, não dá para crer nos herois ideológicos ‘por estação’, porque é mais ou menos assim que a emissora trata suas revelações: pelo canal, artistas novos serão “sempre” novos enquanto novidade. Depois disso são substituídos – sem cerimônia e degustação – por outras bandas e artistas iniciantes. Algumas vingam e outros continuam promessas.
Um evento deste porte só cria falsas ilusões em quem concorda com as indicações do canal. Parece que no momento a tendência é deixar o rock choroso e colorido de lado para se dedicar aos artistas do hip hop e do rap. Sem dúvida, uma pá de gente (especialmente de São Paulo) produz trabalhos interessantes e que merecem audições cuidadosas, mas fica difícil acreditar que não tem nada novo no mundo da MPB, do rock nacional e de outros estilos tão menosprezados pela emissora, além de Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Marcelo Jeneci.
Em um ano estelar para quem teve oportunidade de curtir Rock in Rio e ainda vai curtir SWU, a emissora perdeu uma ótima oportunidade de prestar tributo ao maldito estilo. Prefere venerar Caetano, que vive de passado há no mínimo 15 anos ou mesmo apostar na figura imponente e insossa de Malu Magalhães, ancorada por Marcelo Camelo, apostando em um estilo riponga e descolado mas sem a ingenuidade refrescante dos tempos de hermano.
E o que dizer de Marina Lima, que subiu ao palco para entoar um dos seus clássicos (“Prá Começar”) em um dos desempenhos que mais cabem na expressão cunhada pelos novos falantes; a tal da VERGONHA ALHEIA fez a festa antes da festa começar nos bastidores. Sem contar que Wanessa (assim, sem Camargo), ainda teve que ouvir o público gritar “Rafinha, Rafinha”, manter a pose e dar continuidade aos discursos de palco que lembram muito os feitos por mestres de cerimônias na entrega do Oscar…
…só que de Oscar o VMB não tem nada. Ver o “Tremendão” Erasmo Carlos subir ao palco, aparentemente debilitado, faz a gente pensar se convidá-lo para show deste tipo agrega algum valor a sua intensa e importante carreira ou vale apenas para o ex-parceiro de Roberto Carlos ir até o camarim e pedir seu whisky preferido…
Emicida – o queridinho da vez – tem talento mas sua retórica moralista fica tão embaçada mediante aquele público com olhar blasè, que perde toda a eficácia e legitimidade. Coragem é nem aparecer para premiação, mas, quando no seu curtíssimo curriculum vitae o músico já acumula função na potente Intel e é figura fácil nos eventos da playboyzada, é muito bom pensar antes de falar…
Enquanto isso, Marcelo, Bento Ribeiro, Dani Calabresa, Paulinho Serra e Tata Werneck se empenhavam em ser o que são: bons humoristas mas não sumidades. O deboche, o pastelão, a ironia e a presença de espírito, quando aplicadas em doses industriais na veia do telespectador pode causar efeitos colaterais impressionantes. Um deles é transformar gente talentosa em verdadeiros pagadores de mico, porque afinal de contas estão no lugar errado e na hora errada.
Até Marcelo (desse vez o D2) estava meio perdidão lá no meio dos habitantes do Rap. A ideia de trabalhar com vários palcos, ao mesmo tempo que traz dinâmica para um programa ao vivo configurou uma certa confusão… As atrações ficaram tão diluídas de tão misturadas que o lance de convidados juntos – de forma inusitada – não trouxe nenhuma resposta positiva, ao menos de quem estava lá.
O evento tem um caráter “party”, embora seja repercutido como um apontador de novas tendências. No entanto de tão ‘engraçado’ é chato e não deixa nenhuma vontade de assistir de novo. Agora o ano pode terminar em paz.
Duas características chamam a atenção em grande parte da crítica musical brasileira. Enquanto uma parcela cultua o passado e não tem ouvidos para o que está sendo produzido agora, outra escuta apenas o novo e despreza os clássicos. A primeira turma é facilmente encontrada no heavy metal, enquanto a segunda bate ponto no mundinho indie.
Duas publicações exemplificam bem esses opostos. A Rock Brigade, revista brasileira dedicada ao heavy metal surgida na primeira metade dos anos oitenta, sempre trouxe resenhas construídas a partir de um ponto de vista extremamente conservador. Nos seus primeiros anos, em uma época em que o rock e o heavy metal não tinham a exposição que têm hoje, os textos da Brigade vinham carregados de um preconceito que acabou se tornando folclórico. Ler as resenhas de álbuns publicadas nos primeiros números da revista é diversão garantida, já que o que não faltava para os redatores era senso de humor, ainda que, na maioria das vezes, involuntário. Isso fez surgir pérolas antológicas, como as listadas abaixo:
"Paice mostra uma feroz sequência de hipnotizantes estrondos tirados de sua Ludwig rústica, mas resistente aos seus golpes certeiros. O baterista trata seus pratos como um escravo fugitivo, enquanto Gillan solta um verdejante grito como um leão em seu mais duradouro período de cio."
"Ronnie James Dio encarou o demônio de frente, galopou no cavalo da morte e dançou na propriedade do sobrenatural. A amarga gota de fel que é nódoa nos corações humanos e o desespero pelo poder da força que arrasta todos às profundezas do inferno foram por ele galhardamente cantadas em um heavy metal que Satanás não ensinaria nas escolas do inferno."
"Joey De Maio lança maldições em cada nota executada, despedaça seu baixo em agonia mutiladora. Ross the Boss arrepia os recônditos mais profanos do corpo. Eric Adams vocifera tão afiado que choca-se em contato com a nossa era. A bateria parece ser tocada pelo próprio Lúcifer em êxtase, Scott Columbus detona a estrutura espaço-tempo com suas porradas sônicas."
"Misericórdia não existe! Não cabe na filosofia do heavy metal, por isso que Dave Lombardo pulveriza as moléculas do ar com suas patadas letais na mesma medida em que o terremoto provocado pelo baixo de Tom Araya invoca Satanás para a destruição. Não tem música melosa! A mais lenta faz qualquer um sair por aí chamando urubu de meu louro e Jesus de Genésio."
Poesia e romantismo puros, certo? Entretanto, esses textos, que soam hilários hoje em dia, eram a principal fonte de informação para toda uma geração de ouvintes. A Rock Brigade era, ao lado da Metal, a única revista especializada em heavy metal no Brasil. E, enquanto a segunda durou poucas edições, continua na ativa até hoje, ainda que de forma cambaleante.
