12 de janeiro de 2011

Na Boca, Não: blog elege melhores discos de metal de 2010

Sim, senhoras, esta relação é tardia. E sim, miladys, sei que nunca é muito prudente misturar todas as colorações estéticas de Heavy Metal num único balde. Mas não estou interessado em fazer 38 listas específicas e alcançar, em pouco tempo, a proeza de ser um dos 100 imbecis mais chatos da internet – isso se eu já não estiver entre os 1000. E, afinal de contas, como alguém com muita autoridade no assunto disse um dia: diferenças aqui ou acolá, tudo termina com ‘Metal’. E fim de papo.





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10- Festival (Jon Oliva’s Pain)
Jon Oliva não é o melhor compositor de Heavy Metal do mundo. Talvez seja apenas o mais gordo. E este projetinho paralelo, como muitos outros projetinhos paralelos, tem aquela aura deprimente de fogo de palha - ou de uma ejaculação precoce artística. Mas o esforço de se construir algo permanente se refletiu em um punhado de grandes faixas. ‘Festival’ não reinventa o metal nem nada, mas, em alguns momentos, com seu melodismo excêntrico, sua indecisão diante do prog metal e, até mesmo, incursões pastelão pelo jazz, ainda soa melhor do que o próprio Savatage. É como a sobremesa querendo ser o prato principal. E conseguindo.
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9 - X (Royal Hunt)
O sarapatel de hardzão, power, teclados virtuosísticos de progressivo e pitadas de erudito tinha muito para ser um completo cataclisma carnavalesco. Mas graças ao Royal Hunt, é só um nicho que ainda não se encontrou por completo: ora temos peças de belíssimo acabamento, ora temos babaquices afetadas do tamanho da distância daqui pra Dinamarca deles. Mesmo assim, esse ‘X’ é um disquinho pra lá de audível e acima de todas as pentelhações de Kai Hansen e Tobias Sammet, que pululam feito larvas no atual cenário. Não é obra inesquecível – assim como qualquer outra obra do Royal Hunt –, mas também não é ignorável. Acima de tudo, um bom trabalho de uma banda que segue sozinha na – ingratíssima – tarefa de fazer heavy melódico sem exagerar na glicose.
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8 - Belus (Burzum)
Passar dezesseis anos trancafiado não deve ser divertido. Mas foi o que o faz-tudo da egolatria norueguesa BURZUM, Varg Vikernes, pediu para acontecer quando despachou na faca o sr. Euronymous de Jesus, em 1993. Mesmo em cana, o sujeito até gravou uns disquinhos, mas, em 1999, arremessou tudo pra cima. Pelo menos até conseguir sair do hotel zero estrelas, no início de 2010. Imediatamente, Vikernes voltou ao batente. E fez com que todos percebessem que a expectativa diante de um trabalho de Black Metal de alguém, que acaba de voltar do inferno, é um troço meio único. Na contramão de todos os impedimentos que poderiam marcá-lo como um equivocado ensaio de ressurgimento, ‘Belus’ soma acertos naquilo que, em outros trabalhos, seriam zona fértil para erros: qualidade de fita cassete, atmosfera low tech e certa ingenuidade melódica. Tudo converge para a elaboração de um redemoinho sonoro que, se não chega a ser diabólico, é subterrâneo de tão pra baixo. Uma obra para se escutar sozinho, em dias cinzas e sem nenhum objeto pontiagudo em um raio de 17 km.
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7 - The Return To Darkness (Demonic Resurrection)
Há algum tempo, afirmar que havia boas bandas de heavy metal em um lugar como a Índia teria o mesmo valor de xingar a própria mãe. Afirmar que havia boas bandas de heavy metal extremo em um lugar como a Índia, então, equivaleria a xingar a própria mãe e a amaldiçoar a própria vó duas vezes. Mas esperar que além disso também houvesse, lá, gente gravando discos muito acima de razoáveis na estilística, seria, no mínimo, passar vergonha. Só que foi justamente isso que a hindu Demonic Ressurrection fez em ‘The Return To Darkness’: um trabalho consistente, soberbamente bem produzido, técnico e com muito mais boas ideias do que tudo aquilo que um DIMMU BORGIR ou um Tristania querem nos empurrar. Um efusivo salve, portanto, para as vídeo-aulas de guitarra do Youtube – uma das poucas coisas realmente úteis e universais que existem.
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6 - Jupiter (Atheist)
Pouco antes do Death de Schuldiner se converter em mito do metal trabalhado, o Atheist já destruía neurônios alheios com seu som truncado e esquizofrênico. Até interromperem as atividades em 1993, o bando entregou três disquinhos marcados por um desafio aos ouvintes: lembrar de tudo o que eles tinham acabado de fazer na faixa, após uma audição. Ou dez. E não deixa de ser inacreditável que este ‘Jupiter’, primeiro disco dos sujeitos após 17 anos, soe exatamente como se fosse o quarto álbum pra-frentex da banda, e não uma espécie de ré em nome do didatismo e da conveniência. Em português corrente: o Atheist 17 anos mais velho continua truncado, esquizofrênico e ainda melhor do que sempre foi.
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5 - 7 Sinners – (Helloween)
