A nova edição da revista
Classic Rock mostra até agora o mais detalhado relato dos últimos dias
de Jim Morrison, incluindo uma entrevista com Sam Bernett, o homem que
reivindica que Morrison morreu na boate que estava gerenciando naquela
noite, a Rock’N’Roll Circus. E a Classic Rock Magazine publicou em um
texto online os relatos de Bernett do que aconteceu naquela noite fatal,
cuja tradução segue abaixo:
Entrevista: Max Bell
Sam Bernett:
Eu estava na boate aquela noite, 2 de julho, e Jim entrou por volta da
uma da manhã, 3 de julho. Ele estava no bar, como era usual. Ele estava
com alguns amigos que eu não conhecia. Ele estava esperando as pessoas
trazerem alguns produtos para Pamela (nota do tradutor: ex-namorada de
Jim Morrison). Ele estava esperando. Ele bebia, nós nos falamos, eu o
ouvia. Eu estava ocupado como o gerente do clube. Eu não estava sempre
próximo a ele. Eu trouxe a ele alguns drinks. Alguns caras vieram e
então, por uns 20 minutos, ele não estava mais no bar. Ele desapareceu.
Então a garota responsável pela chapelaria do andar de cima… me
procurou.
Ela estava preocupada porque uma porta tinha sido
trancada já havia um bom tempo e as pessoas estavam reclamando que não
conseguiam entrar. Eles bateram na porta, alguém aí? Sem resposta. Então
eu verifiquei com ela. Nenhuma resposta mesmo. Eu não sabia que Jim
estava atrás da porta. Eu chamei meu segurança para arrombar a porta e
lá dentro estava Jim. Sentado no banheiro sem reação, como se estivesse
dormindo ou nocauteado, suas calças ligeiramente abaixadas. Ele estava
sentado com sua cabeça para baixo e seus braços para baixo, como um cara
morto.
Eu o agitei. Eu o olhei no rosto, sem reação. Ele tinha
espuma no nariz e nos lábios. Eu falei para a garota conseguir um
médico. Eu tinha um amigo, um cliente, lá toda noite – ele estava no
clube. Ele veio, olhou para Jim, e começou um pequeno check-up. (Então)
ele me olhou e disse: “Esse cara está morto”. Eu disse imediatamente:
“Chamem os bombeiros, os paramédicos!” De repente dois caras que tinham
estado no clube com Jim vieram e disseram: “Ele não está morto, ele só
está um pouco acabado. Não chamem a polícia, não chamem sua família, nós
o levaremos de volta pra casa”
Eu disse: “Não, isto é impossível.
Nós temos que chamar a polícia e os médicos”. “Não”, eles disseram,
“esqueça. Nós o levaremos para fora do clube. Nós podemos usar a porta
dos fundos? Não a porta da frente”. “Não! Não podem”. Então o dono da
boate foi chamado, todo mundo se dispersou – não Paul Pacini (o dono da
boate), o braço direito de Jim. Ele disse: “Não chamem a polícia, nós
não queremos encrenca. Eles fecharão o clube e nós teremos um escândalo”
Eu
disse: “Você não pode fazer isso“. E ele disse: “Eu sou o chefe, você
faz o que eu digo”. Os dois caras o pegaram e o levaram para fora do
clube através do Alcazar (o clube vizinho ao Circus), então o levaram
para a porta de entrada do clube oposto à Rua de Seine e que dá entrada
para o Circus. O clube estava fechado, o cabaré tinha acabado, exceto
poucas pessoas que olhavam para ver o que estava acontecendo.
A
partir daí eu não sei o que aconteceu. Eles o levaram para o
apartamento. Eles me contaram que o colocaram na banheira e esperaram
por uma hora e meia as pessoas chamarem os paramédicos. Pâmela estava no
apartamento, fora de si, gritando. Estava completamente transtornada.
Quando
eu escrevi meu livro (publicado na França em 2007, The End – Jim
Morrion) (nota do tradutor: O fim – Jim Morrison) eu fui à polícia e aos
paramédicos. O bombeiro me contou que ele sabia que Jim tinha morrido
mais cedo. “Esse cara já estava morto por algumas horas”. O comissário
de polícia me contou a mesma coisa: “Nós sabíamos que havia alguma coisa
errada com a história”. Eu não sei o porquê, mas ele disse: “É verão –
olhe, eu estou saindo de férias amanhã”. Ele queria encobrir algo
rapidamente, então ele assinou os papéis. Ele não acreditou na história
que lhe contaram no apartamento. Foi estranho e falso, mas ele já tinha
ido.
Eu não pude te contar [os nomes de] algumas pessoas que
estavam no clube. Eu não pude colocá-los no meu livro [por razões
legais]. Mas eu estou dando a vocês meu relato de vítima. O que
aconteceu depois e o porquê dos policias e todo mundo mais que não me
contaram a verdade, que encobriram algo, eu não entendo. Meu amigo
médico estava certo de que Jim estava morto. Eu não irei dizer seu nome
porque ele está morto, mas sua família ainda está viva.
Eu esperei
35 anos para contar minha história porque eu fiquei de saco cheio com
as pessoas me fazendo perguntas toda as vezes em que a data da morte de
Jim está próxima. Minha esposa disse: “Pare de se lamentar e escreva seu
livro então”. Eu não mantive minha boca fechada antes disso – eu apenas
não fui à imprensa por vontade própria. Eu me lembro de um jantar em
que eu estava sentado próximo à mãe do Oliver Stone – isso foi quando
ele estava fazendo o filme de Jim e dos The Doors.
E eu contei a ela: “Olhe, eu sei o que aconteceu, se seu filho estiver
interessado”. Eu contei a ela o que eu sabia, porém Stone não se
incomodaria com aquela versão. Talvez ela nunca tenha lhe contado. Mas
você sabe, a versão americana da morte do Jim é tolice. Sem sentido. A
versão francesa está perto da verdade. Os americanos são ingênuos.
Você
já chegou a pensar que o episódio da heroína foi apenas um horrível
engano? Que ele pensou que estivesse tomando cocaína, por exemplo?
Sam Bernett:
Sim, eu penso freqüentemente que ele tomou heroína por engano. É
possível, claro. Ou era a heroína para Pâmela ou na verdade para ele?
Mas não foi a primeira vez que ele se drogou. Eu não acho que ele estava
tentando cometer suicídio. Não havia razão para ele cheirar heroína 90%
pura, mas talvez aquilo foi seu erro. Aquela coisa era forte o
suficiente para matar você em menos de um minuto se você não soubesse o
que estava fazendo.
Mas você vê, a heroína era muito comum no
cenário underground em Paris, especialmente entre os músicos. Muito mais
comum do que a cocaína que ainda era muito rara. A heroína era grande
com o “demi monde, a la mode” com pessoas como Chet Baker (nota do
tradutor: trompetista famoso de jazz norte-americano), a droga circulava
especialmente com os caras do jazz nos clubes no Latin Quarter.
Quanto
a Morrison, eu sei que ele ficava de saco cheio de ser um artista pop.
Ele queria ficar em Paris e escrever sua poesia. Isso é o que ele sempre
me contou. "Estou cansado de The Doors. Eu quero desistir".
E ele fez isso. Ele desistiu para sempre.
Fonte desta matéria (em inglês): Classic Rock Magazine
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