Esses textos, mais tarde, evoluíram para resenhas que, invariavelmente, elogiavam as bandas que executavam o “verdadeiro” metal e malhavam impiedosamente qualquer grupo que ousasse soar diferente. Assim, um álbum do Slayer, do Helloween ou de qualquer outra banda considerada “clássica” era sempre idolatrado, por pior que pudesse ser. O melhor exemplo ocorria com o Iron Maiden, cujas críticas dos álbuns na Rock Brigade invariavelmente começavam com a frase “Em se tratando do Iron Maiden, é impossível ser imparcial” ou algo do gênero. Essa postura levou a revista, por exemplo, a classificar o álbum "Virtual XI", um disco que, com muita boa vontade, podemos considerar apenas ruim, com um trabalho muito bom. Isso sem falar das críticas dos álbuns lançados pela gravadora Rock Brigade Records, todos muito bons e que nunca ganharam uma nota inferior a 7, mas isso é papo para outro dia.
Essa postura foi a principal responsável por formar uma geração de ouvintes conservadores, e perdura, em menor grau, até hoje. Basta ler a grande maioria dos sites e publicações direcionadas ao público headbanger para identificar claramente uma visão conservadora e um culto exagerado ao passado. Isso faz, por exemplo, que uma banda inovadora como o System of a Down recebe muito menos destaque e aval da crítica brasileira especializada em metal do que o Manowar, que há anos repete fórmulas e não lança nada relevante.
Mais tarde, em uma tentativa de se atualizar com o que estava rolando, a Rock Brigade ampliou a sua linha editorial, abrindo espaço para nomes vindos do grunge e do rock alternativo. Isso, naturalmente, desagradou os leitores, que foram educados pela própria revista, durante vários anos, a acreditar que nada era melhor do que o “verdadeiro” heavy metal. É claro que a abertura demasiada da linha editorial, colocando nas páginas de uma publicação especializada em heavy metal bandas como Red Hot Chili Pepperse Nirvana, foi uma decisão arriscada, e essa postura acabou alcançando o efeito contrário ao que almejava: ao invés de aumentar o número de leitores, a Rock Brigade foi rejeitada pelo seu próprio público e teve a sua reputação e credibilidade arranhadas de forma profunda, em um processo que, somado a outros fatores, arrasta-se até hoje.
No outro extremo havia a Bizz, na minha opinião a melhor revista de música que o Brasil já teve. Fonte de informação do mais alto nível e matérias antológicas em suas mais de 200 edições, em uma época pré-internet a revista assumiu o posto de plataforma de lançamento, apresentando novas bandas e artistas para o público brasileiro. Entretanto, a revista sempre teve um certo preconceito com as bandas clássicas, notadamente em relação ao rock progressivo, visto com uma evidente má vontade.
Isso fica claro ao darmos uma olhada na Discoteca Básica Bizz, sessão que trazia, em cada edição, um texto sobre um álbum considerado clássico. Das 215 edições, apenas cinco foram dedicadas ao prog - King Crimson - "In the Court of the Crimson King" (1969) – edição 6, Pink Floyd – "The Dark Side of the Moon" (1973) – edição 21, Soft Machine – "Third" (1970) – edição 45, Genesis – "The Lamb Lies Down on Broadway" (1974) – edição 67 e Yes – "Fragile" (1971) – edição 128. Desses álbuns, um extrapola totalmente o público prog e é figura certa em qualquer lista de melhores de todos os tempos – "Dark Side of the Moon" – e outro, ainda que alinhado à Canterbury Scene, é muito mais um disco de jazz rock do que um álbum progressivo – "Third". Restam, portanto, 3 discos em um universo de 215 – pouco mais de 1%.
Para você não pensar que eu estou enxergando coisas onde não devo, veja só como começa o texto dedicado a "The Lamb Lies Down on Broadway", do Genesis, publicado em fevereiro de 1991 – ou seja, poucos meses antes do estouro planetário de "Nevermind", que causou uma revolução semelhante à ocorrida quase 15 anos antes, quando o Sex Pistols lançou o seu primeiro disco e varreu os excessos dos grupos prog: “Esta é a terceira vez que um grupo progressivo clássico chega à Discoteca Básica Bizz. Por mais controversa que seja a posição deste movimento dentro da história do rock, ele marcou seus tentos, e esse disco faz parte do escore favorável aos dinossauros”. De cara, a própria revista desconsidera o Soft Machine como uma banda de “progressivo clássico”, alusão feita ao King Crimson e ao Pink Floyd. O uso do termo “dinossauro”, de forma claramente depreciativa, comprova o preconceito, exemplificado em uma passagem do texto sobre o álbum "Fragile", do Yes, publicado em março de 1996: “Se o progressivo tinha algo de bom era a liberdade de ousar misturar qualquer tipo de informação musical”. Detalhe: o autor de ambos os textos era o mesmo, Marcos Smirkoff.
Não reconhecer a importância de um estilo como o rock progressivo é uma estupidez. É claro que, em determinado momento, as bandas do gênero se perderam em excessos desnecessários, mas isso aconteceu com praticamente todos os grupos em todos os estilos musicais – do punk ao heavy metal, do pop ao rap. Mas, antes desse declínio, o prog revelou ao mundo não somente músicos excepcionais, mas também álbuns que fizeram história e que, por uma escolha que parece muito mais focada no gosto pessoal de uma equipe editorial do que qualquer outra coisa, passaram batido pelo “reconhecimento” da Discoteca Básica Bizz. Exemplos não faltam: "Wish You Were Here" do Pink Floyd, "Red" do King Crimson, "Close to the Edge" do Yes, "Selling England by the Pound" do Genesis, "Thick as a Brick" do Jethro Tull, "Pawn Hearts" do Van der Graaf Generator, "Mirage" do Camel, "In the Land of Grey and Pink" do Caravan e diversos outros discos dessas e de outras bandas foram solenemente ignorados, vendendo a ideia de que o rock progressivo era um estilo formado por bandas jurássicas e auto-indulgentes que gravavam álbuns conceituais com canções de 20 minutos – o que não deixa de ser verdade, mas também não significa que essas canções eram ruins, muito pelo contrário. Eu, por exemplo, prefiro mil vezes o Pink Floyd arrogante de "The Wall" do que o Sex Pistols barulhento de "Nevermind the Bollocks", apesar de reconhecer a importância e influência de ambos. Isso fez com que grande parte dos leitores da Bizz acreditasse que não havia nada de bom no prog, e que o que importava era apenas o que vinha da capital musical do momento, fosse ela Manchester ou Seattle.
É possível haver um meio termo entre essas duas visões tão antagônicas? Sim, é possível. Vou contar uma historinha para vocês: no final de 2010 convidei diversos amigos para listarem para a Collector´s Room quais foram os seus discos favoritos lançados naquele ano. Recebi listas maravilhosas e repletas de bons sons, mas uma delas me chamou a atenção. O autor era o brother Bento Araújo, editor da poeira Zine, uma publicação dedicada exclusivamente ao rock dos anos 60 e 70. Porém, ao contrário do que se poderia esperar, a lista do Bento veio repleta de novas bandas e não de trabalhos recentes de ícones do período. Ou seja, um cara que é referência em rock clássico para todo o Brasil, e que todos imaginavam que só ouvia isso, mostrou que se mantém atualizado com o que está acontecendo atualmente na música, atestando a qualidade dos grupos atuais.