Se esses caras tivessem sucumbido às infinitas brigas que resultaram nas 487 mudanças de formação do bando, ainda assim teriam uma séria lista de contribuições ao metal mundial para exibir. Mas esses filhos da puta são estradeiros e viciados em tentar lançar o mesmo disco a cada dois anos. É verdade que a patota de Andi Deris nunca mais conseguiu entregar uma monstruosidade definitiva como ‘Better Than Raw’ (onde estará você agora, Uli Kusch?). Mas o mero exercício do desafio ainda gera excelentes peças isoladas. É o que acontece com a interessante frequência em ‘7 sinners’. A História ainda explicará porque cacete eles resolveram iniciar um disco tão violento com a peça mais lenta. Jogassem-na como bônus ou como intermezzo, ou jogassem-na fora, ou, ainda melhor, num disco do Gamma Ray. O que interessa é que o HELLOWEEN deu mais uma demonstração de que, mesmo não conseguindo voltar ao topo em que já esteve, não irá desistir de tentá-lo tão cedo.
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4 - Erebos (Hate)
A primeira coisa que o Hate deve ter como foco em 2011 é demitir sumariamente quem quer que tenha pensado suas vestimentas no encarte disso aqui. A foto do miolo é, de longe, uma das coisas mais bisonhas e engraçadas que a estética do Heavy Metal extremo pode reservar para os mortais. A bolacha, por outro lado, é uma bruta compensação a essa comicidade acidental. Porque ‘Erebos’ é de uma sisudez terrível, incansável, sólida. Há quem diga que tudo o que eles fazem não é mais do que um scanner mal feito de seus conterrâneos do Behemoth. Mas não há como apreciar uma obra como essa, estabelecendo-a como ‘sub’ de alguma coisa. Trata-se, antes de qualquer comparação, de death metal puro, inteiriço e direto. Ainda que seus feitores tenham alguns problemas com... fotogenia.
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3 - Starve For The Devil (Arsis)
A sonoridade pré-Symbolic (é, do Death) disso aqui é tão semelhante ao de uma finada banda baiana chamada Tharsis, que é de se pensar se o tal do James Malone, mentor intelectual e ético-epistemológico do projeto, não cresceu ali entre a Pituba e o Rio Vermelho, e resolveu excluir de sua vida os carnavais de Soterópolis e os ‘t’s e ‘h’s. Mas, ainda mais do que uma simples pesquisinha no Wikipédia, o que desmente essa medonha coincidência é o fato de Malone não ter encontrado, nos EUA inteiro, um baterista melhor do que encontrou seu correlato baiano. Só que a relativa crueza não chega a ser um grande problema para o Arsis em ‘Starve For The Devil’. Mesmo sendo obra generosamente complexa, o entendimento de que há um nível diferenciado de inspiração em cada faixa está escrito na testa de tudo. E apesar da horrível capa, sombria e black metal demais para um som isento de qualquer fagulha de teatralidade controversa, ‘Starve’ reivindica com justiça o respeito que se deve ter com a ala que, ainda, é responsável pelo que há de melhor no metal atual.
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2 - Time To Be King (Masterplan)
Está provado cientificamente: é a má vontade da maioria das bandecas que enterra o power metal na vala comum do repeteco e do auto esgotamento. Se não fosse, não seria possível que um dos discos mais poderosos do estilo pudesse ser feito mais de 10 anos após o lançamento de suas obras definitivas. E é isso que ‘Time To Be King’ é. Claro que a presença de um cavalo como Jorn Lande em um projeto sempre será digna de atenção e sempre somará mais do que o normal. Mas ainda é necessário muito mais do que um vocalista sobre-humano para se alcançar o pico. É aí que entram as composições – principalmente o excepcional trio inicial – e um time de músicos mais interessados em fazer da técnica um artifício, do que serem, eles mesmos, artifícios da técnica. Eis o resultado: um trabalho poderoso, maciço, elaborado e que demonstra, em uma hora e pouco, o quão inesgotável pode ser uma estilística relativamente cansada quando se tem boas ideias.
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1 - Periphery (Periphery)
É preciso muito mais do que coragem para, pelo menos, encostar 3cm naquilo que o Meshuggah faz. E o que a conjugação ‘faz’ é fundamental aqui, uma vez que em seu solitário exercício de uma estética única e truncadíssima, os suecos podem até ter errado aqui ou ali, mas não apresentaram nenhum recuo em sua discografia. O que ninguém esperava é que surgissem discípulos sérios disso aí em relativo pouco tempo. Daí o primeiro grande impacto que se tem diante do estreante Periphery. Só que seguidor não é cópia. Eles acrescentam, além da proposta instrumental construída sobre um pesadíssimo metal polirrítmico, sequências que acenam para os delírios fusionísticos de um Cynic. Só poderiam ter economizado com força na quantidade de faixas – suficiente pra encher umas boas 3 bolachas –, somando os perdigotos de ideia de um minuto, ou menos, que foram se esparramando. Não é disco pra criancinha, não é disco pra pagodeiro, não é disco pra quem quer começar a escutar metal, não é disco para se dar de presente pra namorada, não é disco para quem pretende estudar bateria – mais fácil indicá-lo para quem quer motivos pra parar. Mas muito mais do que tudo isso, não é disco para ficar de fora de nenhuma lista aceitável do que surgiu de melhor em 2010.
Um lixo:
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Option Paralysis (The Dillinger Escape Plan)
Em um primeiro momento, soa ruim. Em um segundo, pior. Em um terceiro, qualquer coisa diferente disso já está ótimo para que o dia volte a ficar bom. Neguinho que fica indicando isso aí pros outros merece é ser preso.
Matéria original: Blog Na Boca, Não

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