É difícil encontrar esse equilíbrio. Para falar a verdade, não consigo enxergar isso em nenhuma publicação brasileira. Independente da linha editorial, todas elas pendem para um desses dois lados. Talvez isso aconteça pelo fato de os públicos serem diferente entre si. O cara que ouve rock clássico e se contenta em escutar sempre os mesmos álbuns do Deep Purple, Black Sabbath e Led Zeppelin está pouco interessado no que o Machine Head está fazendo, enquanto quem ouve Strokes, White Lies e The Vaccines não tem nenhum interesse em Rainbow, Clash e Yes. Entretanto, um lado não vive sem o outro. Enquanto as bandas novas se alimentam das influências do passado, os grupos antigos se reinventam em busca de novos ouvintes, em um círculo infinito onde quem ganha, sempre, é o ouvinte.
Na hora de ouvir um som desconhecido, vá despido de qualquer preconceito. Se você não curtir, pelo menos terá escutado e saberá porque, evitando o estúpido “não ouvi e não gostei”. E, se gostar, trará para o seu universo musical um novo integrante, desenvolvendo-se como ouvinte e tendo contato com um novo mundo sonoro que lhe reservará momentos surpreendentes.
Afinal, acima de tudo, parafraseando o crítico e escritor norte-americano Alex Ross, a música é algo que vale a pena amar.
O topo do heavy metal é pouco propício a mudanças. Lá nas alturas, nas nuvens, acima de todos nós, estão há décadas as mesmas bandas: Black Sabbath, Ozzy Osbourne, Judas Priest, Iron Maiden e Metallica. Por mais que um novo grupo lance discosexcelentes e conquiste cada vez mais o público, é muito difícil alcançar o status que esses cinco possuem.
É claro que existem diversas razões para esse reconhecimento. OBlack Sabbath inventou o metal. Ozzy Osbourne, seu ex-vocalista, estourou nos Estados Unidos e se tornou maior que a banda ao lançar a sua carreira solo, durante a década de 80. Mais recentemente, com a série "The Osbournes", deixou de ser visto somente como um cantor e se transformou em uma figura da cultura pop, chegando na casa de milhões de pessoas que nunca sequer haviam escutado os seus discos. O Judas Priest formatou o heavy metal como o conhecemos hoje em dia, afastando-o das raízes blues, acentuando o peso e acrescentando generosas doses de melodia na receita.
O Iron Maiden, alimentado pelo talento e pela disputa interna entre os geniais Steve Harris e Bruce Dickinson, elevou o metal ao status de arte com uma sequência assombrosa de álbuns. E o Metallica, ao unir a melodia e as influências neoclássicas da New Wave of British Heavy Metal – cena da qual o Iron Maiden era o principal nome – com a agressividade e urgência de bandas que flertavam abertamente com o punk – como o Motörhead – fez surgir o thrash, influenciando profundamente milhares de grupos e sendo responsável, ao lado do Slayer, pelo nascimento de uma sonoridade cada vez mais extrema, evidenciada em estilos como o death e o black metal.
Além disso, o Metallica, uma banda inquieta por natureza, reinventou completamente o seu som no "Black Album" (1991), disco que teve uma aceitação comercial espetacular e transformou o grupo, em números absolutos, no maior nome da história do heavy metal.
O único nome que mostrou potencial para figurar ao lado desses gigantes foi o Pantera. O impacto do quarteto formado por Phil Anselmo, Dimebag Darrell, Rex Brown e Vinnie Paul na música pesada dos anos noventa é evidente e ainda pode ser sentido. Com álbuns excepcionais como "Cowboys From Hell" (1990), "Vulgar Display of Power" (1992) e "Far Beyond Driven" (1994), a banda reinventou o metal inserindo generosas doses de groove na mistura, resultando em um som que sacudiu, literalmente, a cena. Conflitos internos causados, principalmente, pela personalidade complexa e pelo comportamento errático de Anselmo, levaram à separação. O assassinato de Dimebag por um fã em pleno palco em 8 de dezembro de 2004 acabou com qualquer esperança de retorno.
Todas essas bandas têm como ponto em comum a presença de pelo menos um músico genial em suas fileiras, que puxou para si o controle e a responsabilidade pelo direcionamento musical seguido pelos demais. Tony Iommi era o maestro do Black Sabbath. Ozzy transborda carisma. A dupla K.K. Downing e Glenn Tipton elevou o trabalho da guitarra a um nível inédito no Judas Priest. A voz aguda de Rob Halford influenciou gerações. As composições de Steve Harris transformaram o Iron Maiden em uma lenda. A presença de palco, a voz e a interpretação teatral de Bruce Dickinson servem de parâmetro, até hoje, para qualquer vocalista de metal. Os riffs e as composições de James Hetfield dividiram a evolução do metal entre antes e depois do seu surgimento. E a guitarra sempre surpreendente de Dimebag transformou oPantera em uma banda milhas a frente de tudo o que havia na época.
Pois bem. Algo similar a isso está acontecendo novamente, bem diante dos nossos olhos. O responsável por isso é Robb Flynn, vocalista, guitarrista e líder do grupo norte-americano Machine Head. No heavy metal atual, não existe nada igual à banda. Antes que os fãs do Mastodon se pronunciem, devo dizer que o trabalho do grupo também é interessantíssimo, porém explora caminhos sonoros que tem como principal característica alargar os limites do metal, usando para isso, principalmente, a total liberdade criativa que sempre marcou o rock progressivo. Já em relação ao Machine Head, a revolução se dá nas entranhas do heavy metal, retrabalhando os seus principais elementos de tal maneira que, ao emergir, traz consigo um som totalmente novo. É como se o Mastodon fosse as pernas e o Machine Head o coração dessa mudança. A diferença é que, enquanto o som do Mastodon exige um envolvimento maior do ouvinte para ser compreendido – e quando isso acontece o impacto sobre o ouvinte é acachapante -, isso não ocorre com o Machine Head. A força da música da banda de Robb Flynn é imediata e não dá opção para o ouvinte respirar.
Ao dar play em "Unto the Locust", novo álbum do Machine Head, percebe-se instantaneamente que estamos ouvindo algo especial. A voz à capella de Robb Flynn introduz o clima sinistro de “I Am Hell”, que se desenvolve através de atordoantes riffs agressivos que culminam em uma belíssima passagem de guitarras gêmeas. Preste atenção como o riff extremamente grave que sustenta a canção até os dois minutos é tipicamente Hetfield e saiu direto do núcleo do Metallica.
Um dos pontos fortes de "Unto the Locust" são as belíssimas linhas vocais, que se desenvolvem em camadas crescentes, em uma espécie de emoção contínua que vai crescendo até atingir o seu ápice nos refrãos. A construção dessas linhas vocais é um exemplo perfeito do nível quase sobrenatural em que a banda está trabalhando agora. A inspiração ecoa, fazendo com que tudo brilhe como uma luz ofuscante, puxando todas as ideias para cima, para o alto, para o infinito e além.
Acredito que o heavy metal, como gênero, possui entre as suas principais qualidades a tradução quase literal das emoções mais básicas do ser humano. Em "Unto the Locust" isso fica claro como poucas vezes já ficou. As sete canções do disco são jornadas intensas e profundas ao interior de cada um de nós. O mergulho a que somos submetidos revela descobertas atordoantes de maneira sucessiva, e o resultado disso é que a audição do álbum se transforma em algo muito maior do que o ato de ouvir um disco. A sensação que essas músicas transmitem ultrapassa o simples entretenimento, a simples fuga, a simples diversão que, normalmente, buscamos ao colocar um CD para tocar. "Unto the Locust" é capaz de abrir novas dimensões, agindo de dentro para fora do ouvinte.
Na minha percepção, não existe um gênero musical mais apaixonante que o heavy metal. O poder que ele tem de arrancar o ouvinte de seu estado atual, de cooptá-lo imediatamente e sem deixar outra alternativa, é único. E isso se dá através de álbuns marcantes, que conseguem ir além do que, no final das contas, até os seus criadores imaginavam. A música sempre teve vida própria, desenvolvendo-se, muitas vezes, praticamente sozinha a partir do ponto inicial dado pelo instrumentista. O próprio Flynn reconheceu isso em entrevista, ao afirmar que após ouvir “This is the End”, a primeira canção finalizada de "Unto the Locust", percebeu o nível altíssimo em que a banda estava atuando.
Esse poder é transmitido, literalmente, dos músicos para o ouvinte em "Unto the Locust". Não há intermediários. Não há intervalos. Não há desvios. O disco funciona como uma força da natureza com vida própria, uma espécie de entidade poderosa que age direto no coração de quem o escuta. E, ao fazer isso, atordoa o ouvinte de tal maneira que, ao seu final, a sensação é física, com o corpo retesando, relaxando e sentindo as dinâmicas das canções.
A evolução do Machine Head é espantosa. De banda relativamente comum e com um ou outro atrativo, o grupo se transformou em protagonista de uma das evoluções mais intensas do heavy metal a partir do ótimo "The Blackening", lançado em 2007. Porém, "Unto the Locust" consegue ir além, em um trabalho extraordinário que não encontra paralelo no metal atual. Quem ousaria gravar uma canção como “Darkness Within”, por exemplo, que começa somente com Flynn cantando a letra ao violão, numa espécie de Bob Dylan contemporâneo, para instantes depois desembocar em uma amálgama de thrash com hard rock que leva o ouvinte direto ao "Black Album"? – sim, novamente o Metallica. E o que dizer de “Who We Are”, faixa que encerro o disco? O coro de crianças cantando o refrão é arrepiante, em uma melodia ao mesmo tempo simples e macabra, que fica ainda mais maléfica ao contrastar com as inocentes vozes infantis.
A minha jornada como fã de música já me levou a diversos lugares. Tive contato e me apaixonei por diversos sons e artistas ao longo da vida. Porém, o meu porto seguro sempre foi o heavy metal. Foi ele que trouxe para o meu cotidiano o Black Sabbath, o Iron Maiden, o Metallica e mais um monte de outras bandas que estão incrustadas em meus poros. Porém, o que eu senti ao ouvir "The Blackening" lá em 2007 foi incrivelmente amplificado com "Unto the Locust". Esse álbum tem a capacidade de reafirmar, com todas as letras, o quanto o heavy metal é único, belo e apaixonante.
Desde o surgimento do Pantera o metal não era abençoado com algo tão incrível como o Machine Head. Com o seu novo trabalho, a banda escreve o seu nome como principal pretendente ao Olimpo do gênero, ao lado dos citados Black Sabbath, Ozzy, Judas Priest, Iron Maiden e Metallica.
Nasceu um novo gigante, e o seu nome é Machine Head!
Não sou de falar A ou B dessa ou daquela banda. Nunca acreditei em crítica porque opinião é que nem bunda, todo mundo tem e aprendi desde cedo que todo “fato” tem pelo menos dois lados. E sempre vai ser assim com música, política, esporte, religião etc. E longe de mim querer dar lição de moral em alguém, até porque odeio isso, mas depois do show do Guns’n’Roses no último Rock in Rio, resolvi me manifestar e defender a minha opinião, por mais que deteste uma polêmica e mesmo sabendo talvez cause isso com meu texto, mas tudo bem, porque, tendo vivido mais da metade da minha vida ao som de Guns, tenho tanto direito a dar meu pitaco nessa história como qualquer pessoa que comprou um The Best Of GnR nos últimos tempos e já se considera o maior entendido em Guns (ou em Hard Rock) do planeta.
Muito bem. Depois do show do Guns no Rock in Rio vi as pessoas se manifestarem das mais variadas formas: algumas adoraram, outras não gostaram, algumas mostraram humor, o que me divertiu muito: Axl e Bugu, separados no nascimento e Axl na montagem do desenho “Pica-pau desce as cataratas” foram o máximo, me acabei de rir.
No entanto, vi algumas pessoas falando nas redes sociais com grande agressividade sobre o fato de o Axl Rose estar gordo ou envelhecido. Oi? Bom, primeiro: gordo ele está faz tempo, então por que o espanto? Segundo: o que lhe tira o direito de engordar? E terceiro: o que há de mal em estar gordo? As pessoas falavam como se ser gordo/estar gordo fosse a coisa mais feia do mundo, pecado mortal! E pior, muita gente que também está acima do peso ou que está envelhecendo pior que Axl (ou ainda, que sempre foi feia se considerarmos os ditos “padrões de beleza) se achou no direito de tirar o recalque! Aliás, esse é outro ponto: as pessoas são diferentes e envelhecem de formas diferentes. Perder o viço da juventude não acontece só conosco, mas com as “celebridades” também. Com algumas “celebridades”, o processo é mais rápido do que com outras, da mesma maneira que com a gente.
O que quero dizer com isso tudo? Longe de mim querer ser “politicamente correta”, até porque o mundo anda meio mala por causa disso, mas é que estamos criticando Axl (e outros) pelos motivos errados ou da maneira errada. Acho que há várias cobranças que podem e devem ser feitas a ele, mas na minha cabeça, nenhuma delas tem a ver com a aparência dele. Ah! Também não tem a ver com o fato de ele estar levando adiante uma das maiores bandas do planeta apesar de tudo. Concordo e apoio isso. Não adianta: a voz é extremamente emblemática para a maioria das bandas. Skid Row e Warrant seguiram sem seus vocalistas e nunca mais tiveram a mesma pegada, embora sejam boas bandas. E a morte de Jani Lani em agosto cortou qualquer esperança de alguns fãs antigos de rever a antiga formação junta novamente um dia. Sem contar que W. Axl Rose escreveu alguns dos versos mais bonitos ou fortes da minha geração. Então me digam: se o Guns original tivesse permanecido, só que sem o Axl, como será que isso seria?
Mas a questão dos atrasos é o que mais me deixa curiosa, apesar de já ter me acostumado a chegar em casa com o pão para o café da manhã depois dos shows do Guns. Ah! E lembrando que esses atrasos acontecem desde "priscas eras" na carreira do Guns, pelos mais variados motivos. No entanto, hoje é uma das coisas que gostaria de saber da boca do próprio. Mas isso vai ficar só no sonho porque ele não fala com a imprensa mesmo. O que até entendo, porque a imprensa dita “musical” só sabe meter o pau no cara (desde sempre). Eu também não falo com quem me agride...
Tanto isso é verdade que o intervalo entre o show do System of a Down e o do Guns foi de 97 minutos. Considerando que só para desinflar a mão gigante que o System usou de cenário foram necessários cerca de 30 minutos, o dito “atraso” do Guns já caiu para 67 minutos, levando em conta que devem ter sido necessários mais uns 30 minutos para a montagem do equipamento do Guns, isso significaria um atraso de 37 minutos apenas! E tem mais: a chuva inundou completamente o palco, não sei o que isso significou em termos de equipamentos, mas sei que a primeira coisa que o Axl disse foi que eles estavam tentando descobrir uma forma de não cair de bunda no chão... A chuva foi tanta que talvez até justificasse o cancelamento do show. Mas eles foram lá e cantaram para os fãs (“heróis da resistência”) que não arredaram pé, apesar da chuva.
Mas se eu tivesse 15 minutos para conversar com ele, faria várias perguntas com certeza, mesmo sabendo que Axl é Axl, que ele não se dobra e só faz o que quer. Nada diferente de outros artistas, com mais ou menos bagagem para fazer isso do que ele e que são muito menos criticados do que ele. Rihanna por exemplo, atrasou seu show no RiR mais do que ele porque ficou se embriagando com a Katy Perry antes de subir ao palco. E ninguém reclamou...
Para finalizar vai o meu abraço carinhoso aos críticos de poltrona, que viram os shows na fraca transmissão da TV e se arvoraram de donos da verdade: cuspindo verdades absolutas nas redes sociais como se estivessem vendo o show na fila do gargarejo. Na próxima, vamos sujar o sapatinho de lama na Cidade do Rock ou onde quer que seja para poder falar alguma coisa com propriedade, né?
Apontado frequentemente como o melhor álbum de thrash metal já gravado, "Reign in Blood", terceiro disco do quarteto norte-americano Slayer, completou 25 anos de vida no último dia 7 de outubro. Nessas duas décadas e meia sua influência apenas se solidificou, evoluindo do fulminante impacto inicial à onipresença ostentada nos dias atuais.
Mas o que faz de "Reign in Blood" um álbum tão especial? Porque ele é tão influente? O que ele mudou no heavy metal? Pra começo de conversa, "Reign in Blood" é, sem dúvida alguma, o melhor trabalho do Slayere o seu ápice criativo. Um dos criadores do thrash metal, o grupo foi formado em 1981 na Califórnia. Seus dois primeiros discos – "Show No Mercy" (1983) e "Hell Awaits" (1985) – já mostravam uma banda diferenciada, com bala na agulha para causar uma revolução. E essa expectativa se confirmou em "Reign in Blood".
Nunca um álbum havia soado tão extremo antes. Musicalmente, a agressividade instrumental pegava o ouvinte totalmente desprevenido, mostrando que era possível ir muito além do que qualquer banda já havia ousado antes. Em termos líricos, as letras acompanhavam a violência instrumental, porém com uma mudança de foco em relação aos dois primeiros discos, que exploravam temas satânicos. Em "Reign in Blood" as letras passaram a relatar temas mais mundanos, retratando acontecimentos reais do cotidiano. Isso fez com que as histórias cantadas por Tom Araya se tornassem assustadoramente próximas ao ouvinte, perturbando por serem totalmente verossímeis e possíveis. No lugar da fantasia entrava a realidade, e ela era muito mais assustadora.
Essa acentuação para o lado mais extremo foi o principal trunfo de "Reign in Blood". Foi essa característica que fez não só o disco, mas o próprio Slayer, se transformar em uma banda única. Ao tornar o seu som mais agressivo tanto instrumental quanto liricamente, acelerando a velocidade e acrescentando doses cavalares de peso, o grupo formado por Tom Araya (vocal e baixo), Kerry King (guitarra), Jeff Hanneman (guitarra) e Dave Lombardo (bateria) foi responsável direto pelo surgimento e popularização do metal extremo, através de estilos como o death metal. As bandas iniciais do gênero, como Death, Possessed e Atheist, mesmo sendo contemporâneas do Slayer e já terem os seus primeiros registros em demo tapes em 1986, foram influenciadas profundamente por "Reign in Blood". Além disso, a maneira como o Slayer tornou a sua música mais agressiva, usando para isso uma grande dose de técnica, mostrou que aquele estilo que surgia não era apenas mero barulho, mas sim um esforço consciente em busca de novas fronteiras para o heavy metal.
A resposta da crítica especializada avalizou a ousadia da banda. "Reign in Blood" foi aclamado de imediato como uma obra-prima pelas mais diversas publicações em todo o mundo. O semanário inglês Kerrang! classificou o disco como o mais pesado de todos os tempos e um grande avanço, tanto para o thrash quanto para o speed metal. Clay Jarvis, da Stylus Magazine, escreveu que o álbum definia um estilo. A Metal Hammer, na época, apontou "Reign in Blood" como o melhor álbum de heavy metal dos últimos 20 anos. Publicações musicais não especializadas em metal também reconheceram a força do trabalho. A Q Magazine incluiu "Reign in Blood" em sua lista dos 50 álbuns mais pesados de todos os tempos, enquando a Spin colocou o disco na posição 67 de sua lista com os 100 melhores álbuns lançados entre 1985 e 2005. O crítico Chad Bowar, do renomado site About Heavy Metal, classificou "Reign in Blood" como, provavelmente, o melhor álbum de thrash metal já gravado.
Há uma história interessante sobre a capa de "Reign in Blood". O disco foi lançado pela Def Jam, um selo que, até então, era quase que exclusivamente focado em artistas de hip hop. A distribuição da Def Jam era feita pela Columbia, que, ao ver a arte criada pelo ilustrador Larry Carroll, se recusou a colocar o álbum nas lojas. O LP acabou sendo distribuído pela Geffen Records.
As dez faixas de "Reign in Blood" estão entre os momentos mais marcantes da história do heavy metal. Repleto de composições excelentes, o disco tem o seu ápice em suas faixas de abertura e encerramento. “Angel of Death”, a primeira faixa, se transformou em um dos maiores clássicos do Slayer. A letra, escrita por Jeff Hanneman, conta, de forma aterrorizante, as experiências com cobaias humanas levadas a cabo pelo médico Joseph Mengele durante a Segunda Guerra Mundial. Isso fez com que a banda fosse acusada de simpatizante do nazismo, motivando declarações contrárias dos músicos. Uma das composições mais violentas já gravadas, “Angel of Death” transporta o ouvinte para um mundo de sombras e pesadelos. A interpretação sublime de Tom Araya, com sua voz aguda e gritos ensandecidos, é uma das grandes responsáveis por isso.
O fechamento, com “Raining Blood”, uma das composições mais emblemáticas do thrash metal, é de arrepiar. Uma introdução que surge ao final da faixa anterior, “Postmortem”, prepara o clima para a sucessão de riffs repletos de melodia da dupla King e Hanneman, em uma canção que desafia qualquer fã de metal a ficar parado, tamanha a sua força. No meio disso tudo, há faixas do quilate de “Piece by Piece”, “Jesus Saves”, “Criminally Insane” e “Altar of Sacrifice”, resultando em um álbum da mais alta qualidade. Para quem quer entender a força que "Reign in Blood" exerce sobre os fãs, recomendo o DVD "Still Reigning", lançado em 2004, em que a banda toca o disco na íntegra. O ponto alto dessa apresentação é justamente a faixa “Raining Blood”, onde o grupo é banhado por uma tinta vermelha que simula sangue, resultando em um efeito visual de grande impacto.
"Reign in Blood" entrou no top 200 da Billboard, alcançando a posição 94. Na Inglaterra, o disco chegou no número 47 nas paradas. Além disso, foram lançados cinco singles para o álbum, para as faixas “Raining Blood”, “Angel of Death”, “Necrophobic”, “Postmortem” e “Criminally Insane”. O disco ganhou uma reedição em 1998, com a inclusão de duas faixas bônus - “Aggressive Perfector” e uma nova mixagem para “Criminally Insane”.
Pessoalmente, apesar de reconhecer a inegável qualidade de "Reign in Blood", coloco "Master of Puppets" (1986) e "Ride the Lightning" (1984), ambos do Metallica, a sua frente em uma lista com os melhores álbuns da história do thrash metal. Essa é uma opinião estritamente pessoal, e está baseada muito na relação emocional que tenho com esses dois discos do Metallica, já que foi através deles que conheci a banda e ambos sempre estiveram entre os meus favoritos. Só fui ter contato com "Reign in Blood" mais tarde. Porém, como já disse, trata-se de um álbum estupendo, que merece todo o status que possui.
Se por algum motivo você ainda não possui esse clássico em sua coleção, aproveite o aniversário de 25 anos de "Reign in Blood" e se dê de presente essa obra-prima da música pesada. E, como a maioria que está lendo esse texto já o possui em seu acervo, sugiro uma audição em alto e bom som em comemoração.
Matéria de autoria de Bruno Sanchez e originalmente publicada no site Delfos: http://www.delfos.jor.br
Essa não é uma resenha simples de show, mas eu estive no Rock In Rio no dia do Rock pesado e pude presenciar o fim de um dos gigantes do Heavy Metal nacional. No dia 25 de setembro de 2011 – ao contrário do que os fãs e a própria banda teimam em negar – o Angra morreu, sim! Não de morte matada, mas de morte morrida.
Mas antes que entremos na nota de óbito oficial, vale uma historinha aqui que poucos delfonautas conhecem ou se lembram: o DELFOS teve uma baita dor de cabeça com o Angra por causa de uma resenha de um show de 2005, que eu mesmo escrevi.
Na época, a banda divulgava o bom Temple of Shadows e prometia um show com várias atrações e efeitos especiais. No fim das contas, o que tivemos foi uma apresentação regular, bastante prejudicada por problemas técnicos, decisões equivocadas sobre o setlist e um Edu Falaschi visivelmente esgotado, que não atingia as notas que deveria. Você já viu esse filme antes, ou melhor, depois, né?
Após escrever a resenha, mandamos o material também para publicação no site Whiplash!. Era uma das maneiras que encontramos de divulgar o DELFOS nos primórdios sem custos adicionais e para um público que – achávamos – era o nosso alvo: headbangers!
O fato é que a resenha caiu como uma bomba no quartel general do Angra, e a resposta veio através de diversas ofensas pessoais contra a minha pessoa disparadas por ninguém menos que Edu Falaschi no fórum do site oficial da banda. Infelizmente, aquela versão da página não existe mais e os registros históricos se perderam com o tempo, mas digamos que Dudu ficou magoado com a crítica e me xingou de nomes nada agradáveis, além de me chamar de incompetente, antiético e coisas do gênero.
Como não estava acostumado a lidar com esse tipo de coisa, também cometi o erro de retrucar as declarações de Falaschi (mas de maneira educada, sem jamais xingar o vocalista). O resultado foi uma troca de farpas que durou uma semana, envolvendo inclusive amigos jornalistas de outros veículos que escreveram matérias me defendendo e compartilhando a opinião sobre o tal show.
Alguns dias depois, a banda divulgou uma nota oficial defendendo a liberdade de imprensa, expressão e a opinião de cada um. Apesar de não mencionar meu nome, foram panos quentes para apaziguar a situação.
Um tempo depois, o próprio Edu Falaschi nos enviou um e-mail elogiando esta matéria. Foi um e-mail gentil, sem nenhum problema e respondemos agradecendo os elogios, mas até hoje não sabemos se ele se lembrava que tinha nos apedrejado publicamente antes ou então quis fazer um mea culpa. Desde então, não tive mais contato com a banda a não ser pelos meios “oficiais”, e lá se vão seis anos!
UMA FASE DIFÍCIL PARA O ANGRA
O fato é que depois do Temple Of Shadows, a banda entrou em uma decadência grotesca e lançou dois álbuns de estúdio fraquinhos: Aurora Consurgens e Aqua. Fora isso, é fato para qualquer um que acompanhou os shows da banda nos últimos cinco anos que a qualidade das apresentações também vinha caindo como um todo, muito em função do desempenho de Edu Falaschi, que claramente andava sem empolgação.
Mas não culpemos somente o vocalista: houve brigas feias com o ex-empresário, que entrou com um processo pelo direito do nome “Angra”, agressões físicas entre integrantes que culminaram com a saída do baterista Aquiles Priester, grupos de Axé plagiaram o riff de Nova Era e, quando a banda tentava se concentrar apenas na música, compreensivelmente e com tantas pressões, a coisa não fluía como esperado.
No meio do caminho, Edu Falaschi lançou seu projeto solo, Almah e, apesar de não ser nada de outro mundo, começou – claramente – a priorizar este trabalho em detrimento do Angra, especialmente a partir da gravação do segundo álbum. A partir daí, fortes boatos surgiram sobre a saída do vocalista.
ROCK IN RIO
Com shows cada vez mais escassos e entrevistas confusas sobre o futuro de todos os integrantes, que volta e meia mencionavam uma pausa para recarregar as baterias, o Angra foi escalado e fez um show horroroso no Rock In Rio. Horroroso perto do potencial que sabemos que eles têm e podem entregar aos fãs.
Edu Falaschi parecia totalmente fora de forma, sem voz, a parte técnica falhou seguidas vezes, enfim, foi uma daquelas noites onde tudo deu errado e, infelizmente, isso acontece na vida de todo mundo. A participação de Tarja fez tudo parecer ainda pior, pelo contraste da boa performance da moça e da fraca apresentação do moço.
Se você duvida, assista aí embaixo ao show na íntegra e tire suas próprias conclusões:
Claro que, se fosse um show normal de turnê, seria apenas um dia ruim para a banda, mas como estamos falando do Rock In Rio, com transmissão ao vivo para todo o país por canais do sistema Globo, o problema é mais embaixo e a repercussão, desastrosa!
A coisa chegou a tal ponto que muitos dos presentes especularam se Edu estava mesmo levando a apresentação a sério ou entrou no palco com uma postura “dane-se o mundo e esses colegas de banda malas”. Eu estava lá e posso afirmar que houve, sim, esse tipo de questionamento!
Sério, assista à performance de Edu Falaschi (vá para os 47 minutos do vídeo para ouvir um trecho particularmente desastroso de Rebirth e me diga se não parece com isso aqui?
É possível que ele realmente estivesse se levando a sério? Sabe quando as pessoas respondem aquela frase feita “não gostou, faz melhor”? Esse é um caso raro em que realmente a maior parte dos fãs conseguiria fazer melhor.
A POLÊMICA COMEÇA
Logo após o fiasco, vi o mesmo filme que aconteceu comigo se repetir. A troca de xingamentos entre banda e site, mas desta vez, não comigo e com o DELFOS, mas com um amigo da imprensa, o Ricardo Seelig do Blog Collector’s Room e do Whiplash!.
Seelig, assim como eu e tantos outros, também achou o show da banda um desastre e, através de suas próprias fontes e informações (ele não tirou a informação de que o Kiko estava saindo do Brasil do nada, e revelou ao DELFOS suas fontes, acredite), concluiu que aquela era a última apresentação da banda, pelo menos com Edu nos vocais.
Seu texto saiu no Collector’s Room e também no Whiplash! e você pode lê-lo clicando aqui.
Ok, o Seelig pegou um pouco pesado, mas foi a opinião dele e – até onde eu sei – ele é livre para escrever e publicar o que bem entende em seu blog, desde que não xingue ou cometa algum tipo de discriminação. Não há nada ilegal ou irresponsável ali.
O que aconteceu depois foi um verdadeiro massacre no Twitter por parte da banda e seus integrantes contra o Ricardo Seelig, e aí faltou alguma orientação para a banda no mínimo esfriar os ânimos antes de sair escrevendo qualquer coisa e reagindo sem amadurecer as ideias.
O guitarrista Rafael Bittencourt disse “A banda não vai se pronunciar para se defender de rumores!!!! OAngra NÃO ACABOU!”.
Até aí, tudo bem, mas o baixista Felipe Andreoli disse, em tweet dirigido ao próprio Ricardo “Apresente ao menos UMA evidência pro monte de merda que você escreveu no Whiplash. Defecou pela boca, seu mané...”. Esse não é o tipo de atitude que se espera de um músico como o Felipe Andreoli, com tantos fãs espalhados por aí.
Mesmo que ele não tenha concordado com o que o Seelig escreveu, o que é um direito dele, não deve partir para ofensas e xingamentos. Isso é muito errado e é o tipo de coisa que pode levar fãs trogloditas a fazer alguma besteira por aí, por tomar as dores dos seus ídolos.
Tentamos contato também com o Felipe Andreoli via Twitter e tivemos uma resposta bastante arrogante, do tipo “estou me lixando”. Interessante que eu fiz faculdade de Administração de Empresas junto com o dito cujo na PUC aqui de São Paulo, e ele sempre me pareceu um cara bastante acessível, bem diferente dessa imagem sisuda que está passando agora.
Na sequência, o Whiplash! tira a matéria original do ar e coloca uma nota dizendo que fez isso a pedidos da assessoria de imprensa e dos músicos da banda. Honestamente, me estranha o Whiplash! tomando este tipo de atitude para uma página que sempre publicou de tudo, mas também entendemos o lado deles e possivelmente faríamos a mesma coisa.
EDU FALASCHI SE PRONUNCIA
A banda divulgou algumas notas oficiais repudiando a qualidade do som no Rock In Rio, a falta de um retorno decente (as desculpas sempre são as mesmas, só faltou aquela alegando que o Edu Falaschi estava gripado) e agradecendo o carinho dos fãs, mas ninguém estava preparado para o anúncio que viria de Edu Falaschi.
E aí? Quem é que “defecou pela boca” agora, Sr. Felipe Andreoli? Para um bom entendedor, foi a despedida oficial de Edu Falaschi da banda ou você, amigo delfonauta, acredita que eles seguirão em frente sem tocar músicas dos três primeiros álbuns, que exigiam vocais extremamente agudos? Talvez façam como oHelloween e abaixem a afinação das músicas para se adequar mais aos vocais de Edu que é, sim, um ótimo vocalista, e quem o conheceu na fase Symbols sabe bem disso.
Isso prova apenas uma teoria que tenho há muito tempo: um dos principais motivos pelo fiasco em nossa cena musical, especialmente em se tratando de Heavy Metal, é o amadorismo no trabalho de marketing das bandas, tanto em termos de contato com a imprensa, quanto divulgações em geral. Foi esse amadorismo que fez, por exemplo, o Corrales se afastar dessa seção que foi um dos principais motivos para ele ter criado o DELFOS. Assim, se você quer saber porque não temos mais tantos Pensamentos Delfianos falando sobre música quanto tínhamos alguns anos atrás, agora já sabe.
O que não falta são assessorias de imprensa mandando releases de álbuns como se fossem resenhas prontas para publicação e, acredite, infelizmente existem páginas que divulgam os releases exatamente como foram enviados.
A atitude do Edu em soltar um comunicado como esse assumindo seu problema foi bastante corajosa e honesta, mas e todo o lixo revirado nos dias anteriores? Sabendo da possível repercussão que uma apresentação meia boca no Rio poderia causar, não seria mais digno ter cancelado a participação, então?
Aqui no DELFOS temos uma boa coletânea de histórias para vocês sobre o relacionamento banda e imprensa. Este e este, por exemplo. Inspirado por este caso, estou preparando também mais um texto especial contando os casos mais curiosos e esdrúxulos desta relação, com histórias surpreendentes. Mas isso fica para o futuro.
ALGUMAS COISAS QUE VOCÊ NÃO SABIA SOBRE O ANGRA
Ainda no embalo desta novela mexicana de mau gosto do Angra, seguem alguns fatos que você provavelmente não conhecia sobre a banda:
- O Angra não era e nunca foi uma banda com sua origem nas garagens de São Paulo. O mais correto seria dizer que eles começaram em uma sala de escritório, quando o empresário Antônio Pirani contratou diversos músicos talentosos do conservatório Souza Lima de São Paulo para formar um grupo com seu pupilo e então empresariado, Andre Matos. Portanto, não, os músicos originais não eram amigos de infância, nem começaram a tocar juntos na adolescência ou em barzinhos. A banda já nasceu com um alto potencial estudado e trabalhado (entenda-se $$$).
- Por causa do tópico anterior, bons anos atrás, o Corrales e eu concordamos em apelidar a banda de Backstreet Boys do metal, não por causa de sua qualidade musical, mas por terem sido uma banda “montada” por um empresário, na intenção de fazer dinheiro, não arte.
- Pirani foi empresário do Viper em sua fase áurea na segunda metade dos anos 80 e, sabendo do potencial de Andre após sua saída da banda em 1989, formou um grupo que se adequasse ao estilo do vocalista, pegando um gancho no Heavy Metal Melódico que explodia ao redor do mundo no início dos anos 90.
- Antônio Pirani conhecia os meandros do Heavy Metal porque, coincidentemente, também era (ainda é) o dono da revista Rock Brigade e do selo Rock Brigade Records. Por aí, você pode deduzir muitas coisas!
- Para ajudar ainda mais no processo de dedução, saiba que as resenhas dos álbuns e shows da banda para a revista eram, em sua maioria, escritas por Antônio Carlos Monteiro, o ACM, também assessor de imprensa do Angra e funcionário de Pirani. Hoje, ACM trabalha para a revista Roadie Crew. Isso deve responder para você várias questões sobre a imparcialidade da revista ou quanto à priorização que davam para um ou outro artista. Talvez até mesmo quanto ao merecimento de suas capas.
- Quando rolou o bafafá na imprensa de que o Angra tinha rompido com o empresário, era sobre a quebra de acordo entre Pirani e os integrantes da banda que estavam falando. Curiosamente, nenhum dos músicos integrantes da banda, nem mesmo os da primeira formação, citava o nome de Pirani nas entrevistas. Ele sempre era mencionado como “o antigo empresário”.
- Foi também por discordâncias com “o empresário” que Andre Matos, Luiz Mariutti e Ricardo Confessori saíram da banda em 1999 e acabaram fundando o Shaman.
Essas afirmações não devem ser confundidas com o talento dos músicos e não estou abrindo isso para mostrar que o Angra é uma farsa, muito pelo contrário. O Angra é responsável, sim, por alguns dos melhores trabalhos do Heavy Metal nacional e eu adoro a banda!
Pelo menos três álbuns deles são pedras fundamentais na história da música pesada nacional e a qualidade técnica dos músicos é indiscutível.
Isso sem contar o sucesso conseguido por eles em países distantes como França e Japão, coisa só conseguida pelo poderoso Sepultura de outrora.
FÃS NÃO PRECISAM ACEITAR DESRESPEITO
Mas o fato de gostar da banda não me impede de também ser crítico e reconhecer que “infelizmente, eles têm dias ruins!”. O Rock In Rio foi um deles, e tentar provar o contrário é apenas nadar contra a correnteza e insistir no erro. Por que não adotar uma postura “não fizemos o nosso melhor, mas vamos dar a volta por cima”? Humildade gera simpatia e respeito. Arrogância leva a antipatia. Ao invés de xingar um jornalista que deu sua opinião, deveriam se desculpar aos fãs pela performance fraca.
Se a banda vai continuar com Edu ou sem Edu, vai fazer uma pausa ou qualquer outro lance, é uma decisão única e exclusivamente deles, mas eu, além de fã, também sou redator do DELFOS e tenho a obrigação de vir aqui e falar “sim, o show foi péssimo”, e falo isso porque sei o potencial desses caras.
É indiscutível a relevância do nome Angra na história da música pesada nacional, servindo de inspiração para muitos jovens músicos. Justamente por respeito à própria história, e como exemplo para os fãs, a banda deveria se concentrar no que faz melhor (música) e aprender a encarar críticas como oportunidade de crescimento. Aliás, com seus 20 anos de carreira, era algo que já deveriam ter aprendido a essa altura. Pense quanto VOCÊ amadureceu nesse tempo.
Todos têm dias ruins e ninguém aqui está contra eles. Se um jornalista escolhe fazer um texto reflexivo sobre uma banda, ainda que esse texto seja ácido, não significa que ele odeia o grupo. Normalmente, como no caso do Ricardo Seelig, significa EXATAMENTE O CONTRÁRIO!
Para comparar, em termos de porrada, ninguém agüenta mais encheção de saco do que o Andreas Kisser do Sepultura. Em toda entrevista, ele tem de responder sobre uma reunião com a formação clássica, relacionamento com os Cavalera, depoimentos polêmicos do Max, o que achou do novo do Soulfly, mas NUNCA vi Andreas perdendo a linha em público ou xingando algum jornalista.
Muito pelo contrário, em todas as oportunidades, ele sempre foi educado e simpático com todos, inclusivecomigo na entrevista que fiz com ele há sete anos, onde cutuquei a onça com vara curta em diversos momentos (e olha que sou um baita fã dos caras, com tatuagem do logo e tudo mais).
O raciocínio para o Angra é simples: ao ir contra jornalistas, eles estão também indo contra fãs, afinal, nós que escrevemos sobre música, também ouvimos música. Pior do que isso, estão desrespeitando e maltratando pessoas que ajudaram a banda a chegar no patamar que estão hoje. E esses jornalistas fizeram isso não por obrigação contratual com o dono de uma revista, mas por realmente acreditar na qualidade da banda.
Assim como em 1999, quando a formação original se separou, esperamos honestamente que a banda possa renascer em todo seu esplendor.